O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, janeiro 29, 2002


A Paridade e as vozes (ou as Mulheres e a Política)


“Os homens querem amor, mas o círculo vicioso da sua” superioridade”, leva-os a produzir mães incapazes de darem verdadeiro amor aos seus filhos. Isto já é mau que baste . Mas como as mulheres têm de disfarçar a sua inimizade em relação ao sexo masculino perante si próprias e diante do resto do mundo, justamente por serem tão adaptadas, tais filhos encontram-se numa situação contraditória: as suas mães fingem aceitar os seus filhos, mas na realidade, recusam-nos.” In “ A Traição do Eu” de Arno Gruen


Este é um assunto muito vasto e com pano para mangas, mas podia-se do mesmo modo dizer, os homens querem as mulheres na política ou na Assembleia, mas o círculo vicioso da sua “superioridade”, leva-os a produzir mulheres incapazes de darem uma verdadeira participação feminina aos seus pares. Digamos que as poucas mulheres que participam na política fazem-no, regra geral, de forma “masculina”, ao assumirem o discurso e atitude de “superioridade” do homem. São duras e pragmáticas, sempre certas e austeras... Mas acabam quase sempre ridicularizadas ou aceites com complacência se não tiverem “tomates”, (esta é a expressão vulgarmente empregue sempre que uma mulher enfrenta o mundo dos homens!) para lhes fazer frente.

Porque é que as mulheres à partida se interessam menos por política que os homens, não é somente pelo acréscimo de trabalho que são os filhos e a casa e mesmo o marido. A razão profunda e talvez inconsciente da sua não participação activa na política é porque o seu discurso é outro ou devia ser se a sua voz fosse activa...E seria certamente um benefício enorme para a sociedade se a mulher se fizesse ouvir. Mas como a mulher não tem voz baseada na sua experiência intrínseca de mulher global, mas parcial ou dividida _ temos a esposa, a mãe e a amante, a intelectual, escritora ou executiva... E agora teríamos a política _ nunca será ela própria, mas aquilo que esperam dela. O que eu quero referir aqui é o aspecto sempre oculto da mulher essencial cuja voz é do útero...E isso reporta-nos ao aspecto sábio, inato da mulher de que os homens por medo se riram sempre. Não falo de bruxas! Falo do discurso inspirado e modelado pelo coração e dar voz aos sentimentos. Falo de uma consciência que não pode ser só política ou de classe, mas consciência de si mesma! Falo em dar à mulher o lugar que lhe pertence por direito, falo de outra inteligência. Sempre que uma mulher tem um discurso diferente dos homens, (racional e objectivo) é alvo de chacota e perseguida ou marginalizada pelo fantasma do histerismo...Basta-lhe ser convincente e apaixonada. Da mulher sem alma à mulher sem inteligência (mesmo sem ser loura!) ou sem capacidade de uso da razão, opôs-se-lhe a mulher executiva e esperta, a escritora de sucesso ao serviço dos média e da mediocridade, dos patrões e dos chefes ou editores. E se assim não for é feminista ou de sexualidade suspeita. Em todo o caso duvidosa. As próprias mulheres têm medo de falar dos seus reais problemas com receio de serem vistas como feministas e por isso mesmo ridicularizadas. E assim os discursos e o posicionamento são todo para agradar aos homens. Os maridos os filhos os chefes e os pais estão sempre em primeiro lugar. Eu assisto a discussões entre mulheres, escritoras de sucesso, por exemplo, e o tema gira à volta dos filhos e dos maridos, de maior ou menor liberdade, do êxito, nunca em torno de questões vitais para si próprias, pois elas continuam a ser a fada do lar, da cama e do trabalho ou da literatura. A mulher vai submissamente agradar a todos em detrimento de si própria ou nem sequer sabe que tem uma identidade própria. Tem vergonha da sua condição feminina! Concerteza que não falo do croché nem das plásticas. Eu andei a fugir à "pide" para as mulheres poderem votar em Portugal. Passaram mais de trinta anos e as mulheres ainda não têm voto na matéria! Continuam a votar ao lado dos maridos e dos partidos que as manipulam de uma maneira geral. Mas a maioria das mulheres continua calada e ignorada, poucas, fiéis a si mesmas e conscientes do grande cisma que divide o homem e a mulher e das consequências do falocratismo que domina a mente masculina. Mas apesar de “ignorantes” as mulheres são na sua maioria fiéis á sua natureza e sabem o que está certo ou errado. Não entram nem participam em promoções de egos e luta de poder seja para “inglês ver”, seja para a Europa inteira ver!
Eu digo que a mulher é diferente do homem e tem certamente um discurso diferente também. Não é uma questão de escrita ou linguagem feminina é uma questão de princípios...Os dois pólos do mesmo eixo, completam-se na diferença e não na igualdade. A mulher para ser autêntica e completa tem de unir corpo alma e espírito, tal como o homem que à partida não está dividido entre o marido e o “prostituto”...

A mulher tem muito trabalho de casa para fazer antes de Ter voz activa, senão é ela que perde a sua identidade! Tem “Trabalho de casa” sem ser doméstico, seja ela domesticada onde for. Não basta ser médica, advogada ou engenheira. Tem de escutar as duas vozes! A razão e o coração! Ir aonde ele a levar, sem medo da razão dos homens, porque o coração tem razões que eles desconhecem... E se o feminino por excelência não despertar, tanto na consciência das mulheres como dos homens, o risco de perda é enorme. Teremos só um polo e o desequilibro inerente como é já evidente de muitas maneiras e de que o próprio homem é a primeira vítima... É tempo de as mulheres ficarem mesmo histéricas! Sim, antes histéricas que “travestis”.

“As mulheres por vezes ficam histéricas e fazem e dizem as coisas mais estranhas. Mas esta observação vai dar a volta e morder a própria cauda: talvez a verdade da vida e do viver resida nas estranhas coisas que as mulheres fazem e dizem quando estão histéricas” in “As Duas Vozes” - de William Golding (Prémio Nobel).


Artigo publicado na Revista Espaço & Design
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Li algures por aqui que um "senhor" que eu não conheço dizia, que "o melhor movimento feminista das mulheres era o dos quadris?"
De certeza que ele não iria gostar nada do meu...


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