O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, abril 03, 2005

AS MULHERES COMO VASOS DA DEUSA

“Que o corpo de uma mulher possa ser um vaso através do qual surge a Deusa, é uma revelação inesperada, uma revelação que não vem por iluminação, visão ou introvisão - que constitui a forma da manifestação masculina da divindade - mas por meio de uma experiência encarnada - por meio de contacto íntimo, carinhoso, reverente, que é, simultaneamente, dos sentidos e do sagrado, profundamente pessoal e transpessoal. Isto é um segredo que não se disse às mulheres, que como género aprenderam a detestar a redondez e plenitude do seu corpo, a sentirem-se envergonhadas por causa dos mistérios da menarca, menstruação e menopausa, querem estar anestesiadas quando dão à luz, e ficam horrorizadas ao acordar de sonhos em que abraçaram outra mulher com amor.

Muitas mulheres são iniciadas no íntimo do corpo pela deusa, têm explorado o corpo desta noutra mulher, passe-se isto em sonhos ou em realidade ou em sonhos vividos: tais experiências podem afirmar profundamente que se é mulher e se habita um corpo feminino. Mas também pode confundir e aterrar. O corpo de outra mulher espelha o seu próprio corpo, as fronteiras entre ambos dissolvem-se, e uma união que acompanha a totalidade de ambos os corpos e auras talvez surja, colhendo vagas recordações sensoriais de união mãe-filho, ou ser a primeira vez que esse arquétipo é sentido. A experiência de outra mulher pode permitir a determinada mulher tornar-se numa pessoa activamente sensual, quando antes tinha sido passiva , ou reactiva apenas, nas suas respostas. Seja em sonhos (onde o significado simbólico também precisa de ser explorado) ou na vida, a encarnação como mulher sexual e sensual dá resultado se a mulher aceitar a faceta amante de si mesma: acontece o contrário se ficar apavorada, convencida de que é pecadora, pervertida e deve suprimir a sensualidade.

Acontece haver confusão acerca da orientação sexual: tem e, contudo, não tem absolutamente nada a ver com a orientação sexual.”


Continuar a ler na página 113 em TRAVESSIA PARA AVALON de J. Shinoda Bolen

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