O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, janeiro 29, 2002


A Paridade e as vozes (ou as Mulheres e a Política)


“Os homens querem amor, mas o círculo vicioso da sua” superioridade”, leva-os a produzir mães incapazes de darem verdadeiro amor aos seus filhos. Isto já é mau que baste . Mas como as mulheres têm de disfarçar a sua inimizade em relação ao sexo masculino perante si próprias e diante do resto do mundo, justamente por serem tão adaptadas, tais filhos encontram-se numa situação contraditória: as suas mães fingem aceitar os seus filhos, mas na realidade, recusam-nos.” In “ A Traição do Eu” de Arno Gruen


Este é um assunto muito vasto e com pano para mangas, mas podia-se do mesmo modo dizer, os homens querem as mulheres na política ou na Assembleia, mas o círculo vicioso da sua “superioridade”, leva-os a produzir mulheres incapazes de darem uma verdadeira participação feminina aos seus pares. Digamos que as poucas mulheres que participam na política fazem-no, regra geral, de forma “masculina”, ao assumirem o discurso e atitude de “superioridade” do homem. São duras e pragmáticas, sempre certas e austeras... Mas acabam quase sempre ridicularizadas ou aceites com complacência se não tiverem “tomates”, (esta é a expressão vulgarmente empregue sempre que uma mulher enfrenta o mundo dos homens!) para lhes fazer frente.

Porque é que as mulheres à partida se interessam menos por política que os homens, não é somente pelo acréscimo de trabalho que são os filhos e a casa e mesmo o marido. A razão profunda e talvez inconsciente da sua não participação activa na política é porque o seu discurso é outro ou devia ser se a sua voz fosse activa...E seria certamente um benefício enorme para a sociedade se a mulher se fizesse ouvir. Mas como a mulher não tem voz baseada na sua experiência intrínseca de mulher global, mas parcial ou dividida _ temos a esposa, a mãe e a amante, a intelectual, escritora ou executiva... E agora teríamos a política _ nunca será ela própria, mas aquilo que esperam dela. O que eu quero referir aqui é o aspecto sempre oculto da mulher essencial cuja voz é do útero...E isso reporta-nos ao aspecto sábio, inato da mulher de que os homens por medo se riram sempre. Não falo de bruxas! Falo do discurso inspirado e modelado pelo coração e dar voz aos sentimentos. Falo de uma consciência que não pode ser só política ou de classe, mas consciência de si mesma! Falo em dar à mulher o lugar que lhe pertence por direito, falo de outra inteligência. Sempre que uma mulher tem um discurso diferente dos homens, (racional e objectivo) é alvo de chacota e perseguida ou marginalizada pelo fantasma do histerismo...Basta-lhe ser convincente e apaixonada. Da mulher sem alma à mulher sem inteligência (mesmo sem ser loura!) ou sem capacidade de uso da razão, opôs-se-lhe a mulher executiva e esperta, a escritora de sucesso ao serviço dos média e da mediocridade, dos patrões e dos chefes ou editores. E se assim não for é feminista ou de sexualidade suspeita. Em todo o caso duvidosa. As próprias mulheres têm medo de falar dos seus reais problemas com receio de serem vistas como feministas e por isso mesmo ridicularizadas. E assim os discursos e o posicionamento são todo para agradar aos homens. Os maridos os filhos os chefes e os pais estão sempre em primeiro lugar. Eu assisto a discussões entre mulheres, escritoras de sucesso, por exemplo, e o tema gira à volta dos filhos e dos maridos, de maior ou menor liberdade, do êxito, nunca em torno de questões vitais para si próprias, pois elas continuam a ser a fada do lar, da cama e do trabalho ou da literatura. A mulher vai submissamente agradar a todos em detrimento de si própria ou nem sequer sabe que tem uma identidade própria. Tem vergonha da sua condição feminina! Concerteza que não falo do croché nem das plásticas. Eu andei a fugir à "pide" para as mulheres poderem votar em Portugal. Passaram mais de trinta anos e as mulheres ainda não têm voto na matéria! Continuam a votar ao lado dos maridos e dos partidos que as manipulam de uma maneira geral. Mas a maioria das mulheres continua calada e ignorada, poucas, fiéis a si mesmas e conscientes do grande cisma que divide o homem e a mulher e das consequências do falocratismo que domina a mente masculina. Mas apesar de “ignorantes” as mulheres são na sua maioria fiéis á sua natureza e sabem o que está certo ou errado. Não entram nem participam em promoções de egos e luta de poder seja para “inglês ver”, seja para a Europa inteira ver!
Eu digo que a mulher é diferente do homem e tem certamente um discurso diferente também. Não é uma questão de escrita ou linguagem feminina é uma questão de princípios...Os dois pólos do mesmo eixo, completam-se na diferença e não na igualdade. A mulher para ser autêntica e completa tem de unir corpo alma e espírito, tal como o homem que à partida não está dividido entre o marido e o “prostituto”...

A mulher tem muito trabalho de casa para fazer antes de Ter voz activa, senão é ela que perde a sua identidade! Tem “Trabalho de casa” sem ser doméstico, seja ela domesticada onde for. Não basta ser médica, advogada ou engenheira. Tem de escutar as duas vozes! A razão e o coração! Ir aonde ele a levar, sem medo da razão dos homens, porque o coração tem razões que eles desconhecem... E se o feminino por excelência não despertar, tanto na consciência das mulheres como dos homens, o risco de perda é enorme. Teremos só um polo e o desequilibro inerente como é já evidente de muitas maneiras e de que o próprio homem é a primeira vítima... É tempo de as mulheres ficarem mesmo histéricas! Sim, antes histéricas que “travestis”.

“As mulheres por vezes ficam histéricas e fazem e dizem as coisas mais estranhas. Mas esta observação vai dar a volta e morder a própria cauda: talvez a verdade da vida e do viver resida nas estranhas coisas que as mulheres fazem e dizem quando estão histéricas” in “As Duas Vozes” - de William Golding (Prémio Nobel).


Artigo publicado na Revista Espaço & Design
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Li algures por aqui que um "senhor" que eu não conheço dizia, que "o melhor movimento feminista das mulheres era o dos quadris?"
De certeza que ele não iria gostar nada do meu...


segunda-feira, janeiro 28, 2002



6 - Tenho pela mentira um horror quase físico. Sinto-a à distância e agora...neste mesmo momento... sinto-a a vaguear, asquerosa e suja, em volta de da minha alma que vibra no orgulho de ser pura. Se os outros me não conhecem, eu conheço-me, e tenho orgulho, um incomensurável orgulho em mim!

DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO - Florbela Espanca

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«Possuir é o mesmo que conhecer: a Escritura tem sempre razão. O amor é feiticeiro; conhece as fontes. A indiferença é vesga; o ódio é cego; tropeçam lado a lado no fosso do desprezo. A indiferença ignora; o amor sabe; decifra a carne.

É preciso possuir um ser para ter a oportunidade de o contemplar nu. Foi-me necessário amar-te para compreender que a mais medíocre ou a pior das pessoas humanas é digna de inspirar o eterno sacrifício de Deus lá no alto.»

In «FOGOS» de Marguerite Yourcenar


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«A SOLIDÃO E O AMOR»
(...)
Na origem do impulso para a comunicação amorosa estaria, pois, uma consciência da cisão intrínseca do ser humano, da separação dentro de si e em relação aos outros. O corpo é o primeiro sintoma de incomunicabilidade, o corpo é a forma exterior da interior forma hermética do ser humano. Os corpos são entidades, como os seres que transportam e, se por um lado são reflexo, por outro são aquela superfície em que tudo se reflecte. Por isso o corpo é o ponto de partida para o amor. Talvez cessando o corpo também o cesse, mas entretanto tem de ser considerado como o instrumento mais causador da nossa solidão, portanto, o mais imediatamente capaz de nos permitir ultrapassá-la.

(...)

O sexo é a matriz do nexo. O amor pressupõe de facto uma iniciação: o reconhecimento da cisão e a sua ultrapassagem. A Iniciação interessa a todos: homens, mulheres, pessoa, pessoas, espírito, solidão, amor, cisão, fusão: apenas aspiração ao absoluto da comunhão perfeita, impulso para a superação do eu pessoal no eu impessoal superior.

(...)

IN «AS NOVE INCURSÕES» de Ana Hatherly

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PENSAMENTOS SUBMERSOS

Na linha do amor e da solidão, o fio da navalha ou a espada de dois gumes...

Com ferros matas com ferros morres, se calas consentes se falas mentes...

A verdade só o teu coração a sabe, escuta-o pois em profundo silêncio...

Nem sábios nem poetas te dirão nunca, a sabedoria do teu próprio coração...

Só a Música das esferas te traz reminiscências de anjos e deuses e a beleza intacta das Mães.

(De resto, o quotidiano tu desprezas)


domingo, janeiro 27, 2002



SOUVERAINES

LILITH



D’ombres et des démons je peuplai l’univers.
Avant Eve, je fut la lumière du monde
Et j’aimai le Serpent tentateur et pervers.
Je conçus l’Irréel dans mon âme profonde.

La terre s’inclina devant ma royauté.
Jéhovah fit éclore à mon front d’amoureuse
L’astre fatal de la Beauté.
Je ne fus pas heureuse.

In ÉVOCATIONS de RENÉ VIVIEN

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MULHER SELVAGEM


Ó minha Mãe Selvagem, põe um feitiço.
Na minha boca, uma praga
E no meu coração palavras mágicas.

Abre-me a cortina da tua Sabedoria Eterna
E deixa que numa dança envolvente, no meu ventre,
Eu diga bem alto aquilo que a minha alma sente!

Se for preciso rasga o meu peito com as tuas mãos,
As tuas garras!
E como a grande parteira dos tempos
Faz com que dele nasça a palavra ardilosa
Que cure e traga as mulheres que de ti se perderam
E voltem à tua casa, ó Feiticeira poderosa.

Deixa que busque e encontre mulheres feridas de morte,
Como cadelas abandonadas e as jovens violadas,
As velhas solitárias e desprezadas, as mães maltratadas,
Por bestas e ogres...

Ó minha Mãe Selvagem, antes que prossiga a viagem,
Eu preciso da marca do teu poder na minha fronte...

Grava bem a ferro e a fogo forjado o sinal da tua força e vontade!
Dá-me Asas ou uma vassoura para correr os ares... E garras!

«ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO»


UNI+VERS+ELLE – UNIDO EM DIRECÇÃO A ELA…

Elle a une envie de femme. Envie de quoi ? Mais du Tout, du Grant Tout universel.


(…)A ce désir immense, profond, vaste comme une mer, elle succombe, elle sommeille. En ce moment, sans souvenir, sans haine ni pensé de vengeance, innocente malgré elle, elle dort sur la prairie, tout comme autre aurait fait, la brebis ou la colombe, descendue, épanouie, - je n’ose dire, amoureuse.


Elle a dormi, elle a rêve…Le beau rêve ! Et comment le dire ? C’est que le monstre merveilleux de la vie universelle, chez elle s’était englouti ; que désormais vie et mort, tout tenait dans ses entrailles, et qu’au prix de tant de douleurs elle avait conçu la Nature.

In « LA SORCIÈRE » de Michel
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(…) Pensa em mim que não sonho senão com o teu clarão onde adormece o luxo alegre de uma terra e de todos os astros que conquistei para ti adoro-te e adoro os teus olhos e abri os teus olhos abertos a todos aqueles que viram e darei a todos os seres que os teus olhos viram vestidos de ouro e de cristal vestidos que deverão tirar quando os teus olhos os tiverem embaciado com o desprezo.

Sangro no meu coração as iniciais do teu nome num estandarte que são todas as letras de que o z é a primeira no infinito dos alfabetos e das civilizações onde te amarei ainda, pois queres ser minha mulher e pensar em mim nos países onde já não existe termo médio.

O meu coração sangra na tua boca e volta a fechar-se na tua boca...

Tu virás tu pensas em mim tu correrás nas tuas treze pernas cheias...

