O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, dezembro 21, 2010

E NINGUÉM VAI MAIS LONGE...


"Nasci dura, heróica, solitária e em pé. E encontrei meu contraponto na paisagem sem pitoresco e sem beleza. A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual. E desafio a morte. Eu - eu sou a minha própria morte. E ninguém vai mais longe. O que há de bárbaro em mim procura o bárbaro e cruel fora de mim. Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira. Sou uma árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo. Eu amo a minha cruz, a que doloridamente carrego. É o mínimo que posso fazer de minha vida: aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite."


Clarice Lispector

2 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Minha cara matriarca sempre a invocar as mulheres mais sábias...

Abraços e muito amor , abraços muito fortes para você que eu gosto tanto!

Maruska disse...

Pois, só quem pisa o extremo e não encontra nada a quem tocar, fá-lo para tocar numa outra vida ou vidas (ou seja quem a lê)... e esta mulher, chamada clarice, fá-lo, e fá-lo de uma forma cortante não poupando o lugar das coisas e o ''des-lugar''.

Temos a enorme dificuldade de carregar esse lado emocional!! A sombra é esse emocional devastador; esse emocional tão incompreendido, tão desmantelado como a floresta da Amazónia... ninguém perdoa o derramar intenso de lágrimas...