O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 04, 2009

PARA NANA ODARA


A MULHER INTEIRA

O que aconteceu consigo é uma espécie de catarse delirante em consequência da luta que você trava inconscientemente entre os conceitos que a dominam do que para si é a santa e a puta. Essa sua luta interior de conflito entre esses dois extremos opostos da natureza dividida da Mulher é a luta de toda a mulher quer ela disso tenha consciência ou não…você escreve e ousa libertar-se…ousa dizer o impensável, o que as outras mulheres não dizem ou aquilo que a sociedade sufocou na mulher e então solta a sua “Pomba Gira” ou ela (essa força interior atávica, a velha bruxa ou xamã, a “mãe de santo”…ou o que seja a alma que a sacode de dentro) e vem em seu socorro para a libertar desse sufoco; mas ela afinal só traz a carga dos mesmos conceitos em turbilhão e não a liberta de nada…apela não à sexualidade sagrada mas à sexualidade desregrada e vai dar ao mesmo…Não se trata de ser ou não ser a santa ou a puta…não se trata de uma luta entre as duas. Se nega a santa com tanta raiva e elege a puta como a verdadeira mulher o que é que está a fazer senão a alimentar os diferentes conceitos e a separação das duas?
Você ainda não percebeu nada desta história e por isso continua a lutar com os conceitos dentro de si e da sua mente que a aprisionam…a mulher integrada aproxima-se da mulher que você intui e quer libertar, mas você ainda está presa na dualidade e o que diz é resultado dessa confusão.

Não há duas mulheres de facto. Há uma mulher a quem separaram da sua sexualidade e a “outra” (que é a mesma) da sua maternidade…e deu-se um corpo imaginário a cada uma delas…a mãe santa e casta e a mulher fatal ou orgástica. A sociedade viveu séculos dessa divisão. É claro que agora você escolheu a última, fazendo a apologia da puta dizendo-a sagrada…
Mas quando eu falo em unir as duas partes da mulher assim divididas não é sendo uma ou outra ou as duas à vez, numa mistura explosiva e bizarra em que ela se transforma num misto de desregramento e sacralidade (o que é tornar a ideia de puta em santa, eleita, a melhor das duas, quando isso são só conceitos, não importa de que lado esteja) e elas continuam inconciliáveis dentro de si e daquilo que são os conceitos e padrões ocidentais e católicos dos termos…e você cai no mesmo erro patriarcal…cai no jugo ou no jogo viciado da matriz de controlo.
Para mim não se trata de nada disso…a mulher não precisa mudar de conceitos sobre si mesma e dar preferência à outra parte de si!, mas ter a experiência real da liberdade sexual como iniciada ou da verdadeira sexualidade que começa no amor transcendental, na revelação do amor puro, mas puro porque total, de iniciação e consagração na fusão do corpo e da alma dos dois parceiros sejam eles quais forem…

O amor espiritual que está acima da dualidade bem e mal. Por espiritual quero dizer vibrante e transcendente, acima dos conceitos e da mente, da religião e do dogma; falo de união íntima e interior com a energia vital atómica e ser transportada a um plano diferente de consciência! Falo da sexualidade sagrada que eleva ao êxtase e à fusão e não da funcional que é “tesão” e rebaixa e perverte o ser humano em animal apenas. Isso foi o que aconteceu com a cisão da mulher em duas…foi por isso que a dividiram os patriarcas, para que a mulher deles não tivessem acesso ao prazer e a esse lado dela mesma que é magnetismo, transcendência e vidência. Escreveram os seus livros de leis para denegrir a mulher E INFERIORIZAR O SER HUMANO FACE A DEUS…Fizeram-no por imposição dos falsos “deuses” e “profetas” para que os seres humanos não acedessem a outras dimensões.

