O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, fevereiro 12, 2002



Homenagem à Mulher e à Deusa em todas as Mulheres


“MANIFESTO DA SCUM” de VALERIE SOLANAS

excertos
(...)
A Menina do papá, passiva, adaptável, respeitadora e temerosa do homem, aceita que ele lhe imponha uma conversa desinteressante e apagada. Isto não é muito difícil, uma vez que a tensão e ansiedade, a falta de calma e de autoconfiança, a insegurança e a incerteza dos seus próprios sentimentos e sensações, que o papá nela instilou, tornaram a sua percepção superficial e incapaz de ver que o blá-blá do homem não passa de blá-blá. Tal como o esteta que “aprecia” o borrão classificado de “grande Arte”, também acredita que está a apreciar o que na realidade a aborrece mortalmente.
(...)
O amor não é dependência nem sexo, é amizade, e portanto o amor não pode existir entre dois homens, entre um homem e uma mulher ou entre duas mulheres, se um deles ou ambos forem cabeças ocas, inseguros, ”engraxadores” de homens; como numa conversa, o amor só pode existir entre duas mulheres-mulher confiantes, desembaraçadas, independentes e gozadoras, porque a amizade assente no respeito e não no desprezo.
Até mesmo entre mulheres curtidas e entusiastas são raras as amizades profundas na idade adulta, porque quase todas elas estão presas a homens, como forma de sobreviver através da selva, tentando manter a cabeça acima da massa informe. O amor não pode florescer numa sociedade baseada no dinheiro e no trabalho desprovido de significado: requer liberdade económica e pessoal, tempo livre e a conjuntura favorável em actividades extremamente absorventes, emocionalmente compensadoras, que, quando compartilhadas com aquelas que respeitamos, conduzem a uma profunda amizade. A “nossa sociedade” não proporciona oportunidades para o envolvimento nestas actividades. (...).

Texto de uma mulher subversiva, diagnóstico de patologia social: a que diz respeito às relações entre o masculino e feminino. Abordagem satírica de uma feminista de segunda vaga expõe o que são a grande miséria e violência das civilizadas relações entre homens e mulheres. Escrito nos anos sessenta e setenta continua de uma actualidade assustadora. O livro está editado na Fenda (Portugal)

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2002

Eu lamento do fundo do coração, como as mulheres se antagonizam ainda tão facilmente umas com as outras aceitando e perpetuando a sua divisão, em vez de se unirem e serem solidárias e fico sempre chocada e perplexa como esse continua a ser um aspecto tão constante que as mulheres manifestam ainda no mundo. As mulheres arranjam sempre motivos para se incompatibilizarem e denegrirem umas às outras sem que se apercebam na linha de competição e luta por acesso seja aos homens seja ao seu mundo e valores onde à partida são submissas e coniventes sempre na tentativa inconsciente de agradar ao Pai e ao Poder que a tem sujeitado desde há milénios e isto contra a Mãe com quem luta desde adolescente na conquista atávica de agradar ao pai! Assim foi ensinada e assim mantém a mulher “moderna” o mesmo status quo em guerra com as outras mulheres, fiel ao senhor e aos seus interesses sem que disso se quer se aperceba. É nos mais ínfimos pormenores que se salientam esses antagonismos e se reflectem das formas mais variadas de conluio e partidarismo dos seus tutores e mentores, contra qualquer mulher que não seja tão obediente como ela, pondo-se sempre do lado do filho e do pai, do padre, do patrão contra a mãe a irmã a amiga ou a filha e nem sequer sabe que o faz, pois está do lado da razão, do poder e do exercício da justiça toda ela masculina. De tal maneira assim é que se eu quiser argumentar perco imediatamente em pontos porque a afectividade das mulheres é masculina e em defesa dos filhos, pais e amantes! Como não têm identidade própria senão para servir a família e a sociedade machista ela tem que Ter sempre a tutela do macho quer no campo profissional quer artístico e fica muito reconhecida se o homem lhe der um lugar ou um nome. As mulheres não se unem por uma causa comum, mas em grupos uns contra os outros e sempre na perspectiva masculina, porque aceitam à partida ou nem sequer questionam a divisão de que são alvo desde há milhares de anos. Essa cisão da mulher em duas à partida é o fulcro de toda a sua problemática e ninguém quer ver...Portanto as mulheres estão cegas para si mesmas e cheias de animosidade umas pelas outras. E nem disso se dâo conta! Negam a sua natureza profunda ao aceitarem essa separação e lutam umas contra as outras mesmo inconscientemente.Vendem o corpo e vendem a alma por um lugar ao sol, um bom casamento ou o papel num filme de um novo ou velho patriarca de sucesso mundial. As relações das mulheres com os homens é sempre mais valia...um bom partido, um bom patrão, um bom chefe, um bom amante...um bom editor...um bom conselheiro, médico, padre, cantor sedutor, gigolo... etc.

Eu sou feminista radical sim! no sentido de ir à raiz e origem do universo feminino (para além da História, mesmo) na pesquisa e busca da sua essência muito para além da sua sexualidade, essa tida como único atributo que o homem lhe concede seja para procriar seja para gozar. Eu não procuro nem preciso de me afirmar sexualmente para ser mulher. Não sou mãe nem fêmea! Eu sou a minha Alma e reivindico a minha totalidade como ser humano independentemente da minha função ou do valor que esta sociedade me atribui. Não sou um objecto sexual nem procriadora nem avó ou tia ou empregada doméstica ou dona de casa! Eu sou um ser inteiro e livre sem necessitar de outro complemento que não seja a minha consciência e o meu coração. Sou capaz de toda a plenitude em mim e senhora do meu ser sem o precisar submeter a regras e conceitos para ser eu mesma! Nem sequer preciso estar contra regras e estabelecer outras... Não tenho que pertencer a nenhum consenso nem estar contra ninguém! Essa é a minha liberdade de ser e amar, ambos os aspectos indissociáveis em si. Ninguém que não atinja um grau de consciência individual ao nível do absoluto é livre ou pode amar o que quer que seja! E isto é válido para homens e mulheres que sejam Seres Humanos para além desta dicotomia e antagonismo social, psicológico, histórico e político...

O meu amor à Mulher é Universal...do “francês” UNI+VERS+ELLE...

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