O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, julho 03, 2010

OS CRIMES DA IGREJA


A Coragem de
Hipátia de Alexandria


Filme
“Ágora” Retrata a Vida da Grande Teosofista

Por Joaquim Soares

Nota dos Editores:

Sucesso no festival de Cannes de 2009, mas barrado por algum motivo no circuito comercial das salas de cinema brasileiras, o filme “Ágora”, de que fala o texto a seguir, pode ser obtido gratuitamente na Internet.

Ao longo da história da humanidade refulgem marcos luminosos testemunhando vidas de dedicado sacrifício para que a marcha humana prossiga no rumo correcto, alcançando sempre novos patamares evolutivos.

Essa corrente de luz representa a vida e a obra de místicos e teosofistas que se elevaram destemidamente acima da mesquinhez e da ignorância reinante. Com o seu exemplo, iluminaram um pouco mais a escuridão na qual viviam seus semelhantes.

Quase sempre incompreendidos em seu tempo, movidos por uma grande compaixão e por uma vontade indómita de alcançar a sabedoria, muitos acabaram por pagar com a própria vida a ousadia de verem mais longe.
A grande maioria desses servidores é quase desconhecida da humanidade. Por isso, é algo a celebrar quando é dado a conhecer ao grande público episódios da vida de um grande teosofista.

É o caso de um extraordinário filme que passou pelas salas de cinema de vários países. Trata-se da obra de cinema “Ágora”, do cineasta espanhol Alejandro Amenábar. A obra relata os últimos dias da grande filósofa, matemática, astrónoma e teosofista Hipátia de Alexandria, que durante o século V lutou contra o sectarismo e fanatismo religioso.

Considerada como a última dos grandes neoplatónicos, Hipátia marcou o culminar da linhagem de elevados teosofistas ecléticos da famosa Escola de Alexandria, onde brilharam nomes como Porfírio, Proclo e o grande Amônio Saccas.

Hipátia nasceu por volta do ano 370 e viajou para Atenas onde acabou por se envolver com o Movimento Neoplatónico. Mais tarde acabou por assumir a liderança da famosa Escola de Alexandria, no Egipto. Profundamente instruída na Teosofia Eclética, expunha as doutrinas de Platão e contribuiu para restaurar o valor dos Mistérios, seguindo os passos dados anteriormente por Jâmblico, Porfírio e Plotino. Prosseguindo o trabalho de Amónio Saccas, ensinava igualmente a identidade fundamental de todas as religiões.

Os ensinamentos teosóficos de Hipátia eram a maior das ameaças à aceitação da frágil teologia cristã, e suas doutrinas universalistas, bem como o uso firme da razão, punham a nu perante todos a origem dos plágios e da gigantesca fraude cometidos pelo Cristianismo.

Helena Blavatsky escreve na sua obra “Ísis Sem Véu”:

“Foram precisamente os ensinamentos dessa filósofa pagã (…) que levaram a que muitos se juntassem à nova religião, e então a luz platónica começou a lançar um brilho por demais inconveniente sobre a piedosa colcha de retalhos, porque ela fez ver a todos a fonte de onde provinham as doutrinas ´reveladas`. (…) a Igreja teve de lutar por sua vida, para não dizer por sua supremacia futura. Apenas eles, os sábios e eruditos pagãos detestados, e os não menos sábios gnósticos, tinham em suas doutrinas os fios até então ocultos de todas essas marionetes teológicas. Uma vez erguida a cortina, a conexão entre a antiga religião pagã e a nova religião cristã foi exposta; e, então, o que aconteceria com os mistérios em que penetrar era um pecado e uma blasfémia? Com a coincidência das alegorias astronómicas de vários mitos pagãos, com as datas adoptadas pelo Cristianismo para a natividade, a crucificação e a ressurreição, e com uma identidade de ritos e de cerimónias, qual teria sido a sorte da nova religião se a Igreja, com pretexto de servir a Cristo, não se desembaraçasse dos filósofos mais bem informados?”

A extraordinária sabedoria de Hipátia ecoava por toda a Alexandria e mais além, recebendo o reconhecimento e a admiração dos melhores intelectos da sua época, entre os quais muitos cristãos, como por exemplo Sinésio, bispo de Cirene, que chegou a ser seu discípulo. Foi detestada e odiada pelos cristãos fanáticos, encabeçados por Círilo, bispo de Alexandria.

