O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, fevereiro 17, 2009

O MASCULINO E O FEMININO


“No Quinto Império haverá a reunião das duas forças separadas há muito, mas de há muito aproximando-se: o lado esquerdo da sabedoria – ou seja a ciência, o raciocínio, a especulação intelectual; e o seu lado direito – ou seja o conhecimento oculto, a intuição, a especulação mística e cabalística.”

Fernando Pessoa (copiado de Templários na formação de Portugal)

O que eu me pergunto e algo perplexa é como tantos humanistas, poetas e homens sábios, de entre eles tão poucos ou mesmo nenhum se tenha lembrado da correspondência dos sexos quanto a esses dois lados do ser e em como o homem, à partida, representa apenas um lado, o lado racional e a mulher o intuitivo e emocional.
Não esquecendo, como diz Dion Fortune: “A individualidade é bilateral, positiva e negativa; tem uma fase dinâmica e outra estática, e é, portanto, masculina e feminina, ou feminina e masculina de acordo coma relação existente entre “força” e “forma” em sua estrutura. A personalidade, porém, é unilateral e tem um sexo definido."
(…)
E diz ainda: “que a masculinidade e a feminilidade são sempre relativos nos planos internos, e tal como o vigor físico dos indivíduos que formam um par oscila num sentido ou noutro, o mesmo se pode dar com a sexualidade; assim, um homem pode ser puramente masculino em suas relações com uma mulher e puramente feminino, ou negativo, em suas relações com outra. A forma determina o sexo do indivíduo no mundo físico, porém a força relativa é a que determina nos planos internos; e este facto serve de chave para muita coisa”.
Independentemente desta visão esotérica da ambivalência sexual do ser humano, só a um nível da estrutura do par, eu não entendo como é que eles não compreenderam ou ainda não enxergaram, que o facto da mulher se manter ignorada e ignorante do seu papel na sua dimensão ontológica, na manifestação dos princípios, não pode expressar nem dar corpo à sua parte integrante se os homens continuam a desrespeitá-la e a depreciá-la como o fizeram os doutores da igreja, os filósofos e até os poetas que não elegem a Deusa e a musa como fonte de inspiração. E que não há verdadeira Mística sem a Mulher e a Rainha tal como é dito e apresentado na obra alquímica, como não há espiritualidade sem a mulher integrada!
Eu pergunto-me como é que tantos autores de renome e de valor subestimaram ou nem se lembraram que a mulher ao ser minimizada e a sua natureza dividida mantendo-se cativa dos preconceitos religiosos seculares que se reflectem nos nossos dias em sentimentos bastante vastos e empedernidos de misoginia, do qual nem sei se Fernando Pessoa também não padecia…
Quase todos os escritores, historiadores, antropólogos, psicanalistas e cientistas em geral padeceram deste mal ao ponto dos antropólogos julgarem que as deusas de Willendorf, encontradas nas suas escavações e outras estatuetas de deusas, encontradas ás centenas, representantes do princípio feminino e maternal, símbolos de fecundação e do sagrado tal como era vivido e encarada a Deusa Mãe na antiguidade, serem para eles meros objectos eróticos à imagem do que hoje se fará com as mulheres na pornografia e na publicidade. Aí se percebe a mente tacanha do Homem em relação à mulher e se não fossem as antropólogas feministas dos meados do século XX tudo continuaria na mesma! Também algumas psicanalistas abordaram aquestão, como Marie-Louize Von Fraz np seu livro Alquimia que diz:

“ A experiencia da anima para o homem e do animus para a mulher está de facto, inteiramente fora de uma experiência real com um parceiro humano. A extensão em que o parceiro humano desempenha um papel – apenas como uma imagem longínqua ou como uma conexão genuína – varia de caso para caso, mas essa experiência é a suprema experiência, que culmina na experiência de Si – mesmo.
(…)
A Igreja não encorajou esse género de literatura mística e religiosa, que, portanto, afectou profundamente a literatura semi-religiosa dos romances medievais, sobretudo a poesia do ciclo do Santo Graal e as suas lendas.”

- Precisamente por causa desta sua atitude a igreja provocou o afastamento da mulher, que por isso mesmo, com o passar do tempo, deixou de ser a musa inspiradora dos poetas e a Dama para os cavaleiros. Não só a mulher foi privada da sua essência como também toda a humanidade se perdeu da sua matriz. Nessa medida temos o homem isolado, rejeitando o seu próprio feminino.
E eu pergunto estupefacta, como é que ainda hoje os homens não vêem que essa separação da mulher e a sua cisão em duas no ocidente (sexualidade por um lado e maternidade por outro) priva a mulher da sua totalidade e idoneidade como pessoa e que ao privá-la da sua sexualidade sagrada e capacidade mediúnica, a mulher tornou-se um ser amorfo e subalterno, obediente ao homem sem discernimento próprio e sem capacidade sequer para ser mãe nem amante.

Perante tantos autores consagrados reparo que nenhum dos autores e as suas mais prementes questões de ordem metafísica se debruçam sobre o que deveria ser o papel da mulher na vida do homem e da história - partindo do princípio de que a mulher é apenas o que eles quiseram que fosse e está muito bem assim na sua ocultação religiosa, ignorada e silenciosa - e consequentemente deveriam elevar a mulher à sua condição integral e dar-lhe o seu lugar no mundo para que efectivamente ela seja o contributo da parte de inteligência emocional e vibratória que falta ao homem e à Humanidade.
Sim, eu pergunto como é que os homens, salvo raras excepções, nunca lhes tenha passado pela cabeça que sem a Mulher autêntica, a Mulher Integral, a Mulher Iniciada, a sacerdotisa dos templos da antiguidade, a que os padres cristãos destronaram para lhes ocupar os lugares e vestir as vestes, não podem chegar a nenhum lado?
Com excepção penso dos tântricos e dos yoguis hindus não sei se mais alguma cosmogonia presta o devido culto e respeito à Deusa e à Mulher na sua função primordial. A Shakti…a Dakini, as Golpis…
Sim, tirando o Egipto, a Índia, o Tantra Yoga e o Gnosticismo raras são as visões da espiritualidade e da Realização do Ser que considerem a Mulher e a Deusa como essencial.
Será que não é tempo dos homens e mulheres se aperceberem deste clamoroso erro histórico, filosófico e religioso e começarem a atribuir ao Feminino por excelência o seu papel e ver que esta é a peça que lhes falta?

rlp

2 comentários:

Anónimo disse...

pena que não poderei mais postar pos estou com dificulçdades financeiras sem dinheiro so não quero ser esquecida eu sei uqe sempre fui uma pessoa assim vou e volto quando quero ou da

beijos aqui da estação do coração

Gaia

Anónimo disse...

Não vai ser esquecida e vai voltar quando a deusa quiser. Apele à nossa mãe gaia...eu sei que você vai voltar sempre.
eu espero por si...

com toda a ternura

rleonor