Às mulheres ocidentais tornaram-nas frígidas, as casadas - só permitindo o sexo “livre” (para os homens) com prostitutas - e em muitas partes do mundo praticam ainda a excisão (cortam-lhes o clítoris e ainda torturam mulheres em nome de deus, os muçulmanos….) para não terem sequer qualquer prazer…Hoje ainda milhares de mulheres são mutiladas em África…

Porquê tanto medo da mulher e do prazer? Porque a sexualidade verdadeira pode catapultar o ser humano para outros planos de consciência e omnisciência. A sexualidade sem uma consciência elevada não serve nenhum propósito senão a criação de seres inconscientes, de baixa vibração.
_ Também lhe podia dizer que o meu santo desceu…mas não digo…sou eu que sinto. E assumo o que digo.

Você não percebeu ainda que tem de sair do contexto do sistema e da 3ª dimensão e viver à parte ou acima a sua própria experiência renovada, como iniciada e não em luta com o sistema ou o patriarcado como você faz, como eu faço tantas vezes e sinto que desço, embora não exalte nada, afirmando-se pelo lado do “pecado” (para eles será sempre pecado!) ou exultando e exaltando o sexo como “santificado”… (e para eles você será sempre diabólica). No fim você está só a tentar mudar os conceitos, a inverte-los… Quer que a puta seja a santa…e a santa a puta, mas como elas não existem separadas você só inverte o valor dos termos, sem atingir o âmago da questão e do SER MULHER: você inclusive acha que eu defendo a castidade ou a abstinência sexual para a mulher séria…mas está enganada. Eu apenas já sou velha, menina!

A mulher liberta e total, não é mais a puta nem a santa, é uma mulher inteira e diferente; talvez seja isso a maturidade, mas é também Consciência e ela já não luta com esses dois lados de si mesma, ela integrou a sombra e agora a luz inundou os dois lados…Ela integrou-os e isso quer dizer que as duas mulheres se encontram no centro de si mesmas, bem no centro e unidas e sem separabilidade e a sua sexualidade é vivida aí como revelação e amor puro, êxtase…não porque é casto (e os conceitos católicos estão sempre a aparecer e a reduzir o entendimento) mas também já não é desregrado e descontrolado porque se tornou sublime e sensual, é fogo e água, dor e êxtase… vida e morte porque é carne e alma e espírito, não medo nem pecado nem castidade…nem o seu contrário!

Da minha “deusa” para sua “pomba gira”…com amor!
rlp

6 comentários:

Nana Odara disse...

É, pra mim foi intenso... exaustivo...

mas deixa isso p deusas e pomba giras pq eu sou apenas humana...


mas agora to cansada demais pra qqr conversa...

rosaleonor disse...

O que viveu foi uma catarse de facto. um excesso de emoções reprimidas e contrariadas em conflito que explodiram como se fosse outra pessoas dentro de si mesma. Agora descanse e depois vai compreender melhor.
Além disso pense que está a fazer o luto de uma separação ou o fim de uma relação... o sair de uma relação intensa não é fácil e sacode uma pessoa. pense nisso, mas agora descanse mesmo. nõa pense!

abraço fraterno

rleonor

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

O Despertar da Deusa

A Planeta na Web entrevistou May East em uma de suas curtas passagens por São Paulo. Ela falou da Fundação Findhorn e explicou porque o resgate do feminino é tão importante para o futuro do planeta


Planeta na web - Como você traz esses ensinamentos do eco-feminismo para o Brasil?

