O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, julho 02, 2008

A DAMA E O CAVALEIRO...


" Eu vejo esse culto à mulher pelos cavaleiros, como na verdade o culto ao feminino que a mulher de carne e osso espelha. Embora a mulher fosse considerada, não era uma mulher que estava sendo amada e sim a projecção do feminino que os homens tem dentro de si. Eles se apaixonavam pelas mulheres, não as amavam. Parece-me, assim que a mulher de carne e osso não basta ao homem, não merece ser amada como é, como um ser com qualidades e defeitos, tem de ser idealizada para que o homem a ame. E depois que o tempo arrefece a paixão, lá vai o homem à procura de outro objeto que assuma seu ideal de beleza, pureza ou sei lá o que que eles estavam procurando encarnar na mulher. Não sei se me fiz entender."


Podia ser como você interpreta...à partida e à superfície poderia ser assim, mas eu estou em crer que não é apenas isso...Nós estamos a pensar à luz (das trevas) do catolicismo e o que ele fez com as mulheres…Aqui, ao contrário dos católicos, não se trata do que o homem projecta ou idealiza a mulher nos nossos dias. É algo que está muito acima do bem e do mal ou do que você diz as qualidades e defeitos da mulher vista pelo patriarcado…Tratava-se, sinto, do reconhecimento da Mulher-Deusa, da sua essência e princípio quando ele ainda estava activo ou presente na sua memória e que se foi adulterando ao longo da história dos homens pois só na divisão ou separação da mulher em duas, a pura e a pecadora é que essa atitude (embuste) se conjuga, pois o que os Cátaros tinham era a noção da Mulher em si, "superior", completa e sublime, embora muito semelhante ao que acontece no Tantra a relação sublimada e sublime como superior, não pela castidade ou renúncia do sexo, mas pela fusão das almas e das energias mais do que só dos corpos. Não é negar o corpo ou o sexo da mulher, mas elevá-lo também, é ir mais além do prazer. É procurar o êxtase! Eles eram dualistas sim mas encaravam de modo diferente a Mulher. Respeitavam-na e enalteciam-na na vida e não a dividiram como os católicos uma no altar e outra no bordel. Não se trata da não aceitação do corpo da mulher como "impuro" ideia que os católicos (e islâmicos) professam e que está na origem da cisão da mulher, mas a transcendência dos sentidos como algo de supremo a atingir tanto no homem como na mulher e através justamente do poder interior da mulher, a DAMA que consola e ilumina e dá o sentido à busca do Graal...ou seja do feminino perdido…
Os Cavaleiros e os Cátaros eram poetas do feminino e da palavra mágica…
Isso é o Minne para mim e sempre tive uma intuição muito forte disso mesmo como mulher…Os cátaros eram Fiéis d' Amor e nada tinham a ver com os fanáticos católico e o Império de Roma que é a antítese do Amor (leia a palavra ao contrário - dá Roma)... Por isso eles foram perseguidos e dizimados pelo Vaticano que não só os mataram como queimaram todas as suas obras de uma riqueza incalculável…
RLP

2 comentários:

josaphat disse...

Não sei se coincidência simples, mas caiu-me à mão, ontem, o livro "Os cátaros e a heresia católica", de um autor, que me parece, aqui do Brasil, Herminio C. Miranda. Não o li ainda, mas chamou-me a atenção o assunto e a sua abordagem, colocando a igreja como a verdadeira herege no conflito havido, e que levou ao genocídio desse povo tão extraordinário quanto, por quase todos, desconhecido.
Para mim, é um sinal de que me encontro sintonizado com teus pensamentos, Rosa, o que, para mim, é motivo de alegria.
Abraços.

Anónimo disse...

tAMBÉM FIQUEI CONTENTE COM ESSA COINCIDÊNCIA...nada é por acaso...
a mim também sempre me impressionou este facto histórico tão distorcido pela ambição clerical que nunca se importou em destruir tudo o que lhe fez frente ou foi diferente na questão da fé...vou em setembro ao país catáro visitar esses lugares numa viagem iniciática.
tenho uma profunda memória desses lugares e tempos... onde vivi certamente...
e em que fui cavaleiro ou trovador...???

um abraço fraterno

rosa leonor