O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, dezembro 14, 2008

MAGNA MATER - TEXTO DE APRESENTAÇÃO


BREVE HISTÓRIA DAS MULHERES...


O impulso que me fez aceder estar aqui hoje para falar de um livro cuja autora não conhecia foi sem dúvida este magnífico título de Magna Mater. Só o título do livro seria razão suficiente para eu aceder a falar sem mais preâmbulos…mas digamos que apareceram outros sinais. Como o dia 13 que para mim é muito especial. E ao ter o livro na mão senti-lo já como um pronuncio de coisa boa, mais do que palavras …algo me disse que sim, que o fizesse.
Depois, ao ler frases e poemas soltos, abrindo as páginas ao acaso, vi que não me enganei…a minha intuição estava certa. Era no entanto complicado depois de ter recusado dizer poemas de um outro poeta que lançou o seu livro no sábado passado. Mas este era um título que apelava para mim e para as minhas raízes, e mais do que a minha inibição normal, venceu a afinidade com a escrita da autora. De algum modo posso dizer que reconheci esta escrita também como uma face minha e que a autora agora aqui ao meu lado, dava asas.

É banal ter a sensação de reconhecer alguém…mas à medida que ia lendo o livro, sempre ao acaso, obviamente que eu re-conhecia esta alma que se desvelava um pouco na ponta do véu que levantava em cada frase, em cada poema, e vi assim aparecer uma face oculta da mulher, a face de si que dificilmente a mulher aceita ou deixa identificar nos nossos dias na escrita e menos ainda na vida…
E isso deu-me esperança…porque se a mulher moderna esqueceu a Deusa Mãe… esta escrita evocava-a de novo…
Eu não podia perder esta oportunidade. Éramos de certo almas conhecidas de outra vida. Em algum momento perdido da nossa memória já devíamos ter caminhado juntas na senda da Grande Mãe!
Sim tinha de haver uma memória em comum. E nas palavras portadoras dessa memória, havia muito mais do que o aflorar de mitos e lendas celtas, e que desvelam um passado olvidado, de propósito, para derrubar a Deusa e a Mulher.

A Magna Mater fora apagada há muito da História do Homem. Porque assim o deliberaram os patriarcas. Também eles deliberaram sobre o Oráculo e a Serpente, a guardiã da Terra, roubando a voz do Útero à mulher. Falo da serpente porque ela era a detentora do Oráculo de Delfos. E esse é um marco na queda da Deusa-Mãe…
Não contentes com isso, lançaram a anátema entre as mulheres e a serpente, símbolo da Deusa.
Disseram-nos há milhares de anos e está escrito nos seus livros: “calcarás a sua cabeça aos teus pés e ela morderá o teu calcanhar”…e as mulheres com medo obedeceram. E foi assim que as mulheres se calaram. E ao calarem-se esqueceram-se de si próprias e do sagrado que era dar à luz e também se esqueceram que as suas palavras podiam iluminar o homem, tanto, como o seu amor de mães tinha poder como mulheres e amantes. …

E assim continuaram a fazer a sua história os patriarcas, impondo o seu Deus único, ao mesmo tempo que iam transformando as sacerdotisas em feiticeiras más, depois, transformaram as simples curandeiras e videntes, as parteiras que socorriam na dor outras mulheres, em “bruxas”, perseguindo-as até à morte.
E assim continuou durante muito, muito tempo.
E durante milhares de anos a mulher foi considerada fraca, louca ou histérica… Sim, hoje ainda… “Ao longo da Roda da Lua, o caminho da mulher pode tornar-se uma estonteante e tempestuosa corda bamba. Experiencias desconfortáveis podem leva-la a loucura.” Diz a autora…

Assim tem sido de facto até hoje o nosso mundo, mas mais grave, com as mulheres viradas umas contra as outras, porque esquecerem completamente quem eram na origem.
As mulheres esqueceram que foram rainhas, sacerdotisas e curandeiras.
Toda a raça de mulheres, que eram outrora as guardiãs de uma Terra equilibrada e justa, fora esquecida e apagada da face da Terra para poder imperar a guerra e a violência dos sacerdotes guerreiros. Os padres do deserto venceram as sacerdotisas da Mãe…destruíram os seus templos e altares…prostituíram-nas pela força, e os oráculos passaram a ser engendrados, não no Ventre da Terra e pela Mulher, mas da boca para fora para vencer batalhas e ganhar impérios…
Mas eis que as mulheres acordam do seu sono milenar, já não pelo beijo mentiroso do príncipe encantado, ou do seu herói, Teseu, o cobarde herói que abandona Ariana depois de ela o ajudar a atravessar o Labirinto. Ou talvez tivesse vindo mesmo a calhar…
Ariana perdida ou desesperada pela sua traição, voltou-se para o fundo de si mesma, e acordou de novo em si as vozes das deusas, das videntes e bruxas, das ninfas e sereias…Regressou aos Bosques e às Florestas encantadas, aos animais dóceis e amigos que a esperavam para lhe revelar o seu Mistério. E nesse eco, as mulheres, a pouco e pouco, de novo, começam a revelar no canto e na poesia essa voz antiga e a refazer a sua história. Surgem as antigas vozes, e as velhas mulheres de antes que agora acordam em nós podem-se ligar à poderosa raiz que é o Magma da Terra, que á a Matriz do Mundo, a Magna Mater.
E como diz ainda a autora:

“A estrada da mulher, ao contrário da do homem é circular. Em essência, ela é um ser do Outro Mundo, devendo lá voltar de vez em quando para se rejuvenescer e obter sabedoria feminina”

E mais do que uma memória é essa sabedoria feminina que acorda e é o nosso presente e a certeza de que o futuro pertence a essa Voz do Útero. A essa voz que era o Oráculo e que vaticinava sobre a vida e a morte e para lá dos conflitos de guerra, porque a mulher era e é a mediadora entre o terra e o céu e quem concebe e acolhe as almas neste Planeta abençoado. Ela quer viver de novo em paz. Porque as mulheres querem viver num mundo onde as armas deixem de ser fabricadas e onde o ódio não impere…mas sim o amor verdadeiro, o que cuida e distribui os frutos da terra mãe a todos os que têm fome.

E como a autora nos diz na sua Epifania:

“Olho para mim e vejo apenas amor.
Não imagino para habitação do corpo
Outra consciência
Senão a das coisas que são fontes”…

(…)

Sim, a consciência do amor leva-a de novo à sua estrada…a uma loucura que já não é demência nem dor, mas clarividência e sabedoria… ela assume-se mulher porque agora ela sabe qual é a diferença, ela sabe que sabe e que isso é inato nela, porque ela foi beber à sua própria fonte.
Por tudo isto, ler este livro foi um alívio, um enorme alívio por sentir que outras mulheres acordam para si mesmas e para a Deusa dentro de si…e que a sua voz, a verdadeira voz da mulher se fará de novo ouvir.

Aos poucos as mulheres recomeçam a cantar esses cânticos e a curar as suas feridas, a curar as plantas, as árvores, a salvar os animais das atrocidades dos homens, as crianças da sua violência, as mulheres dos seus abusos e todos os seres humanos necessitados. E principalmente a dar força às suas irmãs. Não já como inimigas, mas como partes de si mesmas e unidas.

Neste livro está dito o essencial, e por isso esse “Outro Mundo” está agora mais perto e mais presente. Leiam-no como quem ouve música, no silêncio. Ela vai entrar directamente no vosso coração. E é aí, no nosso coração, que renasce a esperança de um Mundo mais pacífico, mais feminino, mas equilibrado…


rlp

3 comentários:

Anónimo disse...

Rosa,me encantei com o teu comentário,este livro deve ser realmente fascinante.Despertou em mim um grande desejo de ter logo acesso a essa leitura.
Encontrei ontem uma linda história e copiei no meu blog
http://wwwjaneladaalma.blogspot.com/2008/12/deusa-em-cada-mulher.html

Acho que completa a tua postagem sobre o Magna Mater
abraços

Ná M. disse...

Lindo !!! ...
░♥░ (¯`:´¯)░
♥░.(¯ `•.\|/.•´¯)
░ (¯ `•.(...•´ =¯)♥
░ ░(_.•´/|\`•._)
♥░ ░ ::(_.:._)♥ ♥

Vânia disse...

fiquei curiosa. quero ler esse também!