...Quero ver-te chegar como as fadas.

In «A IMACULADA CONCEPÇÃO» de André Breton e Paul Éluard


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DEUSA BRANCA
Imagino-te fechada numa cidade de cristal,
Num horizonte longínquo de luz
No espaço sideral, onde vives submersa.

Vejo-te de muito longe num mar distante,
Chamo-te desesperada...Não sei quem és, nem onde estás...
Mas sei que existes e me amas tanto com eu a ti.

Talvez me chames, talvez me esperes,
Talvez me queiras dar tudo o que sonhei ou pressenti!
Vejo-te, porém muito longe.
Numa câmara ardente, num leito branco de cetim.
Adivinho o teu corpo suave e translúcido,
O teu sorriso doce e profundo, os teus cabelos ondulados,
As tuas mãos aladas que puxam por mim...

Pudesse eu vencer esta distância e lonjura!
Queria tanto estar a teus pés rendida
Ser tua escrava e não ser mais nada.

Ah! Quem me dera ser éter, volatilizar-me, subir no ar,
Ser a essência que, no espaço infinito te dá alento e forma.
Ser a tua vida eu própria!

In «Mulher Incesto – Sonata e Prelúdio»





«je sors de toi mais indéfiniment retenue dans ton ventre»
LUCE IRGARAY

1

Lembro-me do paraíso
No teu interior
O paraiso:

Com árvores
e oceanos

Penumbras incessantes
num enredado princípio

E havia também a maça
Do teu útero
Sítio: da tentação do início

***** ***

8

Este cordão umbilical
Que nos liga

Do chão do teu corpo
Ao chão da minha boca

A respirar-te

Devagar

O coração

**** ***

9

Deito-me junto do sal
Das tuas raízes

Na água salgada
Dos teus olhos

A ouvir respirar
o teu corpo

**** ****

6

A tapeçaria da tua
voz
feita com animais de asas

Com casas

Com aves
Bordadas

**** ****

1

Falei-te
De um passado
Cheio de ondinas
De sereias e de aves

Com uma mãe por detrás
A comandar as fadas

*** ****

«que nous puissions nous gouter, nous toucher, nous sentir, nous écouter, nous voir – ensemble».

LUCE IRIGARAY

Poemas do livro de MARIA TERESA HORTA:


“MINHA MÃE MEU AMOR”

sexta-feira, janeiro 25, 2002



OXUM MINHA MÃE!
Um dia eu hei-de ir À Baia!

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MULHERES QUE CORREM...COM OS GATOS!


Sim fiquei a pensar neste título e como se reage por dentro e por fora a esta impressão. Brrrr....
Com Gatos e Gatas?!!!
Toda a gente se afasta á priori, teme-se e confronta tanta soberania.
E com cães, como seria? Qual a impressão?
E com Cavalos?
E com Serpentes?

Com Lobos é misterioso e saudável...Perigoso mas digno...
Com cães pela praia é salutar e ternurento... É o melhor amigo do bicho homem...
Com cavalos é nobre e lendário, heróico e campestre...Na cidade é snobe...

Mas com gatos é sempre suspeito... Lembra logo “gata vadia” ou (gata bandida?), em telhado de zinco quente, lembra a mulher e o erotismo, mas com conotação perversa. Lembra as bruxas e as fogueiras e com elas queimados e perseguidos os gatos... Que os homens temem e matam nas ruas com raiva...Ou em crianças já perseguem e torturam... Lembra superstição macabra e agoirenta o treze e o gato preto da sorte... Uma miscelânea de paradoxos e de preconceitos! Lembra mulheres sensuais e libertas, mas vistas como promíscuas.

Mas são exactamente os gatos quem tem a mestria... São os Gatos Sagrados desde sempre o símbolo da Deusa e do Amor, são a mulher em essência na sua supremacia que o patriarcalismo religioso e social condenou e destruiu paulatinamente na face da terra.

E a Serpente símbolo da Grande–Mãe, regeneradora e mutante, Melusine et l’Androgyne, “estava em contacto com os mistérios da terra, das águas, da escuridão – auto- suficiente, insensível, reservada, às vezes venenosa, capaz de deslizar sem deixar rasto, magicamente engolindo grandes criaturas e rejuvenescendo-se pela mudança da pele.” (...) Consequentemente, a serpente tornou-se o maior símbolo animista e posteriormente ou paralelamente tornou-se para a Igreja católica simplesmente símbolo do pecado e da mulher pecadora para os padres misóginos e castradores e um “deus macho” que pôs inimizade entre as duas e separou assim as duas mulheres! Compra uma e vende “a outra!” Os homens do deserto contra a Senhora das Águas...



A SERPENTE E


“A Mulher é sempre um mistério insondável que atrai e mete mede ao mesmo tempo que dá vida e se torna devoradora, e que os moralistas cristãos se apressaram muitas vezes a identificar com o diabo, pelo menos com a ideia pueril que se tinha deste. Este mistério foi sentido pelos homens da pré-história, visto que os escultores e gravadores do paliolítico se abstiveram cuidadosamente de desenhar o seu rosto. Quem é essa Deusa dos tempos Primordiais, que tem sexo, mas não tem rosto? Será o eterno feminino tão caro aos poetas? (...)
Jean Markale “AGRANDE DEUSA“


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OS TEMPLOS DA GRANDE-MÃE FORAM DESTRUIDOS PELOS

FANÁTICOS CRISTÃOS COMO AS ESTÁTUAS DOS BUDAS

FORAM

DESTRUIDAS PELOS TALIBANS! MAS O MUNDO JÁ ESQUECEU !


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“AS MULHERES PRECISAM DE SABER QUE SÃO CAPAZES DE PENSAR INTELI+GENTEMENTE E QUE PRECISAM DE TER CONSCIÊNCIA DISTO NESTE EXACTO MOMENTO.” Adrienne Rich



“O PACTO SEM CONHECIMENTO



(...).
Embora possamos ter respostas diferentes em dias diferentes, há uma resposta que é constante na vida de todas as mulheres. Embora detestemos admitir o facto, na esmagadora maioria das vezes o pacto mais infeliz das nossas vidas é o que fazemos quando nos privamos da nossa vida de conhecimento profundo em troca de uma vida que é muito mais frágil; quando renunciamos aos nossos dentes, nossas garras, nossos sentidos, nosso faro; quando entregamos nossa natureza selvagem em troca da promessa de algo que parece rico mas que se revela vazio. (...)

A iniciação da mulher começa com o pacto infeliz que ela fez há muito quando ainda estava entorpecida. Ao escolher aquilo que a atraiu como sendo riqueza, ela cedeu, em troca seu domínio sobre algumas partes, e muitas vezes sobre todas as partes, da sua vida instintiva, criativa e cheia de paixão. Esse entorpecimento psíquico feminino é um estado próximo do sonambulismo. Durante sua vigência, andamos, conversamos e estamos dormindo. Amamos e trabalhamos, mas as nossas escolhas revelam a verdade acerca da nossa condição. Os aspectos voluptuosos, curiosos, incendiários e bons da nossa natureza não estão em pleno funcionamento.
(...)

“MULHERES CORRENDO COM OS LOBOS” – Clarissa Pinkola Estés


**** ***

ADMIRAÇÃO
(

...) Quando vejo aquelas mulheres que pensam que emancipação significa a liberdade de serem tão ambiciosas e sedentas de poder como o mais macho dos homens, temo que as mulheres que se mantiveram intactas (autênticas) à sua maneira sejam postas em perigo por outras mulheres. É que já não se tratará apenas de se defenderem dos homens, como também daquelas mulheres que adoptaram a concepção masculina da liberdade. A “liberdade” de perseguir o poder para não terem de saber do medo torna-as cúmplices com o desprezo que os homens costumam ter pelo sexo feminino. Um Eu que foge do desamparo só até certo ponto pode aspirar a saber algo dos seus processos interiores. Não sabe lidar com os próprios horrores e inseguranças, só os pode negar pelo desprezo e pela perseguição da invulnerabilidade. Essa perseguição é evidentemente um esforço inútil para ambos, já que para os homens e as mulheres o desamparo espreita atras de cada esquina, justamente porque ela é temida. As suas consequências são paranóia, defesa, ameaças de guerra e a loucura da corrida aos armamentos.


A dependência da admiração, isto é, o sermos admirados, parece prometer a força desejada. O homem quer ser admirado pela sua “força”. E esse estado do ser admirado chama-se amor, embora ele tenda mais a asfixiar o amor autêntico. A maior parte das vezes não é essa a intenção consciente, mas isso não altera nada os resultados.

(...)
In “A TRAIÇÃO DO EU “ do autor do livro “A LOUCURA DA NORMALIDADE”
ARNO GRUEN – Professor e Psicanalista de origem alemã
***** ****.


“Nos dois pólos da rosa-abismo, legível:
a tua palavra proscrita” - Celan



Que estranho hoje não acordei nada poética...
Eu que pensava que a poesia para mim era tudo... Não, não pensava nada. Minto.
Nós fingimos sempre como diz o outro poeta, com quem nem me comparo.
Porque eu deveras e sinceramente até nunca me senti poeta ou poetisa, nem musa...
Isto foi tudo um disfarce...
Na verdade, penso sempre que o que escrevo é por engano e de nada serve.
Para se ser poeta é preciso essencialmente ter fé nas palavras ou na humanidade, é preciso ser-se visionário e solitário e eu ás vezes viro-me do avesso e o que vejo são só reticências, dúvidas e medos...

O melhor é voltar para a cama e dormir até que o sono volte e então no sonho, quiça seja poeta ou poetisa e a Musa ou a Deusa que tanto sonho em vão, apareça...

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PENSAMENTOS SOLTOS


As vezes queria que as minhas palavras tivessem asas...

Estamos envoltos numa casca como paredes de uma prisão que é preciso constantemente quebrar para respirar outro ar e sermos livres por dentro...

É difícil ir além dos limites do tempo e do espaço, quebrar as amarras que nos aprisionam nesta ilusão de sermos apenas este corpo e esta mente insana...

O nosso Ser começa para lá de todas as fronteiras a que a nossa existência terrena nos prende e nos consome...

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“Aquilo que o acto de escrever tem de mais positivo é que a pessoa se liga a si mesma da forma mais profunda, e isso é como chegar ao céu. Tem-se a possibilidade de se saber quem se é, de saber o que se pensa. O indivíduo começa a relacionar-se com a sua própria mente”
Natalie Goldberg

“Aprendi, através da minha escrita, que os meus pensamentos têm ordem, e inteligência, e que estão todos relacionados com o meu bem estar. Mais que isso, os meus pensamentos estão profundamente ligados ao meu ser sensitivo. Aprendi a usar as palavras para exprimir, criar, e explorar todos os relacionamentos e emoções que dão sentido à minha vida.”

IN “CORPO DE MULHER SABEDORIA DE MULHER – Christiane Northrup

Eu volto amanhã de manhã na noite de quem dorme...

quinta-feira, janeiro 24, 2002



Não sei quem é e gostava de saber; achei...não roubei.


MORO NA MINHA PRÓPRIA CASA,
NUNCA IMITEI NINGUÉM,
E RIO-ME DE TODOS OS MESTRES
QUE NUNCA SE RIRAM DE SI.

In “A Gaia Ciência” de Nietzche

Aos NÓMADAS de um novo e possível COSMOS interactivo...

Estive hoje a fazer uma pequena incursão pelos blogues que vou conhecendo e fiquei, mais uma vez, com a impressão de que eu me afasto muito dos estilos e dos contextos, mas vi uma possibilidade sem fim de comunicar para dentro...
É, EU ACHO QUE ESTA COISA ME FAZ IR MAIS PARA DENTRO DE MIM...
- Disseram-me que é por causa do Urano que tem a ver com o fluídico, se não me engano...(se alguém quiser investigar o Urano na comunicação “virtual”?)
Sem me importar com a forma e O ESTILO OU O CONTEÚDO. E claro que esta é uma impressão subjectiva e como é muito difícil “agradar a gregos e a troianos” e eu não quero agradar a ninguém, a melhor maneira é ser-se subjectivo ou intimista, segundo o meu ponto de vista e navegar dentro de mim mesma como quem percorre o Labirinto do seu próprio conhecimento e manifesta os seus sentimentos, preferências e emoções estéticas, e se as afinidades existirem aqui e ali que sejam electivas, e tanto melhor se a selecção for natural, sem ficar à espera de “votos” ou cumprimentos...Embora adore recebê-los.

