O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 30, 2004

TODOS OS HOMENS SÃO MAIS OU MENOS INVEJOSOS;
OS POLÍTICOS SÃO-NO ABSOLUTAMENTE

E.Cioran

(...DÓI-ME A ALMA...UM TRAÇO LENTO DE FUMO ERGUE-SE E DISPERSA-SE LÁ LONGE...UM TÉDIO INQUIETO FAZ-ME NÃO PENSAR MAIS EM TI...
TÃO SUPÉRFULO TUDO! NÓS E O MUNDO E O MISTÉRIO DE AMBOS.)


Ah, é um erro doloroso e crasso aquela distinção que os revolucionários estabeleceram entre burgueses e povo, ou fidalgos e povo, ou governantes e governados. A distinção é entre adaptados e inadaptados: o mais é literatura, e má literatura. O mendigo, se é adaptado, pode amanhã ser rei, porém: perdeu com isso a virtude de ser mendigo. Passou a fronteira e perdeu a nacionalidade.
(...)
Nós na sombra, entre os moços de frete e os barbeiros, constituimos a humanidade.
De um lado estão os reis, com o seu prestígio, os imperadores com a sua glória, os chefes do povo com o seu domínio, as prostitutas, os profetas e os ricos...Do outro estamos nós - o moço de fretes da esquina, o dramaturgo atabalhoado William Shakespeare, o barbeiro das anedotas, o mestre escola John Mílton, o marçano da tenda, o vadio Dante Alighieri, os que a morte esquece ou consagra, e a vida esqueceu de consagrar.


in O LIVRO DO DESASSOSSEGO
Fernando Pessoa

terça-feira, junho 29, 2004

AINDA O AMAR
POSSUIR OU NÃO POSSUIR EIS A QUESTÃO...


«Possuir é o mesmo que conhecer: a Escritura tem sempre razão. O amor é feiticeiro; conhece as fontes. A indiferença é vesga; o ódio é cego; tropeçam lado a lado no fosso do desprezo. A indiferença ignora; o amor sabe; decifra a carne.

É preciso possuir um ser para ter a oportunidade de o contemplar nu. Foi-me necessário amar-te para compreender que a mais medíocre ou a pior das pessoas humanas é digna de inspirar o eterno sacrifício de Deus lá no alto.»


In «FOGOS» de Marguerite Yourcenar

AMAM OS HOMENS DIFERENTEMENTE DAS MULHERES? AMAM AS MULHERES COMO OS HOMENS? QUEM QUER POSSUIR? E O QUÊ? TEM A POSSE A VER COM O DESEJO DE PODER?
SE NEM A ALMA NEM O CORPO DO OUTRO NA VERDADE SE PODE POSSUIR...
MAS POSSUIR PODE SER TER ACESSO AO OUTRO PARA ALÉM DO DOMÍNIO QUE O HOMEM INSTITUI...
NÃO SERÁ NO FUNDO A DÁVIDA AQUILO QUE A TODOS NOS FALTA? O PURO DOM QUE GERA A RECIPROCIDADE?

VIAJANTES

"Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais, sempre diferentes, como afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha de deslocar para sentir.

“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagens. Por isso se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras . Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."


in O Livro do Desassossego
Fernando Pessoa

segunda-feira, junho 28, 2004

"NÃO SE DESEJA POSSUIR UMA MULHER, DESEJA-SE SER O ÚNICO A POSSUÍ-LA"
in OFÍCIO DE VIVER (cÉSAR pAVESE)

NÃO O AMOR, MAS OS ARREDORES É QUE VALE A PENA...

A repressão do amor ilumina os fenómenos dele com muito mais clareza que a mesma experiência. Há virgindade de grande entendimento. Agir compensa mas confunde. Possuir é ser possuído, e portanto perder-se. Só a ideia atinge, sem se estragar, o conhecimento da realidade.

Ser puro, não para ser nobre, ou para ser forte, mas para ser si-próprio. Quem dá amor, perde amor.

Abdicar da vida para não abdicar de si próprio.

A mulher uma boa fonte de sonhos. Nunca lhe toques.

Aprende a desligar as ideias da voluptuosidade e de prazer. Aprende a gozar em tudo, não o que ele é, mas as ideias e os sonhos que provoca. Porque nada é o que é: os sonhos sempre são os sonhos. Para isso precisas de não tocar em nada. Se tocares o teu sonho morrerá, o objecto tocado ocupará a tua sensação.

Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar. Não se aproximar - eis o que é fidalgo.


in O livro do Desassossego
Fernando Pessoa

Dois autores latinos contemporâneos, e o seu "desejo" da Mulher...
Um elege a Mulher como fonte de sonhos...outro sonha a Mulher só sua...

domingo, junho 27, 2004

31313 VISITANTES...HOJE
FORA OS 13131 QUE FALTAM NO CONTADOR...
(só porque gosto do número treze... e de gatos pretos...)



“Todo ser criador é uma dualidade
ou uma síntese de qualidades paradoxais.


Por um lado ele é uma personalidade humana, e por outro, um processo criador, impessoal. Enquanto homem, pode ser saudável ou doentio; sua psicologia pessoal pode e deve ser explicada de modo pessoal. Mas enquanto artista, ele não poderá ser compreendido a não ser a partir do seu acto criativo.
(...)
Enquanto pessoa, tem seus humores, caprichos e metas egoístas; mas enquanto artista ele é, no mais alto sentido “homem”, e homem colectivo, portador e plasmador da alma inconsciente e activa da humanidade. É esse o seu ofício, cuja exigência às vezes predomina a ponto de pedir-lhe o sacrifício da felicidade humana e de tudo aquilo que torna valiosa a vida do homem comum.
(...)
Por um lado, o homem comum, com suas exigências legítimas de felicidade, satisfação e segurança vital e, por outro, a paixão criadora e intransigente, que acaba pondo por terra todos os desejos pessoais. Por isso o destino pessoal de tantos artistas é na maior parte das vezes tão insatisfatório e mesmo trágico e isto, não devido a um sombrio desígnio da sorte, mas sim a uma inferioridade ou a uma faculdade deficiente de adaptação da sua personalidade humana. São raros os homens criadores que não pagam caro a centelha divina de sua capacidade genial.
(...)
Quer pense o poeta que sua obra nele se cria, germina e amadurece, quer imagine que deliberadamente dá forma a uma invenção pessoal, isto em nada altera o facto de que na realidade a obra nasce do seu criador, tal como uma criança de sua mãe. A psicologia da criação artística é uma psicologia especificamente feminina, pois a obra criadora jorra das profundezas inconscientes, que são justamente o domínio das mães. Se os dons criadores prevalece, prevalece o inconsciente como força plasmadora de vida e destino, diante da vontade consciente; neste caso, a consciência será muitas vezes arrastada pela força impetuosa da corrente subterrânea, tal como uma testemunha desamparada dos acontecimentos. A obra em crescimento é o destino do poeta e é ela que determina sua psicologia.” (...)


