O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 08, 2010

O MATRIMÓNIO SAGRADO

OS LUGARES E TEMPLOS DA DEUSA MÃE…


Durante muitos anos, desde que em 1988, creio, em que li As Brumas de Avalon, senti sempre a nostalgia desses lugares e sonhei ir um dia a Avalon, atravessar o denso nevoeiro dos tempos, dizer as palavras mágicas… e encontrar as belas e míticas sacerdotisas de outrora…a caminho de Avalon…

Quis por isso, durante muito tempo, formar grupos de mulheres e falar da Deusa como se de sacerdotisas se tratassem, sonhei ter uma “Casa na Floresta” (outro livro que li de Marion B. Zimller) sempre no desejo ansioso de me tornar eu própria uma sacerdotisa eleita da Deusa. E sofri imenso com a falta de eco das mulheres que conhecia, que brincavam comigo por causa da minha “mania”; sofria com a falta de mulheres interessadas ou conscientes dessa matriz, com a falta de consciência que as mulheres tinham de si mesmas enquanto mulheres desligados do feminino sagrado, e lia desesperadamente tudo o que dissesse respeito a Deusas da antiguidade…até que um dia tive eu própria uma revelação interior, um sonho revelador… e sonhei com Lilith! Lilith, a primeira mulher que habitou o mundo, a Serpente que revelou os segredos a Eva…a Mulher mais misteriosa e secreta das escrituras…quem sabe a Chave da nossa própria queda e que me entrou como uma flecha directa no coração e me revelou a sua força; não, não era Eros… era Ela a Serpente alada e assinalou o meu caminho que começou aí a desenhar-se noutra direcção, bem mais ampla e abrangente do que a minha imaginação me levava.

Escrevi o meu primeiro livro por pura inspiração dessa revelação e todo esse “património” secreto e atávico se revelou nas minhas células, revelou-se nas minhas memórias, na minha carne e vivi ou revivi esse património que me foi legado por todas as mulheres antes de mim e aqui devo dizer explicitamente matrimónio e não património, porque é da Mulher Mater e Matriz que se trata - Matrimónio esse secreto, o da minha união com a mulher ancestral em mim, a revelação da primeira mulher da Génese…escondida e condenada por deus aos infernos…e que todas as mulheres têm dentro de si ainda por revelar. É aí que a Deusa começou a fazer a sua aparição, a mostrar-me quem eu era de facto, as duas mulheres divididas em mim, e vi quão diferente Ela era da Aparição da Senhora de Fátima que eu desde o meus 13 anos sonhava que um dia se me revelasse …

Ah, como eu sofri esses anos todos e tive tantas decepções antes de compreender a minha essência mulher e o que os meus livros, fruto dessa busca e desse acordar interior, mesmo o 2º, eram ou significaram não para as outras mulheres mas para mim mesma. Eu tive de compreender primeiro e não me deixar abater só porque eles não foram compreendidos nem aceites pelas mulheres como eu pensava que seriam…Tive tantas esperanças de que os meus livros pudessem ajudar a acordar as mulheres do meu País… Mas não, não significaram como eu pensara um acordar da Deusa nas outras mulheres, mas talvez só em mim.

Durante muito tempo continuei ainda a sofrer por não viver nada parecido nesta vida com o que outras civilizações, em outras épocas, tinham expresso e manifestado da Deusa; tal como lia livros secretos sobre o Egipto, a Mesopotâmia, a Suméria, mesmo a Grécia, a Grécia de antes do Spectrum patriarcal com as deusas todas à bulha por causa de Zeus, o deus zângão…mas a Grécia dos mistérios Eleusianos de Demeter Core e Héstia…

Eu queria tanto ter vivido num Templo antigo de acordo com os antigos rituais e mistérios…e o meu desgosto era enorme…uma grande decepção deste tempo tão vulgar e materialista, tão agressivo e masculino, cheio de guerra e competição…em que a Deusa Mãe não existia senão em altares católicos, como Virgem inacessível e distante, presa aos dogmas da igreja de Roma. Porque os homens e a sua História, os seus Impérios bélicos e destruidores a apagaram da história do passado e sacrificavam a mulher desde sempre até aos nossos dias, em que a continuam a violentar, a menosprezar, fazendo dela escrava, esposa ou prostituta… ou um objecto de consumo e produção de filhos, ou ainda barriga de aluguer…

