O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, dezembro 27, 2010

O CORPO DA MULHER




Palavra de Afrodite:"Eu sou Senhora do sangue sagrado. A meretriz dos sucos vaginais. Sou aquela que encarna o pecado e habita as grutas infernais. Fui eu que te dei o desejo que desenhei no teu corpo todos os riscos do sexo. Fui eu que te embalei nos braços e disse a todas que eras mulher. Sou eu que ainda te guio nos descaminhos que inventaste. Sou eu que sustento as violações de um corpo que mutilaste. Tu, que és parte de mim mesma, esqueceste o lugar que te gerou. Tomaste um rumo avesso e contrário e renegaste quem te criou. Mas tu és lua, mulher e loba, e serás assim até o instante final. Não serás ferida, porque és cura. Não será dor, porque és prazer. Não serás culpa, porque és vida. Não serás certeza, porque és abismo!"Fragmento de texto retirado do livro:
A panela de Afrodite - Márcia Frazão


- O corpo da mulher tem uma especificidade própria e isso significa que a mulher tem uma função e uma forma de ser diferente do homem. O seu sexo virado para dentro, e os seus órgãos interiores, são diferentes dos homens…e para além de ter o Útero e conceber e alimentar no seu ventre a criança que se forma a partir do encontro entre o espermatozóide e o óvulo, que é um processo em sentido único e inerente à fêmea, no resto das funções são complementares, em nada superiores ou inferiores um ao outro. Simplesmente cada corpo-ser, cada forma, seja na procriação seja no prazer cumpre uma função e tem uma maneira própria, não só biológica como emocional e cerebral, mas têm o mesmo fim que é realizar essa complementaridade interiormente do ser macho-fêmea. E nessa união fusional têm como propósito mais elevado realizar o SER total, para deixarem de ser feminino ou masculino e ser apenas o SER EM SI. Quero dizer que o ser individual vai para lá da sua categoria biológica, sexual ou cerebral, para se encontrar no centro de si mesmo, independentemente de ser à partida homem ou mulher mas sempre através dessa complementaridade, dentro e fora. Admito que há variantes sexuais, questões endócrinas, mas à partida o processo mais natural e simples é o da complementaridade sexual. Pelo menos da perspectiva alquímica.

Temos descurado completamente, no plano prático, a questão iniciática da activação dos dois cérebros. Nada ou pouco sabemos acerca do potencial da activação dos seus hemisférios e vivemos apenas uma metade também. Usamos e desenvolvemos o lado racional e lógico, o masculino, mas o intuitivo e emocional, feminino, não. E ao relegar as funções do lado feminino, ridicularizando o emocional, rejeitámos as funções do hemisfério que lhe corresponde e assim negamos também essa actividade dupla do nosso cérebro.
Até hoje considera-se o nirvana ou o samadi e o êxtase como manifestações espirituais, separados do indivíduo e dos seus processos na integração dos dois em Um através, por exemplo, do orgasmo. Apenas o Tantra nos dá uma ideia da necessidade do encontro supremo da mulher e do homem enquanto formas sexos e princípios diferenciados cuja complementaridade é essencial.


A Tradição patriarcal raramente evoca a mulher nesse processo quando não mesmo a retira completamente das suas “altas iniciações”… como nos processos ascéticos…nuns casos elevam-na ao céu sem a tocar na terra, outros banem-na simplesmente do mapa.
Quanto aos processos xamânicos desconheço com efeito as suas premissas e práticas a não ser a do lado da iniciação masculina, o caminho do guerreiro…E do que leio em Carlos Castanheda quando este se refere às mulheres é obviamente machista e até um pouco misógino. Sei pouco de mulheres xamãs, cujo testemunho é raro pela mesma razão que aponta Clarissa Pinkola quando diz que “A fauna silvestre e a mulher selvagem são espécies em risco de extinção” conforme se lê no texto abaixo. Portanto a função mulher e a consciência do ser mulher além de nos dar uma ideia adulterada do seu verdadeiro ser não está de forma alguma nivelada à do homem pela perseguição secular das suas qualidades instintivas que a mantinha em contacto com a sua natureza íntima e portanto com a Terra. Ninguém me pode vir dizer que a mulher moderna está apta para se exprimir no expoente máximo das suas qualidades intrínsecas. Ninguém.
Rosa Leonor Pedro

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