O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 15, 2004

A LUTA DE PRINCÍPIOS NO INÍCIO DA NOSSA ERA...
UMA CHAVE QUE NOS PODE FAZER COMPREENDER "ESTE TRISTE ESTADO DE COISAS..."


"Dionísio não é um verdadeiro andrógino, como Hipólito também não era, pois não chega a entrar em paz com o seu lado feminino. Seus aspectos masculinos e femininos não se fundiram, apenas se confundiram. As mulheres que o seguem, cuja história é dramaticamente narrada por Eurípides em as Bacantes, são igualmente confusas no meio do vinho e da sua loucura. Elas desertaram das suas naturezas femininas e, portanto, não podem vivenciar o elemento masculino mais vigoroso que actua na relação complementar com o feminino. A inteireza não é atingida, já que o frenesin não é liberdade. Esse triste estado de coisas é uma das infindáveis lutas de poder empreendido pelos princípios masculino e feminino, mitològicamente encarnados nas figuras de Zeus e de Hera.

A Mãe, inicialmente como a própria Terra divina e depois em suas muitas formas como Grande Deusa ou Deusa Mãe, e também em seu papel dirigente, como representante humana ou como rainha que governa com autoridade da Deusa, manteve a raça humana sob o seu domínio até à aurora dos tempos. Assim aconteceu de acordo com a tradição antiga até que os homens foram superando a sua infantilidade da raça e (...) começaram a usar sua capacidade activa de agressão. No nível transpessoal, os deuses arrebataram o poder da Grande Mãe Mãe e o seu séquito. No nível político, os novos patriarcas substituiram os matriarcados de autrora.

No processo, tornou-se necessário instituir a proibição do incesto, corroborando para afirmar a oposição do filho à mãe, a despeito do seu anseio por ela. Sòmente ao deixarem o mundo materno e se iniciarem na sociedade dos homens - do qual as mulheres eram em certos aspectos ritualmente excluidas - é que os homens poderiam se coligar para estabelecer a sua força e solidariedade. O feminino tinha de ser suprimido no mundo, isto é , relegado a uma posição inferior na sociedade. E dentro de si o homem teria de suprimir a sua natureza feminina, para que ela não o seduzisse com a sua brandura, sua impetuosidade e sua tendência de ceder às instâncias da paixão da natureza."


in ANDROGINIA - de June Singer

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