O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, maio 27, 2009

Poetas intemporais...


"No alto do ramo mais alto, uma tão rosa maçã. Mulher.
Esqueceram-na os apanhadores de frutas? Não.
Mãos não tiveram para a colher..."
Safo
*
" E eis que o meu mal me domina. Sou ainda a cruel rainha dos medas e dos persas e sou também uma lenta evolução que se lança como ponte levadiça a um futuro cujas névoas leitosas já respiro. Minha aura é de mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de meu nome, e então sou o mundo. Sigo a voz do mundo com voz única."
(...)
"Estou triste. Um mal estar que vem do êxtase não caber na vida dos dias. Ao êxtase devia seguir o dormir para atenuar a vibração de cristal ecoante. O êxtase tem de ser esquecido.

"Os dias. Fiquei triste por causa desta luz diurna de aço em que vivo. Respiro o odor de aço no mundo dos objectos."

EM ÁGUA VIVA -Clarisse Lispector
*
Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir pelo que contêm de subtil e de infiltrado, se são da alma ou do corpo, se são o mal-estar de se estar sentido a futilidade da vida, se são a má disposição que vem de qualquer abismo orgânico - estômago, fígado ou cérebro. Quantas vezes se me tolda a consciência vulgar de mim mesmo, num sedimento turvo de estagnação inquieta! Quantas vezes me dói existir, numa náusea a tal ponto incerta que não sei distinguir se é tédio, se um prenúncio de vómito! Quantas vezes...

FERNANDO PESSOA - O LIVRO DO DESASSOSSEGO

4 comentários:

Nana Odara disse...

Tbm eu ando com esse gosto de cabo de guarda-chuva na lingua...
nem saliva do asco...
me sinto as vezes a imbecil plumada presa na gaiola com finos e quase imperceptíveis fios de nylon, de onde comigo brincam aos fantoches, contra a minha vontade, e eu não gosto de perceber isso...
as vezes sinto só o mormaço das tardes atravessando o deserto de um tempo em desalinho...

Anónimo disse...

Nana, Rosa, isto é depressão. Tem remédio mas no meu caso se cronificou... Ainda bem que vocês aproveitaram para exprimir de forma poética e assim, deixar os outros que também sentem ler em palavras o que tem, ajuda-nos a entender. Beijinhos!

Xaxeila

Nana Odara disse...

Nesse caso, a minha depressão é do tipo indecisa... vai e volta, pensa, desiste... kkkkkkkkkkkkk...
ou então eu sou bipolar tbm...
ah, masoquista eu não sou!!!

a
mas estou amando a possibilidade de me tornar uma mulher selvagem...
preguiçosa, e selvagem...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

rosaleonor disse...

Depressão é natural, não é nenhum mal...é uma fase de desestruturação do ser a vários níveis...é ir ao fundo de si e se não tivermos medo e formos ao fundo com confiança o mesmo que nos empurra para baixo, elev-nos para cima...e assim é a vida enquanto não atingirmos o centro...


um abraço grande para as duas

rleonor