O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 06, 2010

O CAMINHO DA MULHER




 RESGATAR LILITH

“ Na tradição cabalística, Lilith seria o nome da mulher criada antes de Eva, ao mesmo tempo que Adão, não de uma costela do homem, mas ela também diretamente da terra. Somos todos os dois iguais, dizia a Adão, já que viemos da terra. A esse respeito discutiram os dois e Lillith, encolerizada, pronunciou o nome de Deus e fugiu para iniciar uma carreira demoníaca. Segundo outra tradição, Lillith seria uma primeira Eva: Caim e Abel brigaram pela posse dessa Eva, criada independentemente de Adão e, portanto, sem parentesco com Eles. Alguns veem aqui traços da androginia do primeiro homem e do incesto dos primeiros casais. Lillith, torna-se assim inimiga de Eva, a instigadora dos amores ilegítimos, a perturbadora do leito conjugal. Seu domicílio será fixado nas profundezas do Mar Morto, e objurações tendem a mantê-la ali, para impedir que perturbe a vida dos homens e das mulheres sobre a terra. (…)*

E DESTAPAR A PONTA DO VÉU DE ÍSIS…


É preciso que a mulher descubra o seu verdadeiro rosto…
Não adianta honrar a Deusa sem honrar a mulher em nós…
De nada serve cultuar a Deusa sem sabermos o que significa a sua caminhada interior nem a descida ao mais profundo dos abismos. De nada serve imitarmos os seus rituais sem termos descoberto o segredo que nos foi ocultado durante milénios e vivê-lo na nossa pele!
De nada serve cultuar a Deusa sem integrar as duas faces da mulher…sem que saibamos primeiro quem somos em essência – e a nossa essência não é só o sangue e dar à luz e sermos amantes…

É muito mais do que isso e sem que nos liguemos á Natureza primordial do nosso ser, sem termos olhado esse outro lado oculto de nós, a mulher reprimida, a mulher negada, a mulher raivosa, a mulher frustrada, a adúltera, a frígida ou a mulher infeliz, a mais desgraçada das mulheres, não encontraremos a Deusa em nós.

Para encontrarmos a Deusa temos de fazer essa descida aos subterrâneos mais secretos do nosso ser onde está a Rainha da Noite à nossa espera…Aquela que chora dia e noite e não faz mais do que esperar que a vamos resgatar…

Porque É Ela que nos inicia e coroa…

O caminho da mulher é antes do mais encontrar-se com o seu lado oculto, o seu lado escuro, aquele que lhe reflecte a sua “outra metade” – que ela espera em vão toda a vida no amor do homem porque parte mutilada de si ao encontro desesperado com o homem ou com deus…

“O modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão baseia-se no de um fragmento do ‘primeiro ego’: Adão. Vários textos históricos (2), no entanto, citam uma variante, a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa identidade.”*

Sem que a mulher faça esse caminho de retorno ao seu ser verdadeiro para reunir as duas mulheres separadas pelo catolicismo, a Lilith e a Eva, ela nunca compreenderá a sua natureza profunda nem a sua face de amante livre e selvagem. Sem esse seu outro lado, ela nunca poderá servir a Deusa, mas sim e ainda o patriarcado que a dividiu com esse propósito em duas metades antagónicas. Porque é essa mulher fragmentada e que vive em pedaços que se busca desesperadamente em tudo à procura de si mesma – e não é por acaso que ela se mutila e vende o corpo na procura de uma valorização através de uma aparência ideal que lhe dizem ser magra e sempre jovem…e ter muito dinheiro!
Se a mulher não tiver essa consciência de si, a partir de dentro e não vinda de fora, sendo ela como for na sua aparência ou idade, se ela não tiver essa aceitação do seu lado negro, ela não poderá entrar na sua plenitude de mulher sábia, amante e mãe, pois não conhece nem tem acesso a essa integralidade do seu ser autêntico. Não terá acesso ao seu dom de vidente, de curadora e iniciadora do amor e do homem, nunca poderá realizar-se na dimensão do seu ser total.

