O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 22, 2010

A CHAVE DO NOSSO ENIGMA...


"Lilith foi recalcada para dar lugar a Eva. Eva representa portanto a mulher vista, educada, modelada pelo homem. Eva está incompleta, falta-lhe alguma coisa: trata-se do aspecto Lilith que ela por vezes toma quando se revolta; o aspecto que Eva tomou, quando comeu a maçã; o aspecto que tomará a Virgem Maria ao dar à luz um filho que se revoltará contra o pai e imporá uma nova lei, o Evangelho (a boa nova) do Filho (e da Mãe). Assim se processa a passagem do Judaísmo (Paternalismo) ao Cristianismo primitivo (Maternalista), que será imediatamente recuperado pelas autoridades Patriarcais e desviado dos seus verdadeiros objectivos.


In La Femme Celte, Jena Markale, Petite Bibliothèque Payot

Isto que acima é dito por um historiador francês e homem muito lúcido e culto, é raramente visto e dito por qualquer espiritualista ou erudito e também não é referido por mulheres que se debrucem sobre a questão da mulher e muito menos da deusa. Estes aspectos escaparam ao entendimento de muitas estudiosas da questão religiosa, sendo este um ponto-chave da nossa cultura e o ponto de desmistificação do próprio cristianismo em relação às mulheres. Cristo por suposto vinha unir as duas mulheres que o judaismo separou e a sua evangelização foi sempre nesse sentido tendo sido totalmente desviado do seu propósito pelos patriarcas. Por essa razão e entre outras, o que os Mestres do passado ou do presente me têm para ensinar pouco me interessa enquanto não for resolvido esse sisma…Qualquer Mestre que ignore essa cisão na mulher e queira passar em branco por ela não merece o meu crédito nem me interessa…

Vejo as mulheres, as mais espiritualizadas, presas nesse cisma e nem sequer se apercebem da sua própria divisão e luta interior, à procura do amor ou da salvação sem primeiro resolver uma questão que é básica. E este é o meu ponto de discórdia com as várias espiritualidades apontadas como caminhos.

No Paganismo acontece o mesmo erro, embora o foco deixe de ser Deus para ser A Deusa, não deixa de ser tão prejudicial como a primeira…a mulher em si é branqueada… ficam as Faces de Eva e a Lilith, um mito desaparecido, uma sombra odiada…a serpente maldita que reflecte o medo das mulheres de si mesmas e a rejeição da Mãe Terra…

Às vezes dou uma volta pelos blogues que tratam da Deusa…que falam de deusas e sacerdotisas…e confesso que também fico desapontada.


Normalmente o que leio são discrições de deusas, umas quase insignificantes, outras extraordinárias, muito bem feitas, mas não menos plásticas do que as mulheres de silicone, apresentando as deusas das várias tradições ou civilizações e nunca ou raramente se foca a mulher como deusa, ou existe uma dinâmica da deusa na mulher. Não há uma indicação do trabalho que deve ser feito com a mulher primeiro…Um trabalho psicológico e iniciático, uma descida às profundezas do ser mulher, do inconsciente e das próprias células…


Por isso, quando eu falo em deusas, em mulheres e deusas, eu não falo de cultos nem de rituais, nem de mulheres boas e outras más, eu pretendo falar e mostrar os dois aspectos da mulher que devem ser activados e vivenciados e integrados HOJE, como parte de si e não como estorinhas a ilustrar uma coisa passada ou viver à sombra do nosso passado remoto nem tão pouco contentar-me com o sucesso e o trabalho das grandes mulheres da nossa sociedade de hoje!

É certo que é importante e precisamos de conhecer a nossa história, antes do cristianismo, o nosso passado verdadeiro, mas não nos contentarmos com isso, precisamos agora desmistificar o mal que a Igreja nos fez … ao nos cindir em duas metades…

Nós temos que trabalhar coma nossa realidade e connosco mesmas hoje! Nós temos que ser mulheres & deusas,


Hoje!


É hoje e não amanhã que nós nos temos de transformar em deusas…dando lugar ao nosso lado escondido, enfrentando a nossa sombra, trazendo à superfície a mulher oculta, a mulher verdadeira, aquela que nos não ensinaram a respeitar e a amar…aquela que dividiram e separaram em duas logo em criança, aquela que nos disseram que era má porque não era obediente …aquela que castraram mal começou a sentir esse outro lado que intuía, esse lado grande e mágico, porque essa é a verdadeira magia e mistérios da mulher…


O meu trabalho não é propagar coisas passadas e míticas ou estranhas e bizarras, coisas estapafúrdias de videntes e cartomante ou de grandes magas patológicas, de grandes feministas e os seus grandes feitos…sem qualquer relação com a mulher dos nossos dias, sem uma relação directa com cada mulher de hoje.