In O Espírito na Arte e na Ciência
De C.G. JUNG



Um regaço para chorar,
mas um regaço enorme...


"ONDE ESTÁ DEUS, MESMO QUE NÃO EXISTA? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar ser perdoado como uma carícia não propriamente materna.
Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer...Poder ali chorar cousas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro.
(...)
Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço...Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar....Um ruído de lume na lareira...Um calor de inverno...Um extravio morno da minha consciência...E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como lua rodando entre estrelas.
(...)
Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum...E de tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis para seu filho adoptivo, nem nenhuma amizade para seu companheiro de brinquedos.

Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar ó Vento, a minha Mãe. Leva-me na noite para a casa que não conheci...torna a dar-me ó Silêncio, a minha ama e o meu berço e a minha canção com que eu dormi."


FERNANDO pESSOA

sábado, junho 26, 2004

"Nevrose, futebol, patriotismo"
(Artigo de opinião da Visão)

>De que é que nos libertámos ganhando um desafio de futebol vivido como uma batalha campal? De nada.
(...)
Essa Espanha (ou Inglaterra) não é para nós uma autêntica realidade, quer dizer, um verdadeiro adversário que realmente detestemos, que nos ameace e que sintamos prazer em vencer. A Espanha é outra coisa. É a face da Lua que nós não vemos, que nós não queremos ver, ou a própria Lua. Melhor, é aquele espelho que só de imaginá-lo, como se fosse uma cabeça de Medusa, nos roubaria a nossa imagem.

Fugimos durante séculos, consciente ou inconscientemente, à sua proximidade inquietante. Inventamos um Brasil para a não ver, mas basta um mero jogo, em que no fundo, não podemos estar tão dramaticamente interessados.
(...)
Não me atrevo a desejar que, sublimemente, possa ganhar como quem perde. Á portuguesa, pelo menos à Mourinho, cujo snobismo desdenhoso impressionou Filomena Mónica - à parte a beleza dos joelhos...Bendita sociologia.


In A VISÃO
Eduardo Lourenço

"O nacionalismo é a degenerescência gordurosa
do patriotismo e o patriotismo também."

F.PESSOA

sexta-feira, junho 25, 2004

A NOSSA VITÓRIA, A NOSSA SELEÇÃO, O NOSSO GOVERNO...

... dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro, quando não tem o direito de fazer.

A DOR DOS OUTROS...

"Aquela malícia incerta e quase imponderável que alegra qualquer coração humano ante a dor dos outros, e o desconforto alheio, ponho-a eu no exame das minhas próprias dores, levo-a tão longe que nas ocasiões em que me sinto ridículo ou mesquinho, gozo-o como se fosse outro que o estivesse sendo. Por uma estranha e fantástica transformação de sentimentos, acontece que não sinto essa alegria maldosa e humaníssima perante a dor e o ridículo alheio.

Sinto pelo rebaixamento dos outros não uma dor, mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa. Não é por bondade que isso acontece, mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo, mas para os outros também, e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro, quando não tem o direito de fazer. De os outros se rirem à minha custa não me importo, porque de mim para fora há um desprezo profícuo e blindado."


F.Pessoa - Livro do desassossego .
excertos dispersos do ofício de viver

É ridículo supor que as nossas relações vitais com uma pessoa jamais sofrem alteração.

Os "afectos mais sagrados" não passam de uma preguiçosa habituação.

Fazer-se amar por piedade, quando o amor nasce apenas da admiração, é uma ideia muito digna de lástima.

A morte é um repouso, mas a ideia de morte não nos deixa repousar.

A um homem que sofre, tratamo-lo como a um bêbado. "Vá, vamos lá, assim não, basta..."



in OFÍCIO DE VIVER
César Pavese

quarta-feira, junho 23, 2004



A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos.
Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos – vis porque são nossos e vis porque são vis.

O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são elementares da arte, ou antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o início. Da arte não há despertar porque nela não dormimos, embora sonhássemos. (...)


Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais, tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono, e eu faça festas com os olhos fechados como a um gato, a tudo o que poderia ter dito.

In O LIVRO DO DESASSOSSEGO
Fernando Pessoa

RECAPITULANDO...

"A Mãe, inicialmente como a própria Terra divina e depois em suas muitas formas como Grande Deusa ou Deusa Mãe, e também em seu papel dirigente, como representante humana ou como rainha que governa com autoridade da Deusa, manteve a raça humana sob o seu domínio até à aurora dos tempos. Assim aconteceu de acordo com a tradição antiga até que os homens foram superando a sua infantilidade da raça e (...) começaram a usar sua capacidade activa de agressão. No nível transpessoal, os deuses arrebataram o poder da Grande Mãe Mãe e o seu séquito. No nível político, os novos patriarcas substituiram os matriarcados de autrora."

IN ANDROGINIA
Rumo a uma nova sexualidade - JUNE SINGER

terça-feira, junho 22, 2004

"Passar da oposição (sempre uma discórdia) para o paradoxo (sempre sagrado) é dar um salto de consciência. Esse salto transporta-nos através do caos da meia idade e dá-nos uma visão que ilumina os dias que nos restam."


"Só pode haver uma visão interior que faça a ponte ou que cure e suavize.

