O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, agosto 31, 2005

“Tu mulher de linha pura, dotada de grande doçura, mas educada desde a infância para a submissão, sujeita às leis dos homens, às ideias que eles formularam do teu ser e das virtudes da mulher, quando a força envolvente está em ti, que seguras as duas pontas da vida - claro que precisas de tempo para vencer o medo do olhar e das palavras dos outros.”


"Não é verdade que nela se encontra toda a beleza da natureza: suave colina, secreto vale, nascente e prado, flor e fruto?"


AS TUAS MÃOS...

“A intimidade que nasce de duas mãos em simbiose é igual à de dois rostos que se aproximam, ou de dois corações que se imprimem um ao outro. A corola de cinco pétalas, quando eclode, é uma luva virada do avesso, revela o seu fundo secreto, deixa-se aflorar pela brisa tépida que passa constantemente, ou sugar permanentemente por ávidas borboletas e abelhas que a procuram. Entre duas mãos de dedos entrelaçados, o mínimo frémito faz o rumos da asas que batem; a mínima pressão provoca uma onda que se expande em círculos concêntricos. A mão, esse digno órgão da carícia, o que acaricia não é apenas outra mão, mas a própria carícia da outra. Acariciando reciprocamente a carícia, os dois parceiros caem num estado de embriaguez porventura sonhado na infância, ou numa vida anterior. As veias entrelaçadas irrigam o desejo e entroncam nas raízes profundas da vida; as linhas entrecruzadas que vaticinam o destino apontam para longe, indo ao encontro do infinito das estrelas.”

QUANTOS HOMENS PENSAM REALMENTE "NO QUE É A MULHER”?

“Agora, pela primeira vez, pensa no que é a mulher, NO QUE É A ESSÊNCIA DO FEMINIO. Tem a revelação de que o encanto da mulher, quando esta não é rebaixada por todo o tipo de condições exteriores, advém do facto de ela ser a mágica transformadora, virtualmente capaz de tudo converter em graça etérea, e nenhuma tentativa de a aviltar produz efeito. É certo que ela é carne, mas não é menos certo que essa mesma carne se transmuda constantemente em murmúrios, em perfumes, em vibração, em ondas infinitas cuja música importa não abafar. Pensando bem, o corpo da mulher encarna o mais ardente milagre da natureza. Ou mais precisamente, é a natureza que nela se resume em milagre.

Não é verdade que nela se encontra toda a beleza da natureza: suave colina, secreto vale, nascente e prado, flor e fruto? Assim sendo, não se deve ver-lhe o corpo como uma paisagem? Ora, como ensina o mestre tauista, numa paisagem, mais do que as entidades substanciais, importa aprender a entrar em comunhão sobretudo com aquilo que delas emana, a erradiação que vem dos musgos, as ondas sonoras que vêm dos pinheiros, os aromas que vêm dos sucos propagados pela bruma e pelo vento.”


Excertos do mais belo livro que li nestes últimos anos...

“A ETERNIDADE NÃO É DEMAIS”
De François CHENG

terça-feira, agosto 30, 2005

"A doutrina dos olhos é para a multidão;
o doutrina do coração para os eleitos."

in A VOZ DO SILÊNCIO - M.B.



O SOPRO PRIMORDIAL

Diz-se que tudo está ligado, que não se pode separar os sinais humanos dos que vêm da terra e do céu. Dentro deste todo orgânico, o traço de união não é nenhuma corrente nem nenhuma corda, mas sim o sopro que é ao mesmo tempo unidade e garante de transformação. Sim, a importância do sopro. Porque, na origem, foi o Sopro primordial que, da combinação dos sopros vitais que são o Yin e o Yang, e o vazio intermédio, gerou o céu, a Terra e os Dez mil seres. Uma vez constituído o universo vivo, os sopros vitais continuam evidentemente a funcionar, pois de contrário o universo desintegrava-se. Mas há um problema. Por força do caos e da desordem, nem todos os sopros têm uma validade constante; alguns podem revelar-se deficientes, perniciosos, malignos. Daí a ideia do Shen, “sopro-espírito, espírito divino”, que é o critério do que é verdadeiro e justo. O shen é a forma superior dos sopros vitais. Ao garantir permanentemente a grande cadência do Tau, garante ao mesmo tempo o infalível princípio segundo o qual “a vida gera a vida”, frase-chave do Yi-Ching, o Livro das Mutações. O shen não é, portanto uma ordem fatal. No entanto, só os sinais emanados pelo shen e por eles regidos são válidos.

O verdadeiro dever de um adivinho, ou de um médico, consiste justamente em captar o shen que está no universo como no interior de cada corpo, pois que no corpo, mais do que a carne e o sangue, é acima de tudo a condensação de sopros. É na medida em que o adivinho, bem como o médico, capta o shen no coração duma entidade viva que pode restituir esta ao caminho da vida.


In A eternidade não é demais
François Cheng


A MAGNIFICÊNCIA DO SENTIMENTO ORIENTAL, A GRANDE ÉTICA DO BUDISMO, O ACESSO INDIVIDUAL AO DIVINO, QUE SÓ O PENSAMENTO ORIENTAL NOS PRODIGALIZA...

segunda-feira, agosto 29, 2005

A REVOLTA DA NATUREZA MÃE...
OS ELEMENTOS DESVASTAM A NOSSA ARROGÂNCIA




Os fogos, os furacões os tsunamis, as cheias...o mundo balança ao sabor das intempéries...como não acontecia há cinquenta anos ou há um século, dizem os telejornais.

Cada dia e cada ano mais intensos...cada dia e cada ano pior...as secas e os fogos incontroláveis...os animais que morrem, as pessoas que ficam desalojadas, na miséria...o petrólio que aumenta e as guerras que não param, a fome que mata uma criança em cada segundo...

Até quando nós vamos continuar impávidos a olhar a televisão como se tudo se passasse noutro planeta?

Até quando continuaremos a dar festas e festivais, a rir e a cantar e a fingir que não é nada connosco?

Ninguém pensa, ninguém para, ninguém olha para os factos com lucidez e muda o que está mal...a começar na forma como olha para si mesmo! E quando pensa, é sempre noutro continente o tsunami, o fogo, a cheia, até chegar ao nosso quintal a arder a nossa casa...
Coimbra é uma lição...

Mas os Governos continuam a discutir as leis...e o “aborto”... os terroristas e as políticas de partidos, os candidatos, “os mensalões” e outros desfalques e lavagens de dinheiro...
Em Portugal os traficantes de interesses, todos os partidos e os corruptos vencem as Câmaras e o povo gosta é de arruaceiros que sobem na vida a roubar dinheiro e são populares, iguais a eles, vem de baixo e sobem a punho...São os que (os) vingam na vida!...

Metade do país ardeu e vai continuar a arder, a seca aumenta para o ano, o desemprego, o medo a desconfiança, vamos a votos, ninguém é verdadeiro, mas nós vamos construir um novo aeroporto na Ota e um TGV para turistas, economistas, empresários e deputados viajarem...

Convém a alta velocidade para quem passar não ver a terra queimada e a miséria e atrazo do povo português que é quem fica sempre a arder...

Ninguém pensa que está à beira de um abismo e continua a olhar para o fogo de artifíco que esta civilização é...

Quando dermos por nós estaremos todos no fundo...
O MAGNÍFICO DOM DAS MULHERES...


>O magnífico dom das mulheres com essa sintonia consiste em ver, ouvir, pressentir, receber e transmitir imagens, idéias,sentimentos com a velocidade de um raio. A maioria das mulheres consegue sentir alterações, as mais subtis no temperamento de outra pessoa, consegue ler expressões faciais e corporais - sendo essa capacidade chamada de intuição – e, muitas vezes, a partir de uma infinidade de pistas minúsculas que se reúnem para lhe dar informação, sabe o que se está passando na cabeça dos outros. Para poder usar esses talentos selvagens, as mulheres mantêm-se abertas a todas as coisas. É porém, essa mesma abertura que a deixa vulnerável nas suas fronteiras, expondo-se assim a danos do espírito.
(...)
NESSE SENTIDO UMA MULHER QUE LEVOU UMA VIDA TORTURANTE E NELA MERGULHOU FUNDO DISPÕE, SEM A MENOR DÚVIDA, DE UMA PROFUNDIDADE INCALCULÁVEL.

Apesar de ela ter alcançado essa profundidade através da dor, se ela tiver cumprido a árdua tarefa de se agarrar à consciência, ela terá uma profunda e próspera vida da alma e uma feroz crença em si mesma independentemente de eventuais hesitações do ego."


in MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS
DE CLARISSA PINKOLA ESTÉS

domingo, agosto 28, 2005

(Título de jornal diário)

“A DESIGUALDADE NO MUNDO
É HOJE MAIOR DO QUE HÁ DEZ ANOS”...




