O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 02, 2010

FAÇAM A PROVA DOS NOVE...


PORQUE SERÁ QUE HÁ MULHERES QUE ACHAM DESAGRADÁVEL O QUE EU AQUI PUBLICO?

-Eu sei que há algo de desagradável, para algumas mulheres que me lêem, quando desmistifico aspectos mais melindrosos da sua pseudo consciência ou da liberdade e emancipação das mulheres em geral, umas porque falam da Deusa como de algo exterior a elas e no passado e outras porque seguem linhas ditas espirituais de estar bem consigo e com todos ou ainda e perdoar aos inimigos seguir o pensamento positivo e com isso continuam a aceitar, e o pior ainda, a não ver como continuam objectos de escárnio e mal dizer, objectos de consumo publicitário e animadoras ou mesmo facilitadoras do Sistema, cheias de boa vontade católica travestida de sei lá o quê!

Sim, é aí que o meu trabalho passa por destabilizar as mulheres que estão convencidas que estão a fazer o seu melhor e o que podem e que eu estou apenas a dizer mal das mulheres coitadinhas e que afinal fazem tudo por (parecer) integradas e actualizadas com as ideias “Nova Era” e eu vejo-as cair na armadilha de uma “nova” escravização-religião qualquer.

Não, eu não vou por aí e sei que enquanto a mulher não integrar as duas mulheres em si – esses dois aspectos da mulher que foram separados na nossa cultura ocidental, por influência da religião católica, o instintivo e sexual de um lado e a maternidade virginal ou a esposa fiel por outro - e por isso, enquanto a mulher olhar para a outra mulher com inimizade ou como rival – e aqui eu peço para as mulheres que não concordam com a minha visão que olhem bem lá no fundo e vejam porque me detestam e ao que eu escrevo… porque de certeza também detestam as mulheres em geral.

Esta é uma prova dos nove:

A Mulher que tem na outra mulher uma rival ou vê a sua Sombra sem a reconhecer como sua não está minimamente bem com ela mesma e está muito longe do que eu quero significar por feminino sagrado e quando evoco a Deusa na mulher!


Vejo muitas mulheres a fazer trabalhos interessantes sobre as Deusas e intelectualmente muito correctos do ponto de vista teórico e talvez até histórico ou antropológico, mas quase sempre falha uma coisa essencial: normalmente a mulher não tem consciência da sua divisão interior e acaba por no meio das deusas e de círculos femininos exprimir esse antagonismo e em vez de evoluir regredir porque em nome de um sagrado feminino e de uma sabedoria ancestral cometer os mesmos erros que a mulher patriarcal, e continuar em luta com as suas irmãs por um papel principal ou denegrir o trabalho das outras mulheres.

O meu cavalo de batalha, é pois, o que para mim é o cerne da questão do feminino não integrado, esta questão primordial: sempre que a mulher não tem consciência dessa divisão em si e pensa que por ter conhecimento e informação sobre as deusas e as feiticeiras ou sacerdotisas e seguir até algum grupo Wicca está em situação privilegiada ou conectada com a Deusa, para mim não está! Para o estar ela tem de unir as duas mulheres em si e só assim ela deixará de rivalizar com a "outra” quando deixa de haver separação dos dois estereótipos – a santa e a puta - antagonizados pela sociedade patriarcal!

É fácil inventar uma Deusa parecida com Deus…que é deus nas alturas e nós cá em baixo…Que é a Deusa no altar e rezarmos pelos nossos pecados mas Ela não está no nosso coração.

Não, a Deusa não permite essa distância, essa separação, porque a Deusa é a relação com o nosso lado instintivo, com o nosso feminino profundo, com as raízes da terra e do nosso Útero, as nossas entranhas, o nosso passado remoto e por isso sagrado, e não são meros rituais nem fórmulas “espirituais” ou saber muito do assunto de forma exterior a si, mental e intelectual, que nos leva a uma consciência integrada, equilibrada que só a união dos dois lados do nosso ser de re-ligação com o Todo permite.