Isto é o que restaura e reconcilia os opostos e de os ligar em união outra vez, sobrepondo a rotura que nos tem estado a causar tanto sofrimento. Ajuda-nos a mudar da contradição - essa contradição dolorosa em que as coisas se opõem umas às outras - para o domínio do paradoxo, onde somos capazes de conviver simultâneamente com duas noções contraditorias e dar-lhes igual dignidade. Então, e, só então, há possibilidade da graça, a experiência espiritual de contradições trazidas a um todo coerente, dando-nos uma maior unidade do que qualquer uma delas. Dizer que é melhor dar que receber é uma entrega do mesmo tipo de erro que prova que dois é igual a três. Focalizar o aspecto religiosos sobre um par de opostos é um engano. Só o domínio da síntese vale o adjectivo. Temos de restaurar a palavra RELIGIOSO/A restituindo-lhe o seu verdadeiro significado. Nessa altura reganhará o seu poder de cura. Curar, ligar, juntar, fazer ponte, voltar a juntar outra vez, estas são as nossas sagradas faculdades."


in "Owning Your Own Shadow"
de ROBERT A. JOHNSON - tradução de Aldegice Machado da Rosa

segunda-feira, junho 21, 2004

SOLSTÍCIO DE VERÃO




A SENHORA DAS ROSAS


Pagã

Sou uma religiosa sem igreja,
Uma reclusa sem convento, amante de uma deusa sem altar.
Vivo na pele o tormento de uma humanidade que ainda não é.
Vivo no mundo sem nele já acreditar.

Sou sacerdotisa de um templo destruido
à procura de um novo amor e uma nova fé.
Olho num único sentido, íntimo, profundo
no centro de mim mesma e espero a luz...

A luz de um outro mundo e a única esperança.
Com ele há-de vir a nova criança e a deusa
Em que ainda descansa e as duas serão um só.
Numa epifania de cores e harmonia, ele virá,
Sem armas nem ódios, o novo Milénio.


Do livro: Antes do Verbo era o Útero
de Rosa Leonor Pedro
“A Procura do Graal mistura-se com a Procura da Mulher. Aquele que encontra a Mulher, encontra o Graal. (...)
Mulher que segura a Taça, o Cálice ou a Pedra, essa mulher que é a Sacerdotisa de um culto do qual jamais conheceremos o verdadeiro significado."

J.M.

Que Mulher é essa que se confunde com o Graal?

Uma coisa é certa: mais uma vez, nos encontramos na presença de uma memória do culto da antiga deusa, destronada pelos deuses machos: é o sentido da violação cometida pelo rei Amangon contra uma das donzelas ou fadas do castelo do Graal. Amangon forçou o destino, curvou o poder feminino pela força cega e brutal do macho, derrubando a sua soberania sob a forma simbólica do seu golpe. Com efeito é o Pai que acaba de instaurar a sua autoridade exclusiva. Desde esse tempo, a sociedade anda à procura de um equilíbrio que não poderá instaurar senão quando o Jovem filho da Deusa Mãe, vier matar ou castrar, ou eliminar o Pai, a fim de devolver à Mãe a sua Soberania de antigamente.

Assim, idealmente e miticamente, e muito antes da cristianização do mito, a Procura do Graal é, ela, a Glorificação da Eleita, a mulher eterna, divina, de múltiplos aspectos, que reina nos subterrâneos do mundo, e que não espera senão pelo o seu filho mais jovem para reaparecer ao ar livre e retomar o seu título de Grande Rainha equilibrando de novo a sociedade dos seus filhos desunidos e que se reconciliar no amor da Mãe.” (...)

In “A Mulher Celta”

Não é certamente a Mulher perdida da própria mulher, submetida às instituições e dominada pelos homens como um objecto de uso pessoal e social que nada tem a ver com a Mulher Divina ou a Musa, mulher essencial porque mágica e fada, detentora de sortilégios e poder de curar, aliada da natureza e dos animais! Nem a mulher violada secularmente pelo poder patriarcal que destitui a Deusa Mãe e fez da sacerdotisa uma prostituta e da mulher livre “a casada” e portanto, sujeita às suas leis, nem da "bruxa" queimada pela Inquisição por usar um dom inato e que fazia perigar o poder dos fanáticos cristãos?
Esse Feminino eterno e parte do princípio que rege o universo é rechaçado e denegrido ao longo dos séculos destituindo a mulher de identidade por predominância exclusiva do princípio masculino da força e do autoritarismo, negando às sociedades esse equilíbrio dos dois princípios em harmonia que a Deusa Mãe impunha como justiça e lei e não a força da Espada!

A mulher moderna, perdida da sua origem e essência, é uma espécie de apátrida sem sentimentos ou consciência própria. Absorve, diz e escreve e sente-se como o homem a fez...é a polícia travesti, é a médica inumana, é o soldado que vai à guerra é a mãe sem coração nem amor pela maternidade! ? uma Atenas saída da cabeça de Zeus ao serviço do patriarcalismo sem consciência nenhuma de si própria em profundidade. Reflecte-se apenas no homem na sua posse ou possuída e não é senão uma sua extensão, um sexo. Falar de feminino, pela sua ausência de sentido profundo, é falar apenas de sexo e a confusão inerente estabelece-se. Ou se é feminista ou lésbica...

Mas a mulher não é apenas um sexo! Todavia, como se desconhece em essência e se sente perdida de si mesma, educada e suportada em sociedades falocráticas, não têm nenhum sentido em si mesma ou centro e enche-se do valor que os homens lhe dão que é o de uma mente racional atulhada de conceitos lógicos onde prevalece tacitamente a superioridade do Homem em nome de quem ela fala. Acontece cpom as mulheres mais inteligentes, as universitárias etc. Elas falam exclusivamente do seu ciclo vicioso As Faces de Eva, descenhecendo a outra Mulher que vive na Sombra e que foi renegada da história e do seu interior...Por essa ignorância a mulher está presa num ciclo vicioso que é o conhecimento adquirido que a sociedade falocrárica lhes impôs e de que elas não conseguem sair sem ir às origem da própria pré-história...onde efectivamente começa a sua história ou o poder da Grande Deusa onde todos os mitos têm origem.