- Porque pensam certas mulheres que essa desigualdade não as atinge já?
A METAFÍSICA DA LUA...

>“O que a Lua revela ao homem religioso (numa autêntica metafísica da Lua), é não somente que a Morte está indissociavelmente ligada à Vida, mas também, e sobretudo, que a morte não é definitiva, que é sempre seguida de um novo nascimento.

É por tais razões que o culto da Grande Deusa-Mãe, a que estão ligados os dolmens da civilização megalítica, é um culto simultaneamente terrestre e lunar.”



(Esqueçam a mulher símbolo ou objecto...)

“A Terra-Mãe, a Deusa-Mãe de todas as religiões posteriores, é sentida, (...) como matriz universal, como fonte ininterrupta de toda a criação. A morte, em si própria. Não é um fim definitivo, não é um aniquilação absoluta, tal como é por vezes concebida no mundo moderno. A morte, é assimilada à semente que, enterrada no seio da Terra-Mãe, fará nascer uma planta nova. Pode assim falar-se de uma visão optimista da morte, pois a morte é considerada como um regresso à Mãe, uma reintegração provisória no seio materno.
(...)
Eis porque, a partir do neolítico, encontramos o enterro em posição embrionária: os mortos são colocados na Terra numa atitude de embriões, como se esperasse a todo o momento regressarem à vida.”

(...)

(Mircea Eliade)

sábado, agosto 27, 2005

Pagã


Sou uma religiosa sem igreja,

Uma reclusa sem convento, amante de uma deusa sem altar.

Vivo na pele o tormento de uma humanidade que ainda não é.

Vivo no mundo sem nele já acreditar.


Sou sacerdotisa de um templo destruido

à procura de um novo amor e uma nova fé.

Olho num único sentido, íntimo, profundo

no centro de mim mesma e espero a luz...


A luz de um outro mundo e a única esperança.

Com ele há-de vir a nova criança e a deusa

Em que ainda descansa e as duas serão um só.

Numa epifania de cores e harmonia, ele virá,

Sem armas nem ódios, o novo Milénio.


in ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO

sexta-feira, agosto 26, 2005

“A MINHA DOR POR TER SIDO ABANDONADA PELA MINHA MÃE É UM PREGO NO MEU CORAÇÃO. É VIVER NA MORTE.”*


TODAS AS MULHERES, salvo raras excepções, são, grosso modo, “abandonadas” pelas mães senão de forma concreta por vezes, pelo menos são-no quase sempre, ao nível afectivo e psicológico, quase sempre de forma subtil e de acordo com os preconceitos seculares. Raras mães puderam ou souberam amar as suas filhas, dando-lhes valor ou liberdade, porque uma filha cujo destino é espelhar o seu próprio sofrimento oculto ou mitigado em forma de sacrifício à família, à sociedade e à religião, vai inconscientemente, fazer com que ela se distancie da dor previsível da filha, na proporção da sua própria frustração, ao não querer ou não saber enfrentar o seu próprio sofrimento proveniente da sua anulação como ser individual. Logo que nasce, uma mulher está condenada a casar ou a não casar...a servir o homem ou o padre ou a prostituir-se e ser exilada...é quase sempre um peso para a família económica e “moralmente”, e o temor do que possa acontecer a uma rapariga que não tiver “dono” pesa na deformação da mulher. Por essa mesma razão a mãe, inconscientemente claro, condena a filha ao mesmo destino de inutilidade por um lado e sofrimento por outro, e acalenta exclusivamente toda a esperança no filho macho assim como todo o seu orgulho ou vaidade. O filho é homem e vai vencer por ela ou “vingar” na vida (e a ela) e o ciclo é vicioso...Com diferenças maiores ou menores de acordo com o nível económico da família, de educação ou das culturas e tradições dos países e religiões de origem, o facto é que a mulher em todo o mundo não deixou de ser ainda vítima de um preconceito milenar.

A sociedade patriarcal ao perpetuar a inferioridade da mulher e ao condená-la a um papel secundário de submissão e subalternidade, pôs e continua a por em risco o equilíbrio da sociedade em que vive e não percebe que todos os males que a assolam passam por esse abismo que se criaram entre o homem e a mulher e que não basta haver no Ocidente, uma aparente liberdade ou igualdade sem a consciência do ser profundo da mulher mágica e da Deusa que esta mesma sociedade patriarcal renegou há milhares de anos. As mulheres foram e são as grandes vítimas da influência nefasta e redutora da mulher pela religião judaico-cristã! e o mundo inteiro com elas - pois as mulheres são as mães dos homens, convém não esquecer!

- Como sabemos hoje em dia foram os hebreus e outros grupos (equeus e dórios) de sacerdotes guerreiros que invadiram e destruíram as sociedades pacíficas onde as mulheres viviam em harmonia e consequentemente em paz com os homens. Viviam em paridade no que se pressupõe ser uma forma de matriarcado, com os seus rituais de fertilidade e dádiva, com os ciclos da vida e da natureza, respeitando as estações, as colheitas e as fazes da lua a que correspondiam as suas “regras” etc., quando chegaram os invasores bárbaros e destruíram esse equilíbrio e começaram a implantar as suas leis de nómadas do deserto que trouxeram o seu deus iracundo, um deus misógino e dominador, que considerava as mulheres imperfeitas e inferiores. Essa parte da história tal como o Feminino Mágico, o tempo das sacerdotisas do amor sagrado como ritual e iniciação ao amor da Deusa, em que a Mulher era a Matriz, ficou relegada para os subterrâneos da “pré-história”...onde esses invasores bárbaros só trouxeram com o seu deus, dor, escravidão, morte e destruição...

“AS MULHERES ESTÃO NO EXÍLIO HÁ MAIS DE 5.000 ANOS...”
(Nota de rodapé de um livro emprestado...)

A DESCIDA AO INTERIOR DA TERRA-DEUSA-MÂE


“O sofrimento é uma parte relevante do feminino subterrâneo. Ele pode permanecer inconsciente até que o advento da Deusa da Luz o desperte para a percepção, o mova do entorpecimento silencioso em direcção à dor. Ao nível mágico da consciência ele é suportado de forma amenizada numa aparente “insensibilidade”. Desse modo como que não há percepção de sofrimento.(...) Mas o sofrimento é uma parte do feminino .”*

Isto quer dizer que quando a mulher tem consciência da Deusa da Luz, o sofrimento que a sua ausência - ou a falta de consciência de si mesma - provoca, é anulado pelo conhecimento de uma parte de si que lhe faltava e que serve de suporte à sua evolução e a uma nova postura na vida. Enquanto a mulher não fizer essa descida ao abismo que ela mesma é, ela não consegue deixar de sofrer a sua divisão e fragmentação e viverá como vítima secular reduzida a um instrumento de procriação e prazer ao serviço da sociedade, manietada pelo estado e pela religião. Pois “a vida da mulher tem sido uma realidade de partos repetidos e verdadeiramente presenciados pela morte, um ciclo natural que manteve a maior parte de sua vida centrada na áspera malignidade da realidade, na sensação de estar vivendo à beira de um abismo. Assim a criatividade feminina se consumiu nos partos, nas artes e manutenções domésticas - coisas sujeitas ao desgaste e à destruição, coisas a ser devoradas - além de não ter muito valor num contexto cultural mais amplo, embora constituam a força civilizacional básica de qualquer cultura, imediata e pessoal, construída nos pequenos interstícios do processo de manter a sobrevivência da família. Num contexto destes não é de espantar que o homem judeu agradeça a deus por não ter nascido mulher.(...)”*

“CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA”
De Sylvia B. Perera

quinta-feira, agosto 25, 2005

A LUCIDEZ DO POETA FAZ MUITAS VEZES FALTA AOS FILÓSOFOS...
(SÓ O POETA TEM SABEDORIA)


"Desde o meio do século dezoito que uma doença terrível baixou progressivamente sobre a civilização. Dezassete séculos de aspiração cristã constantemente iludida, cinco séculos de aspiração pagã perenemente postergada – o catolicismo que falira como cristismo, a renascença que falira como paganismo, a reforma que falira como fenómeno universal. O desastre de tudo quanto se sonhara, a vergonha, de tudo quanto se conseguira, a miséria de viver sem vida digna que' os outros pudessem ter connosco, e sem vida dos outros que pudéssemos dignamente ter.

