O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 18, 2003



só mais um beijo

agora que a lonjura inquieta
nos afaga como pena fugidia
dá-me, amada, um beijo
mais

mesmo sem veres
resvalo no suspenso possível
silenciosa golondrina sombra nocturna
obstinada cismo
e fluo e sigo
apaziguada pelos teus afectos

quem me dera que ainda fosse a hora
consentânea desse teu abraço
mas é noite e a noite só me estende
a árida nudez da tua ausência

antes então que inquietas sombras
se alimentem desta alma trémula
dá-me, ó amada, esse beijo mais
renega a infinita solidão
cala a ausência

voa comigo, amada,
até onde tudo cessa
e somos


Tessa Estate (1943 - 2001)

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