Eu não falo só de arquétipos, de representações e símbolos, de deusas da mitologia grega ou romana, os seus ciúmes e as suas raivas … falo da mulher viva e da deusa viva na mulher…da mulher comum, da mulher vulgar, de qualquer mulher! Falo de como a Igreja separou e dividiu depois as mulheres ao longo dos séculos nas imagens de Maria, a mãe, Virgem imaculada e amante, Maria Madalena a pecadora! Como dividiram a mulher entre a santa e a pecadora…essa foi a grande cisão da nossa natureza em duas…


Eu sei que esta noção da mulher ser igual à deusa é muito difícil de integrar na realidade e no nosso dia-a-dia; sei que a consciência do feminino essencial, o lado místico e interno, para poder aparecer como uma coisa natural e inerente ao facto de ser-se mulher é muito, muito, difícil; e afinal ele é apenas esse seu lado subjectivíssimo que ela não deixa aparecer como uma realidade visível, tornando-se quase impensável falar de si e como se sente, porque tem medo do ridículo e porque ainda está presa em estereótipos e recalcada até à medula e portanto as deusas não passam de teorias bonitas e imagens fantásticas fora de si e tudo o que se escreve resulta em meras teorias sobre deusas neste e naquele tempo e os seus cultos e crenças ou rituais…E até podem haver práticas e fazerem-se reuniões, haver grupos bem-intencionados, mas se a ligação das duas mulheres não se faz primeiro dentro de cada mulher e nem sequer se pensa nessa divisão inicial da Eva e da Lilit, se não se tem qualquer consciência dessa divisão em si, da necessidade de integrar a “outra” não importa que outra, isso acabará por desunir as mulheres e acabar com os grupos…porque as mulheres lutam entre si e com as suas rivais, aquelas que representam no grupo a sua sombra.


E a nossa sombra reflecte-se (in) justamente naquela que rejeitamos e tememos, não importa que nome lhe demos, por isso, temos que antes de qualquer caminho, iniciação ou ritual olhar e validar esse outro lado de nós…e se não é esse o primeiro trabalho da mulher consigo não chegaremos a nenhum lado e tudo que faremos é contar lindas histórias para nós e uma às outras. Desse modo nunca sairemos do mesmo plano em que nos colocaram os patriarcas e as religiões porque estaremos a evocar também religiões e rituais do passado e pior do que isso, eles foram deturpados por centenas de anos e não sabemos como. Se não percebermos que é dentro de nós que tem de haver a mudança e que este é o ponto essencial, o da integração das duas mulheres em nós, e que este sim, tem de ser forçosamente o ponto de partida para qualquer começo do caminho da Deusa, então não percebemos nada da Mulher nem da Deusa!


rosaleonorpedro

3 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Rosa, eu sempre prcurei variar sobre as faces da Deusa e falr da deusa na mulher mais confesso que as vezes acho que este trabalho nã interessa a ninguem.Outro dia uma dita feminista me atacou com palavras tão grosseiras que me senti desanimada e ofendida, embora tenha lhe dado uma boa resposta (sem lhe atacar)> O que acontece é que prosistema a mulher não tem alma, para que dar razão a alma da mulher que simliesmente não existe ou então é sempre medial e neutral.Os mestres rezam para maria mas se acalahr ela nunca assumiu em suas ditas profecias, o poder total da Deusa e duvido que algum dia assuma.Quanto as blogs apenas falam de deusas gregas e das diferentes versões de mulher ao molde dessas deusas, como se a mulher não passa se de um barro a ser moldado tal como no mito de pandora. Se a mulher assume os dons da Deusa ou acredita nela piamente ela é tida como louca e fantasiosa ou alienada.Se a mulher tenta levar a Deusa para a relaidade politica fala tão somente das deusas gregas ou se melhor lhes apetecer faz um resumo e mata se a alma da mulher.Outro dia vi uma intrevista com mulheres do islão tão longes de suas almas nos depoimentos e ão convictas no que o deus da morte diz a elas..Até me desanimei um pouco.Ao que me parece a mulher não pode assmir os dons da Deusa, senão é tida como burra ou louca...Ou fanatica e psicotica, só um profunda trablha de enraizamento do sagrado feminino na convivencia entre mulheres podem curalas.Escrevr tão somente de nada ou pouco adianta.Assim que eu puder eu vejo como poderei fazer minha parte.

Abraços

rosaleonor disse...

Você é uma pessoa muito singular e admiro o seu esforço e persistência. Gostava de conversar consigo. Pena estarmos tão longe...mas realmente isto tudo, digo este trabalho todo,pouco ou nada adianta.
Eu tenho visitado alguns blogues de deusas...mas de facto é tudo muito pobre e pessoal e até parece que eu sou arrogante, mas a questão é ou se faz um trabalho sério ou se brinca de deusas e bruxas e isso é o que a maior parte das bloguistas fazem...é como publicar a sua opinião os seus sentimentos ou a suas ideias sem querer fazer um trabalho a sério...Como sabe a nana acha que eu sou muito radical, mas eu só mesmo é "velha"... uma senhora no início da 3 idade (63 anos)ou lá o que é e com a experiência da vida e algum empenho nesta busca. Foi toda a minha vida aliás em busca dessa identidade...
Não quero fazer comparações nem tirar o valor a ninguém, percebe? É só uma questão mesmo de idade e visão de profundidade.
um grande beijinho nessa criança querida que você é...

rosa leonor

betoquintas disse...

"No Paganismo acontece o mesmo erro, embora o foco deixe de ser Deus para ser A Deusa, não deixa de ser tão prejudicial como a primeira…a mulher em si é branqueada… ficam as Faces de Eva e a Lilith, um mito desaparecido, uma sombra odiada…a serpente maldita que reflecte o medo das mulheres de si mesmas e a rejeição da Mãe Terra…
Às vezes dou uma volta pelos blogues que tratam da Deusa…que falam de deusas e sacerdotisas…e confesso que também fico desapontada."

Eu te entendo e compartilho contigo o desapontamento. Eu vejo muito deslumbre com o Paganismo, a Bruxaria e a Wicca, mas pouco interesse ou entendimento sobre as identidades e personalidades das Deusas antigas. Pouco ou nada se fala dos aspectos terríveis, guerreiros e cruéis das Deusas antigas.