O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 02, 2010

A MAGIA EM ACÇÃO


--> ESPIRITUALIDADE DIANÍCA
(Traduzido por Aphrodisiastes)
Eu tenho falado sobre o Nascimento do Movimento de Espiritualidade das Mulheres em meus discursos. Descrevi nosso primeiro Sabbath, no Solstício de Inverno, em 21 de Dezembro de 1971, em Hollywood, Califórnia; é deste ponto que eu dato o começo da espiritualidade das mulheres. Essa história está em meus livros, The Grandmother of Time (A Avó do Tempo) e Grandmother Moon (Avó Lua).

Um assunto sobre o qual eu nunca falei foi como eu estive lá. O que me fez levantar esta bandeira da Deusa? O que me mantém conduzindo-a por todos esses anos? O que eu tirei disto, pessoalmente? É mais difícil falar sobre mim do que falar sobre filosofia, teologia, política, feminismo, qualquer coisa exceto minha jornada pessoal. Por que tenho sido tão tímida? Estou com vergonha? Por que?
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Onde nós estávamos? Nós tínhamos acabado de sair dos anos Sessenta. A América estava mudando. Deus estava morto e as mulheres estavam marchando. Mulheres estavam marchando pela paz e liberdade para controlarem seus corpos, e eu estava marchando pela paz e pela liberdade da alma. Eu absorvi o passado feminista, li Susan B. Anthony, mas acima de tudo me modelei segundo Elisabeth Cady Stanton, a rebelde espiritual do século 19. Sua notável vida produtiva, um milagre por si só, fascinou-me. Esta mulher gerou sete crianças e escreveu todos os discursos para Susan B., sua melhor amiga. Uma solteirona, Tia Susan cozinhava e ajudava a cuidar de muitas crianças, apenas para deixar claro, ela fez com que um ótimo discurso sobre a luta pelos direitos de voto para as mulheres fosse levado às ruas. Eu li a respeito destas mulheres que tinham trabalhado muito por um direito que as demais mulheres deveriam agradecer agora, e gradativamente comecei a perceber que eu, também, tinha um destino.
Também se leva um ano fatídico para uma única mulher gerar mudança. Para continuar nesta jornada uma mulher precisa de um desejo que seja incontrolável, um profundo desejo que se alimente na mais profunda fonte da psique humana, nas cavernas das Moiras. Daí em diante ela deve desistir de tudo que não a conduz a sua meta. Ela deve ter uma mudança total das circunstâncias, deixando para trás família e casa. Ela deve encarnar esta alta meta, respirá-la, vivê-la, manifestá-la. E ao fazer isso, ela dá a luz a si mesma. Para mim, isso significou deixar meu casamento, a Costa Leste, e a Cidade de Nova York.
(…)

Minha mãe foi uma psíquica, e eu percebi que eu era a herdeira de uma tradição de poder feminino. Fui lentamente descobrindo o princípio feminino em minha própria pessoa. Ser uma mulher nunca foi uma dúvida pra mim, eu era feminina e esperta. Mas agora eu pertencia a um grupo maior de mulheres, o qual seus destinos afetavam o meu. O que quer que tivesse acontecido a este grupo de mulheres certamente estava acontecendo a mim. Que estranho. Ser mulher era agora uma coisa complexa, de fato, era totalmente revolucionário. Quem teria pensado que esta coisa simples, minha identidade feminina, poderia tornar-se tanto! Eu fiquei encantada com isto, aproveitei a atenção, e senti que estava ganhando confiança.

Precisa-se de vontade comum de um pequeno grupo, que está de acordo com a mulher personificando a vontade, para criar uma “meta sagrada” ou uma “missão”. Mulheres são feitas para missões, ninguém pode advogar melhor do que uma mulher. Quando uma mulher começa alguma coisa, centenas de mulheres começam alguma coisa, milhares de mulheres começam alguma coisa, e isso cresce, e o fenômeno se revela. Uma missão é alimento para a vida – o alimento da alma. É quando a alma é reconhecida pela mulher vigorosa e é bem-vinda. Missões são história. Missões são necessárias. Se você não tem a energia para advogar por si mesma, ninguém mais o fará. É por isso que as mulheres devem advogar elas mesmas: os homens nunca farão isto (veja na própria história). Muitos pensam que nós já conseguimos ir muito longe com esta coisa de “liberação das mulheres”. Eu digo que não fomos longe o suficiente.

