O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, maio 12, 2009

Se calhar, eu não sou humana...

(...)
"Gosto da Feira do Livro. Gosto de estar horas sentado assinando exemplares de pessoas que chegam com um recado, em geral discreto. Gosto de levantar os olhos e ver as pessoas circulando entre os pavilhões, talvez procurando o ser humano que os livros levam dentro. Gosto do calor da primeira parte da tarde e da frescura que virá depois, sinto que certo lirismo me percorre o corpo, em mim que não sou lírico, mas sentimental. E penso que os livros são bons para a saúde, e também para o espírito, e que nos levam a ser poetas ou a ser cientistas, a entender de estrelas ou encontrá-las no interior da vontade de certas personagens, essas que às vezes, algumas tardes, se escapam das páginas e vão passear entre os humanos, talvez mais humanas elas.
Sinto muito não poder estar este ano em Lisboa, na Feira do Livro. "
IN DN JOSÉ SARAMAGO
*
...Gostei, apesar do contraste comigo, deste texto de Saramago sobre a Feira do Livros de Lisboa, é um texto de um verdadeiro escritor. Mas eu não gostei nada da feira do livro…não por decepção ou frustração de não ser Saramago e não ter as multidões a vir pedir o meu autógrafo…eu não sou um prémio Nobel nem me sinto sequer “escritora”…sim, é verdade que não me colo a essa definição do que sou porque eu sei que o que sou não tem nada a ver com o que eu escrevo ou com o meu ego…
Isto é complicado para quem me lê…mas o que eu quero dizer é que eu não sou o que penso nem o que digo ou escrevo. Sim, gosto de escrever e gosto de dizer, gosto imenso de livros, isso sim, mas não gosto de feiras…Porque a feira não é senão uma feira, uma amostra, uma exibição comercial e pouco poética ou pouco estética de qualquer conteúdo…senti os vendilhões do templo como em qualquer sítio hoje e nada mais. Senti os vendedores iguais a merceeiros a pensar no dinheiro…
Cheguei até cedo à feira no domingo…desci devagar a alameda do Parque cheia de expositores, alguns fechados, mas não senti nada…olhei e peguei em alguns livros, mas nenhum me tocou…ainda hesitei com um livro na mãos sobre o Graal do Julius Evola…mas não consegui comprar. Não sei porque estava tão pouco entusiasmada com a ideia de ficar ali sentada à espera não sei de quê… A feira estava ainda vazia e a perspectiva de ficar ali sentada ao ar livre à espera que alguém aparecesse para comprar e assinar o meu livro…o meu livro anónimo entre tantos outros sem qualquer destaque ou referência, eu uma desconhecida (não famosa) cujo livro não é lido porque o seu público não existe. Não existem mulheres e deusas…só mulheres que não são ainda mulheres. Nem deusas…
Sim, mas “qual Deusas qual carapuça”?
Tenho a certeza de que ninguém viria pelo livro ou por mim…mas mesmo assim liguei para as poucas pessoas que pensei poderiam vir em vão. Liguei para avisar que afinal não havia nada e para mim calhou bem, fui poupada a uma seca, digo a uma chuvada anunciada, mas sobretudo a uma exposição inútil e árida como se estivesse no deserto…não, não vi nem senti nenhum Oásis nem tinha qualquer ilusão de encontro com as minhas leitoras porque não as tenho…Porquê? Porque não escrevo sobre homens ricos e princesas ou rainhas, não escrevo sobre sexo ou dinheiro... enredos e traições....conquistas e justiças sociais...
O que escrevo pode soar a decepção pessoal de não ser reconhecida ou ter público, mas não tenho qualquer problema com o facto pois sei que não sou ninguém da praça e não me importo nada com isso porque não se pode ser consciente de si e ser “escritora” de sucesso ao mesmo tempo…Para eu ser escritora neste mundo tinha que renunciar a mim, digo, tinha de ser eu sem mim…A não ser que eu fosse uma grande poetisa…o que também não sou, de outro modo tinha de alimentar bem o meu ego, esta ilusão de ser diferente entre milhões de seres humanos…e acreditar em histórias, na minha história, achá-la importante e contá-la como se a vida fosse uma sucessão de histórias e acontecimentos o que para mim não é verdade! Tinha de alimentar toda esta Feira de Vaidades que são os palcos da sociedade consumista. Mas nisto “as deusas” ou as parcas, ajudaram-me porque não posso compactuar em nada com esta sociedade porque eu não pertenço há muito a este mundo de mentiras, nem às suas feiras ou ecrãs onde tudo é criado para iludir e enganar as pessoas. Onde tudo é afirmação egóica e vaidade.
Mas eu continuo a escrever aqui…radical, sim, mas sem mentiras, nem ilusões de que isto serve para alguma coisa!