May - A reconsagração do ventre, por exemplo, que é um dos trabalhos que faço aqui, é de profunda intimidade da mulher consigo mesmo, de resgate da sua conexão com seu ventre, seu cálice de luz, seu centro de gravidade -- mas ao mesmo tempo é um trabalho profundamente politizado. Historicamente há as feministas políticas, que representam o yang do yin dos anos 50 e 60, que queimavam sutiã em praça publica, Depois temos essas mulheres que vieram nutrindo a chama do que era ser mulher em sociedades secretas, muito preocupadas em serem interpretadas como mulheres quer estão fazendo bruxaria. Essas duas vertentes da reemergência do feminino do século 20 muitas vezes fluíram em oposição. As feministas políticas olhando para as mulheres do retorno da deusa dizendo "essas mulheres estão num exercício narcisista, não estão conseguindo articular esse corpo de valores na sociedade e mudá-la", e as mulheres do retorno da deusa sem poder para realmente fazer essa articulação, essa tecedura, do mistério do feminino na realidade -- nem mesmo de passar para os seus filhos homens e mulheres. Então aconteceu foi o encontro de Beijing, na China, há quatro anos. Foi um encontro histórico para a reemergência da mulher, porque lá estavam as feministas políticas e as mulheres do retorno da deusa, e elas perceberam que tinham que entrar em diálogo e começar a trocar. Foi aí que o eco-feminismo assentou na consciência das mulheres. As feministas perceberam que se continuassem com sua ação política mas ao mesmo tempo estivessem ancoradas, enraizadas nos mistérios do que é ser mulher, elas seriam mais eficientes agentes da transformação. E as mulheres do retorno da deusa perceberam que não há mais tempo mesmo de ficar relembrando o passado, nós temos que mudar o hoje pra garantir o futuro das próximas gerações. É fantástico, é um privilégio estar encarnada como mulher nesse momento e poder fazer esse resgate consigo mesma, passar para as filhas... Eu sou apaixonada pelo que eu faço.

Planeta na web - E os homens, como ficam nessa história?

May - Quando encontrei o Craig ele há muitos anos trabalhava com o movimento de homens. Percebemos nesse encontro que o mais fácil mesmo era polarizar, as mulheres ficarem celebrando o passado, inaugurando o presente e sonhando o futuro, e os homens buscando essa nova identidade do masculino. Então fomos treinados num método chamado de Reconciliação entre o Feminino e o Masculino. O crucial para a questão do masculino e do feminino é o entendimento. Existe uma série de métodos para que a gente saia da comunicação defensiva entre homem e mulher, onde só escutamos aquilo que é necessário para empilhar munição para ganhar no duelo de quem tem a verdade mais forte ou melhor articulada. Nós percebemos que, ao longo dos séculos, o que era ser mulher e ser homem era segredo dos respectivos clans, e começamos tentar explorar um novo caminho: uma vez que já resgatamos o feminino, convidar os homens a visitar, em termos simbólicos, e serem introduzidos ao que é ser mulher -- e vice-versa.

rosaleonor disse...

MUITO OBRIGADA POR ESTE TEXTO TÃO OPORTUNO!
Estou-lhe muito grata pelo seu incansável trabalho de pesquisa e partilha!
um grande e carinhoso abraço

rleonor

Anónimo disse...

Pode ser mesmo uma catarse pq sinto q mudei de pele...

E qto ao luto, já foi feito há muito tempo... eu tenho o habito de fazer o luto ainda juntos, e qdo termina fico liberada completamente... por isso eu dizia q o círculo estava se fechando...
era disso q falava...

E além do mais não foi nenhum grande amor romantico apaixonado, foi só uma amizade, q ficou proxima e frequente demais, por causa da carencia dele... nada demais assim q se tenha de fazer um luto e chorar nada disso...

nesse ponto não sou muito emotiva nao... canto pra subir rapidinho...

e nem olho pra trás...

Nana

Recuperaderrima e cheia de energia e de tesão... doida pra beijar muito na boca de todo mundo...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

rosaleonor disse...

OK. Já percebi o seu ponto de vista e já percebi que o que eu lhe digo só lhe faz maior confusão. Afinal percebi que você nunca me entendeu...e que fica mais confusa sempre que eu quero esclarecer de alguma coisa - acha que a estou a julgar? O problema são as nossas facetas da deusa diferentes entre si, pois eu sou Héstia e você é qual(deusa)? Seja Afrodite...E esqueça o que eu digo ou disse e siga a sua linha. Ninguém a impede. Já lhe disse qual era minha posição e só agora percebi bem a sua...mas não me confunda mais por favor... A minha esperança de "consciencializar" as mulheres acaba aqui!
Mulheres e deusas seguirá cada vez mais para dentro...e mais só, mais para o centro, para o mais puro sentir...esse sempre foi o meu caminho: o prazer do SER EM SI e da alma liberta de amarras.

rleonor