“Não se sabe com certeza de que forma a lenda de Lilith, esta primeira companheira de Adão, foi banida da versão Bíblica da Igreja. Mas indo às Escrituras hebraicas poderemos encontrá-la como uma mulher feita de pó negro e excrementos, portanto, condenada a ser inferior ao homem. No fundo, Lilith já fora criada como um demónio, tendo gerado, juntamente com Adão, outros seres iguais a ela, que se vingam na humanidade . Essa natureza satânica é, por assim dizer, uma advertência do que a cultura rabínica e patriarcal nos faz com relação àquela que perturbou a noite toda o sono de Adão: Lilith, feita de sangue (menstruação) e saliva (desejo), uma expressão da fatalidade. Neste ponto, Lilith é mais fiel ao protótipo da mulher do que a submissa Eva, embora ambas tenham sido veículo do pecado. Só que a recusa ao desejo, ao sonho erótico que subtraiu a porção divina de Adão chega, com Lilith, a extremos surpreendentes após a separação deste casal.”*

Porque nós somos essa Rainha!
Muitas mulheres partem para uma “espiritualidade” à procura da sua “outra metade” num Mestre ou em Deus, como procuram no amor do homem, mas se elas não se encontrarem primeiro com elas mesmas e continuarem a fugir da sua Sombra (Lilith) que consideram “pecaminosa”, culpada ou inferior, de acordo com o que o sistema religioso, económico e cultural lhes inculcou desde a mais tenra infância, ela vai padecer sempre dos mesmos sintomas de carência e mal-estar e sentir-se rejeitada.

“Encarnando o feminino negativo, Lilith transfigura-se, posteriormente, em inúmeras deusas lunares ( Ihstar, Astarte, Isis, Cibele, Hécate), arquétipos das forças incontroláveis do submundo ­ A Lua Negra. Até ser personificada pela bruxa, na Idade Média, contra a qual o homem moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua história.”

As Evas que não compreendem a sua outra face, que não integram Aquela que afinal lhes deu a comer do fruto da Árvore do conhecimento e viu que era bom, (mas os padres disseram que era mau…) continuarão a fugir de si mesmas, a trair as outras mulheres, a repudiar as mães e as filhas, a matar os filhos para servir o homem – ou no mínimo a deixar que os homens matem os seus filhos na Guerra ou os violem em casa e na igreja – porque essas mulheres foram e são o alicerce de uma igreja que sempre as condenou e viveu à custa do seu sangue e do seu sofrimento. Serão inimigas da outra mulher que afinal é só a sua outra face…

Elas seguem os mestres mais variados e as religiões que sempre as condenaram com inferiores e culpadas da “queda” do homem, porque, desconhecendo a sua origem e história, desconhecendo uma parte integrante de si mesmas, não integraram nem compreendem a verdadeira natureza do seu feminino, o feminino sagrado que vivido como profano, condenado ao pecado pelas tradições patriarcais negam a sua essência ao negarem a Natureza Mãe os seus ciclos lunares, a sua natureza selvagem porque as tradições judaica ou cristã as ataram de pés e mãos e as excluem da sociedade tanto como desprezam a Terra Mãe e a Deusa.

“Enquanto mulher for desdenhada ou abandonada por causa de outra, Lillith representará os ódios contra a família o ódio aos casais e aos filhos; evoca a imagem trágica das Lamias na mitologia grega, assim não pode integrar-se nos quadros da existência humana, das relações interpessoais e comunitárias, foi assim lançada novamente ao abismo. “

Também as feministas cometeram o erro de julgar o Sagrado como culpado da degradação da mulher ao associarem O Sagrado à Igreja católica, e às religiões em geral, quando justamente nos rituais das religiões deixa de haver a evocação e a experiencia do Sagrado, para haver apenas “o profano”, o ritual morto – pois só a mulher permite entrar nos Mistérios do verdadeiro Sagrado.

