O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 01, 2002



“CHAMO POR TI E TU NÃO VENS...”

Queria poder dizer-te tantas coisas que me surgem ao acaso
e tu não estás... e tu não és...
(ou és apenas um fragmento do Adagio de Albinoni?)
Tu não existes quase, nem fazes parte da minha realidade!
És quando muito sincronização de um sonho ou mera ilusão.
Existes no meu imaginário ou na minha memória coletiva,
como um eco de mim própria e que eu necessito como de um reflexo.
Não tens identidade tua: és eu mesma no avesso desta história...



Ah a necessidade de um interlocutor ou de um espelho mágico!
Porque os meus olhos te vêem a ti melhor do que a mim própria.
Mistério digo, ou fantasia a do amor que se reflecte e
em que o ser em si não tem autonomia;
fica sempre preso ora do outro ora da sua nostalgia.
Amar é um estranho equívoco de um cósmico jogo de espelhos...
Em que o ser humano joga a sua vida
entre a comédia de si mesmo e a tragédia dos enganos.


Nota:
Escrito em 30 de dezembro do ano passado, ao acaso;
fui buscar aos ficheiros...

REpublicando:

..."Digo "saborear o sabor da alma do outro" porque a alma, se é como um sopro luminoso no ser, tem um pós-gosto de sal cujos efeitos primeiros são a vida.
Este pós-gosto de sal da alma traz em si o calor um tanto cozinhado dos Deuses bons, um quente salgado que se repercute no sangue e a sua arborescência num líquido de vida, nas veias e nas artérias.
E o coração, esta rosa de pétalas de palpitações, tem o poder de transformar o salgado, por meio de uma alquimia de amor que lhe é muito própria, numa espécie de açucar de que nunca se apreciará suficientemente o sabor inefável, este sabor que se conhece pelo nome de bondade.
A BONDADE É O AÇÚCAR DO CORAÇÃO cuja ternura é uma das manifestações mais doces; não se trata de um açúcar insípido, mas de um açúcar rico e poderoso feito de luz polarizada dos sentimentos mais puros. Miseráveis são aqueles que, tendo pervertido o seu gosto, alteram ou desnaturam o sabor deste açúcar de coração ao ponto de torná-lo ineficaz e estéril.
Ah, enterneçamo-nos com todos estes frutos e todas estas flores que os nossos pomares e jardins interiores são capazes de produzir! E possamos nós fazer da nossa vida um festim de sabores que o Amor, a Ternura, a Bondade darão o melhor que têm."


Pequeno Tratado de Ternura, de Mercier

Revendo os contrastes do ser e os seus paradoxos...
ou o oscilar entre a esperança e a ilusão dos sentimentos e a sua recusa...

1 comentário:

Arrepio da Alma disse...

lindíssima reflexão, onde vislumbro os movimentos do caduceu, forma de escrita algo "gnóstica" que tão bem sabe a sacudir o pó da indiferença.

Namastê.