O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, março 09, 2005

A AINDA INVISÍVEL
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES...


Dei uma vista de olhos por um jornal diário ontem e vi as várias referências ao dia internacional da mulher. Desde as condecorações do nosso presidente da República ao trabalho voluntário das mulheres e que fez uma chamada de atenção muito correcta, às flores na Baixa e no Rossio ou as rosas nas lojas às mulheres que comprarem um novo “soutien gorge” e mais umas vagas manifestações dos movimentos apagados e aglutinados ao governo das mulheres que só servem de montra para umas tantas senhoras brincarem às reivindicações partidárias e também assegurarem as suas promoções dentro dos partidos a que pertencem, pouco de interessante li.

Sim, nada li de relevante ainda que se falasse em grandes movimentos de uma manta de retalhos que somos todas nós e uma “carta à humanidade” - e eu aqui quero perguntar mais uma vez: a que Humanidade? À humanidade homem que domina a outra metade mulher? Ou à humanidade dividida das mulheres que lutam umas contra as outras sem identidade própria nem consciência dos factores essências que as dividem dentro de si mesmas e que permitem o domínio dos homens há séculos? Neste caso é absolutamente certeiro: eles dividiram-nos ao meio para reinarem ad eternun.
Mas há um artigo que li gritantemente o mais teórico e retórico, como prova do que digo, quando nos deparamos com o da “Encarregada dos negócios dos EUA”, em Portugal que escreveu estas barbaridade:

O que os EUA estão a fazer intensivamente pelas mulheres no Iraque e Afeganistão, estão a fazer também no Médio Oriente Alargado e Norte de África, e da Parceria do Médio Oriente, tanto com o G8 bilateralmente. Ambas as iniciativas reconhecem o papel crítico da mulher na reforma política, económica e social.
As mulheres no Iraque e Afeganistão estão a encontrar as suas próprias vozes e estão a ser ouvidas em todo o mundo.


E na Nigéria? E em Darfur? Onde há tráfico humano de mulheres e crianças e violação sistemática das mulheres, o que é que fazem?

Se isto não fosse trágico de hipócrita e medonho pela incongruência e falsidade, dava vontade de rir...
Se no Ocidente e em Portugal, em trinta anos de democracia, as mulheres pouco ou nada conseguiram de significativo na expressão das suas capacidade em direcções e chefias, só por terem começado a votar, sendo evidente o estado de inconsciência global das mulheres no nosso país, tirando umas tantas das classes mais privilegiadas, entre as quais a maioria de universitárias, o que não será em países medievais e fundamentalistas, onde a mulher é apenas uma besta de carga?!
Como se o simples facto de votar ou por o dedo no papel a mando do marido e talvez com pancada, libertasse as mulheres de alguma coisa ou lhes desse consciência da sua individualidade! Nem as leis a seu favor quanto mais e apenas um voto...

Como é que a mulher pode ter ou afirmar os seus direitos numa sociedade que se forma e baseia na diferença e na exploração não do homem pelo homem, mas basicamente, desde o início da história e em todos os sistemas, da exploração da mulher pelo homem?
Em todas as sociedades a mulher é explorada e quer os seus votos quer os seus direitos são apenas bandeira desgarrada dos partidos à partida, para melhor usar e servirem-se da mulher SEM QUE NUNCA LHES DÊEM ACESSO AOS QUADROS SUPERIORES ONDE QUER QUE ELAS MILITEM e SEM QUE NUNCA TENHAM VOZ ACTIVA, e onde não passam de acessórios ou figuras de estilo e de propaganda eleitoral. Como é entre nós o caso da bandeira esfarrapada do aborto ou da paridade!!!
E a verdade disto vem explícita num artigo muito lúcido de uma militante do PSD, neste mesmo jornal:
“TRINTA ANOS DEPOIS ONDE PARA A POLÍTICA PARITÁRIA?”

Respondo: a nenhum lado. E a prova está à vista de todos! Em 72 deputados desse partido que afirma “a política ainda é demasiado masculina” há apenas meia dúzia de mulheres...
E no Partido que venceu por maioria absoluta, apesar de ter mais mulheres que por lá militam, formou um Governo onde entram 2 mulheres apenas! Uma na Educação e outra na Cultura! Lugares que ainda podem exercer pois são extensões da casa. Só falta mais uma ministra da Culinária e outra da Costura para o quadro tradicional da mulher estar completo.

Sabemos que a política em Portugal é machista, clientelista e feita por "HOMENS DE PÉS PEQUENINOS CABEÇA A DAR COM OS PÉS ", mas não é só machista...é feita por misóginos, uns poucos ainda marialvas, espécie em extinção, homossexuais e pederastas... Nada tenho contra as opções sexuais de ninguém - excepto dos pedófilos - garanto, apenas quero com isto comprovar que as mulheres têm cada vez menos lugar na política ou onde quer que seja, pois a sociedade patriarcalista e falocrática já não precisa da mulher-mulher para nada a não ser para o lugar a que sempre a relegaram ou seja agora num só pacote, mãe de família-trabalhadora-doméstica em simultâneo e no Bordel ou nos Bares de alterne e mesmo estes já são maioritariamente tomados conta por travestis e transexuais, sendo mesmo os preferidos quer dos homens boçais quer dos “senhores de posição” lá da terra e outros que também ministros ou embaixadores...

Não, enquanto a mulher em si mesma não tiver consciência da divisão do seu ser e lutar contra as outras mulheres, aceitando o estatuto de esposa e “a outra” como prostituta, não haverá nenhuma realidade ou liberdade para a mulher! E o Dia da Mulher será apenas mais um dia como o dia do animal...ou da Floresta...ou dos lobos...
Se ao menos uivássemos...

R.L.P.

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