O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, dezembro 08, 2004


"A mulher deve seguir as suas próprias tendências culturais, que estão intimamente ligadas ao paradigma da Grande Mãe,
que é a grande reserva, a eterna reserva da Natureza, precisamente para os impôr ao mundo ou pelo menos para os introduzir no ritmo das sociedades como uma saída indispensável para os graves problemas que temos e que foram criados pelas racionalidades masculinas.

É no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo.

É aquilo a que eu chamo o cansaço do poder masculino que desemboca no impasse temível do tal equilíbrio nuclear que criou uma situação propícia a que os valores femininos possam emergir, transportando a sua mensagem."
NATÁLIA CORREIA, in Diário de Notícias, 11-09-1983

Será que a mulher entende esse cansaço e pode ou não quer emergir dessa sujeição milenar por justamente pensar, como aparenta, que chegou a algum lado, pelo facto de aparecer ao lado de homens famosos, de políticos e chefes de estado?

Será que a mulher quer realmente ver o que está por detrás da chamada violência doméstica – da violação sistemática da mulher quer na guerra quer na paz? - e da divisão essencial do seu ser em duas mulheres distintas, separadas à partida por estigmas sociais, desde a prostituta comum à modelo ou à artista de cinema - em muitos casos mascarados de arte, como o é de facto o cinema e todas as profissões em que a mulher é usada principalmente pela exposição do seu corpo e beleza, mas já sem a carga do sentido de prostituição – não vende o sexo, mas a alma e isso não se vê - , não deixando no entanto de ter uma marca psicótica no seu comportamento nevrótico quando é julgada por nada de histérica ou bipolar?

Não sofreram as Divas do Cinema essas mortes e suicídios estranhos, vidas desesperadas, afogadas em alcóol ou em drogas, longe da Ribalta em que eram aclamadas? Meramente usadas e destituídas de identidade própria? Sempre houve “chulos”: maridos ou pais, padres ou realizadores a usarem e a aconselharem as mulheres consoante a moda e o seu filme e o “filme” da época...

Não é toda a mulher atormentada por “enchaquecas”, doenças raras e crises várias, de depressão e cancros, nomeadamente depois da menopausa, tornada inválida quando já não pocria nem dá prazer, por todos e reduzida a “babá” da família, carregando com os netinhos e a ir às compras caso o reumático ou osteoporose não tomar precocemente conta dela...?
Ou então dedica-se a fazer operações plásticas, se tem dinheiro para isso, para reduzir a idade, recusando a todos os títulos o envelhecimento natural?
Enquanto novas e saudáveis cumprem os seus papéis de donas de casa e profissionáis conjuntamente com a economia doméstica...e fazem tudo e são mulas de carga, com excepção das “ricas” e das intelectuais e executivas que têm criadas ou mulheres a dias e então aí o fado das mulheres é grotesco e dramático...

A vida das mulheres quem quer saber?
No Iraque ou na India, no Leste da Europa ou no Sudão e mesmo em Portugal?


Tirando a Imaculada Conceição a quem rezam os padres e os homens em geral e que fica no altar da sua imaginação, a Mulher Real não passa de uma escrava moderna...não usa correntes de ferro, mas de ouro, como usa Chanel ou Dior...

Enquanto a Mulher não perceber a sua divisão interna e der corpo a dois ou mais modelos de comportamento social na base da sua sexualidade, ela nunca poderá ser livre nem ela própria. Porque a Mulher tem de ser inteira e total, integrando as várias mulheres que a sociedade patriarcal dividiu.

R.L.P.

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