Deste esses tempos imemoriais a negação da Deusa representa na realidade a crucificação da mulher. Ela começou na resistência do macho à atracção natural que a mulher exerce sobre o homem, e por querer o absoluto como Deus e o céu como espiritualidade “pura” o homem negou a mulher e a Natureza, como nega o seu feminino e o feminino do mundo e vê na mulher ainda o “pecado” porque o afasta desse Absoluto inacessível ou porque o domina o medo da vida e da morte em si. Esse foi o erro dos religiosos cristãos em geral. Esse foi o grande Pecado da Igreja contra a mulher. Eles não compreenderam que sem o par alquímico, sem o par divino, sem a Mulher matriz e a Deusa não existe manifestação nem dinâmica de vida-morte-renascimento. E o caos sobreveio…E tudo deixou de fazer sentido e a vida na Terra passaria a um absurdo, um inferno…Dominado o mundo pela força da Espada, a terra passou a ser queimada e saqueada pelos seus heróis os herdeiros dessa cultura sanguinária.

Passaram já alguns anos e as minhas decepções também…E com o passar deste tempo eu hoje percebo e sinto, através do que me foi dado ver e compreender na minha vida prática, que afinal o verdadeiro Templo da Deusa só pode ser Real hoje no meu coração e no nosso Mundo, na nossa sociedade, terá de ser forçosamente diferente; não voltará a obedecer aos mesmos rituais nem às fórmulas do passado...e aqueles/as que copiam os ritos das tradições já mortas através de reminiscências de cultos que não sabem ao certo a que correspondem, não prestam já nenhum culto verdadeiro à Deusa mas ao seu ego, e a uma mera recordação do passado e não ao presente em que vivemos.

É por isso que os pagãos/bruxos/wiccanos, pequenas seitas fechadas, supersticiosas e ridicularizadas pela média e pelas telenovelas tem, em geral, uma postura de arrogância e superioridade, tal como os padres e a igreja católica...Eles/elas estão convencidos que são detentores de alguma coisa, mas não sabem nada ao certo. Cada tempo tem a sua maneira e é essa nova maneira de amar a Deusa que nós temos de encontrar…e não é fingirmos que encontrámos apenas voltadas para o passado… E não digo que não devamos olhar para o que aconteceu. Sim, devemos olhar e vermos bem o que aconteceu à nossa natureza instintiva, e como a natureza foi, à imagem da mulher selvagem, das suas terras espirituais, saqueadas ou queimadas…

E o tempo passou e essa luta e procura incessante em mim levou-me ainda à publicação dos textos do Blogue Mulheres & Deusas mas continuando sem grande eco entre as mulheres portuguesas, as mulheres pseudo-modernas da Europa…completamente anestesiadas por uma falsa emancipação e atordoadas pelo consumo de uma cultura alienadora da mulher que continua sem ver como a violência doméstica e psicológica está activa 90% em todos os lugares que vive e trabalha! Continua sem ver que a sua sexualidade é redutora de si mesma e que vive uma sexualidade que é “normalmente” aceite e é subtilmente violência sobre o seu ser, uma afronta à sua alma, um abuso disfarçado de desejo do seu corpo pelo macho “alfa” ou Ómega…

Assim, “Observamos, ao longo dos séculos, a pilhagem, a redução de espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina. Durante longos períodos ela foi mal gerida, à semelhança da fauna silvestre e das florestas virgens. Há alguns milénios, sempre que lhe viramos as costas, ela é relegada às regiões mais pobres da psique. As terras espirituais da Mulher Selvagem, durante o curso da história, foram saqueadas ou queimadas, com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros.”*

Mas porque o nosso tempo é muito diferente dos tempos passados, muito diferente...urge recriar uma nova maneira de amar e servir A Deusa. Uma maneira prática, realista e sensível, sem preconceitos nem dogmas, e penso que a única forma é mesmo amar a Vida sua plenitude e no respeitar da natureza e da mulher. Essa descoberta passa por uma nova consciência do ser mulher, precisamente na integração da sua natureza instintiva, na recuperação do seu dom inato, da sua intuição e dom de cura…

É pois preciso e urgente voltar à Natureza da Mulher e da Mãe Natureza! Voltar a amar a Natureza Mãe e respeitá-la como ser vivo e consciente…voltar a viver em contacto com a Terra e cultivá-la, deitar de novo sementes à Terra e ver crescer as plantas, os legumes, as árvores… queimadas…voltar a plantar toda a flora destruída pela mão criminosa do homem e a suas guerras económicas, porque é disso que se trata…

Esta é a única maneira de voltar a fazer viver a Deusa na Terra e nos nossos corações, plantando e semeando a Terra, dar vida ao solo.