rlp

8 comentários:

NEANDERTHAL SABE DO QUE DIZ disse...

era um compromisso com a editora.não devemos quebrar compromissos!

Anónimo disse...

era sim senhor...foi por isso que acedi, mas também tinha alguma lembrança de um mito da feira...das ilusões!
coisas de jovem quando sonhava ser escritora.
e tem razão nunca se deve quebrar os compromissos...nem trair a nossa palavra. Isso molda os verdadeiros carácteres...
obrigada pela sua sensatez...e carácter!
rleonor

Anónimo disse...

Ando meio morna quanto água mas continua a busca,afinal como vc mesma escreveu
Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa. "GANDHI
E como Neanderthal sbiamente disse devemos honrar nossos compromissos,e para mim principlamente aqueles que assumimos para com a nossa alma nosso coração,ao contrario do que pode parecer não sou assim tão radicalista,so escrevo na alta sacerdotisa para falar de coisas que sinto ou que vivo ou daquelo que me fala a alma ao coração,mas eu sei que meu trabalho não carrega importancia alguma...afinal meus visitanes e "seguidores"são poucos apenas uma meio duzia de gatos pingados,mas uma ver ao ver essa meia duzia me vem um cansaço mas uma vontade de continuar,por algum motivo estranho sou jovem mas sinto minha alma sempe velha,remexida em segredos...creio que não é toda a mulher que esta pronta ou apta para encarar a sombra....isto não quer dizr que eu ja não a tenha vislumbrado,sim ja a vi milhares de vezes em momentos decisivos...o que acontece é que para a as mulheres ,mesmo as exotericas ou mais instruidas,é amis facil e sem duvida mais agradavel estar alienada...quando digo agradavel não digo prazeroso,digo apenas que é mais estavel....sentir a Deusa é ago imprtante para mim,mas não me importo quanto a nomenclatura...so me importo com o meu coração,muitas vezes ferido de veras mais ainda com desejo com atama com força de vida,com raros e nostalgicos momentos de prazer

Gaia Lil

NEANDERTHAL disse...

Meu carácter perdi-o numa feira medieval. hoje sou apenas o bobo da corte!

Anónimo disse...

de qualquer modo o prazer é necessario não é mesmo?

Gaia Lil

Anónimo disse...

de qualquer modo o prazer é necessario não é mesmo?

Gaia Lil

Ariadne Castro disse...

Olá :). Mais cedo ou mais tarde há aparecem os leitores. Eu cheguei agora, sou mais uma. Há sempre quem leia, nos entretantos, escreve-se porque sim. Também gostava de ter mais leitores mas se ficar a pensar nisso distraio-me do que devo realmente fazer, que é escrever e continuar a produzir os frutos das minhas artes. Ânimo, minha cara ;) nem que tivesse somente um leitor, já valeria a pena. As palavras são como sementes. Quando são de boa qualidade, germinam - por muito tempo que demorem a chegar a terra fértil.

Ariadne

Anónimo disse...

É... o fio de Ariadne...seguí-lo não é fácil. Mas fico contente por você aparecer e já fui ao castelo de Asgard...Apetece-me lá voltar e visitar os recantos.

tem razão , é assim, na maior parte das vezes não penso nisso e deixo correr porque é como você diz, nem que seja por um só leitor, já aconteceu continuar por ele ou Ela. Mas nem me posso queixar afinal de contas. Há muitas/os leitores anónimos que por aqui passam e não deixam rasto...umas vezes são 500 outra até mil...espero que não passem em vão!
um abraço e muito prazer também. Gostei do seu blog...

rleonor