O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, março 28, 2005

FADING – prova dolorosa segundo a qual o ser amado parece retirar-se de todo o contacto sem que esta indiferença enigmática se volte contra o sujeito apaixonado ou se decida em benefício de outro, seja ele quem for, mundo ou rival.

"Há pesadelos em que a Mãe surge com o rosto marcadamente severo e frio. O fading do objecto amado é o regresso aterrador da Má Mãe, o desaparecimento inexplicável do amor, o abandono bem conhecido dos Místicos: Deus existe, a Mãe está lá presente, mas eles já não amam. Não estou destruido, mas abandonado, como um detrito.
(...)
Freud, parece não gostaava do telefone, ele que porem gostava de ouvir. Talvez sentisse, previsse, que o telefone é sempre uma cacafonia e que só deixa passar a má voz, a falsa comunicação?
Pelo telefone, sem dúvida, tento negar a separação – como a criança que teme perder a mãe e brinca sem descanço com um cordel; mas o fio do telefone não é um objecto transitório, não é um fio inerte. Está carregado de um sentido que não é o de união, mas o da distância: voz amada, fatigada, escutada ao telefone: é o fading em toda a angústia”...


In Fragmentos de um Discurso Amoroso
Roland Barthes

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