É mais gratificante encontrar seres que viagem dentro de si através do espelho em que se reflectem, DE DENTRO PARA FORA do que num rosto ou numa imagem de mercado, modelos e estereótipos, e nas suas palavras o que sentem e ATÉ SE pode encontrar ECO neste pequeno cosmos da Internet? Digo Nos Blog’s? MELHOR ainda!

Nada me dá mais prazer do que os meus livros, de que não abdico e são eles a minha fonte ou o meu “diário intensivo”, mas agora descubro, aos poucos, outra forma de me interiorizar nos meus pensamentos, partilhando sem compromisso, sem imposição, com toda a liberdade de expressão o que me é caro e acho digno de crédito, mas não CONSIGO DEIXAR a METAFÍSICA ou DEIXAR de ser grave ou lá o que me queiram chamar. Será que isso não entra aqui?

Disseram-me para usar o estilo jornalístico, amigos queridos, mas eu sou sempre intimista, SEM REMÉDIO. Esta é a minha doença. Como a Pérola da ostra...

Sim penso: o que é que interessa às pessoas as minhas reflexões ou as minhas críticas?

Senão é SEXO, drama, COMÉDIA, intriga, POLÍTICA, guerra e CRIME? Para isso têm os jornais e revistas...

Ah! A ARTE...A pintura A LITERATURA, a música e DANÇA e o cinema, têm os seus próprios meios...

Alguém por aqui dizia e é verdade: “os críticos de arte só criticam os artistas” e como podiam criticar a Arte se são só críticos? digo eu...

Penso nos Média, em geral, prostituídos pela imagem ou notícia que vende e os interesses de propaganda dos próprios meios de comunicação, como a guerra de canais televisivos etc.- faz-se tudo para vender e vende-se a alma ao diabo! – em guetos de valores de Bordel...Isso eu não quero!

Dizer-se ou escrever-se o que agrada à multidão não é democracia, mas sacrificar os valores de exigência de uma ética superior do Ser Humano – não me confundam o “superior” com classes! - é ceder à facilidade e ao lugar comum e esse ao contrário do que se possa pensar é o princípio de uma nova alienação humana ou de um novo fascismo!

Mas como é que se escapa a tudo isto? Sim eu sou ingénua em acreditar que talvez aqui...Quem sabe, haja uma esperança de mais verdade... De se ser apenas como e quem se é e dizer-se o que se gosta!

QUEM SABE?

****

Nota à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: ”fui eu?”
Deus sabe porque o escrevi.

*** ***

(...)
REGRESSO A MIM. Alguns anos andei viajando a colher maneiras de sentir. Agora, tendo visto tudo e sentido tudo, tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar, quanto possa e em tudo o que possa, para o progresso da civilização e alargamento da consciência da humanidade. Oxalá me não desvie disto o meu perigoso feitio demasiado multilateral, adaptável a tudo, sempre alheio a si-próprio e sem nexo dentro de si.

(...) Chamo insinceras às coisas feitas para fazer pasmar, e às coisas – repare nisto que é importante – que não contêm uma fundamental ideia metafísica, isto é uma noção de gravidade e do mistério da vida. Por isso é sério tudo o que pus sob os nomes de Caeiro, Reis, Álvaro de Campos. Em qualquer deste pus um profundo conceito de vida, diverso em todos os três, mas em todos GRAVEMENTE ATENTO À IMPORTÂNCIA MISTERIOSA DE EXISTIR.>



**** *****

(...)
E o que não sabes nem saberás nunca
É isso o mais real e o mais profundo.

Fernando Pessoa

quarta-feira, janeiro 23, 2002




“As mulheres por vezes ficam histéricas e fazem e dizem as coisas mais estranhas. Mas esta observação vai dar a volta e morder a própria cauda: talvez a verdade da vida e do viver resida nas estranhas coisas que as mulheres fazem e dizem quando estão histéricas”

in “ As Duas Vozes”- de William Golding



(…)
Nas culturas celtas, a jovem donzela era vista como a flor; a mãe, o fruto, e a mulher mais velha, a semente. A semente é a parte que contém o conhecimento e o potencial de todas as outras partes de si. O papel da mulher pós-menopáusica é voltar a semear toda a comunidade com a sua semente concentrada de verdade e sabedoria. Em algumas culturas nativas, considerava-se que as mulheres na menopausa retinham o “sangue da sabedoria”, em vez de o expelir ciclicamente, e eram portanto consoderadas mais poderosas que as mulheres que menstruavam. Nessas culturas, uma mulher não podia ser “xamã” até ter ultrapassado a menopausa. A “menopausa”, observa Slayton, “quando compreendida e apoiada, fornece às mulheres o nível seguinte de iniciação ao poder pessoal. Como parte do tabu menstrual que ainda perdura na nossa cultura, a voz da mulher menopáusica é temida e negada. Foi tornada invisível ou encorajada a permanecer jovem para sempre através da terapia de substituição hormonal, ou outra intervenção médica. Esta alienação cultural de um rito de passagem vital faz com que as mulheres mais velhas se sintam inúteis, isoladas e impotentes”

(...)
Quando uma mulher compreende que o verdadeiro significado da menopausa foi invertido e degradado, como muitos outros processos do corpo da mulher, consegue fazer o seu caminho durante o resto da vida, fortificada com objectivos e discernimento.


In “CORPO DE MULHER SABEDORIA DE MULHER” de Christiane Northrup

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Serei velha e decrépita um dia,
com este sonho de amor no meu coração...
Mas que importa se for velha?
Rio-me da frágil beleza que enche os olhos de nada...

Ah1 a magreza dos modelos, a destreza dos corpos...
Dá-me pena ver tanto sacrifício em vão,
Quando a beleza do coração é a única magia que rejuvenesce.

Ah! que dor me dá no peito
pensar nas cirurgias plásticas, disfarces e implantes!
Que crime contra natura e sofrimento inútil...
E que preço não paga o corpo por tamanha aberração!

Serei velha e decrépita sim, mas a alma que me anima
é o único prenúncio de beleza que não morre.
Sei-o, quando cheia de amor me sinto,
e vejo a tua clara Luz que brilha dentro de mim...














terça-feira, janeiro 22, 2002

J’ADORE

(…)



Je t’adore. Je voudrais m’agenouiller, joindre les mains, t’embrasser partout à la fois. Près de toi je ne peux que recueillir en fermant les yeux et changer les minutes légères en sentiments profonds.
Il me serait égal d’être le plus pauvre de tous les pauvres et d’avoir froid pourvu que j’aime. Et il me serait égal d’être seul pourvu que j’aie de l’amour dans le cœur. Je suis devenu semblable à ma vie, semblable à moi-même, semblable à plus tard, à mon Paradis, ayant l’avenir dans la main puisque j’ai l’amour.
Existe-tu ? Est-ce à quelqu’un que je m’adresse ? Est-ce que je ne fais pas qu’appeler le vide ? Peut-être est-ce une étoile que j’entoure de mes rêves ?


« J’AI TANT BESOIN DE PITIÉ ET DE TENDRESSE… »In. J’ADORE de Jean Desbordes (né en 1906)


SACRIFÍCIO

Gosto dos egipcios,
queria voltar aos seus templos antigos.
(...)
Abraço Sekhimet e os seus seios descobertos
e deito-me no seu manto de rainha escarlate.

Ofereço-me em sacrifício a Bastit, para ver os seus
olhos de amêndoa de gata sorrirem...
(...)
( Do livro M.I. ) Sonata e Prelúdio...

III

Mesmo quando as aves levantam voo
em ondas de grande debandada
eu nada vejo, fico cega
presa como estou e ausente
dois corações obedientes no seu bater
a minha vida ligada a tua
no elo da tua beleza.

Poema egipcio






DA MESTRIA DO GATO À DEUSA GATA, DEUSA DO EROTISMO,

DEDICADO À GATA-BANDIDA



(...) O ser humano ainda não iluminado pela sua consciência espiritual quanto aos valores reais ou relativos, deixa o seu mental apoiar os desejos instintivos do seu ser inferior, cujas exigências anárquicas criam tumultos de aceleração de impaciência, e de caprichos incoerentes.
Sofrendo dessas influências, o Autómato humano assemelha-se a certo tipos de animais. O cão treme de impaciência diante do osso avidamente desejado. A inconstância do macaco é típica pela sua dispersão de ideias. A agitação da mosca lança-a para a armadilha da aranha. A pressa é a preocupação da abelha pelo dever social; é também a inquietação da formiga que tem sempre qualquer coisa que fazer, mas que se precipita em voltas supérfluas, sabendo a direcção, mas não a maneira de contornar os obstáculos.

Ao contrário de outros animais que nos dão uma lição de mestria, sendo exemplo disso o gato cuja sabedoria é um modelo porque junta a maior paixão à mais indiferente calma.

Na sua imobilidade reflecte o seu salto, sempre exacto;
a força dos seus rins é proporcional ao relaxe do seu sono:
há no seu sono, o abandono da criança recém-nascida, enquanto que o seu instinto está sempre de vigília;
a sua leveza sem resistência torna a sua queda sem perigo;
Caça e luta são para ele alegria do jogo: ele caça sem ódio e joga sem finalidade;
constantemente pronto ao ataque sem animosidade, e pronto a defender-se sem apreensão:
vencedor indiferente, ele nunca é vencido.


A serenidade é o fruto da independência.
Cria em ti esta independência, que não é indiferença, mas neutralidade face às impressões recebidas do exterior: bonito e feio, bom e mau, alegre ou triste, agradável ou penível... Um a coisa é discernir as qualidades, outra é deixá-las afectar a nossa disposição.
(...).
La paz sobre esta Terra não pode ser a supressão das forças opostas, mas a sua conciliação no interesse de um fim comum: a vida indestrutível.


In « L’OUVERTURE DU CHEMIN » de ISHA s. DE LUBCZ

*****

O GATO NO ANTIGO EGIPTO


A Deusa com cabeça de gata, Bastit, era a irmã de Sekhemet da qual ela representava o aspecto doce. Ela bebe leite enquanto que Sekhemet bebe sangue...
(...) Algumas vezes Bastit tem na sua mão a cabeça de Sekhemet, para mostrar que ela pode esconder esse outro lado...
O gato era o animal sagrado em Bubaste,onde Bastit tinha o seu Templo; os gatos eram intocáveis e quando morriam eram embalsemados.
O gato tem um aspecto lunar e um aspecto solar. Ele é dotado de uma extraordinária flexibilidade da coluna vertebral e dum poder energético intenso.

In HER-BAK “DISCIPLE”
( Isha S. De Lubicz)
**** ***

BASTIT

Lembras-te? foi em Tenterys,
Quando a Deusa com máscara de gata
Dançou e lançou um feitiço quando te viu?
Levou-te com ela; desde aí fiquei só.

Lembro-me da terra vermelha, da minha sede,
Da tua miragem,
Lembro-me da noite vir...do teu doce e terno sorrir,
Da sede da tua boca, do teu corpo a escaldar...
E não tive medo, antes ri quando uma pequena serpente
Me entrou no coração
E gentilmente o seu veneno me adormeceu.

Agora me lembro, queria ir contigo a Denderah
Ver Bastit no seu altar.

Queria lembrar-me quem era,
Se tua mãe, tua amante ou tua irmã.

Anda comigo a Ta Mery, ver Hathor, ouvir cantar...

Adoro a mulher dourada
Louvo a sua majestade
Celebro a senhora do céu
Canto os louvores a Hathor
E a sua glória soberana...