Isto caiu nas almas e envenenou-as. O horror à acção, por ter de ser vil numa sociedade vil, inundou os espíritos. A actividade superior da alma adoeceu; só a actividade inferior, porque mais vitalizada, não decaiu; inerte a outra, assumiu a regência do mundo."

Fernando Pessoa

quarta-feira, agosto 24, 2005

A TRANSFORMAÇÃO DE QUE O MUNDO PRECISA
PASSA PELA CONSCIÊNCIA DO FOGO FEMININO



A MULHER COMO MATRIZ E SUSTENTO

“As mulheres julgam muitas vezes que elas não servem senão para gerar filhos e que nesses corpos se vêm fixar as almas. Mas não! As mulheres são desde toda a eternidade a Matrizes e o Sustento de muitas outras coisas. Elas são antes de tudo o mais, as reveladoras do Conhecimento. O Princípio Feminino e o poder da Mulher vem agora para quebrar as cadeias de todas as rotinas e tiranias. Esse poder fala da “curiosidade imaginativa” sagrada e cria assim um espaço em constante expansão na Consciência da Humanidade. É aí que se encontra o verdadeiro papel da Matriz. Ela gera e alimenta “outra coisa” de “doutra maneira” e é essencial e necessária para a Vida concluir a sua obra.”


E O GRANDE PAPEL A DESEMPENHAR PELA MULHER

“É por isso que eu vos digo, é preciso que a mulher veja a Mulher QUE ELA É em si mesma e que o homem a aceite nele próprio. O acordar deste mundo exige essa mutação! O Fogo feminino é um fogo da Terra, e reparem, se temos necessidade do Ar que vem do Céu, o inverso não se pode negar. Todos os que sabem ou entendem o que eu digo, vêem que o Céu e a Terra se atraem um ao outro, que não existem independentes um do outro. Por isso é preciso que os homens aceitem este ensinamento e que as mulheres não temam mais desvelar a sua função...e só então o mundo entrará em metamorfose”.


O FOGO FEMININO. O FOGO QUE LIMPA
(...)
“Que a vossa humanidade tenha balançado entre monarquias e ditaduras e depois repúblicas não muda nada no mundo pois o vento que sopra as suas velas não é senão expressão de relações de força e de domínio. A incessante luta interior em que se debatem as vossas almas entre o dominador ou o dominado é uma limitação, é a verdadeira pobreza de que tem de se libertar. O Fogo Feminino que está hoje em dia A COMEÇAR A DESPERTAR tem como Missão por fim a esse combate interior. Ele tem como função reinventar o Homem e a Mulher neste mundo, de revelar outra imagem, outro ser mais completo, mais solar, mais cristão no sentido universal do termo.”


In VISIONS ESSÉNIENNES
Daniel Meurois-Givaudan

TODAS AS MULHERES QUE TIVEREM UMA INFORMAÇÃO CORRECTA SOBRE O NEO-PAGANISMO E QUEIRAM DEFENDER O PRINCÍPIO DA DEUSA E DAS FORÇAS VIVAS DA NATUREZA MÃE DEVEM CONTRIBUIR PARA O SEU ESCLARECIMENTO E LIMPAR A MANCHA NEGRA QUE ESTE PAPA QUER DEIXAR ASSOCIANDO-O AO NAZISMO.
É TEMPO DE LIMPARMOS A HISTÓRIA DA DEUSA DA REPRESSÃO E PERSEGUIÇÃO CATÓLICA!

terça-feira, agosto 23, 2005

CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA

"O retorno à deusa, para renovação numa base de origem e num espírito feminino, é um aspecto vitalmente importante na busca que a mulher moderna empreende em direcção à totalidade.

Nós, mulheres que alcançamos sucesso no mundo, somos, via de regra, “filhas do pai” , ou seja, somos bem adaptadas a uma sociedade de orientação masculina, e acabamos por repudiar nossos instintos e energias mais integralmente femininas, rebaixando-as e deformando-as da mesma forma que a nossa sociedade o fez. Precisamos retornar a esse mundo e redimir o que o patriarcado frequentemente considera apenas como uma ameaça perigosa, chamando-a de mãe terrível, dragão ou bruxa."

De SYLVIA B. PERERA


"...devemos reinvindicar as nossas forças místicas. Devemos avançar, contra as árduas e obscuras forças do ridículo e da resistência sejam quais forem as formas que tenham fazendo o que temos que fazer e desempenhando o papel que nos cabe.

A opressão sobre as mulheres ainda persiste, e por vezes são as próprias mulheres que tornam o mundo ainda mais difícil para as outras mulheres. Mas este fenómeno tende a desaparecer, à medida que essas mulheres opressoras conquistem a sua auto-estima. Do lado oposto a esta selva nasce um dia novo e gloriosos na terra, o dia em que as nossas filhas deixarão de ser julgadas pelas suas paixões ou postas de lado porque terão poder, força e amor."

in O VALOR DE UMA MULHER de
MARIANNE WILLAMSON – 1993


“(...)O instinto que nós apelidamos de sexual, sensual e erótico, ler “baixos instintos”, não é senão a procura de um estado de beatitude interna a que alguns chamam felicidade. Esta felicidade é a finalidade em que nos fixamos. Como a não conseguimos atingir a acção acaba num efeito no resultado que é o prazer e não um fim em si nem um meio mas o acabar num acto incompleto ou num acto pelo qual todas as causas para o seu sucesso não estavam à partida reunidas. O prazer é de algum modo a forma imperfeita do que nós julgamos ser a felicidade, mas no mundo relativo que é o nosso será possível atingir essa felicidade?
Somos obrigados com isto a chegar a um outra constatação: o prazer é o que resta ao homem (ser humano?) de mais desejável quando ele quer satisfazer o seu instinto.

É este instinto que a “civilização” nos fez esquecer e que os diferentes sistemas de educação colocam deliberadamente sob repressão em detrimento da natureza humana e evidentemente simbolizado nas sociedades paternalistas pela Mulher.

Se o instinto é oposto à produção, a Mulher que é Instinto, que é Sensibilidade, que é Intuição, opõe-se fatalmente ao Homem que é Razão, que é Lógica, que é o Construtor, que é o Produtor, que é Organizador. E depois, os antigos terrores face à Mulher ficam bem presentes: a Mulher é também o Amor, e o amor culpado."
(...)
(in JEAN MARKALE – LA FEMME CELTE)

segunda-feira, agosto 22, 2005

VENERAÇÃO significa:
ADORAÇÃO DE VÉNUS (AFRODITE) OU VENUS+ORAÇÃO


(...)
“A Catedral de Chartres, como muitas catedrais cristãs dedicadas à Virgem Maria, fora erigida num local de peregrinação consagrado à Deusa, antes do cristianismo. Maria era particularmente venerada em Chartres. Na própria palavra venerada esconde-se a Deusa Vénus.


(...) A catedral a Maria foi construída onde a Deusa era antes homenageada, muito antes do cristianismo e até antes dos gregos e das suas deidades. Tipicamente a Deusa tinha uma miríade de nomes. Ali em Chartres, continua a ser homenageada nos seus aspectos de virgem e mãe, só que, em vez de se chamar Ísis, Tara; Deméter ou Artémis, tem o nome de Maria.

Tal como todos os sítios onde a Deusa era cultuada se tornaram locais de igrejas cristãs, também os seus símbolos foram aproveitados. Por exemplo, antes de se tornar o símbolo de Maria, a rosa vermelha desabrochada estava associada a Afrodite (Vénus) e representava a sexualidade amadurecida. Em Chartres, que é dedicada à Virgem Maria abundam as rosas. A luz derrama-se através de três belas rosáceas de vitral, enormes, e uma rosa simbólica constitui o centro do labirinto. Este tem uma extensão de 666 pés, exactamente. Seiscentos e sessenta e seis era o número sagrado de Afrodite, segundo Barbara Walker. Na teologia cristã passou a ser um número demoníaco.”


Porque foi diabolisado o número 666 dito o número da besta? Porque sendo dedicado à Deusa Afrodite (Vénus), a Deusa do Amor e do erotismo, fazendo parte do culto antigo à Grande Deusa, a Deusa “pagã” da sensualidade e da fertilidade e de todos os rituais de consagração à Terra Mãe, às estações e forças da natureza, tinha de ser reprimido e portanto só posteriormente o culto da Deusa é chamado de paganismo já com toda a carga pejorativa e perseguidos os seus seguidores, nomeadamente as mulheres, de forma violenta e radical pelo cristianismo que se ia infiltrando e adoptando os lugares de culto da Deusa e assim como os seus lugares sagrados de peregrinação e veneração, tal como as suas vestes que ainda hoje os padres usam na missa.