Foi assim que, supõe-se, numa tarde do ano de 414, uma multidão enraivecida de monges ligados a Círilo se dirigiu até às portas do local onde Hipátia dava seus ensinamentos. Instantes depois, acabaram por assassinar a mais brilhante das mulheres de Alexandria, marcando o início da decadência da grande Escola Neoplatónica de Alexandria. Segundo alguns, a morte de Hipátia marcou o início da "Idade das Trevas", ou da Ignorância.


A sanha persecutória dos cristãos fanáticos dos primeiros séculos não deixou pedra sobre pedra. Milhares de pergaminhos, edifícios, templos pagãos e estátuas foram destruídos. Escolas de sabedoria foram fechadas e filósofos e místicos mortos.

Sem meias palavras, Blavatsky indaga:

“Se o coup d´état [golpe de estado] tivesse falhado, seria na verdade muito difícil adivinhar qual seria a religião predominante no nosso próprio século. Mas, com toda a probabilidade, não teria ocorrido o estado de coisas que fez da Idade Média um período de escuridão intelectual, que degradou as nações do Ocidente e rebaixou o cidadão europeu daquela época ao nível de um selvagem da Papuásia.”


Para a história, ficou a morte de uma mulher sábia nas mãos de um bando de ignorantes comandados por um bispo tirano e sanguinário, que acabou por ser elevado a santo (São Círilo!) pela Igreja Católica.

Por tudo isto, e muito mais, aplaudimos o filme “Ágora”, que retrata a notável figura de Hipátia de Alexandria. Consideramos louvável e corajoso este projecto cinematográfico do director Alejandro Amenábar.

Vale a pena conhecer algumas ideias de Amenábar sobre esta sua obra:

“Eu nunca estive interessado em ciência. Para mim, a beleza deste projecto foi ter estado em contacto com o mundo da ciência do ponto de vista espiritual, emocional. Nossa intenção com o filme é transmitir a emoção do que acontece no universo. Significa que tenta desvendar o mistério do cosmos.”

Vemos aqui que o realizador, talvez intuitivamente, compreendeu algo muito importante – e que ele faz transparecer no filme, na personagem de Hipátia, a quem se aplicam as seguintes palavras de Einstein, a propósito da religiosidade cósmica:

“[Os] génios religiosos de todos os tempos distinguiram-se por essa religiosidade diante do cosmos. Ela não tem dogmas nem um Deus concebido à imagem do homem; portanto nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de que os hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma superior de religião.”

Amenábar conclui dizendo:

“Acabamos contando a história de Hipátia no século V e em Alexandria por um processo de depuração. Primeiro foi uma história que abrangeu dois mil anos, a partir do sistema geocêntrico à relatividade, e fomos delimitando. Pesquisando sobre Hipátia e o período em que ela viveu descobrimos muitas conexões com o mundo actual, e isso pareceu-nos duplamente interessante. Alexandria era o símbolo de uma civilização que estava a morrer nas mãos de diferentes facções, fundamentalmente religiosas, e Hipátia foi uma personagem que para muitos marcou de maneira simbólica o fim do Mundo Antigo e o começo da Idade Média.
Ágora é, em muitos aspectos, uma história do passado sobre o que está acontecendo agora, um espelho para que o público olhe e observe de uma distância de tempo e espaço, e descubra, surpreendentemente, que o mundo não mudou tanto assim.”

De fato, assim é.

Até hoje, que se saiba, a Igreja Católica não reconheceu a injustiça cometida contra Hipátia, talvez porque isso significasse a capitulação perante todos aqueles que defenderam, e defendem ainda hoje, que o cristianismo, no que tem de melhor, tem uma dívida em relação às religiões antigas. Por outro lado, o sectarismo religioso continua a ser a fonte da maioria dos males que afligem a humanidade.

Apesar da contestação do Vaticano, que tem impedido a estreia do filme de Amenábar em vários países , a história de Hipátia começa agora a ser conhecida por um número cada vez maior de pessoas. “Ágora” é uma verdadeira lição de teosofia e algo que não se deve perder.

Visite sempre www.filosofiaesoterica.com www.teosofiaoriginal.com

1 comentário:

jozahfa disse...

A igreja não apenas não reconheceu o crime, mas inventou uma Santa Catarina...