O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, janeiro 23, 2005

"Quando as Mulheres Chegarem Aos Tribunais Superiores
a Justiça Será Necessariamente Diferente"

- excerto de entrevista a ANABELA RODRIGUES
(in PÚBLICO, Domingo, 23 de Janeiro de 2005)

MAAT - DEUSA DA VERDADE E DA JUSTIÇA
NO EGIPTO ANTIGO.


É mulher, não é magistrada e entende que o saber jurídico não dá "o domínio absoluto sobre as coisas e sobre as pessoas." Anabela Rodrigues, de 51 anos, professora universitária de Coimbra, não se deixou intimidar pelo "levantamento" de juízes que contestou a sua nomeação para a direcção do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e instalou-se no lugar, sorridente, feminina e confiante.
(...)
Considera que o género, o facto de se ser homem ou mulher, marca a diferença no exercício da magistratura?

Tenho ideia que isso acontece. A forma de olhar o mundo, a realidade, é diferente consoante o género e isso vai necessariamente marcar a nossa jurisprudência. Não do ponto de vista das habilitações técnicas, porque desse ponto de vista considero que pode haver tão bons juristas, quer homens, quer mulheres, mas na forma de se comprometer na aplicação do Direito, isso é necessariamente diferente. Acho que o mundo está a mudar, quando as mulheres chegarem aos tribunais superiores numa percentagem igual ou maioritária em relação à dos homens, a justiça sofrerá uma evolução, será necessariamente diferente.

Acredita que há uma "sensibilidade feminina" que influencia uma certa forma de julgar?

A forma de olhar para a vida e de interpretar a realidade social é diferente. O homem e a mulher são diferentes na sua forma de abordar a vida e a aplicação do direito é uma forma de abordar a vida. Acho que vai necessariamente haver uma diferenciação.

(...)

EU PERGUNTO:

- COMO PODERÁ SER DIFERENTE ESSA JUSTIÇA SE AS LEIS QUE SE APLICAM E A ORDEM VIGENTE É PATRIARCAL, EM QUE APENAS E SÓ O PRINCÍPIO MASCULINO É SOBERANO, EM QUE A VISÃO ÚNICA DO MASCULINO IMPERA NO MUNDO, E MAIS AINDA NESTE PAÍS PEQUENINO DE MARIALVAS MISÓGONOS E NÃO SÓ...?

- ONDE OS VALORES DO FEMININO E A LIBERDADE REAL DA MULHER QUE COMEÇA NA CONSCIÊNCIA DESSA DIFERENÇA INTERIOR QUE ELA AINDA NÃO TEM?

- PORQUÊ O "LEVANTAMENTO DOS JUÍZES"?
QUANTO TEMPO VAI DEMORAR O SEU SORRISO E A SUA CONFIANÇA CONTRA A BARRICAGEM DOS "JUÍZES" E DOS HOMENS EM GERAL?

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