Reprimido o culto a Deusa e denegridos os seus símbolos, como a serpente e outros, caiu no esquecimento, assim como a primazia do Princípio Feminino e os seus valores, que correspondem à Época do Matriarcado, transformadas que foram em santas cristãs as “deusas” de todo esse período histórico, denegridas e inferiorizadas as mulheres ou apagadas da nossa história, a ideia que se faz do Paganismo hoje em dia é obscura e corresponde a uma ideia deturpada pela igreja católica ao longo dos séculos. Até hoje, quando se fala de paganismo se pensa em hereges e bruxas e sacrifícios de pessoas e animais, gatos pretos que dão azar e números treze, tal como a história da bruxa que come meninos...quando na verdade significavam exactamente o contrário, tal como o número 666 correspondia ao culto de Vénus, o Feminino que a igreja de Roma (o contrário de Amor) destruiu e amordaçou através de crimes e torturas, mortes e perseguições as mais macabras, perpetradas mais tarde pelo seu Santo Ofício que imperou durante mais de três séculos....

A igreja de Roma, apagou de tal forma todos os vestígios da VENERAÇÃO da Deusa Vénus ou de qualquer outro nome que a Deusa tivesse - consoante a língua falada no local e época - assim como o fez com Maria Madalena nos Evangelhos, que parece que o PAGANISMO seria uma religião bárbara e brutal quando se tratou exactamente do contrário.

É inconcebível que no século XXI o Papa Ratzinger associe o Nazismo ao Néo-Paganismo...pois “sabemos que houve mais mulheres queimadas numa estaca do que as assassinadas com gaz nos fornos nazis do holocausto da Segunda Guerra Mundial.” Isto prova que Ratzingar continua a perseguir e a denegrir a Deusa e a Mulher, movido pelo antigo medo e a misoginia dos padres, bispos e cardeais, que continuam activos de forma consciente e deliberada. Eles continuam a lutar contra as mulheres e a sua liberdade, para que estas continuem esmagadas debaixo da pata da Besta-Negra e nisso são iguais aos fundamentalistas islâmicos e outros.

Como sabemos sobejamente “no patriarcado básico, a sexualidade da mulher e a sua capacidade para gerar filhos pertence exclusivamente ao marido, e não à própria mulher. As áreas da sexual e sensual são receadas e reprimidas. Na nossa memória colectiva feminina, sabemos que a morte por lapidação, assim como a violação, o empobrecimento e a prostituição forçada eram castigos de uma sexualidade não sancionada. Por conseguinte, muitas vezes o terror acompanha sensações sexuais proibidas, relembrando que o poder de Deus foi orientado contra a Deusa e a autonomia das mulheres.” *

• in TRAVESSIA PARA AVALON J.S. Bolen

domingo, agosto 21, 2005

O MALDITO LIVRO CONTRA AS MULHERES:
Malleus Maleficarum,
A QUE A IGREJA DE ROMA CONTINUA MAIS OU MENOS FIEL...


Publicado em 1486, o livro Malleus Maleficarum, escrito pelos inquisidores papais alemães Heinrich Kramer e James Sprenger, foi um eficaz instrumento nos tribunais para consolidar a crença de que uma grande conspiração arquitetada por Satã e suas seguidoras, as bruxas, tomava conta do mundo. Até o final do século XV, o manual já era um best seller, recordista absoluto entre qualquer livro anterior ou posterior sobre demonologia, com mais de uma dúzia de edições.Na detalhada obra, que explicava desde os feitiços mais comumente praticados até como localizar a presença das malignas criaturas no seio da sociedade, Kramer e Sprenger não pouparam esforços para mostrar que a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente. O velho temor católico de monges e padres celibatários estava mais forte do que nunca. "A perfídia é mais encontrada nas pessoas do sexo frágil do que nos homens" garantiam os dois. Bruxas eram o mal total: renunciavam ao batismo, dedicavam seus corpos e almas ao demônio e, suprema lascívia, costumavam manter relações sexuais com ele. Principalmente durante os sabás, reuniões em que as forças do mal se reuniam para banquetear-se com criancinhas não batizadas e que sempre terminavam em fabulosas orgias. Testemunhos da época davam notícia de sabás reunindo até 1000 bruxas.

Para provar a propensão natural da mulher à maldade não faltavam argumentos aos autores do Malleus. A começar por "uma falha na formação da primeira mulher, por ser ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela no peito, cuja curvatura é, por assim dizer contrária à retidão do homem. A própria etimologia da palavra feminina confirmava essa fraqueza original: segundo eles, femina, em latim, reunia em sua formação as palavras fide e minus, o que quer dizer menos fé.


De: LADEIRA, Cadu e LEITE, Beth
Fonte: Site Contando História
http://www.amazon.com.br/~armando
O feminino nos mitos primordiais

"A mitologia e a religião das comunidades que viveram na península balcânica antes da chegada dos povos de língua grega (1) eram baseadas em conceitos fundamentalmente femininos. Isso se reflete nitidamente nos mitos da criação, em que todo o mundo conhecido emerge de uma entidade feminina primordial. Essenciais também ao processo de formação do mundo foram as titânides, contrapartes femininas dos titãs; as musas, que representavam as diversas formas do pensamento; e também as diversas divindades femininas "naturais", como as nereidas e as ninfas."

(in - http://www.tempoglauber.com.br/principal/profana/profanapesquisa.htm)



"Carlos Byington nos alerta que :

"a repressão da mulher e o ataque a ela como bruxa, devido à projeção nela dos arquétipos da Grande Mãe e da Anima, necessitam ser compreendidos junto com a histeria, que é uma quadro patológico formado basicamente pela disfunção dos arquétipos Matriarcal e de Alteridade. As características desses arquétipos de intimidade, fertilidade, exuberância do desejo, da imaginação, da clarividência esotérica e da expressividade emocional, quando feridas dão margem ao entrincheiramento desses arquétipos numa luta de poder expressa pela magia destrutiva, pela dramatização e sugestibilidade descontroladas, pela fantasia mentirosa, pela agressividade vingativa desproporcional, pelo congelamento das reações afetivas, pelas reações através de sintomas físicos e pela falsidade voluntária."

(in:http://www.malleusmaleficarum.weblogger.terra.com.br)
- Obrigada Marian!
DE QUE TEM MEDO O PAPA
QUANDO ASSOCIA O NAZISMO AO NEO-PAGANISMO?


Ele tem medo da ascenção não da Virgem que eles controlam, mas da Mulher Real na posse do seu Dom e liberdade. Eles continuam a denegrir a ideia de paganismo...como se a Florbela Espanca - quando diz: "sou pagâ e anarquista como uma pantera que se presa" pudesse ser associada ao nazismo...

Eles odeiam e TÊM MEDO de todos os escritores e poetas, sobretudo das mulheres, assim como da sua criatividade, liberdade, auto-suficiência na comunhão com os elementos", tudo o que faz apologia da vida e não da morte e sai dos seus dogmas e domínio ancestral, pois sabem que se as mulheres voltarem a ser detentoras da sua integridade física e espiritual, do seu Dom de Profetisas e Curandeiras inatas, elas desmascararão todos os simulacres de amor e caridade que eles professam!...

Elas sabem que a Igreja de Roma destruiu o Culto da Deusa-Mãe, renegou a mulher e dividindo-a em duas - a santa e a prostituta - fez deliberadamente cair sobre Maria Madalena a anátema da prostituta e desviando o seu culto inicial para mais tarde serem forçados a eregir o da Maria Mãe de Cristo "virgem" negando a sexualidade da mulher e do homem, condenando-a como "pecado"...

Beatufil Rose, óleo sobre tela de A.Fonseca

(...)
Yosef ajuda a rainha a desembarcar.
Com as sandálias na mão,
Ela caminha pela água pouco profunda
Até às areia de cristal.
Magnífica, com a brisa a agitar-lhe os cabelos.

A sua filha está salva
E é livre, finalmente - assim como Marta e Lázaro.
Longe estão os terrores da tirania
E os caprichos do mar. A paz e a alegria rodeiam-nos.

Miriam olha com ternura para filha
Nascida no deserto do exílio.
“Chamei à minha filha Fora do Egipto”
Sara.
A escolha de Deus não fora um filho
Para pegar em armas,
Rebento da casa de David e da tribo de Judá,
leão para esmagar o punho brutal de Roma
E reclamar o trono real.
Não. Desta vez, Deus
Escolhera uma filha.