As máquinas tiraram-nos a relação com a Terra e o pão…produzir, consumir e morrer foi aquilo a que o Homem chamou progresso e quanto mais inventou máquinas mais se afastou da sua natureza, mais sofre, mais se aliena da verdadeira vida e do seu feminino.

Voltemos pois ao campo, às aldeias, à natureza, ao mar…vivamos da terra entre os animais e as árvores, os rios e as aves e tudo o que existe e se manifesta sem a mão mortífera do homem…

Para que voltem as mulheres cada vez mais a ser parteiras, a educar os filhos, a tecer a sua roupa, a fazer a comida com as sua mãos, a amar como sempre fizeram as nossas ancestrais. Voltem as mulheres a reunir como curandeiras, a apanhar plantas sagradas e a curar as almas de tanta dor…voltem as mulheres a ceifar e a colher o trigo da terra, rindo felizes com os seus companheiros que as aprenderam de novo a respeitar e a amar…

Sem que porém a Deusa se torne numa experiência interior e seja a uma manifestação natural e consciente nas nossas vidas do dia-a-dia, e não apenas em horas especiais ou dias de isto e aquilo, de nada adianta ir rezar ou evocá-la nos Solstícios ou no Shamain... Embora sabendo que há lugares ditos sagrados... e por vezes possam haver revelações nesses lugares ou aparições ou mesmo milagres, não se deve confundir rituais e magias ou ter posturas que são apenas cópias do passado. Sim, é certo que a Deusa-Mãe está associada às forças telúricas e que se manifestou em lugares do Planeta poderosos onde essa energia vibratória é ainda nesses lugares mais forte porque são lugares de ressonância cósmica, de ligação entre a Terra e o Céu. Mas a Deusa tem de ser uma força interior e uma consciência vivida a partir de dentro de cada ser, entre o par humano, assumida eroticamente em cada um dos seres, exprimindo cada um o seu princípio feminino ou masculino respectivamente, na dança cósmica e não vivida no exterior sem paixão - e essa será certamente a única semelhança com os tempos de antigamente. Mas a nível exterior nada poderá ser igual.

Só assim a Deusa voltará…porque Ela é a Terra abandonada por todos nós… e o desprezo a que os homens votaram a natureza nós mulheres sofremo-la no nosso corpo todos os dias na nossa pele…

Voltemos ao Princípio de tudo, ao Paraíso…que não é remoto passado…mas momento presente no momento em que a Deusa for cada uma de nós…

E Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma instintiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos exterior e interior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora vagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior.”*

(* Lamentavelmente perdi o nome da autora que presumo seja a Clarisse Pinkola Estés, mas como não estou certa peço a quem identificar a autora dos excertos me diga de pronto!)

Rosa Leonor Pedro

4 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

A flor e até mesmo o fruto são apenas o começo. Na Semente está a vida e o futuro.

rosaleonor disse...

Palavras sábias...

rl

betoquintas disse...

eu amo essa mulher. mesmo ela desancando a nós, pagãos, bruxos e wiccanos.
coincidencia? Lilith foi o anjo/musa/deusa que me reconduziu ao caminho do Bosque Sagrado...mas eu não acredito que existam coincidências.

Ná M. disse...

NÃO SABIA DE SUA HISTÓRIA ROSA !!!!!!!!!!!!!!! IDENTIFIQUEI-ME !!! CONFESSO Q FOI SEU BLOG QUE ME FEZ DESPERTAR MAIS (OS TEXTOS E TRECHOS DE LIVROS OS QUAIS SEMPRE VOU ATRÁS), MAS AGORA QUERO ME EXPRESSAR E CHAMAR MULHERES E SEI Q TALVEZ ME RIDICULARIZEM ; É DIFÍCIL DIZER SOBRE A DEUSA PROS OUTROS,ME SINTO RADICAL E DIFERENTE,SÓ AQUI Q CONSIGO DIZER UM POUCO DOQ PENSO, MAS QNDO O FAÇO, SINTO PRAZER ! É SÓ MEDO,ROSA ! NÓS QUEREMOS A DEUSA,O MITO DELA MANIFESTADO, TODA MULHER QUER SIMMMMMMM, LIVRES E SELVAGENS,DOCES CRIATURAS FILHAS DO AR ,ÁGUA, TERRA, FOGO . MAS EU VO FAZER UM BLOG , EU VO