O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 30, 2002

“La Loi Veridique est le croisement; c’est la clé des énigmes.
L’énigme est pour les possesseurs de la clé.
La logique est pour les aveugles qui ne touchent que la terre de leur bâton...”


in “Her-Bak-Discipule”
de Schwaller de Lubicz

O AUTO-CONHECIMENTO

Não são as revoluções ou convulções, que nos levam ao Conhecimento e à Liberdade.
Não é fora de nós que está o inimigo, seja ele pobre ou rico. O mundo muda e gira há milhões de anos, em mutações de espécies.
O homem percorre séculos de aventura e luta. Descobriu a ciência e a bomba atómica... Foi á Lua e a Marte...e não mudou nada! Porque, muito mais difícil do que descobrir mundos, é descobrirmos quem somos, ou ir dentro do nosso próprio Ser...
Mais difícil do que atravessar mares nunca dantes navegados, atravessar planícies e desertos, derrubar muros, ou ir a um qualquer longínquo planeta, é remover toda a ignorância de um fundo atulhado de culturas, histórias e civilizações...
É ser-se o que se é sem medos nem pruridos, é rezar a uma Deusa-Mãe esquecida, que sempre habitou dentro de nós:
Muçulmanos ou Hindus, Cristãos e Judeus, agnósticos e ateus!

"MISE EN SCÈNE" - EXPOSIÇÃO
DE BELA SILVA - Na Galeria TREMA
iNAUGURAÇÃO: sábado, 4 de Maio , das 17h00 às 22h00

- LISBOA -

segunda-feira, abril 29, 2002

continuação de

BRUXAS: AS MULHERES EM CHAMAS
Por Cadu Ladeira e Beth Leite

O clima de desconfiança em relação às mulheres teve também predileções profissionais. Quando não era o caso de grandes perseguições orquestradas para expurgar males como a peste, certos ofícios tipicamente femininos tinham precedência na lista de denúncias. Curandeiras, vitais para uma sociedade onde a medicina ainda era uma ciência incipiente, tornavam-se herejes e apóstatas da noite para o dia. Cozinheiras também viviam sob constante desconfiança, assim como as parteiras.Acusadas freqüentemente de batizar os recém-nascidos em nome do diabo ou de matá-los para usar seus corpos em rituais, elas foram vítimas de anos de suspeita acumulada, numa época em que a taxa de mortalidade infantil era altíssima.
Em 1587, a parteira alemã Walpurga Hausmannin, foi processada por ter causado a morte de quarenta crianças, algumas com até 12 anos. Entre os métodos que ela empregava, estavam o estrangulamento, esmagamento de cérebro da criança no parto e aplicação de "um ungüento do diabo sobre a placenta", de modo que a mãe e a criança morressem juntas. Seu destino foi a fogueira. O mesmo de uma parteira húngara, que em 1728 conseguiu uma marca duvidosa, mas perfeitamente factível para seus contemporâneos: ela morreu queimada por ter batizado nada menos do que 2000 crianças em nome do demônio.
Para quem se acostumou a relacionar a figura das bruxas a personagens pitorescas de contos da carochinha - como a madrasta de Branca de Neve ou a fada malvada de Cinderela -, às vezes fica difícil acreditar em histórias assim. Mas elas existiram e deixaram em seu rastro uma cruel realidade da morte de milhares de mulheres inocentes em fogueiras piamente acesas para limpar o mundo.

domingo, abril 28, 2002



"L' INITIATION EST UNE NAISSANCE SACRÉE DESTINÉE À PLACER L' ÂME DANS LA DIVINITÉ"

ESFINGE

Nasci antes de Cristo, muitas vidas antes,
Antes de Rama, Buda , ou Maomé .
Vivi em Atlântida e Mu , muito antes da Queda.
Conheci os egípcios, vivi nos seus Templos antigos,
fui iniciada nos Grandes Mistérios,
antes mesmo das Pirâmides de Gizé.
Viajava no Nilo entre as duas terras, era fiel a Hapi e a Ptah.
Lia nas estrelas a glória de Nout e cantava nas festas a Hathor!
Ah! Era dourada a sua imagem e, como os teus
os seus olhos brilhavam doces na alvorada...
Outras vezes íamos ver Shekmit, evocar a deusa Bastit,
a quem me ensinavas a amar nas noites de luar.
E como a gata do templo, tu dançavas e esvoaçando as tuas vestes
deixavam antever o teu corpo nu de estátua.
E eu extasiada pela tua visão, não sabia se eras tu
ou a própria deusa incarnada quem para mim dançava.
Nesse tempo era feliz !
Amava a vida e a terra ainda era sagrada.


DA URGÊNCIA DA CONSCIÊNCIA

CORPO, ALMA E ESPÍRITO

O ser humano é um todo indivisível. Da interacção do seu ser e da dinâmica desses seus aspectos ou componentes, diria, partes integrantes de si mesmo, sem predomínio de nenhuma parte está o EQUILÍBRIO E A SANIDADE DO INDIVÍDUO. Não é exacerbando o SEXO ou a mente-Intelecto ou o corpo de per si, como faz a ciência, que se encontra a totalidade e a serenidade da pessoa humana! Nem a ciência nem a religião pode responder às questões fundamentais da VIDA e do AMOR sem ter em conta a harmonia de todas essas partes e o erro reside exactamente no facto de a religião isolar o espírito, a ciência o corpo e os sexólogos e psicanalistas isolarem o sexo... Nenhuma parte é mais importante do que outra à partida. Só que a finalidade da Vida é a Consciência da Totalidade e não o prazer em si ou a procriação!
Não se pode por a ênfase no prazer em detrimento da paz de espírito nem a paz de espírito desligada do prazer de sentir o corpo...
A ALMA é o centro e o mediador entre o céu e a terra, assim a MULHER seu expoente como um Todo e não como um sexo!


CONTINUAÇÃO DE

BRUXAS: AS MULHERES EM CHAMAS
Por Cadu Ladeira e Beth Leite

Cenas e relatos como esses não só foram realidade como contavam com uma robusta fundamentação teórica de uma obra sinistra. Publicado em 1486, o livro Malleus Maleficarum, escrito pelos inquisidores papais alemães Heinrich Kramer e James Sprenger, foi um eficaz instrumento nos tribunais para consolidar a crença de que uma grande conspiração arquitetada por Satã e suas seguidoras, as bruxas, tomava conta do mundo. Até o final do século XV, o manual já era um best seller, recordista absoluto entre qualquer livro anterior ou posterior sobre demonologia, com mais de uma dúzia de edições.Na detalhada obra, que explicava desde os feitiços mais comumente praticados até como localizar a presença das malignas criaturas no seio da sociedade, Kramer e Sprenger não pouparam esforços para mostrar que a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente. O velho temor católico de monges e padres celibatários estava mais forte do que nunca. "A perfídia é mais encontrada nas pessoas do sexo frágil do que nos homens" garantiam os dois. Bruxas eram o mal total: renunciavam ao batismo, dedicavam seus corpos e almas ao demônio e, suprema lascívia, costumavam manter relações sexuais com ele. Principalmente durante os sabás, reuniões em que as forças do mal se reuniam para banquetear-se com criancinhas não batizadas e que sempre terminavam em fabulosas orgias. Testemunhos da época davam notícia de sabás reunindo até 1000 bruxas.
Para provar a propensão natural da mulher à maldade não faltavam argumentos aos autores do Malleus. A começar por "uma falha na formação da primeira mulher, por ser ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela no peito, cuja curvatura é, por assim dizer contrária à retidão do homem. A própria etimologia da palavra feminina confirmava essa fraqueza original: segundo eles, femina, em latim, reunia em sua formação as palavras fide e minus, o que quer dizer menos fé.Defender idéias assim não era exclusividade dos dois inquisidores alemães. A aversão à mulher como ser mais fraco e, portanto, mais propenso a sucumbir à tentação diabólica era moeda corrente em todas as regiões da Europa - dos pequenos vilarejos camponeses aos grandes centros urbanos. Nos sermões de padres por toda a Europa, proliferava a concepção de que a bruxaria estava ligada à cobiça carnal insaciável do "sexo frágil", que não conhece limites para satisfazer seus prazeres. Com seu "furor uterino", para o homem a mulher era uma armadilha fatal, que podia levá-lo à destruição, impedindo-o de seguir sua vida tranqüilamente e de estar em paz com sua espiritualidade.