(...)
Maria Madalena e o Santo Graal
de Margaret Starbird

sexta-feira, agosto 19, 2005

"A GRANDE DEUSA E O PAGANISMO>

"Apesar dos discursos que se pretendem feministas, apesar de importantes concessões feitas ao apostolado das mulheres, a regra é sempre masculina: só um homem pode representar Jesus, e, portanto, Deus pai, pois admitir as mulheres à função sacerdotal seria voltar aos cultos julgados escandalosos anteriores ao cristianismo." - Jean Markale

O Grande Mago Negro vestido de branco, atacou hoje a grande sombra do seu Santo Ofício, o velho Paganismo pelo medo intrínseco da Deusa e a sua revelação na divulgação de livros como o Código de Vince, e tantos outros, dizendo aos milhares de jovens concentrados na Alemanha para o festejar na sua terra natal, que o Nazismo foi entre outras coisas terríveis, um "neo-paganismo"...

Subtilmente o Velho Pastor alemão, com a sua voz melíflua voltou a denegrir o PAGANISMO que tem como princípio o Amor e o Culto da Deusa Mãe e da Natureza, o respeito pela Mulher e pelo Homem e que representava a elevação das Forças Telúricas em harmonia com o Cosmos...Esses eram os seus rituais de iniciação, não tortura nem morte...

O Paganismo não é herege...mas a fé na Deusa Mãe e na Criação e foram os primeiros cristãos que perseguindo e caluniando os devotos da Deusa Mãe, perseguindo e matando as sacerdotisas que serviam o seu culto e eram mulheres livres, transformaram o paganismo numa aberração. Da mesma maneira que transformaram Maria Madalena em prostituta...

A Guerra, a tortura e o terror pertenceram, ao longo dos séculos, às grandes religiões tanto "cristãs" como "islâmicas" e ao que sabemos a própria Igreja deu muitas vezes as bençãos a Hitler, e a tantos outros ditadores, o que nenhum verdadeiro PAGÃO faria...
O ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM


"O arquétipo da Mulher Selvagem, bem como tudo o que está por detrás dele, é o benfeitor de todas as pintoras, escritoras, escultoras, dançarinas, pensadoras, rezadeiras, de todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a inventar, e essa é a principal ocupação da Mulher Selvagem. Como toda a arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é intuitiva, típica e normativa. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher

E então o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto no mundo visível quanto do mundo oculto - ela é a base. Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.
(...)
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela é tudo o que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a geradora de acordos e ideias pequenas e incipientes. Ela é a mente que nos conhece; nós somos os seus pensamentos.
(...)
Onde vive a Mulher Selvagem? No fundo do poço, nas nascentes, no éter do início dos tempos. Ela está na lágrima e nos Oceano. Está no câmbio das árvores, que zune à medida que cresce.Ela vem do futuro e do início dos tempos. vive no passado e é evocada por nós. Vive no presente e tem lugar à nossa mesa, fica atràs de nós numa fila e segue à nossa frente quando dirigimos na estrada. Ela vive no futuro e volta no tempo para nos encontrar agora."
(...)

in "MULHERES CORRENDO COM LOBOS" - de CLARISSA PINKOLA ESTÉS

quinta-feira, agosto 18, 2005

A DAMA DO SANTO GRAAL

"Quem é esta Maria, conhecida dos primeiros cristãos como a “Madalena”? E como pode ela Ter levado o sangue real para França? Terá o sangue real sido transportado num “vaso de barro”? E o vaso de barro foi uma Mulher? Talvez esta Maria tenha sido a mulher de Jesus e tenha levado o filho dele para a Provença!
(...)
A demanda do Santo Graal é um mistério velho de séculos. As pistas que ligam Maria Madalena ao Sangraal das lendas antigas abundam na arte, na literatura e no folclore da Idade Média, assim como em vários acontecimentos da História e das próprias escrituras. Muitas dessas pistas serão discutidas nos capítulos seguintes, numa tentativa de demonstrar que a Noiva de Jesus foi, acidentalmente, deixada de fora da História como resultado de um turbilhão político na província de Israel logo a seguir à crucificação.”

(...)
“O vaso, o cálice que encarna as promessas do Milénio, o “Sangraal” da lenda medieval, era, acredito agora, Maria Madalena.


A NOIVA PERDIDA

Falámos de como a fé dos Templários, que celebrava o equilíbrio cósmico entre os opostos, foi inserida nas catedrais. As magníficas “rosáceas” de vitrais são outro exemplo do ressurgimento do feminino entre os desenhadores das igrejas medievais em honra da “Notre Dame”.
(...)
Apesar de a veneração da Noiva de Jesus Ter sido oficialmente suprimida pela Igreja Católica, os altares à Virgem Maria continuaram a florescer, atraindo peregrinos de toda a Europa. O culto do feminino consegue atingir a sua apoteose quando Maria foi nomeada Virgem Rainha do Céu. Mas enquanto Virgem Maria, adequadamente, representa o aspecto maternal do feminino, a doutrina da sua perpétua virgindade renega implicitamente o papel de Esposa. Por mais bela que esta mãe seja, é evidente que falta algo muito real e muito precioso na história do Cristianismo. Esse algo é a Noiva.”


Maria Madalena e o Santo Graal
de Margaret Starbird

quarta-feira, agosto 17, 2005

OS MISTÉRIOS DAS MULHERES E O GRAAL


Devemos lembrar-nos como e quando cada uma de nós passou por uma experiência da Deusa, e se sentiu sarada e integral por causa desta. São momentos santos, sagrados, intemporais, embora por mais inefáveis que se possam revelar, sejam difíceis de reter em palavras. Mas, quando qualquer outra pessoa menciona uma experiência semelhante, isso pode evocar as sensações que voltam a captar a experiência; se bem que só aconteça se falarmos da nossa vivência pessoal. É por isso que necessitamos de palavras para os mistérios das mulheres, o que parece exigir que uma de cada vez explicite o que sabe - como tudo o mais que é de foro feminino. Servimos de parteiras às consciências umas das outras. Quando, pela primeira vez, contamos a nossa verdade parece-nos assustador e perigoso, mas torna-se cada vez mais fácil. Na medula da nossa experiência feminina colectiva, sabemos que há riscos.

Algures nas nossas almas, rememoramos o tempo das fogueiras, em que as mulheres eram perseguidas e queimadas vivas como feiticeiras. Aconteceu em três séculos de Inquisição. Quando nos referimos, nos nossos tempos, ao “holocausto das mulheres”, sabemos que houve mais mulheres queimadas numa estaca do que assassinadas com gás nos fornos nazis do holocausto da Segunda Guerra Mundial.

HOLOCAUSTO DAS MULHERES

Primeiro, queimavam-se vivas as parteiras por abrandarem as dores do parto (que iam contra o preceito bíblico de que as mulheres deviam sofrer), depois, as curandeiras que sabiam usar as ervas medicinalmente, as mulheres que comemoravam a chegada das estações, as mulheres excêntricas, as mulheres com posses que alguém cobiçava, as mulheres que falavam sem medo, as mulheres inteligentes, as mulheres desprotegidas.

Essa memória colectiva tem um efeito igual ao de um trauma pessoal reprimido: torna as mulheres ansiosas quando descobrem as suas experiências sagradas e acham as palavras para as designar.

Precisamos de coragem para contar o que sabemos.

Algures nas nossas almas, lembramos uma época em que a divindade era chamada Deusa e Mãe. Quando nos transformamos em iniciadas nos mistérios femininos, então passamos a saber que somos portadoras de um cálice sagrado, que o Graal se manifesta em nós.


