O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 12, 2005

PORTUGAL “O MEDO DE EXISTIR”
Título alusivo ao livro de José Gil, - on dit filósofo - “Portugal Hoje, O medo de Existir” de que é extraída a citação pela autora deste excerto que se segue:

“Foi o salazarismo que nos ensinou a irresponsabilidade - reduzindo-nos a crianças grandes, adultos infantilizados”. Aqui salazarismo funciona como o pai todo-poderoso, impedindo a criança de crescer, o que, apesar de não ser falso, nos encerra no círculo fechado de um conflito de ordem filial. Porque afinal morto e enterrado o regime salazarista, por que razão não nos libertamos dele?” (Esther Muczik)

O que nos infantilizou não foi só salazarismo, mas o catolicismo, a religião católica que dominou sempre este país atrasado e servil e que gera o medo de existir associado ao medo do inferno do pecado e da mulher. Mulher em casa a levar pancada ou invisível na política subalterna em todas as profissões, de joelhos na Igreja!

Séculos de doutrina católica castradora do amor e do sexo, a atrofiar, geração atrás de geração, os homens e as mulheres submetidas ao rebaixamento e aviltamento, que filhos poderia gerar? Ainda hoje depois de 30 anos de democracia e num estado laico estão presentes nas cerimónias do Governo figuras eclesiásticas...e as opiniões dos cardeais são notícias nos telejornais? Agora a saga da morte do Papa.
Porquê?
Por medo do pai-todo-poderoso sim e do medo do pecado-mulher que nos domina há séculos e de facto nos impede de crescer e ser livres.
Afinal nós continuamos um pouco como se a Inquisição, e a Pide noutra versão, mas sempre o medo e não só Salazar, mas através dele houve uma vaga reminiscência, como se essa memória inquisitorial ainda nos tolhesse.

“Bons católicos”, ordeiros, (carneiros) ainda que inconscientemente tememos enfrentar o tabu e temos medo dos cardeais...Contudo foi toda essa autoridade, o peso das instituições, a ignorãncia do povo, hoje em dia, o peso dos midia, a alienar cada vez mais as pessoas, que deliberadamente fazem por apagar a individualidade já de si anulada nas confisssões e no credo. Tudo isso nos tolhe porque as capelinhas são outras e muitas...são as do "prestígio" ou do tacho, dos lugares de estado, das benesses e do sucesso ou do olhar do vizinho que não se queixa já à Pide nem ao Santo Ofício, mas denuncia-nos no enredo social e difama-nos a baixo preço. Esta é a herança e o clima da nação que enfrentamos ainda!

É esse “círculo fechado de um conflito filial” secular que nos oprime. Somos filhos sem mãe, enjeitados de nascença! E enquanto formos apenas filhos do “pai todo poderoso”, (ou apenas "filhos da p..."!) e obedecermos ao patriarcalismo, não reconhecermos a Mãe nem a Matriz, não aceitaremos a Mulher nem o Feminino renegado pela religião, pela história e pela filosofia, nunca passaremos de crianças abandonadas e reprimidas, cheios de medo... sem maternidade sem compaixão, o filho tem medo do pai que logo o ensina a matar...

Sem Mãe todo o indivíduo é inseguro e complexado, leia-se enjeitado. Nós negámos as nossas águas matriciais e um culto secular da Grande Deusa...

R.L.P.

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