Os Mistérios da Deusa Mãe e da Terra, os Mistérios Eleusianos foram fonte de conhecimento e iniciação na Grécia durante mais de 3 mil anos e foi o cristianismo que apagou da face da Terra o culto da Deusa e da Natureza Mãe assim como varreu dos lugares sagrados as legítimas detentoras dos ofícios sagrados e imitou os seus ritos e as vestimentas das sacerdotisas…
E assim, depois de vários séculos, o usurpador da iniciação feminina e da Deusa é “o padre que oficia nos seus trajes de cerimónia, todos de origem feminina, e o travesti, castrado ou não, obedecem a um mesmo desejo. Destapar uma ponta do véu, descobrir o famoso véu de Ísis.”* *Jean Markale (historiador francês)

Rosa Leonor Pedro
(* as citações em itálico são de vários escritores cujos nomes baralhei e agora não sei dizer o que corresponde a quem…do que peço desculpa aos mesmos; mas o meu imperativo é a divulgação da consciência do feminino e por isso o seu contributo pode passar anónimo, penso?)

4 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Estes dias havia me sentido muito cansada de tudo, em especial da vida que continua na mesma...Sou a sacerdotisa da Deusa num mundo que não lhe da voz.Digo isso porque outro dia estava no mercado e um dos limpadores era evangelicos e veio cheio de historia para mim sobre servir o senhor e eu respondi:

Eu já sirvo a Ela

depois de concluir as compras ele ainda me segui da janela da loja falando sobre a obra de cristo e eu lhe respondi que fazia a obra da Grande Mãe, o que pareceu deixa lo muito confuso...Sai andando normalmente, mas senti a resposta e a confirmação da Mãe.
É por saber que não estou sozinha neste caminho e que outras mulheres enfrentam os mesmos dilema que eu continuo no Serviço da Deusa.Se fosse pela fama ou glória de ser uma sacerdotisa não valeria fazer o que faço nem continuar esse trablho com a confiança que no momento certo a Mãe-Deusa me dará um sinal de como servi-La mais adequadamente.

Eu agredeço por ser uma das minhas Irmãs Sagradas e dar ouvidos a esta estranha e curiosa bruxinha.

Abraços.

Anna Geralda Vervloet Paim disse...

Rosa,fiz este poema pensando especialmente em ti e na Gaia Lil

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/2010/05/as-irmas.html

Bjus

Anna Geralda Vervloet Paim disse...

Esta é a Mãe Primordial para mim,e que cada mulher a decifre em si mesma,Lilith e Eva.

ENIGMA

Na luz da Lua Negra
Tu não sabes quem sou
Por tráz dos meus véus
Ocultas sombras
Fugidias
Dos meus dias de luz
Ouve meu canto
Meu pranto
Meu acalanto
Deita em meu peito
Em meu abismo profundo
Entra em meu mundo
Te levo aos céus
Ou ao inferno
Eterno
Terno
De caricia dos vales
Do meu escuro
Penetra em minha selva
Bebe minha seiva
Deixa teu sêmen
Teu suor
Teu sangue
Basta um corte
Antes da morte
Mas eu deito a sorte
A doce beleza
Com delicadeza
Rasga meus véus
Sou fêmea lasciva
Deusa despida
Amoral
Chama imortal
Princípio e precipício
De todas as formas
Embarca
E abarca a imensidão
De meus oceanos estelares
Minhas trevas lunares
E minha luz
Que te conduz em equilíbrio
Sobre o fio da navalha
No Éden dos desejos
Te faço mais forte
Sob as cicatrizes
Dos meus punhais
Não tenho rivais
Eu sou todas
A que tem asas
A que tem garras
A que tem fel
A que tem mel
Eternamente
Rosa dos ventres
Rosa dos ventos
Rosa dos tempos
Rosa dos templos
Decifra-me!
Em minha face de luz
Ou te devoro
Em minha face de sombras...

Anna Geralda Vevrvloet Paim
Porto Alegre,09/12/2009

MOLOI LORASAI disse...

maio é o mes das noivas. é o mes de Maria, na hora da minha morte amém.