A história da Mulher não é apenas a de uma “lavagem ao cérebro” mas a de uma lavagem às suas entranhas da maneiras como lhe tiraram a Voz de Oráculo da Terra Mãe e agora o Útero sob qualquer pretexto. Anula-se a mulher dos seus valores intrínsecos, da sua intuição e percepção extra-sensorial, da sua sensibilidade tão própria aliada à emoção e reduz-se a sua razão de ser a uma reprodutora com prazo de validade ou a um objecto de luxo e plásticas, o estereotipo do travesti que o homem inventou e que levou a mulher a identificar-se com essa imagem e de que os jornais e revistas e televisão estão cheios até á saturação. A mulher é imbecilizada a cada passo e as próprias mulheres hoje em dia não têm a menos noção ou respeito pelo seu SER Ancestral, por essa Voz secular que lhe foi roubada pelos padres!
A sua cultura ou erudição basea-se toda no princípio masculino que a reduz a um zero à esquerda (e à direita!).

E não tenham esperanças as mulheres que lhes reste ainda alguma verdade e dignidade própria de que serão aceites se se expuserem nesta sociedade machista e falocrática com uma voz genuína senão for para os servir e fazer de figura de estilo, quer como mulheres, quer como políticas, ministras ou executivas ou mesmo escritoras! As polícias são brutais como os machos e as ministras duríssimas e inflexíveis nos seus propósitos rígidos sem qualquer humanismo. Não é pois, desse “Feminismo” que falamos nem o que nos falta a nós mulheres. E muito menos é essa a mulher da Procura do Graal. Ou por outra, a Mulher que se perdeu nos primórdios dos tempos é que tem de se buscar a si mesma dentro do seu coração e como Voz do Útero sendo a Taça que dá a beber e não espera beber do outro para ser ela própria porque a mulher é ela o Cálice.
Só depois da Mulher ser Mulher inteira, o verdadeiro Cavaleiro voltará e o Filho da Deusa a respeitará.
A Mulher em si é a Chave do Mito.


Rosa Leonor Pedro
(republicando)

domingo, junho 20, 2004



Exercícios ao Piano

O calor cola. A tarde arde e arqueja.
Ela arfa, sem querer, nas leves vestes
e num étude enérgico despeja
a impaciência por algo que está prestes

a acontecer: hoje, amanhã, quem sabe
agora mesmo, oculto, do seu lado;
da janela, onde um mundo inteiro cabe,
ela percebe o parque arrebicado.

Desiste, enfim, o olhar distante; cruza
as mãos; desejaria um livro; sente
o aroma dos jasmins, mas recusa-o
num gesto brusco. Acha que a faz doente.


Rainer Maria Rilke


AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.



Carlos Drummond de Andrade

sábado, junho 19, 2004




"Temos de descobrir por nós mesmos - e não por intermédio de quem quer que seja - o que é a meditação. Tem-se aceitado a autoridade de instrutores, salvadores e mestres. Se realmente queremos saber o que é a meditação temos de pôr de lado toda a autoridade."


"Na meditação temos de descobrir se é possível um cessar dos conhecimentos, e libertarmo-nos, assim, do conhecido."

J. Krishnamurti
A ORAÇÃO
Na ponta do coração um átomo que é activado pela súplica...


Podem esmagar-vos de tal maneira que pensais que já nada resta de vós. No entanto, subsistirá sempre um átomo de vós, e ele poderá reconstituir para vós o universo inteiro. Esse átomo é o Dom de orar, de suplicar. É o maior Dom que Deus deu ao ser humano, pois se ele não existisse o ser humano teria desaparecido há muito tempo. Essa ideia de um “átomo da oração”, de que ninguém fala, deve parecer-vos absolutamente inaceitável, impossível de acreditar... Contudo, na Ciência iniciática já ouviste dizer que existe na ponta do coração um átomo que tem como papel registar tudo o que o ser humano pensa, sente e vive ao longo da vida. Esse átomo não tem o poder de intervir para modificar seja o que for; ele apenas regista. Na realidade é uma bobine minúscula que se vai desenrolando sem parar do começo ao fim da existência e, no momento da morte, ela pára para sempre.

In Poderes do pensamento
Omraam M. A.ivanhov

sexta-feira, junho 18, 2004

"Aquele que está no sol, e no fogo, e no coração do ser humano é ÚNICO. Todo aquele que sabe isto é um com o ÚNICO"

"Há algo para além da nossa mente e que nela habita em silêncio. É o supremo mistério que ultrapassa o pensamento. Apoiai a vossa mente e o vosso corpo subtil nesse algo, e não o apoieis em nenhuma outra coisa"

os upanishades



Hora Grave

Quem agora chora em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim
.

Rainer Maria Rilke

quarta-feira, junho 16, 2004

SONO PROFUNDO

"Tal como um falcão ou uma águia, depois de voar impetuosamente sobre o céu, dobra as asas e desce voando até ao seu ninho, assim também o espírito do ser humano se apressa até àquele lugar de repouso onde a alma não tem desejos e o Espírito não vê qualquer sonho"
os upanishades

O mundo estava no rosto da amada

O mundo estava no rosto da amada -
e logo se converteu em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.

Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?

Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei


RAINER MARIA RILKE
" ... o plexo solar é o centro das emoções.
O coração é o centro da transmutação das emoções em Amor e em Luz.




LIBERTARMO-NOS DA DOR - ABRIR O CORAÇÃO Á LUZ

"Em relação à dor comprimida, abaixo do coração...
Onde é que fica essa dor? No coração?

Não. A dor, que nós trazemos acumulada do passado, está no plexo solar. Está aqui, em baixo. E ela está a fazer pressão contra o cardíaco a pedir para ser liberta!