"FERNANDO PESSOA POR CONHECER"

...e o Bébé deve escrever-me sempre, mesmo que eu não escreva, que é sempre e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim, e também porque é que havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao princípio, e parece que ainda lhe telefono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na boca, com exatidão e gulodice e comer-lhe a boca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu ombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ofelinha gosta de um meliante e de um cevado e de um javardo e de um indivíduo com ventas de contador de gaz e expressão geral de não estar ali mas na pia da casa ao lado, e exactamente, e enfim, e vou acabar porque estou doido, e estive sempre, e é de nascença, que é como quem diz desde que nasci, e eu gostava que a Bébé fosse uma boneca minha, e eu fazia como uma criança, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece impossível de ser escrito por um ente humano, mas é escrito por mim
Fernando

sábado, abril 27, 2002



Em Portugal, quando falamos para alguém e a pessoa parece que não nos escuta ou está alheia, nós dizemos que "estamos a falar para o boneco", que é como quem diz: ninguém nos ouve ou essa pessoa parece um ser inanimado... pois eu aqui tenho mesmo essa sensação de estar a falar para o boneco... Esta coisa com teclas e um ecran que regista silenciosamente letras é um ser inanimado! É aí que a dúvida em continuar me assola. Para quê isto? Eu não consigo pensar no meu prazer apenas, independentemente da utilidade disto tudo. Ter prazer numa coisa significa para mim também a sua correspondência, como em tudo... Se ninguém tem prazer em ler isto ou em me ouvir, para que é que eu falo? Ninguém fala sem um interlocutor... a não ser que seja egoísta, prepotente ou doido! Há gente que se gosta de ouvir e lhe é indiferente que o ouçam. Não é o meu caso. Portanto eu questiono-me muitas vezes da utilidade de se escrever para o "boneco", digo para a Internet...
Ás vezes pergunto-me se há mesmo pessoas do outro lado, algures, neste universo imponderável de gente que navega ao acaso...

sexta-feira, abril 26, 2002

NO CORAÇÃO DE CADA SER ESTÁ O SEGREDO DO UNIVERSO

Pero ya mi corazón asume todas las formas:
claustro del monge, templo de los ídolos,
prado de gacelas, Kaaba del peregino,
tablas de la Torá, texto del Corán.
Yo profeso el credo del amor
y doquiera que él dirija sus pasos
será siempre mi fe y mi doctrina
.

IBN ARABI


Doryt rabinyan

“OS NOSSOS CASAMENTOS”

Um Romance Matriarcal
Excertos da entrevista de M.Teresa Horta, à escritora israelita no DN de 26/4/2002.

“Sou uma escritora feminista. Tal como sou uma mulher feminista. E nem entendo como pode haver mulheres que digam que não o são, o que representa afirmar que as mulheres não continuam a ser descriminadas. É o mesmo que um negro que não é contra o racismo, que a discriminação baseada na cor da pele não existe ou não tem importância”

(...)

Quando escrevo, estou a testemunhar como mulher. Estou a contar a história daquelas que o não podem fazer.”

(...)

“Gostaria de lhe dizer ainda, que acredito que é importante a mulher deixar de ser apenas a filha de um homem ou a mulher de um homem. Temos de nos encontrar, de tomar o nosso próprio espaço, que diga respeito a nós mesmas. A escrita, para mim, é também isso”.
PARA NÃO ESQUECER


"BRUXAS : AS MULHERES EM CHAMAS"
Por Cadu Ladeira e Beth Leite

Escritos da época registram o quase inacreditável. Na diocese italiana de Como, 1000 execuções em um ano. Em Toulouse, na França, 400 cremações são contadas em um único dia. No arcebispado francês de Trier, em 1585, 306 bruxas delataram cerca de 1500 cúmplices. Embora a maior parte das acusadas tenha escapado à morte, isso não impediu que duas aldeias da região ficassem à beira do extermínio: sobraram apenas duas mulheres em cada uma delas.O mais impressionante é que a maior parte dessas mulheres, e mesmo dos homens, condenadas chegaram às fogueiras por confissão própria, graças à tortura. Durante esses quase três séculos de morte, conseguir uma confissão era apenas questão de tempo. Quando acontecia de o acusado resistir muito durante uma sessão de maus tratos, isso só aumentava a convicção de culpa dos interrogadores: afinal, tamanha resistência só podia ter por trás o auxílio de forças que não eram apenas naturais. Hoje, sabe-se que o uso indiscriminado desse instrumento macabro se confunde com o próprio mapeamento da caça às bruxas pela Europa.
O predomínio do temido Tribunal de lnquisição, por exemplo, serviu para atenuar os casos de condenação à morte de bruxas nos países da Península Ibérica e na Itália. Embora tenha ficado famoso na Idade Média pela prática da tortura, na época em que começou a grande repressão européia, a partir do século XV, os inquisidores já haviam elaborado uma extensa reforma jurídica que garantia não só assistência legal aos acusados como restringia a ação dos torturados a casos muito especiais. Na Inglaterra, onde suspeitos de bruxaria só podiam ser submetidos à tortura com autorização dos conselhos superiores de Justiça, a caça às bruxas também teve pouca expressão. Já na Alemanha, dividida em dezenas de ducados e principados independentes política ejudicialmente, a caça às bruxas ganhou proporções assustadoras. Nada menos de 50% dos processos contra elas aconteceram em terras germânicas, e a maior parte resultou em morte.
Às vezes, a descoberta de uma fraude conseguia evitar que a perseguição chegasse a um final dramático. Em 1633, o jovem inglês Edmund Robinson denunciou uma mulher que o teria levado a um sabá de bruxas, onde estavam reunidas cerca d sessenta feiticeiras. O menino deu o nome de dezessete delas, todas imediatamente presas e condenadas. Algumas dúvidas sobre o depoimento, no entanto, levaram o bispo de Chester a interrogar Edmund e ele acabou admitindo ter forjado a história por sugestão do pai, que havia indicado todos os nomes "por inveja, vingança e desejo de tirar vantagem", descobriram os juízes. Na Escócia, o ensaio de uma grande repressão nacional em 1661 entrou em colapso quando os eméritos caçadores de bruxas John Kincaid e John Dick foram flagrados dando picadas em mulheres acusadas de bruxaria: nos tribunais, essas pequenas marcas eram a prova de que elas haviam feito pacto com o diabo.
Foram poucas, porém, as caças detidas por evidência de fraudes. Normalmente, quando uma perseguição se instalava, nada conseguia detê-la e o pânico tomava conta da população. A princípio, todos estavam sob suspeita e a melhor defesa era o ataque. Uma vez iniciada a caça, delações não paravam mais. Assustadas com a perseguição, muitas pessoas logo se punham a entregar as vizinhas na tentativa de livrar a própria pele de potenciais acusações. Cada possível bruxa levada a julgamento, por sua vez, não tardava a incriminar mais uma lista de acusadas num efeito dominó que levava grandes levas de pessoas diante dos juízes.

CONTINUA

quinta-feira, abril 25, 2002


Por todos os "25 de Abril"

Para mim, todas as lutas e todas as revoluções, todas as descobertas, cientificas e outras, todas as transformações, manifestações de paz e de igualdade, de contra ou a favor do que quer que seja desde há séculos, hoje ou amanhã, seja contra Salazar ou contra LE Pen (de morte!), na Itália ou na Áustria, nada mudará o mundo enquanto à MULHER não for restituida a sua totalidade de SER integro, sem que ela "precise" de se servir do seu sexo para "prender" o homem (que a explora), para seduzir, engatar, conquistar, sobreviver ou ter um lugar no mundo e na sociedade à custa do seu corpo seja como mãe seja como prostituta. Que a sexualidade da mulher tenha o mesmo valor que a maternidade! Que não se separe mais a mulher em duas e a todas as mulheres seja dada a mesma dignificação e respeito, do que depende inteiramente a sacralidade do Amor ou se preferirem do Erotismo e também a Paz no mundo. Acabar com a "outra" é acabar com a caça às "bruxas", perseguição que as mulheres se fazem ainda umas às "outras"... Nesta divisão de duas metades da humanidade e a superioridade de uma está todo o dilema!
A MULHER tem de SER SENHORA DE SI MESMA. E sem que ela descubra porque foi perseguida e ainda hoje é segregada e dividida no mundo inteiro, o mundo nunca evoluirá!
PARA NÃO ESQUECER

"BRUXAS: AS MULHERES EM CHAMAS"