E há mulheres e homens que sabem muito de tudo, com cérebros brilhantes e no entanto de si mesmos, enquanto seres psicológicos e anímicos nada sabem, porque Deus chamava-nos para o Céu…para um dos lados apenas do ser humano, o lado “bom” do ser e a negação do terreno, a pureza conceptual das virgens e o pecado que coube às mulher a sina de o pagar duramente durante séculos e séculos…Não, a Deusa é justamente o lado renegado, o lado aparentemente mau da vida, a morte e o sofrimento, a descida ao inconsciente, mas também a realização e integração dos dois lados do SER para o tornar Uno.

A Deusa é a Terra e a terra é à imagem da Mãe e vice-versa, Terra Mãe, Magna Mater, dadora de vida e de morte, senhora das árvores e dos animais selvagens, ela é ao mesmo tempo primitiva, subtil, espiritual, andrógino, loba, serpente, porca e jumento. Ela denuncia a atitude desonesta dos gregos que em vez das deusas – de Isthar a Athena passando por Ísis, Demeter, Ereshkigal -, na sua luta obstinada de as reduzir à condição de ogres satânicos e mães desrutivas, vazias de todo o apelo à vida e à ressurreição. Posição misógina e recuperada e mantida mais tarde pela tradição judaico-cristã.

Resultado: ainda são numerosos aqueles a quem o desejo selvagem, o prazer, o instinto da mulher arquetípica, embaraçam consideravelmente. Eles contestam a legitimidade da Deusa das Origens, e fazendo-o, negam completamente o papel da mulher no mundo.”
**

O que falhou precisamente na cultura grega ou romana e na religião católica e porventura em outras religiões foi a pretensa elevação do espírito e a negação do corpo, a negação da alma da mulher e a sua sensualidade vista como perdição e pecado. Pensamos que estamos muito longe disso mas não estamos. As teorias da Nova Era também apontam de forma subtil para o mesmo…para um só lado da vida e esse é um erro, é realmente falhar o alvo, pois o Alvo é a união dos dois lados, do feminino e do masculino, mas não sem antes a mulher integrar as duas mulheres dividas pela cultura judaica crista em si. O Inconsciente Colectivo ainda é prisioneiro dessa conceito milenar…e as mulheres não vêm que são vítimas desse preconceito atávico na violência doméstica e na violência sexual. Na forma como são usadas “na cama”, na forma como os homens falam e lidam com elas, da forma como são representadas pela média, pelos filmes e pela publicidade.

Enquanto as mulheres não assimilarem essa realidade dentro delas próprias e perceberam onde nasce o conflito e o sofrimento, as próprias doenças de que são maioritariamente vítimas e continuarem a ser os bodes expiatórios da sociedade machista e falocrática, sendo elas próprias muitas vezes falocráticas…na forma como agridem as outras mulheres e as ofendem…ou até defendem os homens e justificam a violência sobre si mesmas.

Será que as mulheres que me acham desagradável para com as mulheres não vejam a diferença entre o que eu digo e a forma como elas se detestam umas às outras e a mim?

Rosa Leonor Pedro

(**Introdução a uma entrevista a Joelle de Gravelaine)

12 comentários:

Rumquatronove disse...

Olá,R.Leonor,que belo texto e que excelente tema,parabéns! Concordo;
milhares de mulheres,culturalmente subjugadas nem percebem tal condição,outras até gostam de serem "objeto" do homem abjeto;
penso,portanto,que são justo essas "belas adormecidas" mesmo, que
destoam do que se pode chamar de Fêmea Divina,e com elas competem irracionalmente,denegrindo assim, sua própria essência,ao agirem como marionetes,presas ao falo social.

Uma pena ver tanto ouro sem brilho...

TINA MÁTTER disse...

olá,há tempos que leio seu blog,e agora o sigo também acho ótimo,tem mulheres que gostam muito,como eu,e pela quantidade de seguidoras dá pra ver que muitas gostam.Acho que não é fácil perceber certas coisas para muitas pessoas,pois o autoconecimento gera dor e a gente só pensa em prazer...Rosa admiro muito suas idéias,e indico seu blog no meu :http:mattermundi.blogspot.com,se vc puder ler alguns tópicos que escrevi,adoraria.comecei agor\a e humildemente tento falar de coisas que considero relevantes para as pessoas e para mim.Embora eu aprenda muito com o que eu escrevo,acredito que está bacana também paraquem lÊ.um bj honrada em falar contigo.namastÊ

Nana Odara disse...

mattermundi.blogspot?

afff

ai mainha... essas coisas tbm são cíclicas?

bora lá meninas, sejam mais criativas... invente, tente, faça um blog com nome diferente...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

ass: matermundi, a original...