IN TRAVESSIA PARA AVALON
De Jean Shinoda Bolen
A MINHA EXPERIÊNCIA



Curiosamente quando escrevi o meu primeiro livro e por ser uma experiência profunda do acordar do Arquétipo da Deusa Mãe em mim, quando da sua publicação, enfrentei todos esses medos e angústias de que a autora do livro em cima citado fala e durante um certo tempo, até à sua publicação, uma enorme tensão, senão um certo pavor, dominou-me quase por completo e para mim começou a ser muito claro que eu temia “represálias e perseguições” por parte de mentes obscuras e ocultas, que logicamente não tinham a ver com a minha realidade social. Embora sabendo que estava a romper a barreira do que me era permitido de acordo com os conceitos e limites como mulher, pelo que sentia e de forma tão intensa, comecei a perceber que tinha, sem sombra de dúvida, “passado” já (algo em mim lembrava-se) pelos tormentos da tortura e da morte e isso era muito vivo na minha alma. Antes dessa "certeza" ainda, pensei que todas essas sensações pudessem ter a ver, psicologicamente, com a memória real da ameaça da PIDE à expressão política que eu tinha vivido nos anos sessenta... O medo de falar e de escrever...Mas aos poucos fui percebendo que era uma memória atávica muito mais enraizada e traumática do que uma Polícia de Estado e o que eu tinha vivido concretamente. Fez-me lembrar então o meu medo das batinas negras dos padres e a agonia que sentia na missa em pequena e como uma vez me comecei a sentir tão mal que desmaiei no decorrer daquelas ladainhas. Afinal era um rememorar “o tempo das fogueiras, em que as mulheres eram perseguidas e queimadas vivas como feiticeiras” e não desta vida... Só muitos anos mais tarde voltei a entrar numa igreja. A minha repulsa, misto de medo e raiva, pelos padres - ainda hoje a sinto - e pelo ambiente fechado e sinistro das Igrejas, tornava assustador o universo religioso da minha infância....Tinha então cerca de treze anos e nessa altura, eu não sonhava sequer com a Antiga Deusa, embora a única coisa que me motivasse a ir à missa fosse a Nossa Senhora de Fátima a quem fervorosamente rezava...

terça-feira, agosto 16, 2005

O meu destino tem um sentido e tem um jeito.
A minha vida segue uma rota e uma escala.
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e que sou; não me iguala.


Fernando Pessoa
A RUNA QUE ME TIRASTE:PERTH


INICIAÇÃO, ALGO ESCONDIDO
UM ASSUNTO SECRETO...


Esta é uma Runa hierática ou misteriosa indicando aquilo que está para além dos nossos frágeis poderes manipulatórios. Esta Runa está do lado do Céu, do Desconhecido, e é associada à fénix, a ave mística que se consome no fogo e se ergue das cinzas. Os seus caminhos são secretos e escondidos.

Profundas forças transformacionais internas estão a operar aqui. Contudo, aquilo que se consegue concretizar não é nem fácil nem prontamente partilhado. A integridade implícita pode estar mascarada, disfarçada ou secreta...Afinal, tornarmo-nos um todo e os meios para o alcançarmos constitui um segredo profundo.

Sob o ponto de vista do tangível, poderá haver surpresas; ganhos materiais possíveis.
No que respeita à natureza humana, esta Runa é simbolizada pelo voo da águia. Voo audaz, livre de amarras a elevar o ser acima da teia e do fluxo sem fim da vida comum para que o mesmo adquira uma visão mais abarcante – tudo isso está indicado aqui. Esta é a Runa da Demanda.

Perth representa um intenso aspecto da iniciação. Nada do que é exterior importa aqui, excepto na forma como se reflecte interiormente. Esta Runa tem a ver com o nível mais profundo do teu ser, a pedra basilar sobre a qual o teu destino está erguido. Para alguns, Perth representa o experimentar de uma morte psíquica. Se necessário, deixa que tudo se vá, sem excepções, sem exclusões.
O que está aqui em causa é nada menos do que a renovação do Espírito.
LUA DAS FOGUEIRAS...

Ó Lua das fogueiras
queima as minhas memórias e medos,
as minhas velhas feridas e mágoas passadas,
cura todas as minhas chagas
de lutas guerreiras, insanas, de templário e cátaro,
todas as minhas dores de bruxa, sacerdotisa e curandeira
sempre perseguida pela turba, queimada nas fogueiras..

Limpa a minha aura do sangue e da mentira de séculos
em que fui perseguida por reis, bispos e monges fanáticos
e dá-me a força renovada, a das tuas águas, mares e fontes abençoadas,
e permite o retorno às tuas Florestas de gnomos, duendes e fadas...

Ó Lua das fogueiras,
deixa-me dançar nua e selvagem até o amanhecer
ao som dos teus cânticos sagrados,
em evocação da Grande Deusa Mãe,
para através do seu Eterno Poder
despertar em mim os dons de cura e amor,
na celebração deste dia pagão
a fim de lembrar-me de todos os feitiços e sortilégios
que sei no fundo do coração...

Ó Lua das fogueiras,
dá-me a liberdade de ser una contigo
e une as sacerdotisas de Atlântida e Mu e do Egitpo...
Que venham de todos os cantos do mundo
iluminadas pelo Teu halo sagrado!

Faz com as nossas mãos mais uma vez se se dêem à volta das fogueiras
e pela tua magia nelas acorde a lembrança deste pacto antigo
unindo de novo todas as mulheres neste voto há muito esquecido...

E cantemos todas em uníssono:

Vem Mãe...

Salvar a Terra e as Florestas,
os animais as crianças e as mulheres das guerras infames dos homens,
dos magos negros e seus algozes, dos seus ódios...
entoando o Teu cântico de Amor, Paz e Fertilidade.

Faz com que para sempre ergamos a nossa voz
e do cimo da mais alta montanha á caverna mais recôndita
todos nos ouçam gritar o Teu Santo Nome e que Ele ressoe na terra inteira,
libertando a Humanidade da opressão e do medo!


R.L.P.

segunda-feira, agosto 15, 2005

EU SOU A DEUSA

Montserrat- O Feminino Sagrado

Eu sou a Grande Mãe, fui-o antes de toda a criação,
antes mesmo de toda a existência.
Sou a força primitiva, ilimitada e eterna.
Eu sou a Deusa pura da Lua, a Senhora de toda a magia.
Os ventos e folhas ondulantes cantam o meu Nome.
Repouso sobre a Lua e meus pés dançam nas estrelas do céu...
sou todos os mistérios por desvendar,
O novo caminho.
Eu sou o campo lavrado pelo arado.
Sou a alegria daqueles que atendem o meu chamado
Sou aquela que traz a abundância e força.

Eu sou a Mãe santificada
Sou a Senhora das colheitas
Sou a Senhora vestida da plena natureza
Sou o perfume da terra fresca
Sou o brilho das sementes douradas dos campos cultivados
Sou Aquela que governa as marés
Sou o refúgio e a cura
Sou a vida e que germina em tudo e em todos.
Sou a velha, e a nova o próprio ciclo da morte
e do renascimento
Sou a Grande roda
Sou a Sombra da lua
Sou eu quem rejo as mulheres e homens
Sou eu quem dá a libertação e a renovação às almas cansadas
Sou a Deusa da Lua, da Terra e dos Mares
Meus nomes são muitos e infinitos
É das minhas mãos que sai a perspicácia, a paz,
a sabedoria e a compreensão.
Sou a eterna jovem
Sou a Mãe eterna
Ainda que me chamem imensos nomes
Sou eu sempre a mesma
Quem envia a minha doce paz sobre cada coração.


(Anónimo)

domingo, agosto 14, 2005


ISHTAR

Oye mi ruego, Istar,
Luna de los Amantes.

De quien no sabe dar
enséñame a recibirlo todo.

De quien no sabe abrir-se
hasme llenar...


A adoração da Nossa Deusa Mãe e da Origem.

O Culto da Grande Mãe remonta
ao mais recuado dos tempos...



A Grande Deusa era adorada em todo o mundo antes da nossa história e já no Egipto, Isis era a Senhora por Excelência e cuja imagem vem a corresponder à imagem adoptada pela Igreja Romana com o menino ao colo e que por volta do séc. VI - no obscurecimento do seu verdadeiro culto e origem – é reencontrada em Maria, mãe de Jesus, e a liturgia bizantina celebrava a "Dormição da Mãe de Deus" - antes era a Deusa! - Mas por hora ela "dormia" e antes que acordasse eles tomaram conta... Na época, o Imperador Maurício fixou a efeméride para o dia 15 de Agosto e até aos nossos dias ficou assim registado. Através de muitas lutas, e petições, o dogma da Assunção Corpória da Nossa Senhora levou muitos séculos a ser aceite até que no séc. XVIII foi assinada a bula que o admitia, embora a Igreja Católica sòmente em 1950 através do Papa Pio XII a tenha oficializado.

(...) “Mais do que nunca, a Virgem Maria ia tomar o lugar de todas as deusas da antiguidade, suavizando os seus traços, abandonando a sexualidade, mas permanecendo sempre aquela que dá a vida e o alimento”.(...)
Substituindo assim, “uma divindade feminina cuja função materna se desdobrava necessariamente numa função erótica. Sabemos muito bem que essa função erótica iria ser escondida desde o início de um cristianismo inteiramente orientado para uma masculinidade triunfante e uma castidade exemplar, resultante a maior parte do tempo de um terror instintivo relativamente aos mistérios da mulher” (Jean Markale)

O Arquétipo da Deusa Mãe ressurge pela premência do Princípio Feminino na Terra desvastada pelo poder patriarcal de dominação do mais fraco, nomeadamente da mulher.