Durante mais de 300 anos, a mesma Europa que viu nascer a Idade Moderna e presenciou feitos como a conquista do Novo Mundo, a ascensão da burguesia comercial e o fim do domínio feudal, fez das fogueiras um instrumento de repressão e morte para milhares de mulheres condenadas por bruxaria.
Por Cadu Ladeira e Beth Leite

As pilhas de lenhas e gravetos já estavam acesas e a multidão inquieta aguardava o início do ritual que conhecia tão bem.
Afinal, execuções eram espetáculos imperdíveis, que atraiam a atenção de pessoas vindas de vários cantos. Em meio ao ruído abafado dos comentários sobre os horrores que havia cometido, surgiu enfim a condenada. A turba, que já estava agitada, aproveitou para liberar a tensão reprimida: objetos, palavras de ódio, risos e piadas partiam de todas as direções contra a terrível criatura. Não houve muitas delongas. A sentença foi lida rapidamente, o carrasco, num gesto piedoso, estrangulou a condenada para que não enfrentasse as chamas viva e, em poucos minutos, seu corpo ardia, diante da aclamação selvagem da assistência.
Durante mais de 300 anos, cenas como essa se tornaram corriqueiras nas praças públicas de boa parte da Europa e o caminho da fogueira se transformou no destino de milhares de mulheres.
Nuas, montadas em vassouras, aterrorizando cidades, aldeias e castelos, no imaginário popular e religioso da época, as bruxas estavam por toda parte, semeando o pavor. A perversidade feminina campeava solta, a serviço dos mandos do demônio e precisava ser contida qualquer custo.
De 1450 a 1750, poucas pessoas ousariam contradizer essa doutrina, repetida em tom de ameaça nos púlpitos dos pregadores católicos, assim como nos sermões protestantes depois da Reforma religiosa de Martinho Lutero no século XVI. Bruxaria era uma calamidade tão real quanto tempestades ou pestes, e intimamente ligada à natureza feminina. Com exceção de Portugal e Espanha, onde os principais perseguidos eram cristãos novos e judeus, em quase toda a Europa a porcentagem de mulheres excedeu 75% dos casos.
Em algumas localidades, como o condado de Namur (atual Bélgica), elas responderam por 90% das acusações.
Estima-se que 100 000 processos foram instalados pelo continente afora e pelo menos 60 000 vidas se perderam em meio às chamas.
Foi em plena Idade Moderna - a mesma que presenciou a descoberta de um novo mundo com as grandes navegações, a ascensão da burguesia comercial, o fim do domínio feudal e a formação dos primeiros Estados nacionais europeus - que o temor às forças do mal deixou o campo da crendice popular para se tornar alvo de uma perseguição sistemática de tribunais leigos, religiosos e da Inquisição - sob controle papal.
Não que as fogueiras tenham sido estranhas à sociedade medieval. A Idade Média também presenciou exibições do poder purificador das chamas, a mais notável delas, sem dúvida, aquela que consumiu a vida da jovem Joana d'Arc em 30 de maio de 1431, na cidade de Rouen, então sob domínio inglês. Heroína nacional, Joana ficou famosa depois que conduziu o exército francês à vitória sobre os ingleses em Orléans e deu início à revanche de seu país na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), até aquele momento vencida fragorosamente pelos britânicos. Em 1430, quando caiu prisioneira nas mãos do duque de Borgonha, aliado ao rei inglês Henrique V, seus inimigos aproveitaram a fama das visões que ela costumava ter desde pequena para levá-la à fogueira, mesmo sabendo de sua extrema devoção religiosa. Nesse caso, porém, o cunho político da condenação era tão óbvio, que antes do final daquele século ela seria reabilitada e em 1920 finalmente transformada em santa.
Para bruxas menos famosas, no entanto, a chegada da Idade Moderna trouxe uma mudança radical na atitude da igreja e dos
tribunais em relação ao universo da superstição, do paganismo e do mito com o qual, havia mais de 1500 anos, a Europa convivia. Na mitologia romana, Diana, deusa dos bosques e dos animais, já costumava guiar amazonas noturnas em cavalgadas celestes. Entre as crenças imemoriais germânicas, acreditava-se que figuras ameaçadoras, conhecidas como streghe, se reuniam na floresta em torno de caldeirões para realizar seus rituais. Depois se volatilizavam e invadiam as casas para chupar a vitalidade das crianças. Mas em meio à insegurança da aurora da modernidade, um tempo marcado por mudanças e desgraças constantes como fomes, pestes, guerras e conflitos religiosos, boa parte dessa tradição fantasiosa do passado acabou associada à certeza de que o demônio e suas seguidoras estavam determinados a dominar o mundo. Feitiços e mulheres voadoras tornaram-se, da noite para o dia parte te de uma grande conspiração demoníaca. Encantos e ungüentos - chamados na época de maléfica - que antes serviam para ajudar as pessoas se transformavam em passaporte certo para a morte.
Não era preciso muito para provar que a ação infernal estava em andamento. Além das tradicionais acusações de possessões diabólicas, crises políticas e sociais, calamidades naturais ou qualquer outro acontecimento anormal eram capazes de detonar a mortandade. Em Trier, na França, uma feroz epidemia de processos contra as bruxas ocorreu entre
1580 e 1599, quando duas grandes colheitas foram dizimadas por alterações climáticas. No principado alemão de Ellwagen, em 1611, em Genebra em 1530,1545,1571 e 1615 e em Milão em 1630, para citar uns poucos exemplos,
centenas foram condenadas à morte após um surto de peste. No século XVII, em Cambrai, também na Franca a instalação de novas indústrias no campo gerou uma onda de ansiedade entre os camponeses que logo desembocou numa grande caça.
Algumas alegações contra a bruxaria eram tão descabidas, que só mesmo o clima de paranóia coletiva explicava a relação: em 1590, depois que uma tormenta no Mar do Norte destruiu um dos navios da comitiva de Jaime VI da Escócia e de sua noiva, Ana da Dinamarca, os dois países iniciaram uma cruel perseguição a feiticeiras. As grandes caçadas vinham assim: como tempestades de verão, chegavam avassaladoras e de surpresa, mas tinham curta duração. Quase sempre, após um período de frenética perseguição, as comunidades se aquietavam durante os anos seguintes. Era como se tivessem se livrado de um cancro.

(CONTINUA)


COMENTÁRIO:

Aquilo que pensamos extinto da sociedade, continua de algum modo latente no inconsciente da humanidade e quer os homens quer as mulheres vivem ainda com esses "fantasmas". Não é na negação ou ocultação destas memórias que nos libertamos, mas enfrentando os nossos medos e atavismos e corrigindo os erros como que extraíndo o verme da ignorância e o medo ancestral do oculto - aquilo que ainda não sabemos! As religiões foram e são a forma mais desastrosa de contaminar pelo ódio, criando a separação dos sexos e todas as atrocidades seculares em nome de um credo... E em nome de um DEUS único dizimaram-se povos e civilizações, culturas e arte, referências de uma DEUSA, Mãe de toda a humanidade, primeira referência de amor, uma Mulher que foi cindida em duas (a mãe e a prostituta) e cuja divisão originou para o próprio homem uma cisão da sua natureza: em luta contra o seu feminino o homem tem vindo a tornar-se um travesti em vez de integrar esse feminino no conhecimento da mulher verdadeira, quer em si mesmo quer fora de si. A Mulher está a tornar-se um ser em extinção... e o homem misógino por consequência da sua atitude histórica e religiosa, num onanista ou pedófilo... Na óbvia crise dos padres, está-lhes ainda empregnada na memória a ideia da mulher satânica e diabólica, a BRUXA, enquanto que as crianças (da sua preferência) são os "anjinhos salvadores" que os levarão para o céu... O resultado dessa ignorância e divisão está à vista...

terça-feira, abril 23, 2002

A MULHER:A UNIÃO DAS FORÇAS CÓSMICAS E TELÚRICAS


O CÉU E A TERRA....A ALMA E O CORPO

Nestes casos, o que verdadeiramente transporta e fascina é a "mulher do espírito" ou a "mulher oculta" a que já nos referimos, e o ser humano correspondente serve unicamente de intermediário para a experiência ou activação desta mulher. Uma imagem primordial que transportamos em nós, nas camadas profundas do nosso ser, manifestando-se em circunstâncias determinadas ao encontro de uma pessoa real, dando origem a uma espécie de transe clarividente e ébrio: pois a imagem que transportamos em nós é também o eterno feminino pressentido objectivamente no ser amado, o qual sofre então um processo muitas vezes fulgurante de transubstanciação, com o sentido de um quase total desnudamento, duma aparição efectiva, de uma hierofonia (...)

