O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, janeiro 07, 2002

(...) “Na realidade actual, diante da desintegração dos antigos costumes, inúmeras pessoas se encontram num estado menos de fusão do que de confusão. Com o colapso dos modelos sexuais tradicionais, as pessoas ficaram livres para experiências; diversas vezes, porém, acabam se vendo em grandes dificuldades e buscam ajuda para sair do emaranhado labirinto do sexo e da alma. Muitas das que pretendem estar confortàvelmente instaladas nos papéis heterossexuais convencionais, na realidade não estão. Há muita confusão em torno de quem pertence a qual categoria sexual.
Uma das questões mais cruciais que qualquer nova teoria da sexualidade deve enfrentar são os rótulos geralmente aplicados à sexualidade – a heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade – e o significado relativo destes termos. Apresento isso como uma única questão; e não como três questões distintas, porque na minha prática analítica é assim que ela, via de regra, aparece ainda que embrenhada em complicações. A maioria das pessoas está convencida de que “pertence” a uma destas três categorias, de que são de natureza heter. Homo. Ou bissex., E de que têm de aceitar o que são. Ou caso não consigam se aceitar como membros de uma categoria fixa, atribuem-se a tarefa de se modificarem para que possam se enquadrar numa delas.” (...)


“ANDROGINIA – RUMO A UMA NOVA TEORIA DA SEXUALIDADE” de June Singer (Cultrix)

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Por causa do meu livro e das livres associações das pessoas quanto à sexualidade implícita nele (?), pediram-me já há algum tempo, para dar uma entrevista numa rádio “Gay e Lésbica”. Eu recusei dá-la, porque eu não defendo nem promulgo qualquer sexualidade, independentemente da minha ser esta ou a aquela. Não defendo nem represento as mulheres homossexuais, como não defendo ou represento as prostitutas ou as mulheres casadas ou celibatárias como eu.
A questão que eu vivo e luto por ela, assumo isso sim, é uma Consciência alargada, é a da Mulher íntegra e total, uma Mulher consciente de si mesma e com identidade própria e não a mulher forjada pelos protótipos de uma sociedade de domínio patriarcal em que as mulheres são objectos de consumo e ensinadas a consumir, comprando e vendendo o próprio corpo para uso e prazer dos homens e dos seus padrões de poder! Seja como esposas seja como modelos de marcas! Ou mesmo que seja o seu próprio prazer em causa, continua presa dos valores e da moral judaica – cristã o que as diminue sempre no conceito de pecado e de falta. O famoso sentimento de culpa das mulheres...

Todas as mulheres sofrem estigmas na pele a partir de qualquer diferença, tendo como referência quase sempre a sua sexualidade, que encarada com mero objecto, a define à partida, por um acto ou uma função, e não como ser individual e inteiro, corpo alma e coração! As mulheres estão tão divididas (pelos homens) dentro de si que nem se apercebem que não têm uma identidade independente da sua sexualidade. Vivem em função de maridos, filhos, amantes ou do prazer, seu ou do outro. E quando já não servem como objecto são capacho dos netos ou adoece com um cancro na mama. Entrega-se à depressão se o marido ou o amante a deixa, abandonando-se a si própria espera da morte sem nenhuma esperança; ou então faz operações estéticas, põe silicone no rosto, convence-se de que não envelhecerá nunca, recusa a mudança e finge um prazer que não encontra, tornando-se grotesca ou histérica.

É urgente a Mulher ACORDAR para a beleza que tem dentro de si, para a grandeza do espírito que nos anima sempre e para a sua alma que a espera! E só tem que aceitar a mudança naturalmente e sorrir para si mesma de cada vez que se olha ao espelho! E em vez do rosto cheio de rugas e dos cabelos todos brancos, ver a alma que lhe sorri nos seus próprios olhos – os olhos esses nunca envelhecem... Prova de que a alma é eterna, como a beleza interna da mulher. E isto é comum a todas as mulheres, sejam elas gordas, feias, tortas ou marrecas, sejam elas lindas de morrer...
É com essas mulheres que eu estou.

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