Qual era a missão? Quando todos aqueles fatores se uniram – o novo movimento de Liberação das mulheres, minhas leituras sobre o Movimento de Direitos das Mulheres, psicologia Jungiana e mitologia – eu percebi que o que o Movimento estava precisando era de uma dimensão espiritual. Nós precisavamos recuperar a Deusa para as mulheres e gerar uma nova cultura pacífica que incluísse as artes sagradas. Nós precisavamos suscitar os veneradores da natureza, devotos da Deusa, e encher essas atividades com energia. Trazer recurso para as mulheres assim como fazer das mulheres um importante recurso para o país. Trazer devolta a Senhora, a Grande Deusa que eu tinha venerado como a “Mulher Feliz” e “Boldogasszony” quando era criança.
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SER BRUXA...
Todos viam a bruxa como um arquétipo, uma megera com uO conceito foi tão estranho, e ainda tão natural. m chapéu pontudo voando em uma vassoura. O arquétipo feminista não era mais animador, a imagem de uma “Mulher Libertária” era a de uma mulher nada atraente com uma grande boca, um monte de palavras sabichonas, com confortáveis sapatos. Mulheres fora de controlo. Irmandade, um grupo de lésbicas. Lugar onde os “espadas” vão para morrer. Primeiramente, Feminismo e Bruxaria não gostaram um do outro. As feministas diziam que elas não precisavam de nenhuma religião – que religião é sempre ruim. As bruxas diziam que elas não precisavam de políticas, muito obrigada. Eu estava ficando entre elas, internalizando ambas sem qualquer problema, e sabia que elas teriam que se misturar umas as outras se a revolução das mulheres desejasse durar.
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Eu cresci durante a Ocupação Comunista da Hungria. Quando a Revolução Húngara rompeu em 1956, eu tinha desesseis anos. Compartilhe da excitação extasiante de se erguer contra o oppressor e o horror de ver meus colegas de classe assassinados quando os Comunistas revidaram. Eu sai da Hungria e escapei pela fronteira, determinada a ser livre.
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Assim como muitas coisas, o nosso movimento não foi planejado. Ele apenas brotou. Uma semente sabe que vai ser uma árvore quando brota no solo? Foi assim conosco. As mulheres que vieram à loja de velas Feminist Wicca estavam famintas por conhecimento, por poder, por ritual. Nós costumávamos converser sobre como seria celebrar os Mistérios das Mulheres do jeito que nossas antigas mães celebravam há muito tempo atrás. Pessoas diziam que não se podia mas fazer isto nos dias de hoje, mas por que não?

Eu decide que havia chegado a hora. Em 21 de Dezembro de 1971 eu disse que ia fazer um ritual para celebrar o retorno da luz. Mulheres que quisessem se juntar a mim deveriam ir ao meu flat em Hollywood ao pôr-do-sol. Eu não sabia quem apareceria, mas a Deusa sabia. Quando começou a escurecer havia seis mulheres na sala, seis ótimas amigas trançando as cintas das bruxas com lã vermelha, a cor da vida e do sangue. Minha mãe tinha me ensinado a fazer um círculo, a dar as mãos e deixar a energia crescer. Nós chamamos as ancestrais para se juntarem a nós. Uma das mulheres começou a cantar.

Juntas, nós rezamos e nós cantamos, chamando a Deusa para pegar a semente dos mistérios das mulheres do passado e cultivá-la como uma religião de mulheres indígenas. Nós rezávamos por justiça social e pelas bênçãos da terra. Queríamos alguma coisa que fosse ao mesmo tempo tradicional e revolucionária. Nós estávamos removendo o antigo poder do deus masculino sobre as mulheres. Quando tínhamos terminado de abençoar todas e tudo nós podíamos perceber que aquilo era necessário, nós saímos ao ar livre. Até então não tivemos nenhuma chuva naquele inverno, mas naquele momento conseguímos ver que as nuvens estavam sobre nossas cabeças. Eram lindas, girando com as formas de espíritos. Nós levantamos nossas mãos ao céu, e uma suave e saudável chuva começou a cair.

Depois disso, nós sabíamos que tivemos alguma coisa boa. Aquele primeiro ritual deixou-nos elevadas por dias. O que falavam era que bruxas davam ótimas festas, mas nós todas sabíamos que estavamos fazendo algo mais. Um pequeno grupo de nós começou a se reunir para rituais e cada vez que nos encontrávamos, haviam mais mulheres. Quando super-lotamos o apartamento, começamos a realizar rituais ao ar livre. Costumávamos nos encontrar na praia. Cavavamos a areia e colocavamos nossas velas lá, protegidas do vento. As mulheres trouxeram flores, cristais, fotos de antepassados falecidos.

A Deusa nos ensinou como venerá-la e nós ensinamos umas as outras. Eu aprendi como esclarecer o que era necessário, e a necessidade me ensinou como ser uma sacerdotisa. Nenhuma de nós queria uma hierarquia – este era o antigo estilo masculino do qual nós estavamos tentando nos livrar. Não seria bom se eu tentasse dizer a alguém o que fazer. Mas eu achei que podia conseguir com que todas participassem, observando a energia coletiva, aceitando o que as diferentes mulheres estavam fazendo e liderando o grupo para apoiá-las. “A Deusa está viva!” eu gritava, “A Magia está em ação!” A Religião não deveria ser séria; deveria ser extasiante. Deveria ser um poder que queima em seu ventre e canta em sua alma. Nós gritávamos, nós uivávamos, nós cantávamos. Sentíamos o poder da face feminina de Deus e Ela era impressionante. Tivemos um ótimo tempo, e nossos números cresceram e cresceram.

Este foi o começo. Muitos livros depois, publiquei Summoning the Fates (Convocando as Deusas do Destino²), no qual eu entendi muito mais sobre como a mão das Deusas do Destino organizam a vida de alguém de acordo com a missão destinada. Destinos e vida são conceitos permutáveis. Podemos fazer planos; as Deusas do Destinos vêm de qualquer jeito e finalizam.

Desde que eu entrei no terceiro destino em minha vida, as Deusas do Destino se tornaram entidades confortantes. Quanto mais você aprende sobre elas, mais você aprecia a si mesma, e mais felicidade e paz metal você alcança.
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Aphrodisiastes
http://escritosdezbudapest.blogspot.com/

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