in"A METAFÍSICA DO SEXO" - Julius Evola

*** ***

MANUAL DE ASCENÇÃO:

.Caminha envolto em segurança porque já não há estranhos, porque estás em harmonia com a Natureza e com todas as suas criaturas.
· Ama livremente através do verdadeiro poder, porque já não receias nem a rejeição, nem a dor.
· Dá a partir de ti mesmo, sabendo que a rejeição é um sinal de que os outros são incapazes de receber o que tu és!
· Deixa de competir com demais, porque a competição implica vergonha e nega a maestria de uns e outros; reconhece que, em última instância, estás a competir contra ti mesmo. O verdadeiro poder coopera sem egoísmo, reconhecendo que ninguém o pode explorar.
· Perdoa incondicionalmente sabendo que fluis através da vida reconhecendo que comparticipas na criação de cada acontecimento das tuas vidas.
· Não atires a culpa para cima de ninguém, nem sequer de ti mesmo, porque vives permanentemente na esteira do ESPÍRITO.
· Não julgues nada nem ninguém, pois o julgamento está ancorado na vergonha; ao invés, considera o ESPÍRITO para saber o que é verdadeiro em cada momento. A partir desta perspectiva passas a ver tudo com os olhos do ESPÍRITO que se expressa e passa a trabalhar através da tua personalidade.


SERAPHYS


LIVROS, LIVROS...
DIA INTERNACIONAL DO LIVRO...
E DIA INTERNACIONAL DO ESOTERISMO


Na Aurora Consurgens a mulher que surge também é a sabedoria de Deus e busca a sua morada entre os homens. É uma árvore da vida, uma luz que nunca se apaga. A sabedoria, para aquele que a encontra, é um alimento eterno. A mulher dá a vida, como a do outro texto que citámos, no Discours Philosophique.

Toda a dama cantada nestes termos - variados, opostos, não conciliáveis à primeira vista - está a ser espiritualizada e projectada numa dimensão que não é deste mundo. A mulher que o poeta sublima em belos e riquíssimos tesouros, com um corpo que se dilui ora nos elementos, ora em matérias tão subtis como a luz, esta mulher, que se "apura" nos poemas, faz esquecer a amante real que se deseja. Assim se justificam os os jogos de contrários, nos poetas. Como uma diversão (não um divertimento).

in "ALQUIMIA DO AMOR" - Y.K. Centeno

CAVALEIRO ERRANTE

Amo-vos tanto, Senhora minha,
mais do que nenhum cavaleiro errante
neste mundo jamais vos amou.

Amo-vos tanto, eterna dama,
tanto e mais como jamais
santo algum nesta vida vos adorou.

Amo-vos cada dia mais e mais, e tanto mais
quanto mais perto da minha alma estou.

Ah, amo-vos muito mais do que Dante
no inferno Beatriz amou,
mais do que Romeu amou Julieta,
que só por uma morte passou...

São tantas as minhas mortes por amor de vós
que nem Cristo por amor da humanidade,
tantas vezes ressuscitou...

in "Mulher Incesto - Sonata e Prelúdio"

segunda-feira, abril 22, 2002

Ana Cristina Dias - técnica mista - Galeria Trema


Passaram estes dias sem qualquer vontade ou estímulo para acreditar neste meio quase abstracto de comunicar...Há dias em que é muito fácil deixar para tràs este tipo de fantasia virtual. Percebo que qualquer pessoa o deixe de fazer de repente. Mas será que um livro é mais concreto no que respeita a chegar a um leitor? O que é que as pessoas procuram na Internet? Distracção, devaneio, afecto, divertimento, erotismo, informação, prazer? Penso que ninguém tem paciência para ler nada sério ou chato. A conclusão é simples: a Internet é para gente nova... não para uma senhora da minha idade. De facto, às vezes, mais pareço uma adolescente! A Dulce Dias ficou espantada com a minha idade...Ela julgava-se a mais velha por aqui e ficou admirada quando soube que eu só tinha mais vintes que ela...

sábado, abril 20, 2002


--Para mim? Para ti? Para ninguém. Quero atirar para aqui, negligentemente, sem pretenções de estilo, sem análises filosóficas, o que os ouvidos dos outros não recolhem: reflexões, impressões, ideias, maneiras de ver, de sentir -- todo o meu espírito paradoxal, talvez frívolo talvez profundo. (...)

in " FLORBELA ESPANCA DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO"
OH ANA! UDIGRUDI

Sabia que eu queria em primeiro lugar ainda agradecer-lhe a sua gentileza em me ensinar os "links" que só agora aparecem?
E espero que esteja melhor e escreva tudo o que lhe vai no coração e na alma e não se importe de parar e olhar e deambular por aí sem pensar...
Nós ficamos à espera sem a pressionar!

Estava ansioso esta manhã, mal despertei, para vos vir oferercer esta rosa...
Apetecia-me começar o dia a pensar em todas as gatas que andam desoladas por aqui...
Claro que também penso nos gatos, mas sem confusão de sexos...
Eu sou um gato todo platónico que gosta de gatos e gatas, mas não procuro ninguém...
Este é o meu modo ser, por influência da minha dona de certo ...
Eu hoje apetecia-me colocar flores neste chão...
ou nesta visão, repentina, fugaz, do olhar que passa no ecran e procura "algo"...
Alguém sabe por acaso o que procura quando abre o monitor?
Algo que faça sentido à nossa mente... à nossa alma ou ao nosso coração?
Eu por mim aqui não procuro nada de concreto, senão um eco de mim talvez...
um eco humano, de fraternidade ou afinidade, talvez...
Penso mais com o coração de com a cabeça como se diz...
Sim não penso com o cérebro nem com o sexo...
Procuro a emoção estética que a arte me oferece mas será que este espaço virtual é arte?
Um Diário na Net, não é um conceito ou uma ideia feita...
Não tem que ser senão o que é... o que é para quem escreve aqui.
Eu escrevo porque o acto de escrever e ler me dá prazer em si e essa é a minha razão principal de estar aqui...
o resto vem por acréscimo... pessoas, trocas, amigos potencias, encontros possíveis ou impossíveis,
mas essencialmente constatar que todos somos HUMANOS e precisamos de comunicar!
A forma e o geito o estilo ou a finalidade varia...se calhar conforme as manias ou o "nível" de cada um,
mas todos LIVRES desde que o respeito e bom gosto sejam pontos de referência, "acho eu de que"...


Por assim dizer...COM O CORAÇÃO NAS MÃOS...

quinta-feira, abril 18, 2002


Ao céu da tua boca eu quero ir
e na minha língua sentir o néctar jorrar...

Enquanto tu, figura alada,
com as tuas asas te debates para o espírito deste mundo libertar,
eu convulsamente mergulho no teu ventre
indo ao mais fundo do teu ser, ouvir o teu coração bater
para romper os véus da nossa existência,
vir de novo à terra
voltar ao céu da tua boca
e voar na minha alma ao teu lado deitada.

in "Mulher Incesto"
***
Assumir a Luz é não fazer nada. É ser capaz de começar por não fazer nada... Precisas de chegar a essa ignorância essencial e ficar quieto, sem projecto, límpido, inocente, transparente, para que o Outro que tu És nos Planos Cósmicos, possa escrever nesse Quadro Branco...


**** ****
MANUAL DE ASCENÇÃO

O grande mito do amor consiste em que estás convencido de que podes amar alguém, alguma coisa, ou pelo menos, a ti mesmo.
Ninguém pode amar outro; tu não podes amar-te a ti mesmo, nem amar outras pessoas!
Sabes porquê? - Porque o amor não é um «fazer» mas um «permitir ser»!


A energia a partir da qual o Universo está construído possui, em si mesma, uma qualidade: um deleite de ser. Trata-se da aceitação do direito de todas as coisas serem o que são, da alegria da expressão de todas as coisas, à medida que desfrutam do seu direito de ser.
Todos os seres provêm da Fonte e, por isso, têm o direito divino de expressar a sua divindade, tal como todos os seres têm o direito de desfrutar das expressões dos demais. Assim é porque, na verdade, todos são um só... ainda que engenhosamente disfarçados para darem a sensação de estarem separados. Aceita-res esta satisfação de te exprimires, assim como o deleite de ver os outros a fazerem o mesmo, é uma experiência maravilhosa, e que constitui aquilo a que eu chamo «amor».
No entanto, não se pode «fazer» satisfação ou deleite; só se pode permitir que assim seja e deixar que isso inunde o ser completamente, como qualquer outra emoção. E, de facto, esta emoção não está condicionada por aquilo que o outro ser possa fazer; baseia-se em conhecer e experimentar a divindade que há nele.


