O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 28, 2002



Rosa Leonor,

Visitei o seu site. Gostei! Como não gostar se tudo lá faz sentido e tem uma força enorme ? Se me permitir, numa proxima actualização do Cais, gostaria de dar a conhecer alguns dos seus textos. O poema que me enviou é muito bonito, e seguramente muito familiar. Admiro a sua postura ousada, sem dúvida, mas coragem é coisa que nunca nos faltou, a nós mulheres. De outro modo, como haveríamos de ter suportado milénios de subjugação e sublimação, à força de teses, teorias e praticas que tudo apostaram em nos relegar para o domínio das infra-qualidades?

Detenho-me a pensar , o porquê de tanta “sarna” contra o sexo feminino, contra o ser mulher...? Porque se afadigaram tanto os homens de “pensamento” em criar cidadelas conceptuais, onde nos encerraram? Que poder emana de nós mulheres, que tanta atemoriza? Porque nos dividiram entre o ser puta e o ser santa, entre o ser Mulher e o ser Mãe?

Mas paulatinamente vamos tomando consciência e vamo-nos despojando das gangas envolventes e das mentiras.... ó prodígio dos prodígios, que tantos séculos de sujeição, e achincalhamento, não bastaram para sufocar “isto” que está em nós. Algumas décadas, surgido o ensejo, bastaram para dar o “lamiré” do que somos capazes. E algumas décadas, são um minúsculo grão de areia em tudo o que vivemos e teremos ainda para viver. Parece-me que o que se avizinha é grande, em termos do que a mulher será chamada a fazer, como motor de transformação dos novos tempos.

A sociedade precisa de se “feminilizar”, trazer á tona as emoções os sentimentos e a capacidade de os expressar. Quanto não perderam os homens com o chavão “ um homem não chora”? Embutidos numa falsa visão de poder, que lhes traria o Ser Homem( ideia perpetuada pelos tempos e pelas mulheres que foram, enquanto educadoras, incutindo essa visão machista) quanto não perdemos todos, homens e mulheres?

A “libertação” da mulher vai trazer, por arrasto, muitas outras libertações. E não poderemos ficar-nos pela nossa perspectiva de mulheres e cidadãs europeias, onde apesar dos muitos obstáculos, conseguimos mostrar isso de que somos capazes, sejam-nos dadas as oportunidades. O mundo vive, em muitos lugares, situações de treva, e esta verifica-se sempre que a infra-humanidade impera. Hoje, vejo o grau de evolução de uma sociedade , pelo lugar que atribui às mulheres. E por muito que possa respeitar a individualidade de uma cultura, toda a sociedade que subjuga, sejam quais forem os parâmetros. (culturais, económicos, políticos, religiosos) pelos quais o faz, é uma sociedade castradora, que não permite a realização e a assunção total da cidadania e mais além de tudo isto a plena expressão da nossa humanidade.

Há muito para andar e nós mulheres apenas tacteamos o caminho. O nosso despertar atravessará todas as dimensões da vida, e nada mais será igual sob a luz jorramos para o mundo.
Um abraço amigo

Angela
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OBRIGADA ANGELA

Tenho o maior gosto em contar com outras vozes, de outras mulheres que sintam na pele o mesmo estigma, o da divisão do seu ser em duas ou três...herança de séculos, que em pouco ou nada mudou, tendo sido apenas disfarçado com pseudo-culturas e "evoluções" que não restabeleceram nunca em definitivo a INTEGRIDADE DA MULHER. Enquanto houver divisão da mulher em si e ela for um instrumento ainda usado onde quer que que seja, ao serviço do patriarcalismo, nenhuma mulher no mundo se pode sentir livre ou digna! Este é o objectivo! Devia sê-lo de todas as mulheres.

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