TINA MÁTTER disse...

Amiga, eu não tive a intenção de copiar o nome do seu blog,não sou uma menina,mas uma mulher!!!

Canto desde os 12 anos e meu nome artístico é Tina Mátter ,por isso mattermundi,mundo de tina,meu mundo,conotação diferende do seu,que não conhecia,imagino que deva existir um monte de blogs com esse nome.

Acho que o que conta mesmo é a singularidade do conteúdo ,marca pessoal de quem escreve o blog.Coincidentemente somos duas admiradoras de Rosa Leonor, Mas,só vim saber havia outro blog com esse nome depois de criar o meu,não vi necessidade de mudar o nome,pois acho que isso é arrogÂncia.

Que tal termos a lealdade feminina também na pratica?

abraços,cláudia cristina

Anónimo disse...

Não acredito... É verídico!! Mulheres disputando-se a si mesmas nas "barbas" de Rosa Leonor...

Morreu o respeito??

Minha querida Rosa Leonor...
"Será que as mulheres que me acham desagradável para com as mulheres não vejam a diferença entre o que eu digo e a forma como elas se detestam umas às outras e a mim?"

Admiro a garra com que luta pelo príncipio do feminino sagrado... Sem as suas palavras, sem a sua, tão gloriosa, voz... Acho que haveria muitas mulheres e homens que tentariam calar, a toda a força, a "voz do útero"...
Ás vezes parece uma causa perdida, mas garanto-lhe que não o é, por mais que os anos passem e os ideais pareçam morrer... Haverá sempre quem lute e tenha esperança... É graças a essas "pequenas" grandes pessoas que a esperança não morre, nem irá morrer!



A Fábula do Beija Flor – versão Zen

Era uma vez um Beija-Flor que fugia de um incêndio juntamente com todos os animais da floresta. Só que o Beija-Flor fazia uma coisa diferente: apanhava gotas de água de um lago e atirava-as para o fogo. A águia, intrigada, perguntou: – “Ô bichinho, achas que vais apagar o incêndio sozinho com estas gotas?” – “Sozinho, sei que não vou”, respondeu o Beija-Flor, “mas estou a fazer a minha parte”.

Envergonhado, a águia chamou os outros pássaros e, juntos, todos entraram na luta contra o incêndio. Vendo isto, os elefantes venceram seu medo e, enchendo suas trombas com água, também corriam para ajudar. Os macacos pegaram cascas de nozes para carregar água. No fim, todos os animais, cada um de seu jeito, acharam maneiras de colaborar na luta. Pouco a pouco, o fogo começou a se debilitar quando, de repente, o Ser Celestial da Floresta, admirando a bravura destes bichinhos e comovido, enviou uma chuva que apagou de vez o incêndio e refrescou todos os animais, já tão cansados – mas felizes…



Um grande abraço com o útero (sorriso)

Anónimo disse...

Não acredito... É verídico!! Mulheres disputando-se a si mesmas nas "barbas" de Rosa Leonor...

Morreu o respeito??

Minha querida Rosa Leonor...
"Será que as mulheres que me acham desagradável para com as mulheres não vejam a diferença entre o que eu digo e a forma como elas se detestam umas às outras e a mim?"

Admiro a garra com que luta pelo príncipio do feminino sagrado... Sem as suas palavras, sem a sua, tão gloriosa, voz... Acho que haveria muitas mulheres e homens que tentariam calar, a toda a força, a "voz do útero"...
Ás vezes parece uma causa perdida, mas garanto-lhe que não o é, por mais que os anos passem e os ideais pareçam morrer... Haverá sempre quem lute e tenha esperança... É graças a essas "pequenas" grandes pessoas que a esperança não morre, nem irá morrer!