A Festa ou o feriado do dia (15 de Agosto) da Assunção da Nossa Senhora que a Igreja Católica celebrará amanhã foi imposta pela tradição e pela força secular da Deusa-Mãe, reminiscência do Culto "pagão" da Grande Mãe, muito anterior ao Cristianismo! Assim como substituiu todas as deusas pagãs, pelo nome de santas para as integrar no catolicismo! Enquanto isso e através dos séculos, as mulheres que tivessem ou ousassem ter voz, da mesma forma que foram perseguidos os fiès da Grande Deusa, eram perseguidas e queimadas vivas como bruxas nas figueiras da Inquisição!

Ainda o ano passado, neste mesmo dia, em alusão à celebração do dia da Nossa Senhora, ouvi um padre na televisão alertar para o facto de que apesar do dia e do culto à Virgem, não podemos adorar a Nossa Senhora e que Maria é igual a todas as mulheres...Ela serve apenas o senhor... É portanto inferior, deduzo eu, e por isso ninguém pode elevar a Mulher ou a Deusa acima do Deus Macho!
Só podemos adorar um Deus-Homem...

Quanto à irrupção do culto da Grande Mãe e da Deusa surgido em Lurdes e em Fátima e em outros lugares de Peregrinação e culto recente, são também coisas de mulheres devotas, ignorantes e inferiores e de um povo inculto e sujo, sem ornamentos nem estatuto...

À Igreja de Roma não dá crédito às mulheres, sendo os sacerdotes os detentores únicos da fé e da palavra de deus, mas acaba aproveitando-se como sempre se aproveitou das mulheres para continuar a explorar e a manter as próprias mulheres na ignorância e na sujeição católica ao macho e dono!
Eles rezam a missa vestidos e com paramentos remanescentes das Sacerdotisas da Deusa Mãe e as mulheres ajoelham-se a seus pés...Cofessam-se pecadoras...
A igreja nunca foi Mãe para as mulheres, mas sim Madrasta pois só os Homens são filhos do seu Deus...



A Grande Deusa na Antiguidade

(...) "mas a antiga detentora da soberania sobre o universo, a causa primeira de toda a existência, e isto muito antes da manifestação do Verbo que, segundo o Evangelho gnóstico de João, era no princípio (e não no começo) do mundo das relatividades concretas. A arte da Idade Média é o reflexo de um pensamento e esse pensamento, apesar do peso do dogmatismo romano, está longe de ser unívoco. Mesmo que ela não cesse de ser consoladora, e mesmo lenitiva, a virgem mediaval transmite mais do que uma mensagem, que remonta à aurora dos tempos e que se manifesta por vezes através de especulações ditas heréticas ou mesmo por meio das aberrações fantasmáticas, a saber: o conceito de uma criação permanente que não pode ser senão de natureza feminina. Se Maria foi realmente a geradora do divino enquanto “mãe portadora”, ela apenas podia ser a encarnação de um conceito preexistente que se tornou incompreensível, incomunicável e indizível, que aparece através dos diferentes mitos referentes à criação do mundo."

In "A GRANDE DEUSA " de Jean Markale

sábado, agosto 13, 2005

UM BECO SEM SAÍDA

"E onde quer que a política se tenha exteriorizado, a sensação é, de facto, a de um beco sem saída, divorciada do dia-a-dia das vidas da mulher ou do homem, limitada a uma gíria de elite, a um enclave, definida por pequenas seitas que alimentamos erros uma das outras."
( Adrienne Riche)

O NOSSO TEMPO
(...)
Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açucar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.
(...)
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.


C. Drumont

"Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz.
Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros.
Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor."


Pythagoras

sexta-feira, agosto 12, 2005

"O OCIDENTE: UMA PODRIDÃO QUE CHEIRA BEM,
UM CADÁVER PERFUMADO."

Emile Cioran

A LÓGICA DOS PSICOPATAS...

"A eliminação da dimensão moral das nossas vidas abre o caminho à lógica dos psicopatas. É isso que eu temo. Estamos a mover-nos rumo a uma guerra entre um gigantesco sistema psicopatológico contra outro gigantesco sistema psicopatológico. É assim que eu vejo o futuro. Uma espécie de luta darwiniana entre dois gigantes psicopatas rivais. O dos atacantes do 11 de Setembro contra o do complexo político-militar americano (...)

Não temos interesse em nenhuma zona para além da nossa esquina do mundo. Estamos armadilhados na nossa história social. Olhe, eu nem sou capaz de lhe dizer o nome do primeiro-ministro português! E sou supostamente um homem culto. Vimos, na televisão, imagens de pessoas a morrerem à fome no Sudão. Que fazemos? Nada. As nossas atitudes são completamente provincianas. As nossas vidas são controladas. Se sou dentista, ou professor, não vou desistir da minha carreira para ir para África. Somos prisioneiros, embora não o saibamos."


[J.G. Ballard, in Público]

in "Numa Sociedade Saudável, a Loucura É a Única Liberdade Possível"

quinta-feira, agosto 11, 2005

A emergência
do Princípio Feminino


"Nós estamos actualmente no ponto crítico entre duas tendências, entre dois sistemas de valores. Estes dois sistemas correspondem aos dois princípios:

Numa etapa da evolução, a espécie favorisa o princípio masculino e os valores a ele associado, de opressão, competição, de poder;

Numa outra etapa, a espécie favorisa o princípio feminino e os valores que lhes estão associados, o império sobre si, de cooperação, e de vantagens mútuas.

Com o princípio masculino, é a sobrevivência do mais forte; com o princípio feminino, a sobrevivência do mais sábio. É preciso perguntar-se a que levaria essa mudança de atitude ao colocar-se a ênfase sobre os termos do feminino. Que valores adviriam dessa nova atitude, tanto no plano colectivo como individual?"


In "O Cálice e a Espada" de Riane Eisler

Há mulheres que continuam a não querer ver diferenças entre homens e mulheres e a negar evidências...

quarta-feira, agosto 10, 2005

E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?


Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.


Álvaro de Campos

terça-feira, agosto 09, 2005

NO PLANETA DOS GATOS...



A ABERTURA DO CAMINHO
O AMOR E A SEXUALIDADE...


A dualidade sendo a causa da sexualidade - portanto a afinidade entre os complementos -, é a causa do desejo que os homens chamam amor. O erro está em confundir amor, desejo e necessidade....

Fora dessas excitações sexuais produzidas pelas estações da vida humana e da Natureza, cada indivíduo é o joguete dos seus instintos particulares, que o fazem reagir sexualmente a certos gestos ou circunstâncias que lhes correspondem.
Estas características instintivas, inscritas no fígado, encontram a sua reacção no sexo e no cérebro, e estes que estão sempre ligados, dão-se mutuamente desculpas para explicar e satisfazer o desejo que daí resulta...


Isha Schwaller de Lubicz
EU E OS MEU GATOS
NOUTRO PLANETA...




"Feliz aquele que, para encontrar a sua "Imagem" eterna,
ousa queimar sem piedade os fantoches do seu passado"


Minha irmã dos caminhos cruzados, eu não acredito já no amor de ninguém a nível pessoal e humano. Todo o amor do “outro”, "o encontro das almas gémeas" não passa de fantasia nossa e fugaz ilusão que dura enquando duram os enganos ... O resto é imaginação só nossa ou compromissos que se tomam, sociais e económicos, os filhos para criar, a casa para sustentar... O mais são só sonhos e projecções dos nossos sonhos neste mundo de ilusões sejam eles grandiosos sejam eles torpes... ambos convivem lado a lado nesta nossa frágil humanidade, cheia de conflitos e misérias, em permanente dualidade.

Cada ser humano, passada a ponte dessa ilusão fragmentária do mundo, fica só consigo mesmo. Todo e qualquer ser humano mais tarde ou mais cedo tem de se enfrentar ao seu próprio espelho, nem que seja na morte e assim vai adiando esse momento...Mas se decidir seguir o seu próprio caminho na busca implacável de Si mesmo, verá que o Caminho é estreito e estritamente individual. Nele nada mais cabe senão o nosso próprio ser. Nesse ponto, todos caminhamos sós...ao encontro da nossa totalidade e aí, alcançado esse centro já não há solidão. Aí sim talvez O Amor seja a nossa realidade, face à nossa alma gémea descoberta, não como outro ser fora de nós, mas como a outra parte de nós - ou o nosso KA - que se oculta na eternidade e que nós procuramos uma vida inteira.


(TEXTO ESCRITO EM 2002)

segunda-feira, agosto 08, 2005

ESTA FEIRA DE VAIDADES...