****

segunda-feira, janeiro 21, 2002

O QUE PENSA DO MEU BLOG A MINHA MELHOR AMIGA,CASADA COM UM BRASILEIRO MUITO ESPECIAL,
UM DOS POUCOS HOMENS QUE ADMIRO E QUE A MERECE!!!!


OLÁ MARTA E SILVIO

Vocês escreveram:

"querida!

ler tudo é mentira! não consigo , acho que está muito pesada , talvez fosse
mais dinamico ter uns textos mais pequenos ou então é mesmo para a traça
intelectual da qual não faço parte!!!

quanto ao texto dos portuguese vou fazer de conta que não a conheço e vou
comentar!

está bem apanhado e indiscutivelmente bem escrito mas :

1º é a autora que não se sente minamente bem na pele de portuguesa!(está
claro no texto!)
2º generaliza um pouco as coisas e elas são importantes demais para serem
apenas analisadas de uma forma tão generalizadas!
3º não concordo em nada com o que os estrangeiros pensam de nós , nem os
que são visitantes
( que acham que temos o previlégio de viver nua terra linda como a acham o
máximo , lisboa por exemplo compara-se hoje , talvez depois da expo a uma
das melhores cidades da europa, nomeadamente no que respeita á boa
exploração da cidade virada para o lindo rio tejo:restaurantes , bares ,
discotecas dizem ser as melhores e mais bonitas da europa hoje.
os que cá vivem nomeadamente os milhares que compraram casa e terrenos no
algarve são completamente fãs de portugal e dos portugueses pelo respeito
que voçê rediculariza que temos aos estrangeiros e que para mim tem muito
mais a ver com o prazer de receber bem do que propriamente pelo sentimento
de inferioridade que quer transmitir que todos sentimos. discordo
profundamente!
3ºacho que pelo menos desde que me conheço já se fizeram milhares de coisas
da qual me orgulho muito , eu orgulho-me de ser portuguesa!
4º e respondendo ao que está a pensar neste momento: eu não sou diferente!

para finalizar e dizendo já que não li tudo atentamente acho que quanto mais
escrever como explica bem mais fantástica vai ser a sua página!
love you

fico muito contente por ter concretizádo mais um "querer" tão importante
para si!

parabens!"
***** ****

Agora vão ter que me dizer daí o que pensam...É que em parte eu concordo com eles conforme já me manifestei num texto atràs, de me sentir desfasada do estilo dos Blog's em geral, muito mais dinâmicos e simples, directos convidadtivos à interacção!!! Será mesmo que eu me integro no ESPIRITO BLOGUEIRO?
******

A VOZ SEM VERBO, É A VOZ SEM O FEMININO: O VERBO É

RESPIRAR NASCER E CRIAR É

A POESIA

OU QUALQUER ACTO

NASCIDO E CONCEBIDO DENTRO DA ALMA, MÃE TERRA E MAR

É SER-SE E MANIFESTAR-SE NO MUNDO.



**** ****

"A saudade, a nostalgia ou a melancolia são modalidades, modulações da nossa relação de seres de memória e sensibilidade com o Tempo. Ou antes, com a temporalidade, aquilo que, a exemplo de Georges Poulet, designarei de “tempo humano”. Isso significa que essa temporalidade é diversa daquela outra, abstratamente universal, que atribuímos ao tempo como sucessão irreversível. Só esse “tempo humano”, jogo da memória e constitutivo dela, permite a inversão, a suspensão ficcional do tempo irreversível, fonte de uma emoção a nenhuma outra comparável. Nela e por meio dela sentimos ao mesmo tempo a nossa fugacidade e a nossa eternidade. A esse título, a nostalgia, a melancolia, a própria saudade, reivindicada pelos portugueses como um estado intraduzível e singular, são sentimentos ou vivências universais. Da universalidade do “tempo humano” preci­samente. É o conteúdo, a cor desse tempo, a diversidade do jogo que a memória desenha na sua leitura do passado, o que distingue a nostalgia da melancolia e estas duas da saudade

(...)

Contrariamente à lenda, o povo português, ferido como tantos outros, por tragédias reais na sua vida coletiva, não é um povo trágico. Está aquém ou além da tragédia. A sua maneira espontânea de se voltar para o passado em geral, e para o seu em particular, não é nostálgica e ainda menos melancólica. É simplesmente saudosa, enraizada com uma tal intensidade no que ama, quer dizer, no que é, que um olhar para o passado no que isso supõe de verdadeiro afastamento de si, uma adesão efetiva ao presente como sua condição, é mais da ordem do sonho que do real."

(...)
Eduardo Lourenço

SOBRE A SAUDADE (II)

Com todo o respeito e admiração que o ensaísta Eduardo Lourenço me inspira e que fala da Saudade como ninguém, e como homem, quero apresentar aqui a diferença, o mesmo sentimento escrito e vivido por uma senhora extraordinária, também ensaísta e escritora, que vai às origens do mito e percorre os labirintos da Saudade, como mulher.

(...)
A saudade pertencendo ao caminho da Lua, sua salvação é dada no mundo sublunar da transformação, do retorno cíclico da terra ao céu e do céu à terra, através da encarnação e reminiscências; tal ainda aquele regido e simbolizado pela serpente e pela espiral, (...)
Toda a estrutura da saudade pertencerá à metafísica lunar: como nesta, a sua ideia central é a do ritmo, na sucessão e união de contrários através do devir, por um dualismo solucionado numa integração final. (...)

A saudade, dentro de todo o seu contexto histórico, será marcadamente feminina, sua forma de ser e conhecer, fazendo-se preferentemente pelo sentimento, tal como essa religião e culto do passado galaico-português. Ela tece os fios do tempo na teia do devir, tal como a Grande –Deusa tecedeira, unindo passado e futuro. Assim já tecia a deusa lunar, como mediadora e senhora do tempo: com uma roca era representada a deusa encontrada em Tróia, assim como Isthar e a grande deusa hitita. E assim também as sucessoras da Grande-Deusa aqui neste mesmo território galaico-português, sobrevivendo através das lendas e tradições populares, as Mouras encantadas, também tecedeiras, como Circe ou Penélope, ou fiandeiras: defronte de seu tear ocultas no seu mundo subterrâneo, fazendo-se ouvir na noite de sua epifania, a noite se S.João; (...)

Alegre e triste, é a concepção da saudade, e também consoladora, tal como seria essa antiga religião da sua deusa. E à saudade pode-se considerar nos tempos de agora, como uma hierofonia lunar: de carácter místico, escatológico e soteriológico. Também como esta religião antiga, ela é fundamentada emocional e passional, e em si contendo esse triplo sentido e finalidade, tal como uma sobrevivência de sua antiga religião dos Mistérios. A saudade sendo no povo galaico-português, a maior sobrevivência actual e europeia, da antiga religião pré-ariana da Grande-Deusa. Daí a sua força de estrutura a singularizar toda uma dada cultura: Força que só lhe poderá advir dessa origem e natureza religiosa.

A saudade precederá também, na actual Galiza e Portugal, a chegada dos celtas, e será, com os vestígios megalíticos, a tradição matriacal e agrária, a demanda do Graal e o regresso ao Paraíso, uma herança do seu fundo pré-ariano.” (...)

Dalila L. Pereira da Costa, no seu livro “DA SERPENTE Á IMACULADA”
*** ****

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA
(no feminino)

Ó Senhora minha
Ó minha mãe,
Eu me ofereço toda a Vós
E em prova da minha devoção
Para convosco, Vos consagro
Neste dia, os meus ouvidos,
A minha boca, o meu coração
E inteiramente todo o meu ser;
E porque assim sou vossa,
Ó incomparável Mãe,
Guardai-me e defendei-me
Como coisa e propriedade
Vossa . Lembrai-vos, que Vos
Pertenço, terna Mãe e Senhora
Nossa. Ah! Guardai-me
E defendei-me como coisa
Própria vossa.

(autor desconhecido ?)

**** ****

Nascida a filha, os seus braços estenderam-se para sua mãe:
Totalmente guardada nos meus braços serás o meu talismã de futuro,
Garantia do meu destino.

Disse a filha para a mãe:
As duas faces idênticas que ardentemente se contemplam
São as duas faces de Narcisa e Safo.

Este foi o primeiro incesto.


Isabel Barreno – “A morte da mãe”

***** ***

SEDE

Ó minha amada, de ti sou insaciável
Tenho fome e sede do teu corpo como de pão e água!

Uma ânsia infinita dos teus olhos,
Uma premência inaudita do teu ser
E da tua boca, oh! Nem quero falar porque desvairo
E desfaleço da sede de te beijar!

Ó delíquio da fusão, ó sonho de ti renascer
E como na origem só uma ser.

Eu e tu , mãe eterna na minha alma inteira a vibrar,
Liquefeita eu nesse mar do teu olhar,
para sempre no teu Santo Nome mergulhar.

Ó minha amada, de mim sou insaciável!


In “Mulher Incesto”

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PORQUE O PRANTO NA CASA DO POETA NÃO É PERMITIDO, NEM ISSO CONVÉM

Safo - Fragmentos

domingo, janeiro 20, 2002


A ORIGEM DA SAUDADE I

EXCERTOS
(...)
Nas grutas do neolítico, dedicados à Grande-Deusa e nas nossas grutas do eneolítico até aos Mistérios de Elêusis, um mesmo culto e uma mesma iniciação se processaria e perduraria, através dos tempos. Para essa iniciação perfeita, necessário seria dar provas de saber vencer o medo, de dominar o corpo e a dor física, como actos de sublimação do humano, via ao divino: passagens sinuosas, portas estreitas, ambiente de trevas e de solidão, antecederiam necessariamente essa estação última de luz, como a concedida nas câmaras das grutas, pelo alto iluminadas: atingimento da verdade plena, ou o estado do ser humano antes da Queda. Ou estado depois da morte.

No centro do nosso país, a escolha das grutas naturais ou a construção das artificiais e das tholoi, teria pertencido ao sacerdócio de então, como detentor do conhecimento das correntes da energia telúrico-cósmicas atravessando o nosso solo e os pontos de seu cruzamento, como pontos máximos de sua concentração. Rede de correntes telúricas, por ela ligadas aquelas mais vastas e circundantes da rede cósmica: ou como sua projecção na terra. Seria o conhecimento desta estrutura energética, que teria marcado a nossa geografia sagrada.

Assim, nesta imortalidade telúrica e celeste, doada pala deusa-lua, fazendo-se no devir e ultrapassando-o através da sua dor e alegria, assumindo a terra e sublimando-a no céu, tentemos vislumbrar algo das origens da saudade.

(...) Pareceu-nos que, tendo a saudade sua existência peculiar neste território e humanidade galaico-português, e sendo dele herdado, suas raízes afundariam na mais funda essência sagrada desse território e humanidade, como sua religião primeva; (...)

in DA SERPENTE À IMACULADA” “– Dalila L.Pereira da Costa

(CONTINUA)
***** ****


“É por isso que, sabendo nós que, actualmente, o cristianismo é o velho, o decadente, a esterilidade e o inútil – nós, conquanto não saibamos claramente, nem nitidamente prevejamos o que se lhe seguirá, temos ainda assim a consciência de que , atacando-o trabalhamos pela nova fé; (...) preparamos o terreno para o edifício novo; que, arrancando as plantas que degeneram em bravias, nós deixamos o lugar livre para a semente que germinará em planta, para no fim, degenerar também em bravia (...), e ser arrancada por outros, para que outras plantas novas nasçam, e assim indefinidamente e incompreensivelmente no suceder-se dos séculos, e em favor do mystério infinito.”

iN "Pessoa por conhecer - Roteiro para uma Expedição" de Teresa Rita Lopes
FERNANDO PESSOA


Respirar em Fernando Pessoa é entrar no País verdadeiro: o da língua materna...
Saudade e tristeza, nostalgia e fado, memória da Mãe eterna.