Isto está a acontecer no planeta todo! Com as nações! Com as organizações! Com a forma como nós nos relacionamos com a natureza! Com a nossa relação connosco mesmos! Com as relações dentro das famílias, dentro dos grupos profissionais, dentro do nosso meio familiar, do nosso meio de amigos..., tudo o que o indivíduo prende abaixo do coração está a tornar-se numa bolha intensa!... E está a pedir para passar a porta do coração! Está a pedir para atravessar o coração! Isto que tu trazes abaixo do coração, preso como se não existisse - e o que se observa muitas vezes, é as pessoas virem para o plano mental, porque, enquanto estão no mental, não sentem. Enquanto estão em altos picos intelectuais, não sentem. Enquanto estão a assimilar a informação, não sentem. Então, tu trazes este dínamo mental, e trazes este jardim zoológico emocional! Este passado, este museu emocional, dentro de ti! Isto é água, sabes, isto pesa! Emoções não resolvidas, sentimentos reprimidos..., tudo isto é um peso!

E então como é que eu liberto isto?

Eu preciso de fazer com que este campo de emoções reprimidas atravesse o coração! Ou seja: eu preciso de encontrar um perdão tão amplo, que exige a máxima pureza de mim. Vocês não vão sair daqui, sem ser através da máxima pureza! Não há outra saída! Nós precisamos de voltar a ter cinco anos de idade. Neste nível, nós precisamos de voltar aí. Precisamos de voltar a ter cinco anos de idade. Uma criança tão depressa é cruel, como logo a seguir perdoa instantaneamente, não é?! E essa pureza - vamos deixar a parte da crueldade, lá, para a criança - essa pureza do compreender, do aceitar o problema do outro, ou como o outro nos magoa..., isto tem que entrar num regime mais alto! Senão, nós não temos velocidade de escape, de todo!
Eu preciso que o meu coração se dilate à escala da minha dor! Eu preciso de abrir o meu coração à dor no plexo solar!
Porque como vocês sabem, o plexo solar é o centro das emoções. O coração é o centro da transmutação das emoções em Amor e em Luz. "


ANDRÉ - Encontros de Belém

terça-feira, junho 15, 2004

AS ESTAÇÕES DA VIDA

A dualidade sendo a causa da sexualidade - portanto a afinidade entre os complementos - é a causa do desejo que os homens chamam amor. O erro está em confundir amor, desejo e necessidade....

Fora dessas excitações sexuais produzidas pelas estações da vida humana e da Natureza, cada indivíduo é o joguete dos seus instintos particulares, que o fazem reagir sexualmente a certos gestos ou circunstâncias que lhes correspondem.

Estas características instintivas, inscritas no fígado, encontram a sua reacção no sexo e no cérebro, e estes que estão sempre ligados, dão-se mutuamente desculpas para explicar e satisfazer o desejo que daí resulta...


IN A ABERTURA DO CAMINHO
Isha Schwaller de Lubicz

"Feliz aquele que, para encontrar a sua "Imagem" eterna,
ousa queimar sem piedade os fantoches do seu passado."
A LUTA DE PRINCÍPIOS NO INÍCIO DA NOSSA ERA...
UMA CHAVE QUE NOS PODE FAZER COMPREENDER "ESTE TRISTE ESTADO DE COISAS..."


"Dionísio não é um verdadeiro andrógino, como Hipólito também não era, pois não chega a entrar em paz com o seu lado feminino. Seus aspectos masculinos e femininos não se fundiram, apenas se confundiram. As mulheres que o seguem, cuja história é dramaticamente narrada por Eurípides em as Bacantes, são igualmente confusas no meio do vinho e da sua loucura. Elas desertaram das suas naturezas femininas e, portanto, não podem vivenciar o elemento masculino mais vigoroso que actua na relação complementar com o feminino. A inteireza não é atingida, já que o frenesin não é liberdade. Esse triste estado de coisas é uma das infindáveis lutas de poder empreendido pelos princípios masculino e feminino, mitològicamente encarnados nas figuras de Zeus e de Hera.

A Mãe, inicialmente como a própria Terra divina e depois em suas muitas formas como Grande Deusa ou Deusa Mãe, e também em seu papel dirigente, como representante humana ou como rainha que governa com autoridade da Deusa, manteve a raça humana sob o seu domínio até à aurora dos tempos. Assim aconteceu de acordo com a tradição antiga até que os homens foram superando a sua infantilidade da raça e (...) começaram a usar sua capacidade activa de agressão. No nível transpessoal, os deuses arrebataram o poder da Grande Mãe Mãe e o seu séquito. No nível político, os novos patriarcas substituiram os matriarcados de autrora.

No processo, tornou-se necessário instituir a proibição do incesto, corroborando para afirmar a oposição do filho à mãe, a despeito do seu anseio por ela. Sòmente ao deixarem o mundo materno e se iniciarem na sociedade dos homens - do qual as mulheres eram em certos aspectos ritualmente excluidas - é que os homens poderiam se coligar para estabelecer a sua força e solidariedade. O feminino tinha de ser suprimido no mundo, isto é , relegado a uma posição inferior na sociedade. E dentro de si o homem teria de suprimir a sua natureza feminina, para que ela não o seduzisse com a sua brandura, sua impetuosidade e sua tendência de ceder às instâncias da paixão da natureza."


in ANDROGINIA - de June Singer

segunda-feira, junho 14, 2004

A visão da mulher tem um papel importante na Obra de Alquimia. A mulher que se vê - companheira, amante, ou deusa iniciadora - é a projecção de um oposto a integrar nessa união superior a que se aspira. É a força transformadora, ela mesma transformada - em mineral, vegetal, animal, ou ainda num dos elementos, ou um astro, ou logo em divindade.

in A ALQUIMIA DO AMOR Y.K.Centeno

“ELA É OUTRO MUNDO”

(...)
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.
Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a minha alma tenho acesa.
Mas nos olhos mostrou quanto podia.
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.


Camões


"Inventemos, escreve Fernando Pessoa, um Imperialismo Andrógino reunindo as qualidades masculinas e femininas; um imperialismo alimentado de todas as subtilezas femininas e de todas as forças de estruração masculinas. Realizemos Apolo espiritualmente. Não uma fusão do cristianismo e do paganismo, mas uma evasão do cristianismo, uma simples e estrita transcendência do paganismo, uma reconstrução transcendental do espírito pagão."
PORTUGAL E A ROSA...

QUINTO / O ENCOBERTO

Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.


Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa que é o Cristo.


Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.



QUINTO / NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer--


Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogofátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,


Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.


Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!


Mensagem de Fernando Pessoa

sábado, junho 12, 2004

PORTUGAL E A EUROPA...

Tanta grandeza em si mesma é morta!
Tanta nobreza inútil de ânsia e dor!
Nem se ergue a mão para a fechada porta,
Nem o submisso olhar para o amor!



FERNANDO PESSOA
NASCIDO A 13 de junho de 1888


SEGUNDO / O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grécia, Roma, Cristandade,
Europa-- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?



TERCEIRO / O DESEJADO

Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sentete sonhado,
E ergue-te do fundo de nãoseres
Para teu novo fado!


Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.


Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!


sexta-feira, junho 11, 2004

AINDA O OFÍCIO DE VIVER E AMAR...

CESARE PAVESE:
A luta e a contradição do Homem sem a Mulher Amada

(...)
Porque é que quase toda a gente sofreu uma desilusão de amor? Porque o próprio amor, sobre o qual se lançaram com entusiasmo, devia traí-los – por causa da lei que diz que só se obtém o que se pede com indiferença.

Para obter um amor trágico é necessário hablilidade. Mas são precisamente os incapazes de habilidades que têm sede de amor trágico.

Um amor interessa à pessoa amada por causa das coisas que traz consigo. É por isso que quem tenta amar, sincera e integralmente, quase nunca teve tempo para acumular as coisas (personalidade, riquezas, força, meios, qualidade, etc.) que fariam aceitar o seu amor.

Quanto ao amor, ninguém sabe o que fazer dele. E sejamos justos: que coisa é o amor senão a líbido de um macaco?

Que nunca conseguiremos plantar-nos no mundo (um trabalho, uma normalidade), é evidente.
Que nunca conquistaremos uma mulher (nem um homem), é manifesto, tanto pela precedente fraqueza como por aquela que sabes.
(...)

Para que serviu um grande amor?
Para descobrir todas as minhas taras, para pôr à prova a minha têmpera, para que eu pudesse julgar-me. (...)

Nada me salvou. (...)

Cheguei ao ponto de esperar salvação do exterior, e não existe cegueira maior: penso ainda que , com ela, poderia viver e lutar. Mas ela encarregou-se de justificar esta ilusão: riu-se-me na cara e poupou-me, assim esta ultima e penosa experiência.

“...Estamos cheios de vícios e tiques e de horrores. Nós os homens, os pais...”


O SUICÍDIO:
"Basta um pouco de coragem.

Quanto mais a dor é determinada e precisa, mais o instinto da vida se debate, e cede a idéia do suicídio.

Parecia fácil, pensando nisso. Entretanto mulherezinhas o fizeram. É preciso humildade, não orgulho.

Tudo isso dá nojo.

Não palavras. Um gesto. Não escreverei mais."


Em 27 de agosto ele se mata, ingerindo barbitúricos num quarto de hotel, em Turim.

Os motivos que levaram Cesare Pavese a esse trágico final podem ser inúmeros, mas serão, sempre, suposições. O certo - como em todos os suicídios - é a vivência de uma situação limite, um estado para além do qual a possibilidade de continuar a viver é algo inaceitável. No caso do escritor italiano, em 25 de março de 1950 ele descreve uma de suas prováveis razões:
"Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. As pessoas se matam porque um amor, qualquer que seja, nos revela nossa nudez, miséria, inofensividade, nulidade.

in Digestivo Cultural

quinta-feira, junho 10, 2004

...a tentação de parcifal...


COMO UM ESCRITOR VIA HÁ MEIO SÉCULO AS MULHERES


Há mais de trinta anos que o livro OFÍCIO DE VIVER de César Pavese foi meu livro de cabeceira. Acompanhou-me em Paris nas minhas andanças já esquecidas. Lembrei-me dele agora porque em alguns Blogues o tenho visto citado, creio que pela reedição recente da obra...
Há trinta anos eu era quase uma adolescente ainda...
Fui desfolhar o livro e ver o que havia nele sublinhado...
Isto, por exemplo:

“Uma das leis cómicas da vida é a seguinte: é amado não quem dá, mas quem exige. Quer dizer, é amado aquele que não ama, porque quem ama dá. E compreende-se: dar é um prazer mais inesquecível do que receber; a pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária, quer dizer que a amamos.
Dar é uma paixão, quase um vício. A pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária.”
(...)

Mais à frente:

“Não sei o que fazer com a mulher dos outros”
“Quando uma mulher casa, pertence a outro; e quando pertence a outro, nada mais há a dizer-lhe.”
Uma mulher, com os outros, ou é a sério ou brinca. Se é a sério, então pertence a outro e basta; se brinca, então é uma vaca e basta.”

“As mães”, dizem os latinos ao falarem das bacantes. Não é estranho? Não se pensarmos que a orgia báquica é um ritmo de iniciação dos tempos do matriarcado.”

E ainda algures...

"Estás só. Ter uma mulher que fala contigo não é nada. A única coisa que conta é o abraço dos corpos. Porquê, porque é que não o tens?”
“Nunca o terás”. Tudo se paga.

“E quem tem uma, procura outra (...) e assim sucessivamente.”
Enquanto quiseres estar só, elas virão à tua procura. Mas logo que estenderes a mão, não te “ligarão nenhuma”. E assim sucessivamente”

“Também este ano acabou. As colinas, Turim, Roma. Esgotaste quatro mulheres, publicaste um livro, escreveste belos poemas (...)”

Diz ele: “Odiamos os outros porque nos odiamos a nós próprios”
e ainda: “As mulheres são um povo inimigo, como o povo alemão.”

- PORQUÊ, PERGUNTO EU ESTE AMOR E ÓDIO E ESTA POSSE?
A MULHER COMO INSTRUMENTO DE PRAZER E PERTENÇA DO HOMEM SEJA DO OUTRO OU MINHA E QUE SE BRINCA É VACA...
O que é que mudou de facto em trinta e tal anos, como é que os homens hoje em dia vêem as mulheres e as mulheres se vêem a si próprias?



quarta-feira, junho 09, 2004

A CONSCIÊNCIA DO SER...