SERAPHYS


Os Irmãos têm mantido a tua Luz cuidadosamente velada, amorosamente adormecida, amorosamente preservada porque a curva do despertar tem de ir a par com a desactivação da Matriz de Controle, tem de ir a par com a desactivação da matriz que mantém a humanidade no estado mais obscuro em que ela se encontra.

Essa etapa, em que a Luz se encontra aprisionada numa câmara terminou!

Encontramo-nos numa fase de progressão geométrica, em que a autorização, vinda dos Conselhos Cósmicos que tu serves, foi dada, para que a Radiação Profunda seja totalmente libertada.

À medida que a Matriz de Controle (que controla, que domina) é desagregada, é dispersa... na proporção em que essa matriz de cegueira, de visão materialista, vai sendo desactivada, o espaço vibratório que vai sendo disponibilizado é preenchido por um varrimento de Liberdade Macrocósmica que começa a envolver a Terra... como um Hino...

(Encontros de Belém)
A PALAVRA SIMBÓLICA

Pela palavra é possível recriar o mundo e criar mundos; o som e visão, dirigindo-se a diferentes zonas da consciência, encontram através dela correspondência e complementaridade. Pela palavra se consegue evocar ou criar a imagem sonora, o som imagístico.Aqui imagem não se refere exclusivamente à visão física do mundo natural, já que ao homem é possível conceber a imagem abstracta ou informe, a que se pode também chamar intuiçaõ ou visão pura ou visão ideal.
Se nos é dado conceber ou exprimir mais ou para além do que pelos nossos sentidos voltados para o mundo apercebemos, é porque há outras regiões em que actua a consciência que não são essa, ou antes, em que talvez a partir dessa se possa para eles transitar. os poetas, os músicos, os iluminados ou todos aqueles dotados de faculdades visionárias, deles falam.
Ninguém desconhece que todos os ritos ou rituais estão ligados a invocações sonoras, de palavras, de sons articulados ou inarticulados, ou gestos, complemento ainda da voz, mas todos eles se incorporam num ritmo que lhes é simultaneamente impulso e via. (...)


As "Nove Incursões" de Ana Hatherly

quarta-feira, abril 17, 2002



HOJE, GOSTARIA DE PODER DIZER TUDO NUMA SÓ FRASE,
NUMA SÓ PALAVRA, DIZER OU REVELAR
A ESSÊNCIA DA VERDADE E DO CONHECIMENTO...
NUM SÓ ACTO...
HOJE, GOSTAVA DE SER LUZ PURA E ILUMINAR TODA A GENTE...


HOJE, GOSTAVA DE TER UM PODER QUALQUER, INFALÍVEL
QUE FIZESSE COM QUE TODA A GENTE SE AMASSE...


(Hoje, ou estou louca ou estou a sonhar acordada!)

***** ***


ISHA

Meu amor, finge que eu sou louca e faz de Deusa para mim!
Disfarça-te de Fada e deixa que te ponha estrelas a enfeitar os cabelos...


Sim, finge que eu sou louca e aceita o que te peço, veste-te de Rainha...
Põe safiras na testa e pérolas no peito
e deixa que me ajoelhe a teus pés e as mãos te beije...


Deixa que te dispa e cubra de flores, acácias, rosas e jasmins.
Deixa-me, sacrílega cobrir-te com um manto de Luz
E rezar-te como se fosses santa!


Ah, finge que eu sou louca e mais do louca, demente
E aparece como que vinda de outros mundos,
Pega na minha mão e leva-me contigo para longe daqui!


Ah, finge que sou mesmo louca!
Deixa que te beija a boca e morra de vez...


Do Livro "Mulher Incesto Sonata e Prelúdio"

terça-feira, abril 16, 2002



Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim


FERNANDO PESSOA

Arauto da primavera, amada
voz, rouxinol...


SAFO

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sobe as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...


FLORBELA ESPANCA

DOIS LIVROS...

Escrava do materialismo, a ciência tradicional presume que tudo o que não pode ser medido, testado em laboratório, ou comprovado pelos cinco sentidos ou as suas extensões tecnológicas, simplesmente não existe. Não é "real". A sua consequência: toda a realidade foi esvaziada de sentido e transformada em realidade física. As dimensões espirituais, ou aquilo que eu chamaria de não-físicas, da realidade foram corridas para fora da cidade.
Isso colide com a "filosofia perene", consenso filosófico que atravessa eras, tradições e culturas, e que descreve dimensões diferentes mas contínuas da realidade. Estas vão das mais densas e menos conscientes - aquilo a que chamariamos de "matéria" -
às menos densas e mais conscientes - a que chamariamos de espirituais.


(...) in "O PODER DO AGORA" de ECKHART TOLLE
- Yo aplico las teorias de un grupo que pratica lo que llamamos Ipsoterapia; es decir, ayudar a cada cual a vivir de acuerdo con su ser autêntico y su derecho a realizarse, sin más restricción que el respecto a los demás.
-Ipsoterapia? No lo he oído nunca.
Es una orientación minoritaria, pero va progresando, pese a la hostilidad de la ciencia oficial. Proclamamos que la aceleración técnica y la artificialidad creciente de la vida, junto con la supervivencia de creencias y prejuicios arcaicos, asfixian cada vez más el libre desarrollo de las potencialidades humanas. Hay un creciente conflicto entre los instintos naturales y los condicionamientos culturales impuestos...


in "EL AMANTE LESBIANO" de José Luis SAMPEDRO

domingo, abril 14, 2002



Eu sei que podia ser "positiva", mas embirro com isso, como embirro com o ser "pessimista"... Mas eu vejo constantemente os dois lados de Tudo...Bem sei que o Sol hoje brilha e o Tejo reflete a sua luz e Lisboa é uma cidade maravilhosa...Que o meu gato é espantoso e sábio e me ensina tudo o que eu preciso. Mas eu preciso do mundo...e sei que a a humanidade chora...

hOJE É DOMINGO E LEMBREI-ME DAQUELA CITAÇÃO DE NIETZSCHE
QUE JULIANA PÕE SEMPRE NO FIM DAS "CARTAS"...

"O trabalho é uma vergonha, pois é impossível que um
homem ocupado no esforço de ganhar a vida se torne um
verdadeiro ser humano!"


Nietzsche
**** ***

Na feira que atravessas,
não tentes encontrar nenhum amigo.
Não procures tampouco um abrigo seguro.
Com a alma serena, aceita
a dor sem esperança de remédio,
que não existe.
Sorri ao infortúnio
e não peças a ninguém que te sorria:
seria tempo perdido.


IBN 'ARABÎ

(ENCONTRADO COM SURPRESA EM VIZINHOS TELHADOS... QUANDO ANDAVA À PROCURA DA GATA-BANDIDA...)
Do Século XV para o Século XXI

"O ELOGIO DA LOUCURA" -- DE ERASMO

(...) Não falando dos males que o homem faz ao homem, tais como a pobreza, o encarceramento, a infâmia, a vergonha, o tormento, a traição, a cilada, o ultraje, a fraude; seria impossível enumerá-los todos.
Não vos vou referir que crimes cometeram os homens, nem que deus irado os coagiu a nascer para tais misérias. (..)