***** ****

sábado, janeiro 19, 2002

O MUNDO NOVO E O MUNDO VELHO

Estamos entre dois mundos... Um mundo velho que se esvai em convulsões e agonia, que mata os seus filhos, que dilacera. Estamos no fim de um mundo que era só razão e excluía sentimentos e intuição e em que a luta das mulheres quase que foi em vão...Houve desvios culturais na história da humanidade que a prejudicaram mais directamente na falta de verticalidade e dignidade a que foi sujeita, mas que prejudicou directamente também os seus filhos... O homem tem de recuar na sua força e prepotência, tem de abandonar a sua arrogância e violência e aprender a amar e respeitar a mulher. Porque sem a mulher no seu papel mais elevado de ser individual antes de ser amante ou mãe, nunca a humanidade se vai libertar da sua escravidão. Porque a Mãe da humanidade está dividida em duas metades uma contra a outra no mundo inteiro. Uma dualidade perpetuada por valores de superioridade e inferioridade cabendo à mulher sempre o papel inferior e negativo... Os homens quiseram assumir a paternidade do mundo, mas só geraram a divisão e o ódio entre irmãos... Dividiram terras, países bens e mulheres!
Este é o velho mundo do amor e do ódio sempre em alternância e sem descanso.
Todas a escravidão exercida pelo homem começou com a escravidão da mulher e porque a Mãe faltou, votada ao silêncio e ao descrédito, os homens destruíram o mundo pela guerra. A mulher sofreu tanto ao longo destes milhares de anos que nada poderá justificar, nem a razão nem o pecado, nada justifica esse sacrifício inaudito. Apenas a loucura e prepotência dos homens que não viram que o seu poder era usado em cima do sacrifício da própria Mãe e que eles seriam as SUAS vítimas mais próximas. E se houve um crucificado nesta história que tão mal nos foi contada, não foi Cristo, mas a Mulher!

Todo a face do mal deste velho mundo em estertor, dividido em duas metades, foi projectado na mulher. A mulher foi a cobaia e o bode expiatório de todos os homens, mesmo dos escravos e é preciso que isso fique claro de uma vez por todas, pois só depois de se compreender este erro crasso contra uma metade da humanidade, em que ainda compactuamos todos, homens e mulheres, o mundo chegará a um novo consenso e atingirá uma nova consciência. Essa Consciência nada tem a ver com a velha consciência da moral e dos costumes, nem com a ordem patriarcal vigente neste podre mundo, mas com uma consciência alargada e não linear. Com uma nova visão do mundo e da mulher, um novo mundo se aproxima.

O universo dos homens foi a razão, o intelecto: análise e separação. O universo das mulheres é a intuição, o sentimento: percepção e síntese. Estes dois mundos têm de se encontrar e cruzar dentro de cada ser.
Cabe à mulher o papel de mediadora uma vez liberta das suas peias e de posse do seu dom de iniciadora, tanto do amor do filho como do amante, pois a mulher é iniciada por natureza e essa é a sua função: Amar e Ser igual a si mesma.

Abrem-se agora as Portas de um novo mundo, uma nova aliança com o Cosmos se a Deusa voltar e com ela a criança sagrada.

**** ***



LABIRINTO

Abrem-se as Portas.
Uma pequena e frágil criatura de outro mundo
Muito mais pequena e frágil do que as enormes portas,
Empurra com o seu corpo de pele e túnicas
Um imenso Portal desconhecido.

As suas vestes são brancas e diáfanas, as suas mãos delicadas,
Mas firmes nos movimentos
Quando abre as portas ou me toca nas costas:
È Ariana.
Um fio invisível pende da sua cintura fina como se ela fosse
Um rolo de seda a desfiar no labirinto do tempo,
No espaço recôndito que ela na minha alma atravessa.

São quarenta e duas portas das quais ela tem a chave,
A chave secreta com que abre o meu coração.

Numa das mãos traz o bastão com que ilumina o caminho.
Enquanto caminha, vai dizendo
Que eu tenho de alquimizar o tempo,
Que no tempo não há resposta,
Que é no silêncio do nome que eu me encontro.

A resposta que eu quero está no céu da sua boca
Ela própria é uma porta e a sua palavra sagrada.

(In” Mulher Incesto”)

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"Morrer é a curva da estrada.
Morrer é só não ser visto

Fernando Pessoa


À memória viva de um irmão que partiu...


Fórmula para não morrer de novo.

Palavras ditas por Osiris :
Ó Tot, que falta fazer às crianças de NUT ? Elas fomentaram a guerra, suscitaram querelas, causaram desordem, fomentaram a rebelião, massacraram, procederam a
prisões, em suma, abateram o que era grande, em tudo o que criei. Demonstra a tua força, Tot - ,
diz Atum.
- Tu não deves tolerar o erro, não deves sofrê-lo! Encurta os seus dias, retira os seus meses, porque eles secretamente destruiram tudo o que tu criaste!

- Eu estou de posse da tua paleta, ó Tot, e eu trago-te o tinteiro. Eu não estou entre estes fazedores de secreta destruição; é por isso que não me destruirá, uma morte rápida não terá poder sobre mim.

In O LIVRO DOS MORTOS DO ANTIGO EGIPTO

**** ******


Cipris, e vós Nereides, fazei com que
regresse salvo meu irmão, e tudo
quanto deseja seu coração se cumpra.

De tanto erro antigo desatai o nó:
que seja para os amigos alegria,
para seus inimigos, inquietação.
(...)

SAFO -Fragmentos



***** *****
A Natureza Mãe

Não são as revoluções ou convulções sociais,
que nos levam ao Conhecimento e à Liberdade.
Não é fora de nós que está o inimigo, seja ele pobre ou rico.
O mundo muda e gira há milhões de anos,
em mutações de espécies, transformaçoes e descobertas.
O homem percorreu séculos de aventura e luta.
Descobriu a vacina da tuberculose e a bomba atómica...
Foi á Lua e a Marte, criou o inferno,
e nada mudou dentro de si mesmo.

Muito mais difícil do que descobrir mundos por fora,
é descobrirmos quem somos, ou ir dentro do nosso próprio Ser...
Mais difícil do que atravessar mares nunca dantes navegados,
atravessar planícies e desertos, derrubar muros,
ou ir a um qualquer longínquo planeta,
é remover toda a ignorância dos escombros de culturas,
histórias e civilizações...
É ser-se o que se é sem medos nem pruridos,
É rezar a uma Deusa-Mãe-Natureza esquecida,
Que sempre habitou dentro de nós:
Muçulmanos ou Hindus, Cristãos e Judeus,
Agnósticos ou ateus, pois todos viemos dela.


**** *****


A serpente e o fogo ...

Todas as dores de um parto que não sofri
No meu ventre,
E que a minha alma inteira sente,
Vivi-as na consciência do amor em mim!
Amor que nasce perfeito da Mãe-filha que sou:
Ida e Pingala,
Unidas na memória ancestral do Akasha...


Este foi o primeiro incesto:
O casamento alquímico, o ouro puro dos egípcios,
A Arca perdida e o Bastão da vida,
A Kundalini dos Hindus.


In “Antes do Verbo era o Útero”

sexta-feira, janeiro 18, 2002

AMIEL

Não, nem no sonho a perfeição sonhada
Existe, pois que é sonho. Ó natureza,
Tão monotonamente renovada,
Que cura dás a esta tristeza?
O esquecimento temporário, a estrada
Por engano tomada,
O meditar na ponte e na incerteza...

Inúteis dias que consumo lentos
No esforço de pensar na acção,
Sòzinho com meus frios pensamentos
Nem com uma esperança mão em mão.
É talvez nobre ao coração
Este vazio ser que anseia o mundo,
Este prolixo ser que anseia em vão,
Exânime é profundo.


GLOSAS

Toda a obra é vã, e vã a obra toda.
O vento vão, que as folhas vãs enrola,
Figura o nosso esforço e o nosso estado.
O dado e o feito, ambos os dá o Fado.

Sereno, acima de ti mesmo, fita
A possibilidade erma e infinita
De onde o real emerge inùtilmente,
E cala, e só para pensares sente.

Nem o bem nem o mal define o mundo.
Alheio ao bem e ao mal, do céu profundo
Suposto, o fado que chamamos Deus
Rege nem bem nem mal a terra e os céus.

Rimos, choramos através da vida.
Uma coisa é uma cara contraída
E a outra uma água com um leve sal.
E o Fado fada alheio ao bem e o mal.

In POESIAS INÉDITAS – FERNANDO PESSOA

***** ****






LONGAMENTE
EM SONHOS FALEI COM AFRODITE
– SAFO


“Implorei-lhe, Ela ouviu a minha prece...” (canto egípcio).


ESPEREI POR TI

Esperava por ti... que viesses na alvorada...
Queria tanto ver-te, ó dourada imagem!
Esbelta e serena imagem, queria tanto que viesses
E contigo trouxesses a tua paz ansiada.

Ó alma da minha alma, ó essência da minha vida,
Espero-te desde sempre em cada minuto da minha vida,
Em cada vida noutra vida, em cada ermo ou enseada,
Na terra, no mar, no céu, dentro da minha casa.

Quero tanto saber, ó adorada imagem
De quem, desde que nasci e em todas as vidas que já vivi,
De quem, meu eterno amor, eu fui e sou ainda hoje escrava.

*** ****

A TUA IMAGEM

Tenho a tua imagem gravada no mais fundo do meu coração:
Olhos internos, fibras e nervos te vêem...

Corre no meu sangue como um rio
E eu deixo-me levar na corrente do teu ser.

Bebo a tua seiva e ergo-me como a coluna do templo
Em que és Rainha e minha,
No mais sagrado altar em que te posso abrigar.

Guardam-me a alma os teus olhos
Que me seguem a cada silêncio e em cada gesto.
Queria abraçar-te o ventre e adormecer suavemente a teus pés...

Como o pedinte à porta de uma igreja ou o nómada no deserto
A minha sede de ti é eterna, ó mãe do céu
E da terra em que nasci!


In “Mulher Incesto - Sonata e Prelúdio”

***** ****

quinta-feira, janeiro 17, 2002

A BOLA DE CRISTAL COM QUE EU SONHEI?

 ÁS AMIGAS BRASILEIRAS

Quando eu recebi o Blog MULHERES & DEUSAS de presente daí dessas terras de Vera Cruz, sem fazer caminho nenhum andado, como presente da Ana Maria Gonçalves, via Artémis, posso dizer que, de certo modo, ele me livrou da depressão e do descrédito que são duas maneiras de se morrer... Sim morre-se todos os dias um pouco, de tristeza de vivermos num mundo tão adverso à verdade e à ternura e a palavra de honra.
AS DOENÇAS digam lá o que disserem para mim são só o reflexo da falta de verdade no mundo, pois sem verdade interior não pode haver Amor de verdade – e assim somos lentamente asfixiados e poluídos, sobretudo nas cidades onde a insensibilidade, a violência e a agressividade matam de todas as maneiras. Por isso a gente se refugia em casa ou como pode, e procura mesmo assim acreditar e comunicar o que se sente!
E eis que aparece esta BOLA DE CRISTAL e eu não queria acreditar... Este mundo virtual...
Eu pensava que era apenas virtual, mas como dizia, salvou-me do descrédito e da apatia. Voltei a acreditar que podia, sem me vender nem prostituir aos média ou vender a alma ao diabo, dizer o que a minha alma me exigia. Tinha, em protesto, acabado com a Televisão, (fiquei sem canal nenhum!) para mim fonte absoluta de mentira e de corrupção, lugar onde se forjam valores de nulidade baseada exclusivamente na imagem e na estupidez e facilidade (e infelizmente até a política já está contaminada pelo “Big Brother” pois é ainda a imagem de mentira do político que o faz vencer nas urnas, agora mais do que nunca!) e aberto à possibilidade à Internet, quando comecei com a lista das Artémis. E aí apareceu o SUB-ROSA e a Ana do UDIGRUDI e a Sandra do NAKEDNESSE sob a égide da Deusa AFRODITE e outras vozes simpáticas que me deram alento. Porque é terrível dizer isto, mas é assim que se passa: os portugueses movem-se entre a apatia e a inveja ou a bajular quem tem prestígio e dinheiro, onde quer que seja. E se não são os interesses e "panelinhas", são os preconceitos ou eu não valho nada! Ou isto é o mal do mundo todo, ou do velho mundo em decadência. O refinamento cultural da velha Europa perverteu-se ou vendeu-se à América. Ou pelo menos é ao que a televisão nos reduz: consumo e alienação. A Arte é pelo dinheiro e escreve-se e vendem-se as maiores baboseiras, como livros sérios...
A nova prostituição é cultural...e espiritual...
Por isso eu queria agradecer às minhas amigas brasileiras a sua solidariedade e dizer-lhe a minha gratidão mantendo-me lúcida e consciente e fiel à minha ALMA e ao facto de ter nascido aqui neste Ninho da Serpente... que afinal pertence a um caminho ascendente que sobe em espiral e se enrola sobre si mesmo na esfericidade do mundo e do conhecimento ancestral. Sou da raça antiga para quem a Palavra é sagrada, mais importante que o pão e mesmo do ar que respiro...
Pois sem Palavra para que serve a vida?
E se agora a palavra pertence a quem não entra no tráfico de interesses e editores e mercados, se a palavra e a honra se salvam via éter – internet - assim seja e bem haja quem acredita e salva algumas almas por ai perdidas pelo cosmos, porque isso é possível e há uma BOLA DE CRISTAL que nos permite ter acesso à alma uns dos outros livremente, sem comércio...
rosa leonor pedro