"Quando a mente está silenciosa, para além da fraqueza ou falta de concentração, então pode penetrar num mundo que em muito ultrapassa a mente: no mais elevado fim."

"A mente devia ser mantida no coração enquanto não alcançar o Mais Alto Fim. Isto é a Sabedoria, e isto é a libertação. Tudo o mais não passa de palavras."


OS UPANISHADES

DESEJEM AOS OUTROS O QUE DESEJAM PARA VOCÊS PRÓPRIOS.
Maomé

OLHA OS LUCROS DO TEU VIZINHO COMO SE FOSSEM OS TEUS ASSIM COMO OS SEUS DANOS.
Taoísmo

segunda-feira, junho 07, 2004


“Eu querido irmão, pensei: o homem quer experimentar sensações fortes e quer ser amado. Ponto.
Cada um de nós sabe-o em segredo e quando não lhe é dado, não consegue, ou lhe fica vedado satisfazer essas ânsias profundas, então arranja - sim, nós! - então arranjamos satisfações substitutas e agarramo-nos a uma vida suplementar, um suplemento de vida; toda a monstruosa criação técnica, expandindo-se febrilmente, um substituto para o amor.”
(...)
“Agora quero dormir. Quero distrair-me, ou seja ler. Da cama olhei em volta e descobri que o livro que num dia como este eu teria querido ler não estava ainda escrito.
(...)

IN “Acidente” de CHRISTA WOLF
O Renascer da Deusa,
do Feminino e da Paz...



"Chegámos à Hora da Mãe."

A reemergência desta Luz depende do alinhamento entre os Espelhos Internos da Terra e os grupos de contacto, os grupos de Amor, de Serviço. Depende da União entre esses grupos que estão em formação acelerada e os Centros Internos da Terra. Essa fusão é essencial para que a Mãe possa reemergir. E este retorno da Mãe dá-se, no homem, no nível do cóccix. É no cóccix que a Mãe está a colocar a sua Suástica de Amor. E esta força coccígea está a despertar para toda a humanidade.

Chegámos à Hora da Mãe. Isto significa que os nossos pés estão a receber Energia Divina. Do âmago da matéria estão a chegar ondas Divinas. E não estamos a falar de Energia Telúrica. Nós estamos a falar da Brancura Suprema que existe no Coração da Terra. Indizível! Essa Brancura da Luz guarda os códigos Luminosos que negam a entropia em que a Terra entrou. A Mãe é o oposto da entropia. A Mãe não vem só para abençoar. Ela vem para Imortalizar!

A Mãe está a despertar na matéria, está a despertar do Seu Sono pelo Beijo do Logos Planetário, está a começar a galgar os abismos intraterrenos... Donde que, nós vamos ter, muito em breve, uma nova Fisiologia, uma nova Pediatria, uma nova Bioquímica, uma nova Química...

A alteração do ritmo do batimento da Terra é um dos avisos da Mãe de que Ela está a acordar...

O nosso aparelho precisa de se refinar e começar a dançar a Ascensão Terrestre. De ancorar a Luz que vem de baixo, com a Luz que vem de cima... Eu preciso de Espiritualizar os meus sentidos.

Se um ser se mantém num nível denso, ele não consegue funcionar como um fusível de ligação entre os dois Fogos. Na proporção que o ser vai ficando leve, ele vai sendo permeado pela Energia Intraterrena.

É no Alto da tua cabeça e no Profundo do teu coração que a Anunciação será feita!


André Louro

sábado, junho 05, 2004

A MULHER MUSA E A POESIA...


(...)
A frase “invocar a Musa” foi empregue muitas vezes de forma errada, o que obscurece o sentido poético: íntima comunhão do poeta com a Deusa Branca considerada como a fonte de toda a verdade.
Os poetas representaram a verdade como uma mulher nua, uma mulher privada de qualquer artifício que permitiria pela sua visão ligarem-se a um certo ponto do tempo ou do espaço. (...) O poeta é um apaixonado da Deusa Branca da Verdade: o seu coração consome-se por ela e na espera do seu amor.


Assim que as formas poéticas começam a ser utilizadas por homossexuais e que o “amor platónico” (o idealismo homossexual) se introduz nos costumes, a deusa vinga-se. Sócrates, se bem nos lembramos, teria banido os poetas da sua lúgubre república. A alternativa consistindo a passar sem o amor da mulher é o ascetismo monástico; os resultados que daí advieram foram mais trágicos do que cómicos. No entanto a mulher não é poeta: ela é a Musa ou nada. Isto não quer dizer que uma mulher deveria abster-se de escrever poemas, e sim apenas que ela deveria escrever como mulher, e não como se fosse um homem.

O poeta era originalmente o Místico ou o Fiel em êxtase da Musa, as mulheres que participavam nos seus rituais eram suas representantes.
(...)

(...)
É verdade que a mulher, desde há algum tempo, se tornou o chefe virtual da casa em quase todo o Ocidente, ela agarrou os cordões à bolsa e pode aceder a qualquer carreira ou situação que lhe agrade; mas é pouco verossímil que ela venha a repudiar o sistema apesar da ordem patriarcal dominante. Apesar de todas as suas desvantagens, ela tem agora uma maior liberdade de acção que até o homem não conservou para si próprio; ainda que ela se aperceba intuitivamente que o sistema está maduro para uma mudança revolucionária, parece não se preocupar nem ter pressa para a obter. É-lhe mais fácil fazer o jogo do homem ainda mais um tempo até que a situação acabe por se tornar absurda e inconfortável tanto para uns como para outros se poderem entender.”
(...)

in “A DEUSA BRANCA” de Robert Graves

"A DEUSA NÃO É CITADINA ELA É
A SENHORA DAS COISAS SELVAGENS”

quinta-feira, junho 03, 2004



É o ser interior a tudo.

(...)
"A essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão. Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido.

Mas o miolo é do poeta. Só ele saboreia a vida até ao mais íntimo do seu gosto amargoso, e se embrenha nela até ao mais profundo das suas sensações e sentimentos. É o ser interior a tudo. Para ele, a realidade não é um conceito abstracto, ideia pura, imagem linear; é uma concepção essencial, imagem hipostasiada, possuída em alma e corpo, nupcialmente, dramaticamente, à São Paulo ou Shakespeare
."

