O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 15, 2010

SALVAR GAIA, A NOSSA MÃE TERRA




AINDA QUE...

"No nível mais profundo da psiquê, continuamos vinculados com a Mãe-Terra, que nos trouxe à vida e nos alimenta. A conexão entre o eu profundo e o mundo natural foi denominado de inconsciente ecológico, que estaria um passo além do inconsciente colectivo junguiano. Um espaço/tempo onde Psiquê encontra Gaia.

Quando o movimento feminino e o movimento ecológico se encontram, surge o Ecofeminismo, que busca uma nova visão de mundo, com ênfase nas transformações dinâmicas, nos processos cíclicos e na interrelação de todos os seres. Intimamente ligado a uma espiritualidade feminina, recupera o mundo natural como sagrado - matéria imbuída de espírito - revalorizando o corpo e suas funções, incluindo a sexualidade, o nascimento, o envelhecimento, a morte.

A espiritualidade feminina recupera a concepção da Deusa, entendida como esta totalidade que nos engloba a todos: mulheres, homens, plantas, animais, minerais. Ela é o próprio mundo e o princípio de vida que pulsa em cada ser criado. Ela é o ecosistema.

O que se busca é uma nova identidade humana, uma inteireza que inclua além da racionalidade, da auto-confiança e do poder do intelecto, os aspectos intuitivos, compassivos e o poder de cura de cada pessoa. Uma identidade humana que nos inclua, de modo consciente, na natureza sagrada de todos os seres na Terra.

Precisamos nos conscientizar que somos feitos dos mesmos elementos que constituem toda manifestação: terra, água, ar e fogo.

Nós somos parte - e apenas uma - do ecosistema!"

(in “Caldeirão da Bruxa)



SÓ UMA ESPIRITUALIDADE FEMININA que passa obrigatoriamente pela integração das "duas" mulheres cindidas pelo patriarcado ou seja, entre dois aspectos de si mesma, embora com conotações e funções diferentes, de acordo com os conceitos da Igreja de Roma (que inverteu o sentido do Amor-roma) e que dividiu basicamente a mulher entre a "santa e a p..." no mundo ocidental, pode dar a Dimensão do verdadeiro feminino.
Este aspecto pouco perceptível ao nível da nossa cultura em geral é um aspecto dissimulado e escamoteado pelas próprias mulheres e poucas se dão conta do drama que encerra essa divisão do Ser mulher, essa cisão vivida no seu âmago.

Este é o drama essencial das mulheres no mundo. Mas ele é vivido não só na nossa sociedade liberal como o é hoje a sociedade ocidental católica e protestante, mas também nas sociedades orientais, nomeadamente a muçulmana, embora com conotações e preconceitos diferentes, (outros profetas mas todos contra a mulher), com repercussões e repressão mais drásticas sem dúvida, mas mesmo assim, no fundo, em todas as religiões as mulheres são limitadas a padrões de comportamento de acordo com os "estatutos" atribuídos pela norma social e religiosa. Numa sociedade, a ocidental, mais permissiva, a mulher é despida e serve de objecto sexual podendo sofrer agravos de ordem moral e psicológica enquanto a mulher oriental é espancada ou morta por infringir a lei dos homens, vive fechada e anda toda tapada na rua...

Não é difícil compreender que existem esses dois padrões de mulheres na base de todos os estereótipos associados às mulheres no mundo inteiro. Só não os vemos porque estamos cegas pelo hábito da repressão e pela alienação em que vivemos. Mas eles são velhos como o tempo... vivemos sempre de mulheres livres a escravas, de esposas a concubinas, de mulheres a amantes, de senhoras a prostitutas, elas são sempre de duas espécies...até aos nossos dias.

Essas duas espécies de mulheres são na realidade o resultado da divisão que a sociedade representa como natural para os dois tipos de mulheres que nos habituamos a encarar com "normalidade" e que são, digamos assim, a "mulher séria" e a "mulher fácil", a esposa e a prostituta...sempre designadas por um valor sexual, sofrendo sempre a mesma humilhação entre muitas designações pejorativas e outros epítetos que servem para distinguir essas qualidades ou defeitos que a sociedade machista e misógina atribui à mulher à partida e que nada tem a ver com os valores que se atribuem aos homens como qualidades e defeitos, tais como a honestidade ou a valentia ou a nobreza de carácter...

As mulheres pertencem sempre a esses dois padrões e só depois lhes são atribuídas as qualidades "morais"...

Independentemente disso temos sempre uma mulher desabitada de um fundo próprio, privada da sua totalidade, obrigada a viver ora como objecto sexual ora reprodutor, educada e preparada sempre para servir o homem e a sociedade sem ter em conta a sua pessoa, a sua intimidade - pois os seus interesses são sempre em função do homem ou dos filhos - e a sua verdadeira natureza de Mulher Essencial. Mesmo a sua sexualidade raramente é sua mas a resposta ao prazer do homem e não seu...

A mulher, apesar de forma diferente talvez, é ainda hoje totalmente sacrificada à ditadura da "beleza" ou aos ideais de uma beleza masculina para consumo do homem e dos seus interesses e tem de corresponder sempre aos seus estereótipos. Ela veste-se, pinta-se, faz dietas, opera-se e mutila-se para agradar ao homem.