"PARA CONHECER UM VILÃO PÕE-LHE UM PAU NA MÃO"

Ás vezes não sei de todo o que escrever e fico cansada do meu carácter selectivo...dos meus poemas místicos e frases elevadas. Por isso apetecia-me abandalhar...ser simples ou ser "surrealista" ou escrever coisas sem sentido de alto a baixo...Ou então falar de política e de guerra, desatinar... Ser pornográfica!
Por exemplo: perguntar se o A. Sharon não será uma encarnação do Hítler ou se tudo isto não é meramente uma ficção de filme americano, um déjà vu qualquer...as Torres a cair as bombas a explodir com heróis a matar dos dois lados, de todos os lados ou rir apenas, rir do parceiro do lado que levava os óculos tortos ou da Catarina Tallon que vai editar um livro na Bertrand, um livro de memórias, um vómito de agonia social, patrocinado pela Zita Seabra, das quantas "quecas" que deu com cantores e o marido a dar-lhe porrada? Nestas alturas até invejo o Heman José que diz tanta barbaridade e é considerado "um senhor" do riso português...
Como naquele ditado que diz "rir para não chorar" e eu acho que é isso mesmo que os portugueses neste momento podem fazer...Rir dos polícias e dos ladrões, rir-se dos políticos e burlões, rir-se desta tragédia nacional "Moderna", das armas e dos barões, do comunismo reacionário e do Paulo Portas inchado a cantar o hino nacional e da pedofilia internacional dos padres com o Papa a cair do tripé...
Mais "respeito senhores"! diz o treinador de futebol que é estrangeiro...Cá por mim tenho a sensação de estar a ver o mundo de pés para o ar ou será que estou "passada"?! Vem-me uma reminiscência de há vinte ou trinta anos quando fugi à P.I.D.E. para Paris e inocente acreditava na paz e na justiça e em Cheguevara...Será que voltámos ao "antigamente" ou que nada mudou? De repente fiquei com medo...de estar a ter um pesadelo ou a viver num manicómio...
Este mundo é assim mesmo ou é só da Televisão?

**** *
Nota à Margem:

Uma amiga hoje dizia-me que o meu livro não teve sucesso porque não tem sexo explícito nem enredo...
É justamente por isso que a poesia não se vende e não tem mercado...
E disse-me que sou visionária e desfasada da minha época!
Eu não sei se fiquei triste ou perplexa e de certo não encontrei resposta e até concordo...
Eu sei muito bem que não há Deusas...e que o que se vende é "sexo, vídeo e mentiras" e as mulheres também.

*** ***

"Todo o indivíduo tem em si um louco, ou um anormal, porque tem em si um diferente dos outros. Não há homens normais em si próprios; há apenas homens normais nas suas relações com os outros."

"JE SUIS FOU, JE LE SAIS, MAIS QU'EST QU'ÊTRE FOU? PERSONNE LE SAIT"

in "Pessoa por Conhecer" -- Teresa Rita Lopes

sexta-feira, abril 12, 2002



Le Prophète

Vos coeurs connaissent en silence les secrets des
jours et des nuits.
Mais vos oreilles espèrent entendre l'écho de la connaissance de votre coeur.
Vous voudriez connaître en paroles ce que vous
avez toujours connu en pensée.
Vous voudriez toucher de vos doigts le corp nu
de vos songes


KHALIL GIBRAN


VISITE O "CAIS DE POESIA" EM:

CAIS DE POESIA

pOESIA DE VÁRIOS POETAS PORTUGUESES E BRASILEIROS

quinta-feira, abril 11, 2002



Coração duas vezes roubado não é pecado...

O CORAÇÃO SECRETO É A DOUTRINA ESOTÉRICA

Ó Mestre, que farei eu para atingir a sabedoria? Ó sábio, que farei para conseguir a perfeição?
Procura os caminhos. Mas, ó Lanu, sê puro de coração antes que comeces a jornada. Antes que dês o primeiro passo, aprende a separar o real do falso, o transitório do eterno. Aprende sobretudo a separar a ciência da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina dos "olhos" da doutrina do "coração".
Sim, a ignorância é como uma vasilha fechada e sem ar; a Alma uma ave dentro dela. Não canta, nem pode mexer uma pena; mas jaz num torpor e morte de não poder respirar.
Mas mesmo a ignorância é melhor do que a ciência da cabeça sem a sabedoria da Alma para nos iluminar e guiar.(...)


in "AVOZ DO SILÊNCIO" de Helena Blavatsky ( tradução de Fernando Pessoa )

Para a ANA GONÇALVES, a ANALU e o EDMALUX -- coisas do coração que a razão desconhece...


Toute Connaissance conçue par le Coeur monte en surface d'elle-même comme la crême sur le lait, sans aucun effort de pensée : ceci est la vraie Connaissance intuitive.
Ensuite seulement, l'intelligence cérebrale peut se l'approprier et l'enrichir de notions déjà connues; ceci est le travail de traduction des conceptions intuitives. Mais cette traduction demande l'habitude d'exercer l'oreille intérieure pour écouter,
avec neutralité et une docile impersonnalité les corrections apportées par la Connaissance du Coeur.
Les obstacles aux progrèsde la Connaissance intuitive sont:
-- la hâte du résultat;
-- l'imagination cérebral ou émotive;
-- l'intrusion des pensées dans la concentration méditative;
-- l'ingratitude et le doute quant aux percetions qui ne peuvent encore être comprises cérébralment;
-- le contentement de soi-même et la répugnance à constater ses erreurs.


*** ***
in "L'OUVERTURE DU CHEMIN" de ISHA S. DE LUBICZ
La Table D'émeraude, Éditeur

quarta-feira, abril 10, 2002



"A VOZ DO SILÊNCIO"

"Sim a ignorância é como uma vasilha fechada e sem ar; a Alma uma ave dentro dela.
Não canta, nem pode mexer uma pena; mas jaz num torpor e morre de não poder respirar."


No coração humano habita o segredo do amor que se abre a um simples gesto de verdade. O gesto mágico é o da verdade interior de uma pessoa quando se recolhe e colhe o fruto que amadurece em si. Ou quando olha um ser igual a si próprio. A magia de um olhar pode contaminar outro ser de amor, quando dois corações estão em sintonia por um mesmo anseio de verdade. Quando não acontece esse anseio, tudo parece opaco e distante e assim vivem os seres humanos e é disto que eu me queixo. Lamento não encontrar pessoas que me falem ao coração e que permitam à minha alma respirar. Mas não podemos depender de ninguém. Isso tem de acontecer connosco primeiro. Só o Conhecimento do nosso coração nos pode libertar da gaiola dos pensamentos....
... vaga história comezinha
Que, pela voz das vozes, era a minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram.


FERNADO PESSOA


EU QUERIA SER MULHER

Eu queria ser mulher para me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nas “banquettes” dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pele meu rosto, diante de todos no café.


Eu queria ser mulher para não Ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedir dinheiro --
Eu queria ser para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer “potins” -- muito entretida.


Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar --
Eu queria ser mulher para que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se pode desculpar.


Eu queria ser mulher para Ter muitos amantes
E enganá-los a todos -- mesmo o predilecto --
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...


Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher para me poder recusar....

....... ......... .......... ............ ........... .......... ......

(Poema inacabado de Mário Sá-Carneiro enviado a Fernando Pessoa)



Esta mulher que o poeta queria ser eu não queria!
Também não sou mulher que queira ser como o poeta...nem gostava nada de ser o amante louro e esbelto nem o rapaz gordo e feio...e também não, não quero estender-me nas banquettes do café nem pôr pó de arroz no rosto diante de todos, nem pedir dinheiro a velhos “amigos”, nem quero que me olhem e se excitem...
Em 1916 o poeta era só poeta e como homem não se perdoava estes enleios, ou devaneios, mas hoje em dia, temo que os “poetas” todos queiram só mulheres assim... e já não sejam poetas!
E os que há não creiam em Musas e odeiam as mulheres que há.
Entre a mulher que o poeta quer ser e a mulher que o poeta inventa, onde fica a mulher verdadeira, aquela que não é uma coisa nem outra?
Entre a poetisa que quer um Deus e o poeta que quer ser uma Meretriz, qual a diferença neste desencontro entre homens e mulheres, nesta eterna luta entre deuses e deusas poetas e musas e poetisas?
Afinal de contas não era mais fácil os dois serem UM e iguais entre si, nem machos nem fêmeas? Isto é, alquimizando os dois em um e ser Andrógino...Voltar à origem: SER O ANJO que não tem sexo! TODOS DEUSES, SIM, na terra no céu ou no Olimpo! Cada um de nós...


O amor de um homem? -- Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? -- Quando eu sonho o amor de um Deus!...


FLORBELA ESPANCA

terça-feira, abril 09, 2002



MYRIAM

Esperei tanto por ti, sonhei-te na noite passada.
Sonhei que vinhas e o teu perfume me inebriava.
Abraçavas-me e sorrias com uma terna malícia
Que só em sonhos antevejo e o meu coração
Rejubilava na delícia das tuas mãos...


Era duende ou fada quem comigo brincava?


E falavas de um antigo pacto, de um país de maravilhas.
E que dele me trazias as memórias e fragâncias,
As essências e mirra e o teu nome era Míriam e rias
De malícia como de ti me lembro, já me recordo, vês...