terça-feira, janeiro 15, 2002

Agora que estou com umas mini-férias em casa, tenho ido todas as manhas visitar alguns blogues meus conhecidos e comecei a pensar que a minha linha não é nada o género nem o estilo, diário de bordo e, portanto fica demasiado didáctico, sério e chato... Mais parece Biblioteca! É verdade que eu venho dos livros e calhamaços, das místicas e “transcendências” e das “antiguidades” e não sei o que é que tem o meu mundo a ver com este meio e mais uma vez me encontro desfasada.
Penso logo que preciso aligeirar o tom e o estilo, mas temo não ser capaz e ai, lá se vai o blogue à vida ou então fico para trás na corrida do ciber espaço. É que há coisas que a gente não consegue mudar em nós e há espaços onde não devemos entrar, quero eu dizer que eu não vou pôr-me a andar num ring de patinagem sem patins e é assim que eu me sinto aqui! E se eu não aprender a patinar no gelo, só vou atrapalhar quem lá anda...Mas será que consigo aprender a patinar? Não creio, além disso, burro velho não aprende mesmo! Será esta uma versão invertida do "patinho feio"?
Por outro lado, eu creio também que em Portugal não há ainda muito o hábito e o vício da Internet e são sós os mais novos mesmo que aí navegam, facto ou realidade muito diferente do Brasil em que, segundo me apercebo, há uma enorme utilização e difusão deste meio interactivo extraordinário. Sendo um país enorme falando a mesma língua, pode fazer a diferença entre a Europa em que comum só há agora o euro. Portanto é possível que em Espanha ou em França, Inglaterra etc. seja mais dinâmico que aqui, mas falamos línguas diferentes. O Brasil tem acesso a Portugal e vice-versa, mas os estilos, creio eu são muito diferentes a não ser que se siga um modelo e isso eu não sei. Ando para aqui à deriva?
Alguém daí me esclarece?
uma ilha, com efeito, se encontrava diante
do estreito que vós chamais as colunas de Hércules.
Esta ilha era maior do que a Líbia e a Ásia juntas;
daí era possível aos navegadores de antigamente
a passagem para outras ilhas, e, dessas ilhas
para todo o continente situado em frente delas
o que rodeia esse mar longínguo, o verdadeiro mar


Platão ("Timeu")


DA SERPENTE E DOS CAMINHOS

“... Se como já apontámos este território que hoje é Portugal, tem a sua mais antiga referência literária na obra do escritor latino, Rufo Festo Avieno, a Ora Marítima, do século IV antes de Cristo,(...) e se esta primeira referência ao nosso território o designa com o nome de Ophiussa, como “terra de serpentes” e Saefes e Draganis como dois seus povos, e se numa passa passagem deste poema se cita o caso de que os Oestrimnios teriam sido expulsos daqui por uma invasão de serpentes – tudo apontará, entre símbolos, mito e história, através dum nome primevo dum território e de dois dos seus povos, como filhos ou adoradores da serpente, e por um acontecimento de sua existência colectiva, para a natureza ofídica deste território e sua humanidade. (...)”

in ”Da Serpente à Imaculada” de Dalila L.P. da Costa

“(...) Aliàs era já muito antigo o culto da serpente na Lusitânea, como o demonstrou Mendes Correia no seu trabalho sobre A Serpente, Totem da Lusitânea. À Lusitânea se chamou Ophiussa, a terra da serpente.

Como escreveu Pinharanda Gomes, a Serpente é o sinal remoto que nos introduz numa geneologia a divinis do povo lusitano e dos seus valores religiosos. A serpente apresenta como símbolo do conhecimento global _ a serpente enrolada, a boca tocando o rabo, denomina simbòlicamente o universo do saber, a unidade do ser. (...) A serpente indica a gravidade e a esfericidade do universo, a saber de geonomia e o conhecimento dos elementos, patentes na simbólica da cruz celta.

Nos textos fragmentários que escreveu para o livro, nunca concluido, que se intitularia O CAMINHO DA SERPENTE, Fernando Pessoa disse que ELA (a serpente), liga os contrários verdadeiros, porque ao passo que os caminhos da direita, ou da esquerda, ou do meio, ela segue um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ela é, acrescentou num apontamento nebuloso, na ordem material direita de Portugal. (...)

In “Portugal Razão e Mistério” de António Quadros

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Eu quis por Caravela e só saiu serpente...



"A Europa e a Espanha sempre obcecaram os portugueses, foram objecto de fascinação e ressentimentos...”
Eduardo Lourenço in D.N.



SE A ALMA NÃO FÔR PEQUENA



Pergunto-me tristemente porque somos nós portugueses tão deslumbrados ou provincianos e ao mesmo tempo tão convencidos e mesquinhos de avidez e inveja? Mas também me pergunto se há alguma espécie de portugueses mais genuínos que outros ou se alguma vez desde que existimos no mapa fomos diferentes do que agora somos. Pergunto-me porque é que qualquer estrangeiro em Portugal é obsequiado e quase venerado. E porque é que, paradoxalmente, os estrangeiros residentes que vivem à conta desse provincianismo, tem tão má impressão de nós. E nós sempre servis, a bajulá-los a querer ir às suas festas e jantares e como as crianças pobrezinhas ficamos á porta e até são já grandes os políticos que se ofendem por não irem ao jantar dos “grandes” e não vêem que não têm brinquedos para competir nesta guerra de potências e nem sequer pensar em “Defesa do País, como defendem alguns avós, e eu pergunto qual “Defesa” e defender-nos de quem? Será que para sermos gente temos de comprar armas e aviões, barquinhos e submarinos ou a bomba atómica? Felizmente somos pequeninos para entrar com armas e bagagens nestes convénios... O que me preocupa é de onde nos vem este complexo, qual a origem da nossa pequenez mental e a mania das grandezas e este filme em que ninguém acredita, mas todos fingimos que sim? Quem somos nós afinal? Não estou certa da nossa história completa e onde começa, as nossas origens antes mesmo de D. Afonso Henriques, mas esse complexo é evidente e que assim continuamos também, ao serviço dos “grandes”, em bicos de pés, sim, à espera de benesses, cumprimentos e subsídios. Seja na política, na economia e na vida social e artística. Tentamos a todo o custo imitar os ditos estrangeiros na arte e no pensamento. Importamos tudo, ideias e música, moda etc.

Segundo um filósofo português, não temos identidade nem pensamento português desde o Marques de Pombal, se é que não fomos totalmente arrasados no terramoto...digo eu! E sei que até temos uma história secreta e os templários e a maçonaria; existe um mistério ou destino cantado por Camões e Fernando Pessoa e outros e esta saudade que nos mata. António Quadros no seu livro, “Portugal Razão e Mistério”, esclarece e dá-me alguma luz: “o saudosismo português tem duas vertentes opostas. Na primeira, a saudade do tempo áureo e glorioso acaba por exprimir-se, por uma espécie de revolução ao nível do inconsciente, em estados psicopáticos de voluntarismo exacerbado e de racionalismo rejectivo, inconsciente da sua fragilidade teórica; se não podemos ser grandes a partir da nossa tradição, repudiemo-la por completo, imitemos os grandes e os triunfantes lá de fora, alienemo-nos conscientemente da identidade histórica que nos tolhe. É a psicologia do complexo de inferioridade nacional, é a psicologia dos estrangeirados.” (o sublinhado é meu e omitimos a segunda parte, que é a que repudiamos) . Eu não vou tão longe nem tão fundo mas digo que isto é o que vivemos: embora se desenhe alguma mania de grandeza secular, desdenhamos tudo o que é português e até ouvi contar ( na tv creio) a um realizador de cinema que nos anos trinta ou quarenta as senhoras da baixa do Porto tinham vergonha de falar português e por isso tocavam piano! Mas eu compreendo os nortenhos assim como o Sr. João Jardim da Madeira ao pensar que somos todos “lobys gays” em Lisboa por ser um nome estrangeiro também! E mais não nos consideramos uns aos outros nem nos respeitamos como iguais. Levamos a vida em guerrinhas na política acima dos interesses reais e no futebol é igual, bairristas e egoístas, medrosos e medíocres, temos medo de tudo. Somos o país do “manda a baixo”, incapazes de dar a mão a alguém porque o “outro” é sempre suspeito... Não falamos a deconhecidos e se nos sorriem pensamos logo que nos estão a engatar ou a querer meter a mão no bolso. Não perdoamos nada a um da nossa raça! Somos essencialmente invejosos e preferimos deitar abaixo quem quer que vingue (se vingue?) na vida sem ser estrangeiro ou “filho de algo”... Só existimos quando eles, os estrangeiros, se lembram de nós ou nos carimbam com os seus prémios ou elogios. Ficamos orgulhosos dos nossos emigrantes, babados, quando uma cantora, um cientista, um escritor ou realizador é considerado por eles. Ficamos ufanos, delirantes mesmo. O que é de um ridículo atroz. Doutra forma temos vergonha de dizer que somos portugueses em casa de um estrangeiro com uma criada portuguesa concerteza, como naquele filme inglês (?). E aqui, se não se tiver um olhar abençoado de estrangeiro, uma marca, os de cá não valem nada e fazemos de tudo para passar por estrangeiros com nomes arrevesados que vamos buscar a um antepassado longínquo, emigrante ou refugiado, ou a um primo por empréstimo da família dos Bourbons ou dos Grimaldi. Abençoados pelo capital ou pelos brasões comprados nos “cangalheiros” como as antiguidades e quadros de antepassados falsos, relíquias de família...etc.. E nós portugueses, os simple ou os verdadeiros, sempre como bois a olhar para os palácios, as mansões, as vivendas e as quintas, no Peru ou na Marinha, a sonhar, claro, que voltas dar ao nome ou ao estômago. O fosso entre os ricos e os pobres é o maior de sempre, mas todos temos telemóvel e andamos para aí a falar para o boneco e sem ver que o ordenado mínimo nacional é 38% menos que o dos espanhóis aqui ao lado e nós com tanto medo das “invasões”; eles querem lá saber disto a não ser para nos venderem os “cortes que sobram dos ingleses”...