Na feira que atravessas,
não tentes encontrar nenhum amigo.
Não procures tampouco um abrigo seguro.
Com a alma serena, aceita
a dor sem esperança de remédio,
que não existe.
Sorri ao infortúnio
e não peças a ninguém que te sorria:
seria tempo perdido.


IBN 'ARABÎ

"SE queres colher a suave paz e descanço, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores de nascença.
Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das vestes do Caminho."
(...)

in A VOZ DO SILÊNCIO - HELENA BLAVATSKY
(TRADUÇÃO E NOTAS DE fERNANDO pESSOA)

domingo, agosto 07, 2005

PORTUGAL IMOLADO PELO FOGO...



A INCÚRIA DOS HOMENS QUE GOVERNAM O MUNDO:
CRIAM BOMBAS ATÓMICAS, SUSTENTAM MILHARES DE JOVENS QUE APRENDEM A MATAR,
CRIAM EXÉRCITOS DE INÚTEIS, FOMENTAM AS GUERRAS...

ENQUANTO MILHARES DE CRIANÇAS E MULHERES POR TODO O PLANETA MORREM À FOME...

ESTE É O MUNDO EM QUE VIVEMOS HOJE, COM DESFILE DE HORRORES, EM TODOS OS CONTINENTES, TODOS OS DIAS À HORA MARCADA, ENQUANTO JANTAMOS, SOB O COMANDO DOS MÍDEA...



OS SENHORES DA GUERRA HÁ MUITO QUE
VENCERAM O MUNDO DOS HUMANOS...


“A ilusão de um amanhã melhor há muito murchou (...). Por todo o lado impera a força das armas e a pirataria das armas. Evaporou-se a água que refresca os destinos da humanidade, tudo é fogo.

Mulher e homem, forte e fraco, fogo e água, desfilam em círculo como as estações do ano. Morre um vem outro, nuca caminhando juntos para a harmonia da natureza. As palavras fome, guerra, greve, fuga, massacre, roubo, desgraça, fazem hoje o discurso da maioria. Os passos dos homens já não são desfiles serenos, mas marchas de protesto. As palavras poder, revolução, soam como maldição, nos ouvidos ensurdecidos pela violência das explosões em nome da democracia.

O derramamento de sangue é premeditado, planeado, com uma intenção benéfica e um projecto de nobreza.(...) Há cada dia menos escolas, menos emprego, menos chuva, mais sol, mais armas. Há mais mortos do que vivos, mas ainda não é chegado o fim do mundo, a vida triunfará para a glória do vencedor. O campeão desta guerra construirá o majestoso palácio imperial com ossadas humanas que andam às toneladas nas matas.”

(...) “A rádio não dá os bons dias ao povo, nem um despertar suave para reanimar as esperanças. Nos dias que correm, as emissoras radiofónicas pactuam com a morte. O locutor de rádio anuncia a morte de homens em combates. Fala de gente morta de fome, de sede, de desespero em todos os cantos do país. O locutor de rádio é um mensageiro da morte e executa a tarefa com competência e ingenuidade. O conteúdo do seu noticiário pretende apenas dizer: sou a morte! Sou o rei das trevas! Onde quer que estejas, desperta, escuta-me, prepara-te, que eu te virei buscar mesmo a ti que ainda dormes e roncas.”


In O SÉTIMO JURAMENTO
De Paulina Chiziane

sexta-feira, agosto 05, 2005

Para ser sincera tenho tido alguma dificuldade em actualizar esta página...de férias, mas engripada e com muito pouca inspiração...
Há momentos que penso mesmo acabar com ela...
Já LÁ VÃO UNS ANOS que po aqui ando e não tenho nada de novo para acrescentar. Estou aliás a recorrer aos meus arquivos e republico...
Como agora este texto tão importante, de um livro não menos importante.


"O Princípio Feminino e o Poder da Mulher
vem agora para quebrar as cadeias de todas as rotinas e tiranias"



“As mulheres julgam muitas vezes que elas não servem senão para gerar filhos e que nesses corpos se vêm fixar as almas. Mas não! As mulheres são desde toda a eternidade a Matrizes e o Sustento de muitas outras coisas. Elas são antes de tudo o mais, as reveladoras do Conhecimento. O Princípio Feminino e o poder da Mulher vem agora para quebrar as cadeias de todas as rotinas e tiranias. Esse poder fala da “curiosidade imaginativa” sagrada e cria assim um espaço em constante expansão na Consciência da Humanidade. É aí que se encontra o verdadeiro papel da Matriz. Ela gera e alimenta “outra coisa” de “doutra maneira” e é essencial e necessária para a Vida concluir a sua obra.”



O ACORDAR DESTE MUNDO.

“É por isso que eu vos digo, é preciso que a mulher veja a Mulher QUE ELA É em si mesma e que o homem a aceite nele próprio. O acordar deste mundo exige essa mutação! O Fogo feminino é um fogo da Terra, e reparem, se temos necessidade do Ar que vem do Céu, o inverso não se pode negar. Todos os que sabem ou entendem o que eu digo, vêem que o Céu e a Terra se atraem um ao outro, que não existem independentes um do outro. Por isso é preciso que os homens aceitem este ensinamento e que as mulheres não temam mais desvelar a sua função...e só então o mundo entrará em metamorfose”.

A TRANSFORMAÇÃO QUE O MUNDO PRECISA:
O FOGO FEMININO. O FOGO QUE LIMPA...

(...)
“Que a vossa humanidade tenha balançado entre monarquias e ditaduras e depois repúblicas não muda nada no mundo pois o vento que sopra as suas velas não é senão expressão de relações de força e de domínio. A incessante luta interior em que se debatem as vossas almas entre o dominador ou o dominado é uma limitação, é a verdadeira pobreza de que tem de se libertar. O Fogo Feminino que está hoje em dia A COMEÇAR A DESPERTAR tem como Missão por fim a esse combate interior. Ele tem como função reinventar o Homem e a Mulher neste mundo, de revelar outra imagem, outro ser mais completo, mais solar, mais cristão no sentido universal do termo.”

In VISIONS ESSÉNIENNES
Daniel Meurois-Givaudan

quinta-feira, agosto 04, 2005

O ETERNO PRESENTE, DENTRO DE NÓS...

“QUANTO ao Paraíso bem podemos deixar de acreditar na sua realidade geográfica ou nas diversas figurações, nem por isso ele reside menos dentro de nós como dado supremo, como uma dimensão do nosso eu original; trata-se agora de irmos até lá descobri-lo. Quando o conseguirmos fazer,entramos nessa glória que os teólogos chamam essencial; mas não é Deus o que vemos cara a cara, é o eterno presente, conquistado ao devir e à própria eternidade...

A partir daí o que importa a história?

A história não é a sede do ser, mas a sua ausência, o não de todas as coisas, a ruptura do ser vivo consigo próprio; não tendo nós por massa a mesma substância que ela, repugna-nos continuar a cooperar nas suas convulsões. Fica-lhe a liberdade de nos esmagar, mas tudo o que atingirá então serão as nossas aparências e as nossas impurezas, esses restos de tempo que trazemos sempre connosco, símbolos do fracasso, sinais de não-libertação.”


In HISTÓRIA E UTOPIA de Emile Cioran

terça-feira, agosto 02, 2005

"A doutrina dos olhos é para a multidão;
o doutrina do coração para os eleitos."

in A VOZ DO SILÊNCIO (M.B.)



Mãe das recordações, amante das amantes,
Tu, todo o meu prazer! Tu, todo o meu dever!
Hás de lembrar-te das carícias incessantes,
Da doçura do lar à luz do entardecer,
Mãe das recordações, amante das amantes!

(Baudelaire)

Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.


(Alberto Caeiro)

segunda-feira, agosto 01, 2005

“O Cálice parece-se com uma taça ou um recipiente e, o que é mais importante, a forma do ventre feminino. Este símbolo expressa feminilidade e fertilidade.



O Graal é, literariamente, o símbolo antigo do feminino, e o Santo Graal representa a divindade feminina e a Deusa, que por suposto se tinha perdido, suprimida de raiz pela Igreja. O poder da mulher e a sua capacidade para engendrar vida foram noutro tempo algo de muito sagrado, mas representava uma ameaça para a ascensão da Igreja predominantemente masculina e por essa razão a divindade feminina começou a ser diabolizada pela Igreja que considerava a mulher impura. Foi o homem, e não Deus, quem criou o conceito de pecado original, pelo qual dizia a Eva comeu a maçã e provocara a queda da humanidade. A mulher antes sagrada e a que engendrava a vida converteu-se na inimiga. (...)”
J.M.