O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 17, 2010

Ousar ser e escrever mulher ...



Epifania

“Olho para mim e vejo apenas amor.
Não imagino para habitação do corpo
Outra consciência
Senão a das coisas que são fontes”…

in Magna Mater - de Rosa Maria Oliveira


ESCREVER MULHER...


Há já algum tempo uma amiga contava-me que tinha estado com uma amiga sua, que eu também conheci, uma professora penitente e intelectual, mulher culta e esforçada que se esfarrapa nas lidas académicas e doutorais, sempre frustrada e a reclamar de não atingir o cume da carreira e por não lhe reconhecerem os méritos... a quem ela disse que eu tinha acabado de publicar o meu novo livro, Mulheres & Deusas ao que ela, com um ar constrangido e de uma censura contida, senão de quase desprezo, perguntou-lhe se eu era aquela fulana que tinha escrito um livro de poemas dedicado a mulheres...e deusas...

E de facto eu pensei que era uma blasfémia, que era um arrojo uma mulher escrever poemas de amor e de adoração à Mulher e à Deusa Mãe...que obsceno uma mulher evocar o corpo sagrado da mulher quando ele é tão desprezado pelas próprias, usadas como parideiras ou como caixotes de lixo do esperma e da raiva, da frustração e do ódio do homem, a sede de doenças venéreas e da sida.

Sim que aberração trair a cultura do macho e o falo logo existo das mulheres pensadeiras e amar as mulheres na sua essência e cantar a beleza à flor da pele...que aberração querer acordar as mulheres cuja alma está doente e adormecida e que ou é frígida ou ressabiada e odeia as outras mulheres, eternamente frustradas pelo abandono do homem, violentadas, divorciadas e abandonadas pelo senhor marido - seria o caso - de quem são pouco mais do que escravas...as cativas do pensamento cartesiano...dos seus doutos mestres.

Elas são as devotas dos homens e dos fabricantes de palavras sem alma...das construções estéreis de palavras sem sentido e sem amor...elas são as fiéis servidoras do patriarcalismo.
Estas mulheres intelectuais, incapazes de se amarem a si mesmas ou sentir outra mulher, em competição permanente com "a outra", meias histéricas e devoradoras de uma ideia de prazer fictício...são mulheres incapazes de chegar ao seu próprio centro, ao âmago do seu ser que é o seu coração e o útero de toda a mulher...são incapazes da Palavra profética, vinda da alma...são incapazes do grito selvagem que nasce das suas entranhas...
Pensei, sim, como é que eu ousei escrever poemas de amor da mulher e cantar o seu dom e ver a mulher como um ser sublime...

Ah! Sim, que blasfémia!
Ousar ser e dizer a mulher integral a mulher de corpo alma e espírito!

Cantar a Mulher, o corpo e a alma da mulher, o sexo e o sangue da mulher...sem se ser logo apedrejada e confundida com uma espécie de pecadora (invertida?), sem que a anátema não cai logo e o exílio seja o único destino da poesia verdadeira, a poesia que canta a mulher e a musa, a poesia que canta a deusa como fonte do saber e do conhecimento, da vida e da morte...


A poesia que os homens já não cantam...porque os homens já não cantam a Dama a Rainha nem a mulher ou a Musa... Não, eles hoje só cantam o seu triste falo e o seu umbigo, o seu deserto falocrático onde estão perdidos e por isso resvalam sempre para o seu ódio inconsciente à mulher e à Mãe...pelo domínio económico e na violência doméstica, na violência e manipulação psicológica...subvertendo tudo.
Escrevem aquela poesia rebuscada e complexa, árida, a e vazia que nada tem a ver com a Vida nem com a natureza e os sentidos, com o fulgor da Terra e a loucura das esferas em que eles rodopiam quando nos braços da Mulher e da Deusa Mãe...e eram iniciados aos mais altos mistérios...

rosaleonorpedro

TODA A MULHER TEM UM DESEJO DE (SER) MULHER

”Ela tem um desejo de mulher. Desejo de quê? Mas do Todo, do Grande Todo Universal.
(…)
A este desejo imenso, profundo, vasto como o mar, ela sucumbe, e deixa-se nele adormecer. Neste momento, sem lembranças, sem ódios nem pensamentos de vingança, inocente apesar de tudo, ela adormece na planície, confiante e entregue tal como a ovelha ou a pomba, descontraída e aberta, e se ouso dizer, apaixonada.
Ela dormiu e sonhou…o mais belo sonho. E como dize-lo? É que o monstro maravilhoso da vida universal, estava nela contido; e para lá da vida e da morte, tudo se mantinha no seu ventre e que ao fim de tantas dores ela deu à Luz a Natureza” *

* in AS FEITICEIRAS - J. Michelet

5 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

O Feminino Porfundo fala atraves de nos de formas que as vezes não compreendemos minha amiga...Todas nos buscamos esse grande sinal da Deusa mas sem perceber mos que Ele esta bem a nossa frente. Hoje compreendi isso ao observar uma borboleta e depois dúvidei...Obrigada por me lembrar, de que sim, o grande milagre é verdade.

Abraços e sinto saudades

PS: saiba que continuarei a cita la...Não estamos, todas juntas nessa?

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

"E do seu canto foi surgindo o universo e do seu canto foi a Terra, e do seu canto foi vibrando o mundo, e do seu canto foi parindo a Si mesma, e do seu canto e em meio as gritos e dores do parto, nasceu a humanidade"

Soraya Mariani disse...

Amada Deusa Rosa de Vênus...
Amo-te e honro-te pelo que tu és...pelo que tu não precisa realmente explixar, conceituar...
Pérolas são pérolas...rosas são rosas....vc é tudo isso...Uma grande Theia de sabedoria que fala do feminino com seu ventre, com seu coração e como MUITO embasamento academico ( o que neste momento eu nem precisaria saber, ou citar)...Me importa abrir seu blog e me inspirar pra continuar a jornada com circulos de mulheres...a Jornada pessoal que escolhi fazer no que realizo....Bela...Bela ...Bela...Amada Deusa Rosa e querida irmã do povo das fadas da montanha...Teça por nossas ancestrais, pelos seres que buscam , pelos curandeiros, parteiras, crianças, mendigos...Nos presenteie....Milhares de bjs de Burbuletas...Gratidão por ser quem vc é : Uma Mulher! Com amor...
Soraya Mariani da Cirandda da Lua

rosaleonor disse...

São esses sopros minha querida que me mantêm ainda por aqui...
quem me dera que você vivesse em Portugal e pudessemos trabalhar em cojunto!!

Havemos sim de um dia nos encontrar...falta-me eu ir aí...e um dia será. Quem sabe se em breve?

- com muito amor e gratidão pelas suas palavras!

rosa leonor

Cirandda da Lua disse...

Querida Rosa de Vênus....Este é o nome de um projeto que temos na Cirandda da Lua....Sabe querida, seria lindo podermos trazer vc pra cá, desejo que se torne realidade.....Tbém tenho uma amiga morando em Portugal, quem sabe tbém passo ai pra fazermos uma bela dança circular!
Querida sobre seus livros, como comprá-los aqui do Brasil? Ou já temos disponiveis por aqui?
Milhões de bjs na Alma.....
Com amor
Soraya