O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, dezembro 07, 2007

O MEDO DE AMAR


Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.

(Carl Jung)


NA ROTA DO AMOR VERDADEIRO

(…) “Quando no meu consultório, os meus doentes com cancro me falam das suas relações de conflito com a mulher ou marido ou quando os meus amigos e amigas mais íntimas me contam os seus dramas amorosos, eu apercebo-me de que o planeta atravessa actualmente uma grande doença de amor: a maior parte dos homens e das mulheres estão à procura de uma energia da qual dispõem em si mesmos, mas que eles não vêm. Por outro lado o amor do outro parece ser qualquer coisa de doloroso, que faz imensa falta mas que é impossível atingir. Eu pela minha parte considero que esta maneira de ver as coisas revela um contra-senso. Parece-me sobretudo que as pessoas têm medo de amar. Como se amar fosse arriscar a vida…O que é que faz que o amor faça assim tanto medo? Será o seu aspecto infinito? Será o seu poder iniciador? (…)

Tenho medo de amar porque tenho medo de ser ferida, tenho medo de amar porque tenho medo de ser traída, tenho medo de amar porque tenho medo de me encontrar face a face com a minha ferida? (…)

VERS L’AMOUR VRAI
Se libérer de la dépendence afective de Marie Lise Labonté

A autora reporta o medo de amar à ferida essencial, aquela que em criança determinou a nossa couraça, as nossas defesas a nossa persona…Sem dúvida que aí temos uma grande e legítima causa do medo de amar, mas do meu ponto de vista e análise eu sinto e sei que ela reside essencialmente e à partida a nível inconsciente, no MEDO DA MULHER no que diz respeito ao homem. No que diz respeito à mulher no desconhecimento da sua natureza profunda, cuja causa é a divisão da mulher em duas…e aqui começa realmente a grande ferida humana, a ferida da mulher que consiste na sua negação e que a leva como amante e mãe a ser incompleta e instável.
Ignorar que vivemos numa sociedade falocrática que impõe o seu modelo de domínio e que a mulher é a sua “vítima” directa, é querer escamotear a realidade é querer tapar o sol com a peneira…
O amor só é iniciático se a mulher e o homem cumprirem o seu papel integralmente, se ambos forem conscientes do processo de integração dos pólos opostos…se o ser humano evoluir para um plano mais elevado de consciência. Sem dúvida que essa energia que procuramos fora está dentro de cada ser, mas o trabalho da obra alquímica é unir os dois em um…e para que isso se realize tem de ser devolvida à Mulher a sua dimensão ontológica e sagrada! Tem de lhe ser devolvida a dignidade que a sociedade patriarcal lhe roubou…
Nós mulheres temos de começar por aí…não como vítimas e os homens como carrascos…afinal ele foram também vítimas de si próprios ao negarem o seu feminino…por isso o trabalho é dos dois lados, mas a mulher tem de facto mais trabalho para se reconstruir e ser inteira!


Porque, como diz SYLVIA B. PERERA no seu livro Caminho para a Iniciação Feminina,

(…)" Nós, mulheres que alcançamos sucesso no mundo, somos, via de regra, “filhas do pai” , ou seja, somos bem adaptadas a uma sociedade de orientação masculina, e acabamos por repudiar nossos instintos e energias mais integralmente femininas, rebaixando-as e deformando-as da mesma forma que a nossa sociedade o fez. Precisamos retornar a esse mundo e redimir o que o patriarcado frequentemente considera apenas como uma ameaça perigosa, chamando-a de mãe terrível, dragão ou bruxa."

2 comentários:

Paula Marinho disse...

Minha querida, quanta coisa ainda tenho por aprender... as vezes venho aqui inquieta e saio tranqüila, hj vou sair mais inquieta ainda, porém numa inquietude boa e sagrada pois sinto dispertar a consiciência. Me separei ha 9 anos, tenho cicatrizes q enrijeceram a pele da alma, tornaram-na mais forte é bem verdade, mas q ao mesmo tempo fecharam-me em mim mesma por todo esse tempo. Hoje, novamente encantada por um homem de alma feminina, me vi como no texto, apavorada pelo medo de me apaixonar novamente, de ser traída novamente, de não ser igualmente correspondida, e de tantas outras razões q passaria horas escrevendo aqui... é verdade que o sofrimento pelo qual passei me tornou mais humana, mais mulher! Ao memso passo que agora descubro que me tornou muito mais insegura também, no que referente ao outro; temo só de pensar em expor meu sentimento. Sei que tenho muito a aprender e do quanto ainda estou longe da mulher feiticeira, bruxa e sagrada que sei existir em mim. É justamente por isso que volto a dizer o quanto é bom poder vir aqui e beber da fonte... me descobrir, me repensar, me reencontrar. Quero não temer a vida que pode explodir radiante, quero o direito de amar sem medo e de principalmente "me amar". Quero PAZ.

Lealdade Feminina disse...

Parece até que estamos combinadas né Rosa, estou falando da mesma coisa no meu blog tbm... Tem um livro muito interessante WE, não lembro o nome do autor/a , tem tbm o HE e o SHE, os mitos do masculino e do feminino, e do casal... enfim... nesse livro ela nos fala do mito do amor romântico e trágico... e é essa a nossa referência de amor verdadeiro, o amor impossível, o amor traído, os amantes assassinados... e eu até usei o clássico romance de adolescentes de Sheakspeare e tbm a Rainha Inês morta pra ilustrar... o verdadeiro amor patriarcal não tem nada de felicidade, é só sofrimento e resignação... A Margarida até diz num romance que as pessoas que se amam estão sempre em relações diferentes, fazem par com outras, que amam outras pessoas em outros pares,etc... acho que é Não Existe Coincidência... rs... (ok, eu li alguns livros dela: ré confessa...rs... ps: eu leio de tudo... e até gosto de música pimba tbm... eu sei que é ridículo, mas eu tbm sou meio assim...)