Dez milhões de nós estamos no estrangeiro sem dar pela diferença, porque usamos o mesmo servilismo que por cá os outros dez milhões e fazem tudo depois para vir a Portugal e falar “franciu” ou “camone” e as crianças portuguesas que tem a infelicidade de não ter um nome estrangeiro querem é ser Rambos e Shevazzenegars dos filmes americanos e coca cola! Assaltar os carros das senhoras da Linha e actrizes... Claro que há também um grande número que se tornam doutores e advogados que proliferam, cada vez mais os engenheiros de obras feitas à custa dos pais emigrantes e caseiros dos estrangeiros. E há os Shoppings, imensos e enormes em nome do Vasco da Gama e do Colombo, a lembrar feitos históricos... Os estrangeiros esses acham-nos estranhos, bizarros mesmo, mas aproveitam este deslumbramento para serem em Portugal o que não são nos seus países. Na França as “portugaises” são tão famosas como as sardines, as concierges, mas lá, juntamos para uma casinha suíça ou estilo nórdico na nossa terrinha e cá ganhamos o mínimo e sem aumentos. Cá , os estrangeiros, vivem à grande e à francesa, em palacetes e dizem que parece que aqui até estão em África. (E nós a pensar que éramos suecos.) Não é bem feito? Dizem que nada presta, nada vale, não trabalhamos, somos preguiçosos e orgulhosos, mas eles tem todas as mordomias até dos Bancos... Os ricos devem milhares de contos, os pobres ficam sem cheques por mil escudos em falta! São criminosos...


Eis o nosso Portugal às portas do Euro! A passo de burro, havemos de lá chegar. Mas para já o que vamos ver mesmo é a diferença e o caro que tudo pagamos; mais cara da Europa a comida, as casas e os livros! Mas sem dúvida que os políticos não darão por nada, entretidos que estão nas suas escaramuças e porque até conseguem vingar (se) na vida, esquecem um pouco este complexo de ser português. Basta ver os carros espaventosos e os chaufeurs a afirmar o seu “carisma”! Nos jornais e revistas quem escreve ou quem tem opinião senão os políticos famosos, casados com barbies, esposas de presidentes, cunhadas, primas, sobretudo os ministros televisivos que vão aos shows para rir... Os poetas e escritores que não se vendam aos ditos shows e tertúlias politizadas, quezílias e queijos, portas e estandartes, que não prestem vassalagens, tão pouco importa a alma se é grande; neste país não cabe a simplicidade ou a nobreza de se ser só gente que se preze! Mas interessa outra espécie de “nome” ou “nobreza” que é ser ministro ou deputado, além de doutor, claro! Vale mesmo a pena, até tirar olhos, afirmar-se e lutar para chegar à Assembleia Nacional e mandar no País. Tem-se direito a um Grande Cartaz: “eu quero, posso e mando...” Eu fico, cheia de orgulho e raiva, por este país que adoro, à espera que acorde para a sua realidade interior que é a nossa única grandeza de Ser e que parece esquecemos há muitos anos, desde o tal de Marquês... Urgente:pensar português!


aRTIGO PUBLICADO NA rEVISTA eSPAÇO&dESIGN
nº.23 de Dez/Janeiro

domingo, janeiro 13, 2002




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MULHERES E DEUSAS é um projecto espontâneo, que aconteceu com toda a naturalidade e muita graça da Deusa e das mulheres que de algum modo se “identificaram” com o projecto, nomeadamente nas Ártemis de quem recebi o maior incentivo e estímulo. Das quais destaco, a Ana Maria G., a Meg e a Sandra Pais.
O que eu estou tentando fazer com o meu Blog é essencialmente passar uma nova consciência de Ser Mulher, para além de todos os paradigmas e que implica a mulher virar-se para um passado histórico, anterior ao cristianismo e ao patriarcalismo e perceber-se A SI MESMA como um Todo: CORPO-ALMA E ESPÍRITO, indissociáveis e acabar com a divisão da mulher em duas, tal como o cristianismo o fez. Fazer com que a mulher deixe de competir e odiar a outra mulher por disputa dos homens e vaidades, e que as três idades da mulher sejam todas elas, porque o são, igualmente importantes! Recuperar a imagem SÁBIA DA VELHA, a DIGNIDADE DA MÃE, e o RESPEITO DA FILHA. Porque apesar das mulheres pensarem que têm alguma liberdade e têm-na, não fazem o uso devido dela ou seja, lutar por uma dignidade e independência do seu ser, mas usam-na normalmente, para competir com os homens ou ser iguais... A mulher só tem que ser igual a si mesma e para isso tem de fazer o percurso iniciático da Deusa que as levará aos Mistérios. A sua intuição e inteligência do coração, A CHAVE.

Culturalmente, pretendo, através de citações e referências de livros básicos e fundamentais, sugerir a leitura dos mesmos.
A poesia será a forma mais expressiva e constante presente porque a linguagem por excelência da Alma e dos Mitos.

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O PARAÍSO É O CONTINENTE PERDIDO

QUE É PRECISO RECUPERAR DENTRO DE NÓS EM RESSONÂNCIA COM O COSMOS.

PARA ISSO É ESSENCIAL A UNIÃO DO PRÓPRIO SER

EM PERFEITA HARMONIA: CORPO-ALMA-ESPÍRITO.


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A integração do feminino, o equilíbrio dos pólos opostos e complementares, as relações equalitárias entre
os seres humanos é a Pedra Basilar de um novo mundo.>


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“MULHER – UMA GEOGRAFIA ÍNTIMA”
De Natalie Angier
Prémio Pulitzer (Gradiva)
(...)

“AS mulheres necessitavam de protecção masculina porque muitas das alianças entre homens eram pactos militares, a conjunção de forças para capturar o que é dos outros. E uma das primeiras e preferidas formas de motim eram as mulheres jovens. Quando duas tribos guerreavam, o grupo vitorioso matava os prisioneiros homens e levava as mulheres para fazer delas escravas reprodutoras. A captura de mulheres jovens aumentava o potencial reprodutivo dos homens vencedores e também o seu satus. Sempre que há documentos escritos, estes descrevem a violação e o rapto de mulheres no rescaldo da guerra. Na Ilíada de Homero, que supostamente reflecte as condições sociais na Grécia por volta do ano de 1200a. C., os guerreiros discutem, por vezes de forma atrevida , a devida distribuição do espólio feminino. No princípio da narrativa o rei Agamémnon concorda, com relutância, em abrir mão da sua concubina favorita, Criseide, uma prisioneira de guerra pertencente a uma família importante, quando o Sacerdote seu pai ameaça levar a questão ao tribunal divino. Como compensação pela perda, Agamémnon exige outra mulher, mas os seus homens dizem-lhe que todas as prisioneiras já foram reclamadas. Sendo rei, Ag. Volta-se e exige a escrava/concubina de Aquiles, Briseide, para si. Este simples acto por pouco não conduz à derrota de Atenas, pois Aquiles passa uma grande parte da guerra de Tróia trancado na sua tenda, a remoer a indignidade e a procurar apoio sexual de uma das suas outras concubinas, “aquela que trouxera de Lesbos, filha de Forba, Diomede, a da tez clara”. Aquiles partilha a tenda com outro guerreiro, Pátrocolo, que na sua cama tem um presente de Aquiles; Ífis, a “da bela cintura”, que Aquiles capturara ao conquistar a cidade de Eneida.(...) Não se ouve falar muito dessas prisioneiras, é claro, tão pouco ficamos, a saber, como se sentiam, passadas de homem para homem como ingressos para um jogo de basebol. É provável que não tenham levantado problemas. Sentiam-se gratas por estarem vivas. Afina, o livro não faz referência a homens escravizados; os homens de Eneia, Lesbos, Tróia e outras cidades derrotadas eram abatidos. Posteriormente, é claro, os homens aprenderam a escravizar outros homens, como faziam com as mulheres, e a usar os músculos dos homens como se usam mulas e bois, mas, segundo alguns historiadores, e com as evidências claramente o sugerem, os primeiros escravos humanos eram as mulheres e a motivação por trás da escravatura era a posse de ventre núbeis.” (...) (Excerto pag. 290)


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OS INVASORES

Ó minha Mãe de Creta, perdi-te nos escombros
A que os bárbaros reduziram a civilização micénica...
Ah! eles vieram os Kurgans,
Incendiaram e saquearam as cidades,
Violaram e mataram as nossas mulheres.
Levaram com eles as virgens para vender e prostituir,
A seu belo prazer; malditos sejam para sempre os invasores,
Que destruíram o teu culto de paz e amor.
Dominaram os nossos homens que eram dóceis e pacíficos
Que sabiam as artes e os ofícios,
Respeitavam as suas mães e mulheres.

Ah! Senhora eu recuso esta “civilização”
Construída nas tuas ruínas
E com os restos de uma sabedoria que na essência deturparam.
Não, nada quero dos gregos nem dos romanos.
E odeio os seus heróis déspotas e violentos contra as mulheres.
Odeio os seus imperadores assassinos e facínoras
Que impuseram a espada e mais tarde a Cruz negra da morte
Com que reinam há milhares de anos.


OS HERÓIS GREGOS E ROMANOS

Porque foi Métis engolida por Zeus
E da sua cabeça Atena nasceu?
Deusa da guerra ao serviço do Império,
Para servir Apolo seu irmão gémeo?
Que matou a Píton e destruiu o Oráculo da Deusa!

Ah! Maldito seja Perseu que matou a Medusa
E se tornou herói em vez de cobarde.
Maldito seja Orestes que a mãe assassinou
E se tornou modelo de uma sociedade opressora,
Em que o crime impera!
Maldito seja Esquilo e a sua Oresteia que ainda é lei...

Ah! Malditos sejam os hebreus, aqueus e os dórios,
Todos os heróis, gregos e romanos, e os seus deuses e
Imperadores sanguinolentos que pela espada venceram!

Venham as Fúrias e as Parcas, as Hespérides, e as Gorgonas
Venham todas as deusas das entranhas da terra
E arranquem a armadura desta filha que as
Enganou a todas absolvendo Orestes.
Deixem-na sozinha morrer de vergonha
Para de novo nascer livre e servir a Grande Mãe!

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A CHAVE

Tu és o templo e a chave da minha imagem,
Tu és a esfinge de todos os enigmas,
O estigma que me marca a nascença prematura,
O erro cósmico, da Mãe eterna por encontrar.

Tu és o Oráculo e a Pitonisa morta por Apolo,
A grande Serpente traída, reduzida á mentira dos homens.
Tu és a Deusa da Verdade e da Justiça encarnada,
A Mãe primordial, renegada pelas religiões.
E do mundo esquecida.
Tu és aquela que nos foi negada, esmagada pela barbárie.
Em nome dos seus deuses de guerra.

Tu és Isis em mim reencontrada,
A amada de todos os cantos e de todas as dores também.
Tu és a nova Deusa na terra, a Mãe da vida e da morte
Num só culto consagrada, Amem!