Eras tu afinal, não era sonho...
Não foi em vão que enlouqueci de tanto esperar por ti
Tu vieste e, mais do que sonho, sou eu própria a sonhar
Com o teu sonho ou ideia, que importa?
És tu e sou eu e és bem real dentro de mim!


* * *
Do LIVRO: "MULHER INCESTO SONATA E PRELÚDIO"

segunda-feira, abril 08, 2002



Minha irmã dos caminhos cruzados, eu também não acredito no amor de ninguém. Tudo são sonhos e projecções dos nossos sonhos neste mundo de ilusões grandiosas e torpes lado a lado nesta humanidade.Cada ser humano, passada a ponte dessa ilusão fragmentária do mundo, fica só consigo mesmo.O caminho é estreito e individual. Aí todos caminhamos sós mas o sorriso é diferente, vem da alma. Única Luz. Luz que incide em cada passo e não no horizonte...
Eu já me embrunhei tanto na Floresta que não posso voltar à praia onde se banham os discípulos e o Mestre. Aí o sol brilha e todos usufruem da paisagem e do horizonte largo...Eu mergulhei nas brumas do mais escuro lago à espera que a Senhora da Noite e das Águas acorde do seu sono milenar e me dê abrigo nos seus braços sob a noite estelar. Eu espero a grande Serpente que vai debaixo da terra acordar e fazer estremecer o mundo da sua iniquidade...


NOTA ÀMARGEM...

Eu não sei o que é SPAM nem sei se se escreve assim, mas sei que existe tanto LIXO POR AÍ QUE NÃO CONSIGO ACREDITAR.
A facilidade com que as pessoas enviam as maiores cretinices e baboseiras por e-mail já deu para notar, mas eu pensava que era inconsequente. Contudo verifico que é invasor e abusivo e um meio que podia ser de difusão do melhor que há em nós, onde sinceridade e fraternidade podiam ser uma corrente universal a melhorar o mundo, volta a ser um meio de expressão do PIOR que há no homem e as intrigas, guerras de palavras, pornografia, comércio, ofensas e agressividade, mais parece um campo de batalha virtual...
Sou concerteza ingénua e novata nisto, porque afinal o homem é sempre igual em todo o lado...
Precisamos de nos focar no melhor que HÁ em nós e na Humanidade...
É por isso que ainda tenho alguma esperança nas Mulheres & Deusas...e continuo a escrevera aqui!

domingo, abril 07, 2002

De há uns dias a esta parte dei por mim com pensamentos alados em forma mesmo de aves e pássaros... Talvez uma asssociação inconsciente devido ao facto da alma ser representada por um pássaro para os egipsios...
BA um pássaro com cabeça humana...é a Alma Cósmica, Espírito do Fogo, animador das Forças ou Energias dos diversos lugares sagrados do mundo... Uma pomba representa o Espírito Santo para os católicos -- noção redutora e sincrética de um conhecimento mais vasto, iniciático...OS MISTÉRIOS do Antigo Egitpo perdidos no pó e pela escomalha...a barbárie...
Bom, mas voltando à terra, o que eu queria contar é que fui assolada de várias maneiras por pombos... um entrou na loja e foi difícil fazê-lo sair... outro apareceu aos meus pés sem mais nem menos... e outro fez-me no meio de um discurso enfático... um cocó mesmo no meio da cabeça! Isto dá que pensar!

* * *

2 POEMAS DE AMOR DO ANTIGO EGIPTO

Um botão de lótus a sua beleza
e de frutos o seu peito.


O seu rosto é uma armadilha numa floresta de meryus

E eu, um pobre ganso selvagem
Um pobre ganso selvagem que põe a cabeça dentro de água


Para morder o isco.


* * *

Hora da refeição: tempo de tu partires?
Receio que o teu estomago seja para ti uma melhor amante!


Para quê tanta pressa?
Porque vais comprar roupa a uma hora destas?
Porque te inquietas tanto, meu amor
Não são finas as cobertas da minha cama?


Tens sede? Toma o meu seio exuberante...

sábado, abril 06, 2002

A ALQUIMIA DO AMOR

A primeira função do homem poeta é a descoberta do verdadeiro significado do seu eu. O poeta tem de se conhecer a si mesmo, tem de desvendar a sua alma "inteira". Não é do eu individual que se trata, nesta procura, (os que ficam por aí são os limitados autores a que Rimbaud chama"egoísta", que não ultrapassam o domínio do ego) trata-se da imensidade da alma, de por a descoberto e percorrer os seus mais longínquos limites, os mais profundos conteúdos, nem que para isso haja que a desregrar, desiquilibrar, tornar mesmo monstruosa. Ser "vidente", fazer-se "vidente" de todas as maneiras, para chegar a ser conhecedor de si mesmo, da "alma universal". Na alma reside o mistério. E vale a pena pagar todos os preços, mesmo o do crime, mesmo o da loucura, para se chegar a ele. Desvendar o mistério é chegar ao "desconhecido", e poder contemplá-lo e exprimi-lo é a suprema realização. O além ("là-bas") é o verdadeiro domínio do poeta, e a formalização dos conteúdos desse além a sua verdadeira missão. (...)

Y.K:Centeno


A VOZ DO SILÊNCIO

"SE queres colher a suave paz e descanço, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores de nascença.
Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das vestes do Caminho." (...)


HELENA BLAVATSKY -- TRADUÇÃO E NOTAS DE fERNANDO pESSOA

sexta-feira, abril 05, 2002


"A dança mágica que representa os movimentos cíclicos da vida e da morte; génese dos mistérios donde nasce o drama. A teatralidade de Florbela é a interpretação genial deste mistério feminino que se desgarra na gesticulação dramática da poetisa. Sim chamar-lhe-ei poetisa. A homenagem que destingue o génio poético feminino com o prémio de lhe masculinizar o estro ultraja uma poesia que quer feminilizar o mundo com magia e claridade lunar."
Natália Correia

EU NÃO SOU DE NINGUÉM!... QUEM ME QUISER
HÁ-DE SER LUZ DO SOL EM TARDES QUENTES,


Não tenho ninguém em quem confiar. A minha família não entende nada. Não posso incomodar os amigos com estas coisas. Não tenho realmente verdadeiros amigos íntimos, e mesmo aqueles a quem poso dar esse nome, no sentido em que geralmente se emprega esta palavra, não são íntimos no sentido em que geralmente se emprega esta palavra, não são íntimos no sentido em que eu entendo a intimidade. Sou tímido, e tenho repugnância em dar a conhecer as minhas angústias. Um amigo íntimo é um dos meus ideais, um dos meus sonhos quotidianos, embora esteja certo de que nunca chegarei a ter um verdadeiro amigo íntimo. Nenhum temperamento se adapta ao meu. Não há um único carácter neste mundo que porventura dê mostras de se aproximar daquilo que eu suponho que deve ser um amigo íntimo. Acabemos com isto. Amantes ou namoradas é coisa que não tenho; e é outro dos meus ideais, embora só encontre, por mais que procure, no íntimo desse ideal, vacuidade, e nada mais. Impossível, como eu o sonho! Ai de mim! Pobre Alastor! Oh Shelley, como eu te compreendo! Poderei eu confiar na minha mãe? Como eu desejaria tê-la junto de mim! Também não posso confiar nela. Mas a sua presença teria aliviado as minhas dores. Sinto-me abandonado como um náufrago no meio do mar. E que sou eu senão um náufrago, afinal? Por isso só em mim posso confiar. Confiar em mim próprio? Que confiança poderei eu ter nestas linhas? Quando volto a lê-las, o meu espírito sofre percebendo quão pretensiosas, quão a armar a um diário literário elas se apresentam! Nalgunas até mesmo cheguei a fazer estilo. A vedade, porém é que sofro. Um homem tanto pode sofrer com um fato de seda como metido num saco ou dentro de uma manta de trapos. Nada mais.

