O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, julho 10, 2004

“COMO A MULHER NUNCA ADORADA
SE TRANSFORMA EM PARCA QUE CORTA A VIDA DOS HOMENS”


O amor quando não é aceite, transforma-se em nemésis, em justiça, é necessidade implacável a que não é possível escapar. Como a mulher nunca adorada se transforma em parca que corta a vida dos homens. E assim é a retirada do divino, sob a forma do amor humano, que nos mantém condenados, encerrados neste cárcere da fatalidade histórica, de uma história transformada em pesadelo do eterno retorno.

A ausência do amor não consiste, efectivamente, no facto de não aparecer em episódios, em paixões, mas no seu confinamento nesses limites estritos da paixão individual desqualificada em facto, acontecimento raro. E então acontece que até a paixão individual - pessoal - fica também confinada a uma forma trágica, porque submetida à justiça.

O amor vive e respira, mas submetido a processo perante uma justiça que é fatalidade implacável, ausência de liberdade; o amor está a ser julgado por uma consciência em que não há lugar para ele, perante uma razão que se lhe negou. E assim fica como que enterrado vivo, com vida, mas ineficaz, sem força criadora.

(...)
Maria Zambrano
Para uma História do Amor

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