O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, agosto 20, 2002



"Quem me acompanha que me acompanhe; a caminhada é longa, é sofrida mas é vivida.
Porque agora te falo a sério: não estou brincando com palavras.
Encarno-me nas frases voluptuosase inintelegíveis que se enovelam para além das palavras.
E um silêncio se evola sutil do entrechoque na frase".


in "AGUA VIVA" - CLARISSE lISPECTOR

Já escrevi uma vez aqui: "Diz-se: louco de alegria. Dever-se-ia dizer: sábio de dor." in "Fogos"

de MARGUERITE YORCENAR

...A Felicidade, esqueci-me de lhe dizer, nunca me fez sentido, nunca percebi que fosse mais do que uma das grandes, a maior de todas as ilusões cuja ideia, como peste, se propagou na terra...nunca ninguém a teve...è sem dúvida uma das quimeras por ventura mais doce que a humanidade inventou para atenuar a dor de viver entre mitos e mentiras e o resto que não digo.
Penso que essa ideia de felicidade é o que nos afasta de um realidade superior...mas, claro poso , ao fim da vida verificar que estava errada...Até lá...desejo-lhe a si a mim a maior serenidade.


Eu, não digo nada. Procuro espelhar-me nas palavras dos outros. É mais fácil, dirão.




Eu, não digo nada. Procuro espelhar-me nas palavras dos outros. Mas às vezes também acontece.

Ontem encontrei uma jovem mulher desconhecida na rua que me abraçou dizendo-se carente de afecto, coisa perfeitamente inusitada, que me deixou completamente perplexa, assim sem mais nem menos no meio da rua...
e que me perguntou frenética, se eu gostava de prosa-poética e queria vender-me o seu livro-manuscrito para publicar
e falou-me de poetas e escritores, obsecada... Pensei-a drogada, talvez...convidei-a a tomar ali ao lado um café, dizendo-lhe que estava com pressa e quis dar-lhe algum dinheiro sem receber o "livro", mas ela insistiu com dignidade na troca, e dedicou-me os poemas quase febrilmente...
Eu segui para o trabalho com o manuscrito na mão atordoada... e que dizia ele?


ENSAIO 1

O lótus na rosa
Perfume do pinheiro minado
Da solicitude dos ramos
Pendem em tuas mãos
De encontro à cidade, o arco e a pedra...
As mãos cingindo o perfume da rosa abrindo em lótus
- tarde de muros -
No teu porte de abandono!


Assina:Tília Ramos (e disse ser pseudónimo)

Que dizer? Parecia profética, como todos os loucos...
se que é que era louca só por dizer o que sentia a uma desconhecida na rua...

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