"UM VAZIO ABSOLUTO DE FRATERNIDADE E DE AFEIÇÃO"

QUER ISTO DIZER QUE NÃO TENHO VERDADEIROS AMIGOS?
NÃO; EU TENHO-OS,
MAS NÃO SÃO MEUS AMIGOS VERDADEIROS.
AI DAQUELES QUE FORAM TOCADOS DO TRANSCENDENTAL E A QUEM
TUDO DOE POR FRIO, INEXPRESSIVO E DISTANTE.


in "PESSOA POR CONHECER"...
Teresa Rita Lopes

quinta-feira, abril 04, 2002


A MUSA E O POETA

Porém nada valeu em face da última visão:
Raiaram mais densas as luzes, mais agudas e penetrantes, caíndo agora, em jorros, do alto da cúpula -- e o pano rasgou-se sobre um vago tempo asiático...Ao som de uma música pesada, rouca, longínqua -- Ela surgiu, a mulher fulva...
E começou dançando...
Envolvi-a uma túnica branca, listada de amarelo. Cabelos soltos, loucamente. Jóias fantásticas nas mãos; e os pés descalços, constelados...
Ai, como exprimir os seus passos silenciosos, húmidos, frios de cristal; o marulhar da sua carne ondeando; o alcóol dos seus lábios que, num requinte, ela dourara -- toda a harmonia esvaecida nos seus gestos; todo o horizonte difuso que o seu rodopiar suscitava, nevoadamente...
Entretanto, ao fundo, numa ara misteriosa, o fogo ateara-se...


in A CONFISSÃO DE LÚCIO de Mário Sá-Carneiro


REPENSAR A MULHER: (excerto de um texto de Angela Santos)

Urge à mulher repensar-se, à luz do que sabe e sente, e assumir o discurso na primeira pessoa; olhar-se à luz do que foi a sua história, ou ausência dela e interrogar-se sobre as zonas de sombra de uma História onde as mulheres não têm lugar durante séculos; interrogar-se sobre as infindáveis tentativas de lavrar tratados ditos científicos, filosóficos, princípios jurídicos que se afadigaram em conferir-lhe, a condição de mentecapta e a provar a sua menoridade, outorgando aos pais (homens) e aos maridos, o papel de tutores, face à lei; interrogar-se porque necessitam de provar repetidamente as suas capacidades profissionais, quando homens mais ou menos medíocres, e muitas vezes menos preparados, são preferidos; saber porque ainda hoje lhes é exigido o papel de “mulher-biónica”, desdobrando-se em várias para poder cumprir os seus diferentes papeis, e porque sendo a maioria da humanidade, lhe continua a ser negada a possibilidade de ser voz, e ascender a lugares onde uma efectiva capacidade de decisão sobre a forma de organizar e gerir as sociedades, lhe seja atribuída, ou seja porque lhe continua a ser vetado o acesso à política onde afinal se discute a vida da Polis e se fazem as escolhas que determinam a vida de todos nós?

Pergunto-me, uma vez dadas à mulher as condições para o seu pleno desabrochar e tomada de consciência do que é e do que se espera seja a sua acção no mundo, este sob a perspectiva do” olhar feminino” não seria um mundo bem mais próximo da realidade do ser humano, enquanto ser pluridimensional?

A chamada libertação da mulher, dos muitos jugos a que tem estado sujeita, desde tempos imemoriais, encerrada nas cidadelas conceptuais erigidas pelos “homens de pensamento”, inevitavelmente conduzirá à libertação do homem (macho), posto que este a si mesmo se encerrou na visão distorcida que criou da mulher.

quarta-feira, abril 03, 2002

Às vezes depois de ter colocado aqui um poema, um texto ou uma determinada frase que me tocou de forma especial, como foi ontem o caso, deste "Jerusalém" de Fernando Pessoa, é como se não houvesse mais nada para se dizer... nunca mais.
Neste estado de alma ainda presa, não consigo encontrar nada absolutamente NADA para acrescentar hoje...


Apetecia-me apenas espalhar rosas de todas as cores aos pés do Poeta!

terça-feira, abril 02, 2002

"Encontrei-o uma vez ao pé de Jerusalém e ainda o tenho assim no coração. (...) Falou-me, como aos outros que estavam e, eu vos digo sem que tenhais que crer-me, tudo em mim se tornou a mãe de todo o mundo. O que ele disse não sei o que era, mas fiquei sentindo comigo que todos somos como irmãos pequenos e que somos como mendigos que se encontram por acaso na casa da estrada onde os ventos sopram e se abrigam, abrigando-nos juntos contra o temporal do mundo e do destino.
Minha mãe, como minha mãe, amava-me, mas este falava-me dum modo que eu vi que ela não me amava de todo. Senti-me como a criança que quer subir para o colo, e chora no chão com os braços estendidos.
Porque este homem era mulher na maneira de me falar pois parecia nossa mãe melhor; e era homem porque falava como mestre; e sempre no seu olhar haverá aquele outro que nos via"


FERNANDO PESSOA --INÉDITO
À Jovem palestiana suicida-bombista

Se eu pudesse ou soubesse... Se houvesse uma maneira de descobrir ou inventar uma BOMbA DA PAZ!!!!
sE EU PUDESSE COLAR AO MEU PEITO UMA BOMBA QUE AO REBENTAR ESPALHASSE RAIOS DE AMOR E LIBERDADE, COMPREENSÃO E AFECTO, UM QUALQUER PÓ MÁGICO QUE FIZESSE COM QUE OS HOMENS EM VEZ DE SE ODIAREM E MATAREM UNS AOS OUTROS ...SE aMASSEM E VISSEM COM OLHOS IGUAIS, TODOS DEUSES, TODOS CONTENDO ESSA CENTELHa DIVINA...e caminhar para ela...
Sim, se essa centelha divina se espalhasse na terra em vez de ódio e guerra...
E aqui eu cheguei ao espectro de tudo isto, o diabo...são DIABOS OS HOMENS QUE SE MATAM EM NOME DE DEUS?
Mas é dessa ideia absurda de um DEUS não sei onde que nascem todos os ódios e demónios e diferenças e as raças se andam a matar há milhares de anos em toda a terra... cada um com o seu deus e o seu ódio e a sua guerra.
E se Deus fosse cada um de nós... se Deus fosse cada ser humano que matamos odiamos e desprezamos a cada passo?
Não há dúvida que somos todos CEGOs e SUrDOS...tão cegos que matámos os Mestres que seguimos ainda cegamente...
E nem mesmo depois de Um Homem ter sido crucificado por acreditar na PAZ e no AMOR e ter sido exemplo de tanta doçura e compaixão, ele próprio traído, e depois, mais uma vez em seu nome, novos inimigos, novos crimes e chacinas destruiram ao longo da história milhares de irmãos.
Enquanto olharmos o "outro" como nosso inimigo, não conhecemos Deus.Porque o Deus que inventámos é a maior blasfémia contra a Humanidade...Em nome de um deus destruimos o Planeta...
Em milhares de anos nenhuma religião nos salvou!

segunda-feira, abril 01, 2002


"A lógica da ciência, da arte, da filosofia, da religião, de tudo, ao pretender transformar o desconhecido em conhecido, o sagrado em tangível, situa-se nesse plano de ridículo patético que acompanha toda a acção pretendendo-se resposta suficiente às contingências da vida."

in LUZ CENTRAL- Ernesto Sampaio

A POESIA É A PONTE ENTRE O MISTÉRIO DA NATUREZA E O INFINITO QUE SOMOS SUA ORIGEM...

"O Mistério da natureza...está todo expresso na forma humana. O ser humano foi produto do fundo e do mais remoto passado no planeta; traz dentro de si, tal como o seu próprio destino, todo o destino do planeta e com este o destino do universo infinito...
É toda a história do mundo que está adormecida dentro de cada um de nós.


O céu e a terra são a morada dos corpos e dos volumes. Os corpos, que são o invólucro do ser humano, são a morada das almas, da razão e da fé. O corpo é a morada do sentido profundo e o universo é a morada da forma. A forma é limidada. o sentido profundo ilimitado."

ao meu irmão que fazia hoje anos...

"QUANDO PARTIRES DA TUA CONDIÇÃO DE HOMEM , SERÁS DE CERTEZA UM ANJO.
QUANDO ACABARES NA TERRA, A TUA MORADA SERÁ O CÉU."


Excertos de RUMI .
in CÂNTICOS DO SOL

Cada poeta - e aqui deixo de ciciar à vossa orelha - sabe muito bem que não habita o seu corpo. Sabe que "a natureza criou os bailarinos no círculo deles como criou a seara no seu círculo e os signos da floresta".
Falo dum NADA realmente calcinado e á imagem do fogo. Falo do princípio da tensão extrema. Numa longa rebelião.... a definir.


Sombria música fascinante, dura aprovação das noites, morte. Morte louca de estranho aparato...Um longo fracasso em flor num outro sonho, num outro amor gelado.

Nada existe em vão. Por outro lado, nunca nos reconheceremos...

LUZ CENTRAL....LUZ CENTRAL....LUZ CENTRAL...