Do Livro “Antes do Verbo Era o Útero”

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sexta-feira, janeiro 11, 2002

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Cássia Eller – A morte do Anjo Caído


(...) Uma sociedade que há mais de um século se fustiga ruidosamente pela sua hipocrisia, fala prolixamente do seu próprio silêncio, se obstina em pormenorizar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete libertar-se das leis que a fizeram funcionar (...) in “A Vontade de Saber” de Michel Foucault


Tenho vindo a acompanhar as opiniões e manifestações de pesar sobre a morte de Cássia Eller. Eu não conhecia a sua música nem a sua personagem. Apenas a vi uma vez numa entrevista no programa do “Jo” e além de ter respondido a algumas pertinentes questões, enterpretou uma ou duas canções. Óbvio que não dá para ver a artista nem conhecer o seu trabalho e sobre isso eu nem vou falar. O que me angustia e faz dizer alguma coisa é sobre a mulher que eu vi... ou a criança desfasada que é a mulher quando não na pele da mulher comum, isto é, aceite pelos padrões vigentes. A sexualidade da mulher que não está ao serviço das instituições e não serve nem de objecto de prazer, nem de imagem reconhecida e identificada como tal. Então temos a mulher homossexual e drogada. Como e porquê? O que leva à degradante afronta social e transgressão ostensiva e comportamentos tão bizarros por parte de quem é diferente? É a não aceitação social ou a não instituição de outros valores aceites como legítimos, como o é o caso de qualquer “outra” sexualidade que não a “normal”? Será que há mais de uma sexualidade ou só uma?
E aqui volto à questão da Androginia psíquica antes de mais, aspecto totalmente negligenciado pela psicologia comum e que tem a ver isso sim com a Psicologia de profundidade. Pois é no meu ver essa falta de visão profunda do mundo sobre a sexualidade e de uma Visão alargada do problema, contra a análise redutora do ser e dos seus problemas em separado! O ser humano é um todo! E é como um Todo em interacção que tem de ser olhado e nunca analisado sem uma síntese das suas partes constituintes, a saber: corpo – alma – espírito! Se continuarmos a dividir e a separar o ser em corpo para um lado, sexo para outro e pensamento à parte e o espírito lá no alto, vamos continuar a reincidir nos mesmos erros crassos que levam à auto-destruição de pessoas com um potencial fabuloso e de grandes corações, para além do sofrimento inútil que infligimos às pessoas que se destinguem da “normalidade”. Todo o artista tem uma relação privilegiada com um estatuto do ser acima do abrangido pelos nossos conceitos redutores e preconceitos atávicos e mesmo a liberalização dos costumes também não significa grande coisa, nem a ênfase dada às relações de facto. Não é por aí, a meu ver, o caminho da Libertação ou aceitação, mas e ainda na Consciência do ser total e na compreensão e integração dos dois lados de cada ser humano. Todos os seres humanos são superiormente constituídos de parte feminina e masculina e o “par alquímico”, (aquele que origina o fenómeno amoroso!) não é forçosamente completado entre os dois sexos diferentes, macho e fêmea, mas baseados em complementaridade interiores, independentemente do sexo. Além de haver o sexo e o género, existem implicações vastíssimas de ordem hormonal e química ao nível do próprio ADN.
A sociedade não respeita nem integra as pessoas pela sua condição humana em si, por partir de uma base errada que é a própria sociedade ser uma sociedade de valores caducos e economicistas, de consumo e mais valia baseada exclusivamente no dinheiro: família e propriedade privada de que a mulher e os filhos fazem parte. Fazer o contrário é negar as suas bases e destruir esses princípios. O problema das leis e das normas vigentes ou mesmo a ciência, nada tem a ver com a essência dos problemas e desse modo mudar os códigos sociais pouco adianta sem uma mudança nas consciências, e para isso, devemos começar por mudar a nossa própria mentalidade e ajudar a formar seres humanos completos e livres a começar por nós, indo ao fundo das questões e não ficar na rama!
Temos de encarar as vítimas do sexo e da droga (a Sida incluida) como seres que se afirmam no excesso por necessidade de afirmação de outros valores e porque trazem consigo outro registo genético e a exigência de uma liberdade interior e de uma consciência imanente que esta sociedade em decadência já não nos pode dar. Não são os drogados e os homossexuais, nem mesmo os criminosos, os decadentes da sociedade humana actual, mas a sociedade que nas suas estruturas ultrapassadas para a nova Era já não serve o novo ser a despertar. Eles foram e são as vítimas sacrificadas pelo nosso comodismo, medos e preconceitos, ao pactuarmos com as normas do imperialismo e da religião, assim como das nossas falsas resoluções, que mantêm os seres prisioneiros de interesses de domínio e exploração económica entre seres superiores e inferiores.

Os anjos caídos são todos os seres que querem voar e não podem porque a sociedade para nada lhes serve e por isso os acaba sempre por matar por carência ou excesso...



A MULHER CELTA

(...)

"As sociedades mais arcaicas deram uma importância particular à Mãe e, portanto à Mulher. A tradição hebraica que rebaixa a mulher e faz de Deus um solitário ao mesmo tempo macho guerreiro e pastor, a religião islâmica que se inspira nessa noção, são concepções nómadas relacionadas com a secura do deserto. O ponto culminante do rebaixamento da divindade feminina foi sem dúvida período em que Roma impõe ao seu Império não somente o seu regime patriarcal, mas, também o seu formalismo religioso incrivelmente estéril e o qual é herdado em parte pelo cristianismo dos primeiros tempos. Mas no interior do cristianismo, e debaixo de influências misturadas de cultos orientais, como o da Deusa-Mãe Síria, o de Isis, o de Cibele, o de Deméter, e dos cultos druídicos que davam à mulher um papel dos mais importantes, o conceito da Virgem Maria não iria demorar e retomar vida. E de tal maneira que hoje em dia, o culto da Virgem está em vias senão de ultrapassar o culto de Jesus, no mínimo de o igualar. É um sinal dos tempos, e que não deixa de ter relação com o afundar da noção Pátria, em oposição com a antiga e sempre actual Mátria, que, com efeito, se manifesta em numerosas tentativas de unificação supranacional no seio de uma tradição comum. Os povos, ameaçados de seca, viram-se para a senhora das águas, a Mãe. E é a Mãe na maioria das línguas, e também Mar(ia) que é ela mesma o Mar.

Esta volta para a Mãe (Mar), quer seja considerada sobre o ponto de vista psicológico, ou o ponto de vista político, precisa ser indubitavelmente ligado ao acto sexual. O acto sexual é com efeito, com toda a clareza, uma tentativa brutal do homem para retomar lugar no ventre da mulher, e para a mulher uma tentativa de retomar a sua criança desaparecida (e isto inconscientemente numa mulher mesmo que não tenha tido ainda nenhum filho). (...)

“No acto sexual e no de fecundação que se encontra estreitamente ligado, fusiona-se numa só identidade, não somente a catástrofe individual (nascimento) e a última das catástrofes da espécie, mas também, todas as catástrofes sofridas desde a aparição da vida; portanto o que se exprime no orgasmo, não é somente a calma intra-uterina e uma existência apaziguadora, assegurada por um meio mais acolhedor, mas também a calma que precede o aparecimento da vida, quer dizer a paz morta da existência inorgânica” in Le Mythe Celtique de l’origine (Do livro de Jean Markale, “La Femme Celte”).


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“Vi, Senhora, dias sombrios, meses tristes e anos de ânsia.
Vi, Senhora, catástrofes, desordens e violências”.


Senhora minha, Mãe misericordiosa,
Neste mundo eu sou todas as mulheres
Que neste planeta sofrem há milénios...
Sou a vagabunda, a prostituta e a louca...
Sou a inválida, a doente, a desgraçada e a histérica;
Sou a mulher árabe condenada a cobrir o rosto
Proibida pelos homens de falar, sorrir e olhar.
Sou todas as mulheres perseguidas e queimadas
Nas fogueiras da Inquisição, que eu não esqueço!

Senhora dos Oráculos, dá-me a tua Visão de Paz e Amor
Ouve a minha prece: vem a este Mundo e impera!
Ó vem e salva a terra e a nós mulheres, desta barbárie.


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SOPRO VITAL

Eu sou a tua coroa
e o teu diadema
A Rosa que se abre no meu peito
Quando o ar que pela tua boca
respiro
Entra na minha
e te beijo...

Amar-te mais não posso,
nem mais nada deste mundo desejo.
Porque és tu ó Deusa Mãe
quem desde sempre vive
e respira dentro de mim...

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MÃE ÁGUA

Senhora dos abismos profundos,
Luz que vem das trevas e nos ilumina...
Queria-te como um manto que me cobrisse o corpo
E me tapasse do frio e da dor...
Queria que fosses outra pele que se colasse à minha,
E me enrolasses como um feto antes de nascer...

( ...esquecer que me separei de ti...)

Queria Ser o Uroboros,
Voltar ao seio da Grande Mãe e (a)Mar...
Queria dançar no teu ventre a alegria dos sentidos mais puros,
Ao som do teu coração tão perto...

Viver na memória do átomo, ao ritmo do cosmos,
Na beatitude das tuas águas matriciais,
No próprio pulsar do universo, para sempre tu e eu Mãe eterna.


"ANTES DO VERBO ERA O UTERO"
 rosa leonor pedro

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quinta-feira, janeiro 10, 2002




PENSAMENTOS SOLTOS

Uma coisa é a Consciência, outra coisa é o prazer. O prazer do prazer é efémero, mas o gozo da Consciência é eterno...

Eternidade não é a depois da morte ou infinito longínquo, mas quando a consciência de si mesmo é plena e nos enche de luz própria!
É cada momento vivido em ressonância cósmica dentro e fora de nós - este é o chamado estado de Graça...

A eternidade está em cada segundo, muito para além do tempo que medimos,,, Está no pulsar das nossas veias, no correr do sangue, no coração que bate ao compasso das esferas celestes, da alma que voa acima do nosso corpo sempre que quer...

Corpo e alma dançam na harmonia do universo. Juntos fazem amor dentro de cada átomo...

Cada ser é um ser inteiro, livre e completo, dentro de si mesmo. Esse é o Andrógino Terreno...

rlp

quarta-feira, janeiro 09, 2002







OS MISTÉRIOS ELEUSIANOS


"Somente em um momento posterior, nos Mistérios Eleusianos, de Ísis e outros, é que os mistérios se voltam também para a questão da consciência na mulher e de sua autoconsciência; de acordo com uma característica essencialmente inerente à psicologia feminina, os primeiros mistérios ocorrem no nível da experiência directa, porém inconsciente. A mulher passa por uma experiência interior ao configurar uma porção da realidade, como “vida simbólica”, na qual não há a necessidade de se tornar consciente de qualquer um desses factores. Somente a intensidade e o teor emocional acentuado de sua conduta e, frequentemente, a confidencialidade da qual se vê revestida denunciam seu carácter de mistério.
O feminino, cuja essência procuramos discernir à luz das funções e dos símbolos do carácter elementar e de transformação, se torna criativo nos mistérios primordiais e assim actua como um factor determinante no inicio da cultura humana.
Enquanto os mistérios ligados ao instinto, envolvem os pontos centrais da vida feminina – nascimento, menstruação, concepção, gravidez, climatérico e morte -, os mistérios primordiais projectam um simbolismo no mundo real e assim transformam-no.

Os mistérios femininos podem ser divididos nos mistérios referentes à preservação; à formação, à alimentação e à transformação.
(...)
O grande motivo essencial dos Mistérios de Elêusis e, portanto de todos os mistérios matriarcais é a heuresis, a redescoberta de Core por Deméter, a reunião da mãe e da filha.
Esse reencontro significa, sob o ponto de vista psicológico, anular o assédio e o rapto masculinos e reconstruir a unidade matriarcal da filha e da mãe, depois do casamento. Isto significa que a hegemonia do grupo matriarcal _ legitimada pela relação da filha com a mãe -, que havia sido colocada em risco pela incursão do homem no mundo das mulheres e pela reacção destas àquele, é renovada e segurada nos Mistérios". (...)
In “A GRANDE MÃE” de Erich Neuman

O que daqui se conclui, grosso modo, é que com o decorrer dos tempos, as mulheres perderam a ligação às mães pelo domínio exclusivo dos homens, pais, maridos, chefes e irmãos e, portanto, perderam a chave dos mistérios e a consciência que lhes dava a dimensão do seu ser total e a liberdade do seu ser também, passando a serem apenas utilizadas e exploradas nas sociedades patriarcais como reprodutoras e objectos de prazer. Circunstância essa que se mantém nos nossos dias apesar das tentativas da mulher para se libertar ou julgar que é já livre! A emancipação verdadeira da mulher só se poderá consumar na consciência do seu ser total e completo e, portanto, quando a filha e a mãe se voltarem a unir no Conhecimento inato de si próprias e em defesa da Natureza Mãe e da Deusa! Afinal a Deusa era a detentora desse conhecimento da Natureza e da Terra com a qual estava em harmonia. É essa ligação que falta ao mundo para poder haver harmonia e Paz. Sem a consciência das mulheres os homens nunca conseguirão restabelecer a paz no mundo, pois foram eles ao dividir a humanidade em duas partes explorando uma através da espada que destruiram a civilização do Cálice. Por isso é urgente a demanda do Graal ou do Feminino por excelência!

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