TEIXEIRA DE PASCOAES, O Homem Universal

VER O EXCERTO NA: ORDEM NASCENTE
"...a procura de um estado de beatitude interna
a que alguns chamam felicidade..."

(Republicando)


“(...) O instinto que nós apelidamos de sexual, sensual e erótico, ler “baixos instintos”, não é senão a procura de um estado de beatitude interna a que alguns chamam felicidade. Esta felicidade é a finalidade em que nos fixamos. Como a não conseguimos atingir a acção acaba num efeito no resultado que é o prazer e não um fim em si nem um meio mas o acabar num acto incompleto ou num acto pelo qual todas as causas para o seu sucesso não estavam à partida reunidas. O prazer é de algum modo a forma imperfeita do que nós julgamos ser a felicidade, mas no mundo relativo que é o nosso será possível atingir essa felicidade?
Somos obrigados com isto a chegar a um outra constatação: o prazer é o que resta ao homem (ser humano?) de mais desejável quando ele quer satisfazer o seu instinto.

É este instinto que a “civilização” nos fez esquecer e que os diferentes sistemas de educação colocam deliberadamente sob repressão em detrimento da natureza humana e evidentemente simbolizado nas sociedades paternalistas pela Mulher. Se o instinto é oposto à produção, a Mulher que é Instinto, que é Sensibilidade, que é Intuição, opõe-se fatalmente ao Homem que é Razão, que é Lógica, que é o Construtor, que é o Produtor, que é Organizador. E depois, os antigos terrores face à Mulher ficam bem presentes: a Mulher é também o Amor, e o amor culpado.
(...)

“Pelo seu poder sexual a mulher torna-se perigosa para a colectividade, cuja estrutura social assenta na angústia que, antigamente era inspirada na mãe, hoje em dia tem como fonte o pai.” E se esta mulher é perigosa, ela é afastada, e remetemo-la às cavernas mais profundas, mascaramo-la, ou a masculinizamos por vezes. A Deusa-Mãe tornou-se Deus-Pai. Mas como os homens têm necessidade ainda das mulheres, para quê aborrecer-se? Deus criou o homem à sua imagem, porque não havia o homem de criar a mulher à sua imagem?” (...)


(in JEAN MARKALE – LA FEMME CELTE)

quarta-feira, junho 02, 2004

Em redor da Lua os astros
Velam seu branco rosto quando plena
Inunda de resplendor a terra toda.

OH estrela da tarde,
dos astros todos o mais formoso...

SAFO - FRAGMENTOS

HÁ LUZES NO CÉU...
EM PORTUGAL E GALIZA...


"Assumir a Luz é não fazer nada. É ser capaz de começar por não fazer nada... Precisas de chegar a essa ignorância essencial e ficar quieto, sem projecto, límpido, inocente, transparente, para que o Outro que tu És nos Planos Cósmicos, possa escrever nesse Quadro Branco..."

Seraphys


"Inventemos, escreve Pessoa,
um Imperialismo Andrógino reunindo as qualidades masculinas e femininas; um imperialismo alimentado de todas as subtilezas femininas e de todas as forças de estruração masculinas. Realizemos Apolo espiritualmente. Não uma fusão do cristianismo e do paganismo, mas uma evasão do cristianismo, uma simples e estrita transcendência do paganismo, uma reconstrução transcendental do espírito pagão."


Fernando Pessoa
“O FEMININO DO SER
Para acabar de vez com a costela de Adão”


“A palavra hebraica Zakor, “macho”, é também o verbo “recordar-se”; assim, é fundamentalmente macho aquele ou aquela que se recorda desse “outro lado” dele, dito “fêmea”, Naqob. O que significa "furo" ou o verbo “furar”, e não é estranho à ideia de “nomear”, porque no fundo desse furo fêmea está o Nome, germe de EU SOU, fundador do ser.”

“A mulher realmente mulher, iniciada nos mistérios do amor e da maternidade, nos da sua “carne” seja qual for o grau do Eros verdadeiro onde eles são vividos, engendra em si mesma os espaços alados do Espírito Santo! Pelo seu hemisfério direito aberto na aurora da sua vida, ela não parece perder totalmente o contacto; mantém-se tão sensível ao outro lado das coisas, tão rebelde ao seu encerramento nas prisões do racional, tão prostrada quando se sente amarrada pelas algemas da lei! Quando a masculinização das escolas a não deformou...Mas a verdade é que ela hoje está tão deformada!

A carruagem da masculinização, que trouxe a mesma braçada o racionalismo religioso e o positivismo científico, provocou a dessacralização da sexualidade e a redução do Eros ao mero festim corporal - se é que ainda é festim! Confusão, perda total de referências, anarquia...”
(...)
A confusão que hoje reina comprova a actualização desta narrativa...(...) Com efeito, reina tanto maior confusão quanto uma clivagem se cava no coração da humanidade...”

A espiritualidade hoje renascente

“O amor-sexualidade e o amor-espiritualidade são a emergência de uma mesma seiva da árvore humana, a dois níveis diferentes mas indissociáveis: o Eros.”


Annike de Souzenelle
(Excertos do Livro)

terça-feira, junho 01, 2004


NÓS NÃO SOMOS LIVRES...

“Será que esquecemos que o Dom de si não pode ser senão voluntário? Será que esquecemos que não pode haver responsabilidade senão onde existir liberdade?
Ora nós não somos livres. Somos vítimas de preconceitos, mergulhados nas rotinas que nos prendem, saturados de ideias feitas. E por falta de lucidez, estamos em completo desconhecimento dos verdadeiros problemas que se põem aos seres humanos.

Nós não somos livres. A mulher, particularmente, tornou-se escrava da nossa sociedade que é uma sociedade de escravos que nem sequer se apercebem do seu estado de servidão porque eles apenas gargarejam as palavras. Não, de modo algum é suficiente pronunciar a palavra liberdade e cantá-la em todos os tons para se ser verdadeiramente livre, é preciso sê-lo por actos."



JEAN MARKALE - La Femme Celte