Destituída do seu valor próprio e da sua integridade a mulher habituou-se a corresponder a esses padrões sem conseguir articular um pensamento próprio ou ter capacidade para se insurgir e colocar-se acima deles...mesmo as mulheres mais inteligentes e capacitadas intelectualmente não conseguem enxergar que partem de uma condição de sujeição a esses padrões e que lutam dentro do quadro social e psicológico em que foram aprisionadas há séculos e por isso não saem deles senão a muito custo. Por essa mesma razão acham legítimo serem cartazes de pornografia e anúncios que as aviltam e sentem-se livres por posarem nuas para a playboy e agradar aos rapazes...elas já nem percebem o grau de degradação que vivem em nome de uma pseudoliberdade que a sociedade de consumo hoje lhes aponta como alternativa.

Por tudo isso não vêm que a Natureza da Mulher se encontra cindida em duas e que foi fracturada tanto na sua psique como na sua alma e mesmo no seu corpo, e assim limitam-se a viver e sofrer as consequências de uma divisão profunda que se deu num dado momento histórico e que progressivamente esqueceram o seu dom de iniciadoras da vida: assim esqueceram a
sua ligação com a Natureza, aliadas naturais que eram das forças vivas da Natureza e dos animais enquanto sacerdotisas ou representante da Grande Deusa Mãe. Foram contaminadas e feitas prisioneiras das sociedades patriarcais que inicialmente destruíram os elos e ritos que mantinham a coesão da vida das mulheres ao reprimirem o seu lado instintivo e intuitivo. Os homens separaram a natureza instintiva e sensual da mulher para eleger uma mulher social reprimida, escrava, castrada e frígida que os serviu durante milénios para gerar filhos escravos.

Enquanto a Mulher não integrar essa parte essencial de si mesma
,
reflectida na sua Sombra ou na "outra" que foi ensinada a temer, ela não poderá chegar a esse nível profundo da sua psique...nem voltar a ligar-se à Natureza e salvar Gaia de uma destruição iminente.

Enquanto a mulher não fizer a ligação dessas partes de si cindidas não poderá afirmar-se no seu real valor e ter o seu verdadeiro lugar na sociedade e no mundo. Apesar das mulheres terem cada vez mais lugares de destaque e de liderança, admitamos isso, a sua força não lhes vem de um Verdadeiro Feminino Integrado, mas de um simulacro que ela vive dentro da Ordem Masculina, em que impera a força da violência, a diferença social entre os seres e a guerra como monopólio da terra.
rosaleonorpedro

6 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Ao que parece todas nos mudamos a primeira oportunidade.Seu blog esta lindo Rosa!

Abraços

rosaleonor disse...

As vezes faz bem mudar de visal....
Como vi que o copiou no seu blog queria pedir-lhe que coloque de novo com as mudanças que eu fiz...eu mudei um pouco o meu texto para o tornar mais claro!

MUITO OBRIGADA GAIA LIL.

... disse...

adorei seu blog...
vissita la o meu
http://meustextos-barbaralage.blogspot.com/
se gostar segue e/ou comenta, ok?
bjs

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Coloquei todas as mudanças feits, e não precisa me agradecer afinal estamos todas juntas neste trabalho

Anónimo disse...

Eu sei que sou nova, mas já passei por muito em minha estrada espiritual.Nunca me encaixei junto às outras meninas da minha turma quando estava no colégio jesuíta. Uma força magnética me puxava para algo diferente, então busquei essa coisa com todas as minhas forças e, pela mão da Mãe, encontrei o seu blog, que me dizia tudo o que eu precisava ler.
Seus textos foram a chave para uma transformação gigantesca em meu ser, a chave para a minha reconciliação com minha Outra parte. É fácil, numa sociedade machista, eu me flagrar tendo pensamentos ruins sobre mim mesma, como vergonha, medo, angústia, raiva, tudo porque tomei alguma atitude que me exclui do 'padrão de normalidade'. Mas então eu
venho ao seu blog, leio textos maravilhosos, reflito sobre eles, acho a Verdade em mim mesma e uno novamente as polaridades que nunca deveriam ter sido separadas. Antes eu sentia um vazio enorme, depressões terríveis, então descobri que o que faltava era metade da minha alma, do meu coração de mulher, a minha fêmea escondida, que hoje me guia
ainda aos tropeços pelos caminhos que percorro.
Parabéns por esse blog lindo, pela sua consciência fantástica da realidade feminina e por, ao invés de se sentar e manter sua consciencia para si, tentar dividi-la, semeá-la pelo mundo, ajudando cada mulher a se reconstruir de escombros que ensinamentos de uma sociedade que só visa o bem do masculino. E muito obrigada por ajudar a fazer
uma mudança tão grande em mim mesma e em muitas mulheres - mulheres estas que após mudadas, nunca mais serão as mesmas, e, aposto todas as minhas fichas nisso, vão fazer o mundo voltar a ser o que deveria ter sido desde o princípio.

rosaleonor disse...

Dood...
Quero agradecer do fundo do coração a suas palavras e pedir-lhe se as posso publicar...Mulheres & deusas é de todas nós...e eu fico muito feliz sempre que sei o que ele representa para algumas mulheres, o que ele contribui para essa liberdade do ser mulher e a consciência do verdadeiro feminino.
Com muito carinho
rosa leonor