A Fábula do Beija Flor – versão Zen

Era uma vez um Beija-Flor que fugia de um incêndio juntamente com todos os animais da floresta. Só que o Beija-Flor fazia uma coisa diferente: apanhava gotas de água de um lago e atirava-as para o fogo. A águia, intrigada, perguntou: – “Ô bichinho, achas que vais apagar o incêndio sozinho com estas gotas?” – “Sozinho, sei que não vou”, respondeu o Beija-Flor, “mas estou a fazer a minha parte”.

Envergonhado, a águia chamou os outros pássaros e, juntos, todos entraram na luta contra o incêndio. Vendo isto, os elefantes venceram seu medo e, enchendo suas trombas com água, também corriam para ajudar. Os macacos pegaram cascas de nozes para carregar água. No fim, todos os animais, cada um de seu jeito, acharam maneiras de colaborar na luta. Pouco a pouco, o fogo começou a se debilitar quando, de repente, o Ser Celestial da Floresta, admirando a bravura destes bichinhos e comovido, enviou uma chuva que apagou de vez o incêndio e refrescou todos os animais, já tão cansados – mas felizes…



Um grande abraço com o útero (sorriso)

Anónimo disse...

Peço desculpa pelos comentários "gémeos"... pode apagar um deles e este também.

Beijo*

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Bom pelo menos nós tentamos...

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Aim estas pequenas espetadas entre mulheres são o que me intrigam...Lembro me que havia um blog cujo nome era Magna Mater e mal falava da Deusa direito, de modo que eu sempre invejei o titulo... e invejo até hoje, esperava que estando abandonado o blog fosse excluido e então eu usaria o nome...Mas todas estas questões não tem importancia e Nana Odara, antes do seu blog já havia um chamado Mater Mundi e depois do seu haverá outro...E é assim que as coisas acontcem nos cilocs de uma coisa que antecede outra e da lugar a uma proxima sempre em evolução...Quando a mim nunca via outro com o nome de A Alta Sacerdotisa mas acho que não ficaria brava se o usassem.

TEMOS DE NOS ATER A QUESTÕES MAS IMPORTANTES QUE ESTAS!

Ao despertar da mulher e da Deusa , a sacralidade feminina e a unidade das mulheres!

rosaleonor disse...

Vão me permitir eu não comentar nenhum dos vossos pareceres todos eles dignos do meu crédito e confiança e sobretudo da maior compreensão...sei do que cada uma fala e sei como as coisas se passam, todos os males entendidos entre nós...já passei por eles também e neste momento sei que todas precisamos de conforto e não confrontos, precisamos de ânimo e não desavenças. Precisamos muito umas das outras...e de muita aceitação. Por isso abraço-as com o amor da nossa Mãe porque é o que eu mais neste momento preciso do fundo do coração!!!

- rosas de luz para todas, muitas rosas e muita clareza para discernir o que as nossas almas querem...

rosaleonor

Nana Odara disse...

Rosa, pelo muito respeito q tenho por vc, vou comentar no meu blog... roupa suja se lava em casa...

não pensei q ia atrair esse tipo d coisa senão nem tinha feito a brincadeira lá em cima...

Desculpa sua Persefone desastrada...

rosaleonor disse...

A diferença é que hoje minhas queridas, pela força da idade compreendo e aceito melhor todas as diferenças e todas as querelas que nascem do fundo da nossa vontade de querer fazer o melhor e marcar presença, isso é bom nem que seja a defender o nosso cantinho, mas sem esquecer de facto que todas estamos a tentar o mesmo...portanto não vejo as diferenças neste momento em vocês e espero que não se zanguem umas com as outras.Podemos deixar de lado um pouco as nossas razões e olhar mais para os nossos corações...
- Um grande abraço, especial para a Nana e o seu desejo de lealdade feminina e com quem me zanguei algumas vezes pelos seus excessos...mas sempre demos a volta por cima...por isso eu tenho muitas saudades do tempo em que seremos todas uma só Voz...
Uma Só Voz, a Voz do Útero e não apenas a voz da razão...