O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, julho 02, 2009

O ESPÍRITO, A ALMA E.. O SEXO. QUAL SEXO?


Há dias no Público:

É provável que o leitor comum sinta perplexidade face ao nome e à obra de Jan Morris, que nasceu (em 1926) James Humphrey Morris, estudou História em Oxford, frequentou a Academia Militar de Sandhurst, combateu na Segunda Guerra Mundial como oficial dos Lanceiros da Rainha, tornou-se um escritor famoso e, em 1972, mudou de sexo, continuando a viver com a mulher que lhe deu cinco filhos (um deles é o poeta e músico Twm Morys). Nesse ano, atenta a nova identidade sexual, adoptou o nome de Jan Morris. Como nota Carlos Vaz Marques no prefácio de Veneza, cuja versão actualizada foi agora traduzida, «É quase escandaloso [...] ser esta a primeira vez que o leitor tem a oportunidade de encontrar o nome de Jan Morris nas estantes das livrarias portuguesas.» De facto.

A obra é vasta: entre livros de viagem (os mais aclamados), ensaios, cinco volumes de memórias, dois romances, uma colectânea de contos, uma biografia do almirante Jackie Fisher, recolhas de artigos, etc., Morris tem publicada meia centena de títulos. Como introdução, recomendaria três: o excepcional Veneza (1960), o pungente relato autobiográfico de Conundrum (1974), e a trilogia Pax Britannica (1978), sobre as luzes e sombras do Império.

A primeira versão de Veneza foi escrita «ainda na pessoa de James Morris», o que não aconteceu nas de 1974, 1983 e 1993. Muita coisa mudou desde 1945, ano da primeira visita, quando o então jovem oficial se deixou seduzir pela «mistura de tristeza e espectacularidade» da cidade, associando o perfil dos «palácios periclitantes» a um bando de «aristocratas inválidos que se atropelam para apanhar ar fresco.» A escrita é fluente, capaz de cerzir informação prosaica com erudição histórica, sem com isso beliscar a melodia da frase.
(...)
jornal publico

Sem comentários: