O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 30, 2010

CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA


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O INCESTO UROBÓRICO

INCESTO COM A MÃE OU COM A IRMÃ
"Da boca do corpo sai a filha que simultaneamente devora os seios da mãe.
As duas serpentes que se entredevoraram, são as míticas serpentes que criaram o mundo.
Este foi o primeiro incesto"
in "A Morte da Mãe" de Isabel Barreno
"Quero levantar o tema do incesto com a mãe ou com a irmã porque ele está claramente implícito na bipolaridade da deusa. Isto tem muitas conotações para a mulher. No presente contexto trata-se de uma maneira de “incorporar as forças obscuras da mãe, ao invés de fugir e destruí-las”. A ligação erótica pode permitir uma conexão íntima com qualidades positivas da sombra às quais a mulher nunca teve acesso dentro de si mesma. E também o retorno à possibilidade de estar intimamente religada a outrem igual a si mesma, e que pode ratificar plenamente o feminino.

Neste domínio está incluído o mistério do amor entre mãe e filha e entre mulheres iguais. Anne Sexton escreveu sobre “a caverna do espelho, aquela mulher dupla que olha para si mesma”, no poema “A Imagem Dupla”. (...)E Adrienne Rich: o “Espelho em que duas são vistas como uma. É ela a quem chamamos de irmã”. Uma paciente pintava duas irmãs se abraçando e “os dois corpos apertados um contra o outro pareciam uma só pessoa”.
E ela explicava:
“Duas irmãs abraçadas fazem uma pessoa forte. E é a maneira pelo qual consigo abraçar-me quando preciso de uma mãe e não há ninguém que me ajude: Eu a mim, como uma irmã a sua irmã”.
(...)

Este incesto sugere cuidados e protecção a nível urobórico, ao nível dos laços simbióticos que firmam a mulher na sua auto-estima, permitindo-lhe ir em frente com a sua alma feminina, livre de amarras do colectivo exterior.
(...)

É frequente ocorrer uma fixação de transferência muito erotizada quando a terapia atinge esse nível - é uma fusão urobórica que derrete as defesas do animus e permite o renascimento com a capacidade de exprimir necessidades e sentimentos activa.
(...)

Há ainda um outro aspecto do incesto com a mãe que quase sempre aparece na análise das filhas do pai as quais energicamente repudiam as mães fracas, identificando-se excessivamente com o espírito e o intelecto masculinos. Suas mães eram vistas como o modelo de inferioridade do qual elas tentavam escapar a qualquer preço. Nesse caso, o incesto com a mãe pode ser o despertar doloroso para as qualidades com ela compartilhadas, a identidade com a fêmea humilhada e desprezada.
(...)
Em todos os exemplos a mãe pessoal é idêntica à sombra negativa da mulher, que então a projecta sobre a mãe. Quando adultas as filhas do pai ficam humilhadas ao verem os laços de fraqueza e auto-rejeição que compartilham com a mãe. O insigtht prega-as na realidade, destrói-lhes o ideal grandioso e heróico do ego, iniciando um período de mergulho
-->na depressão, enquanto as faz sofrer pela identificação com o feminino ferido e desprezado.”
(...)
In
CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA
De Sylvia B. Perera

sábado, julho 24, 2010

O DESEJO SEM LIMITES...


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O ÓDIO AO QUE HÁ DE MAIS FEMININO...
“As mulheres encarnam o desejo sem limites, e os homens temem não poder satisfazê-las. Aos olhos deles, o feminino das mulheres surge como uma reprovação potencial, desencadeia um processo de castração contra o qual os homens se rebelam. Eles não toleram as mulheres senão quando já mataram o que há de feminino nelas e as reduziram a seu status de esposa e mãe.

Nesses dois estados, a sexualidade feminina deixa de ser perigosa: confinadas à casa, pertencentes a um macho, reduzidas a assegurar a educação das crianças no lar, com uma jornada dupla de trabalho, elas não têm mais tempo ou oportunidade de ter desejo imperioso. São essas angústias de castração sublimadas que geram a codificação religiosa. E o monoteísmo é insuperável no ódio ao que há de feminino na mulher e na celebração da virgem ou da esposa que gera filhos”
__Michel Onfray, um popular filósofo francês, vê nas religiões monoteístas um entrave à ciência, à ética e à política -
Obrigada Igaci por este pequeno texto!
(publicado e enviado já há muito tempo)
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"A superioridade natural das mulheres é um fato biológico. [...] mas, num mundo dominado pelos homens, onde a inflação do ego masculino dependeu da conservação do mito da superioridade do homem - seu significado não recebeu a atenção merecida.'
"[…] a já calcificada idealização da maternidade distorce seriamente problemas complexos como os de violência física, abuso sexual e incesto perpetrados nas crianças pela mãe, ela própria vítima de um castrador processo de constituição de sua identidade de género"
( IN: http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/)

quinta-feira, julho 22, 2010

A MULHER É UM MISTÉRIO INSONDÁVEL


O MISTÉRIO DA MULHER

“A Mulher é sempre um mistério insondável que atrai e mete mede ao mesmo tempo que dá vida e se torna devoradora, e que os moralistas cristãos se apressaram muitas vezes a identificar com o diabo, pelo menos com a ideia pueril que se tinha deste. Este mistério foi sentido pelos homens da pré-história, visto que os escultores e gravadores do paliolítico se abstiveram cuidadosamente de desenhar o seu rosto. Quem é essa Deusa dos tempos Primordiais, que tem sexo, mas não tem rosto? Será o eterno feminino tão caro aos poetas?

(...)

“A GRANDE DEUSA“ de Jean Markale



Sofia a Reveladora dos Mistérios...

(...) Negrito


"A mulher divina no gnosticismo é essencialmente, Sofia, entidade de múltiplos aspectos e nomes. Identificada por vezes ao próprio Espírito Santo, é também, segundo os seus diversos atributos, a Mãe universal, a Mãe do Vivos ou Mãe resplandecente, o Poder do Alto, "A da Mão Esquerda" (em oposição ao Cristo, considerado seu esposo e "O da Mão Direita"), a Luxuriosa, a Matriz, a Virgem, a Esposa do Macho, a Reveladora dos Mistérios, a Santa Pomba do Espírito, a Mãe Celeste, a Extraviada, Helena (isto é Selenia, a Lua); foi concebida como a Psique do mundo e o aspecto feminino do Logos. Na "Grande Revelação" de Simão o gnóstico, o tema da díade e do andrógino é dado em termos que merecem ser referidos aqui:


" Este é o que foi, que é o que será, o poder macho-fêmea assim como o poder preexistente ilimitado que não tem começo nem fim, porque existe na Unidade. Foi através deste poder ilimitado que o pensamento, escondido na Unidade, agiu primeiro, tornando-se dois... Sucedeu assim que aquilo que através dele se manifestou, embora um, é de facto dois, macho e fêmea, contendo a fêmea em si próprio".


In " A Metafísica do Sexo" de Julius Evola


A ANDROGINIA DAS ALMAS

É sobretudo na tradição hermética que se encontram referências à androginia das almas: "não há (nas almas) machos nem fêmeas; esta disposição só existe nos corpos", responde Ísis ao seu filho Hórus, que lhe pergunta como nascem as almas, se machos se fêmeas (Ménard, pp.203-204). Também entre os gnósticos encontramos alusões tanto à androginia de Deus, de quem as almas são emanação e reflexo. A androginia é ainda atestada nos Evangelhos apócrifos. O que demonstra que nos primeiros séculos da era cristã se respirava um misticismo sincrético bastante semelhante à tendencia hermética que volta a despertar no século dezasseis e se mantém daí em diante

No Evangelho de Tomé, Jesus diz, dirigindo-se aos discípulos:

"Quando fizerdes os dois (ser) um, e...o interior como o exterior e o exterior como o interior, e o superior como o inferior...(e) o macho e a fêmea já não seja macho nem fêmea, então entrareis no Reino".


Nota-se a influência do célebre Pimandro de Hermes, em que se proclama que o que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima; ou seja; que tudo é um.


in LITERATURA E ALQUIMIA
Y.K.Centeno


quarta-feira, julho 21, 2010

Nós não somos livres.


O DOM DE SI

“Será que esquecemos que o Dom de si não pode ser senão voluntário? Será que esquecemos que não pode haver responsabilidade senão onde existir liberdade?
Ora nós não somos livres. Somos vítimas de preconceitos, mergulhados nas rotinas que nos prendem, saturados de ideias feitas. E por falta de lucidez, estamos em completo desconhecimento dos verdadeiros problemas que se põem aos seres humanos.

Nós não somos livres. A mulher, particularmente, tornou-se escrava da nossa sociedade que é uma sociedade de escravos que nem sequer se apercebem do seu estado de servidão porque eles apenas gargarejam as palavras. Não, de modo algum é suficiente pronunciar a palavra liberdade e cantá-la em todos os tons para se ser verdadeiramente livre, é preciso sê-lo por actos."


JEAN MARKALE - La Femme Celte

O FIO DA NAVALHA?


“Amo-te”: é o momento em que a memória se apodera da experiência: memória que me ultrapassa de muito longe, lembrança do que não vivi. Conheço o amor antes de o ter experimentado, a certeza de amar é sempre um reconhecimento: é aquilo, aquilo que li, aquilo de que respirei o aroma fictício, vigiei os indícios e tanto esperei que me arrebatasse, é enfim, aquilo: “amo-te” existe em mim antes de o proferir, o sabor da primeira vez em conformidade com a prelibação que exala o amor de amar”.


“Ela veio, vi-a, estava embriagado por um amor sem objecto; esta embriaguez fascinou os meus olhos, o objecto fixou-se nela”

(Confessions, Rousseau)

terça-feira, julho 20, 2010

O mundo do Homem não presta...



Amanheci em cólera.

Não, não, o mundo não me agrada.

A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo.

E o amor, em vez de dar, exige.

E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece
.



Clarice Lispector
****

Se pudesses libertar-te, por uma vez, te ti mesmo,
o segredo dos segredos se abriria para ti.
O rosto do desconhecido, oculto além do universo,
apareceria no espelho da tua percepção.

Rumi

segunda-feira, julho 19, 2010

MEMÓRIA...


“Sentia-te como se entre os meus braços estivesses a levitar uma criatura antiga, de rosto doce e rugoso de velha cabra, uma serpente que saia do mais profundo do meu corpo, e adorava-te como a uma "mãe" antiquíssima e universal.
(...)

Mas seria talvez de ti que eu andava à procura? Talvez eu esteja aqui sempre a esperar por ti. De todas as vezes perdi-te porque não te reconheci ou não me atrevi? De todas as vezes perdi-te porque ao reconhecer-te sabia que devia perder-te?”


In “O Pêndulo de Foucaul”
UMBERTO ECO

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A minha memória de mim…a minha história ao inverso...


...Às vezes assola-me uma dor enorme, súbita que me golpeia o peito e todo o meu ser se esvai em pranto…é a memória de um tempo ido, um passado esquecido, uma saudade pungente de um amor talvez perdido, de alguém que não conheço e antevejo ou adivinho mas que nunca se revela…

Depois mergulho numa sonolência dolorosa, fico exausta, e como num sonho turvo, vejo uma vida que não vivo, de uma grandeza imensa, de uma beleza esmagadora de que me lembro na pele mas sem nunca a ter vivido aqui nesta obsoleta realidade tão constrangedora…onde as pessoas são mesquinhas e ciumentas, pequenas e invejosas.


RLP

Mas eu sei...eu sei...

"Há uma Alma dentro de tua Alma. Busca essa Alma.
Há uma jóia na montanha do corpo. Busca a mina desta jóia.
Oh, sufi, que passa!
Busca dentro, se podes, e não fora." RUMI


sábado, julho 17, 2010

BEBER NA FONTE DO FEMININO



"Abençoado e feliz aquele que conhece os mistérios das "deusas" e celebra nas montanhas orgias e purificações sagradas: tem vida santa e pura na alma"
Eurípedes


FEMiNITUDE…uma palavra que não existe em português, uma palavra que não consta no dicionário. Uma palavra que lembra o feminino eterno, o infinito, a amplitude da alma, a completude do SER Mulher!



“Quando uma mulher procura expandir-se, tudo colabora para que ela possa um dia descobrir o seu corpo, aceitá-lo, amá-lo, acarinhá-lo e a consentir que ele se abandone ao prazer e se acalme para fazer dele o seu lugar de paz e o seu verdadeiro templo.”



A primeira vez que eu imergi num círculo de mulheres, eu ignorava porque é que lá estava, era um chamamento sem dúvida, um encontro, uma urgência. Aquilo que me surpreende ainda, é esta ambivalência que me invadia em contacto com as outras mulheres, ambiguidade feita de atracção e medo. Nesse dia, nós éramos mais de trinta mulheres reunidas em círculo, cheias de sede pela nossa procura de identidade, prontas a manifestar as nossas dúvidas e a mergulhar nos nossos erros. Lembro-me deste ambiente feminino, contudo simples e íntimo, misturado por vezes de grandes silêncios, de interrogações, de tristeza e de risos deslocados. Esta procura incessante de um espelho feminino e esta incompreensão da mulher face a ela mesma era um grande mistério para mim. O que é que nós vínhamos ao certo buscar neste grupo feminino? Era de um sorriso aquiescido ou de uma espécie de autorização, alguma coisa parecida com um “sim, vai, vai agora, já estás pronta!” Ou então um sentimento de pertença e conforto que nós queríamos encontrar no meio de outras mulheres “como nós”? Ao menos que seja uma qualquer outra motivação, animada por uma necessidade de vir beber à fonte do feminino, à ressurgência de uma inteligência criativa esquecida, de um espaço sagrado que nos revele a nossa própria luz?


Alguns anos mais tarde, quando eu animei por minha vez um grupo de palavras de mulheres, mergulhei periodicamente em face a face análogas. Durante sete anos, procurei compreender as mulheres, e para isso pus-me a ouvir as suas histórias de vida e acompanhei as suas viagens interiores, ao mesmo tempo sombrias e alegres, terríveis e fascinantes. Muitas vezes elas eram testemunhas do poder do círculo, criador de um elo sólido, no qual podiam tirar de dentro de si a força, a luz e a alegria necessárias para percorrer os dias que as separavam do nosso próximo encontro. Elas colheram juntas os momentos importantes da sua vida, incarnando então toda uma paleta de personagens: a menina inocente, a rapariga sonhadora, a irmã de jogos, a irmã ciumenta, a jovem na flor da vida, a adolescente que se nega, a mulher livre, a rival, a mãe cuidadosa, a mãe poderosa, a muito boa, a marâte, a avó devotada, a velha sábia…atravessando assim os grandes arquétipos da psique feminina aproximando-se cada vez mais perto do lugar que cada mulher sonha se dar.”


Excerto da introdução de Monique Grande



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Na linha directa da célebre colectânia Féminitude, o novo livro de Monique Grande vem inscrever-se no círculo das obras que permitem às mulheres ligar a sua interioridade à sua expressão criativa.



“ Esta leitura tocou-me o coração, ou antes a Alma. Não há uma só palavra de Monique Grande que não tenha feito ressonância no meu eu feminino, e eu suponho que será assim com todas as mulheres que o lerem, seja qual for o caminho que elas tenham escolhido, e o ponto dele em que se encontrem. Porque à medida que lemos, parece evidente que nos concerne a todas, e a todos, este renascimento profundo de cada uma das vias da diversidade das facetas da feminilidade. E que o devir do nosso mundo actual depende disso sem dúvida. E que nós podemos todas, e todos, fazer qualquer coisa. E que isso dá vontade de viver, cada instante, cada palavra, nessa alegria.”


Aline, comité de leitura do Soufle d’Or

sexta-feira, julho 16, 2010

MILHARES DE MULHERES...


A VOZ DE UMA MULHER AFRICANA...

"Até na Bíblia a mulher não presta. Os santos, nas suas pregações antigas, dizem que a mulher nada vale, a mulher é um animal nutridor de maldade, fonte de todas as discussões, querelas e injustiças.
É verdade. Se podemos ser trocadas, vendidas, torturadas, mortas, escravizadas, encurraladas em haréns como gado, é porque não fazemos falta nenhuma. Mas se não fazemos falta nenhuma, porque é que deus nos colocou no mundo? E esse deus, se existe, porque nos deixa sofrer assim? O pior de tudo é que deus parece não Ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa - sua esposa - intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é de certeza a cozinha celestial.”
(...)

E a NOSSA MÃE DO CÉU?

Se ela existisse teríamos a quem dirigir as nossas preces e diríamos:

Madre nossa que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino - das mulheres, claro -, venha a nós a sua benevolência, não queremos mais violência. Sejam ouvidos os nossos apelos, assim na terra como no céu. A Paz nossa de cada dia nos daí hoje e perdoai as nossas ofensas - fofocas, má-lingua, bisbilhotices, vaidade, inveja - assim como nós perdoamos a tirania, traição, imoralidades, bebedeiras, insultos, dos nossos maridos, amantes, namorados, companheiros e outras relações que nem sei nomear...Não nos deixeis cair na tentação de imitar a loucura deles - beber, maltratar, roubar, expulsar, casar e divorciar, violar, escravizar, comprar, usar, abusar e nem nos deixeis morrer nas mãos desses tiranos - mas livrai-nos do mal, Amén.

Uma mãe celestial nos dava muito jeito, sem dúvida nenhuma.

NIKETCHE - uma história de poligamia
Paulina Chiziane



terça-feira, julho 13, 2010

SEM A MÃE E A MULHER

O MUNDO ESTÁ DOENTE...

“Eu digo que o momento presente da civilização
– quer ela seja judaico-cristã, muçulmana, budista, hindu ou africana – é um momento doente. A natureza do mal é a mesma para todos, só diferem os graus segundo os povos, as regiões e os contextos históricos e económicos. E o que caracteriza esta doença a meus olhos, é o ser humano seja qual for o seu nível de pertença e o seu país, ele perdeu a sua alma e o seu prazer. Ele foi reduzido ao estado função, de serviço, de instrumento, de coisa. Ele transformou-se ele mesmo em máquina. E da mesma maneira que ele se virou contra o seu criador, a máquina esta em vias de se voltar contra ele mesmo”.
(…)
O autor sugere que é ilusório querer “restaurar e menos ainda reconduzir uma relação de forças e de pressões em que vivemos é um falhanço. Se existe uma saída para este estado de decomposição, só nos conduzirá a isso um pensamento novo do homem e da cultura.”

Adónis
(2001) – escrito e poeta sírio

SEM O FEMININO O HOMEM NÃO TEM SAÍDA

Mesmo culturalmente é um absurdo continuar a dizer o Homem sem incluir a Mulher,
falando naturalmente em Ser Humano, mas o facto é que a mulher não está apenas anulada na cultura linguística…E este não se trata de um problema de semântica, mas de consciência profunda, de revisão de toda a história e cultura patriarcal…

O homem não se voltou contra o criador abstracto e ausente, Deus-Pai, mas contra a Natureza Mãe, sempre presente…contra a Deusa Terra e tudo o que dá fruto e que ele esmagou ou roubou apoderando-se do que a Terra dá em abundância criando a desordem, a desigualdade e a fome ao cimo do planeta. Ele voltou-se contra a Mulher e o Feminino na Terra, roubou a sua essência para a transformar em corpo objecto e hoje apenas plástico e silicone, um corpo doente… Foi aí sim, que ele perdeu a sua alma e o seu prazer ao perder a mulher real que ele subjugou e destruiu até ficar uma mulher sem alma mesmo, sem prazer ele não fez mais do matar a sua fome de ódio e desprezo por si mesmo atacando e matando outros seres humanos!

O Homem voltou-se contra a Mulher Mãe e foi contra a Sua criação toda e de tudo o que é vida na terra que ele procurou possuir e destruir. Quis possuir e fazer à sua maneira, quis ser dono e senhor das terras e dos mares, dos animais, dos recursos naturais, de outros seres humanos e violou todas as leis usurpando tudo o que encontrou, terras, diamantes, ouro, petróleo, carvão, prata e tudo o que na terra mantém o seu equilíbrio, pensando que assim seria igual ao deus que ele criou à sua imagem criando armas de destruição das mais elementares às mais sofisticadas de acordo com a sua (in) evolução! Ele violou a Terra como violou a mulher nas suas entranhas com a sua enorme sede de vingança e de poder! Criou mundos fictícios de pedra e metal, criou um mundo totalmente inútil e supérfluo de produção consumo e morte e que envenena o ambiente e o cosmos, criando o dinheiro e mata por ele sem qualquer ética nem respeito pela Vida.

Seja o Homem o que for, a besta ou a raça primeira, macaco ou sapiens, sem a mulher realizada, sem a Mulher consciente da sua herança perdida e roubada, sem que a mulher se erga na vertical e exija a sua total identidade e o seu lugar no mundo, não serve de nada nenhuma ciência sistémica nem nenhum pensamento novo ou cultura, de nada vale qualquer nova espiritualidade!
O mundo e a sua queda, ontem como hoje, baseia-se apenas no poder da força exercido durante milénios pelo poder patriarcal e as suas religiões, o poder de domínio e escravização dos outros seres.

Começou antes de Abel que matou Caim…desde Adão que a história nos é contada assim.
E como diz Joelle de Gravelaine a esse propósito, no seu livro Deusas Selvagens:

“pobre Adão, que não suportou a sua divina solidão e adquiriu uma “má companhia”, porque a seus olhos ele perdeu a sua alma imortal e perfeita…Ele decidiu nunca mais perdoar esta história da “maçã”, recusando-se a tomar consciência do presente que teve – obrigado e colocado na sua mão por Iavé – que Isha, a sua consciência revelada, lhe faz oferecendo-lhe a sua morte. Da serpente de vida e da morte, macho e fêmea, ao andrógino perfeito passando pela bissexualidade e o hermafroditismo, o pensamento humano – asseguram-nos disso – progrediu, evolui e apurou-se. Nesta evolução – seguramente nobre e espiritual – visando a magnitude da alma e a transcender o corpo e a sexualidade, alguma coisa se perdeu, uma outra dimensão, de do ser vivo e carnal, e “inocente” porque ela estava bem longe de qualquer noção do pecado e portanto de perversão. E precisamente esta perda de inocência, esta perda sobretudo do sentido do sagrado, introduziu no nosso universo as piores perversões. O que é que há de mais “culpado”: praticar a omofagia, quer dizer, devorar carne crua – por vezes é verdade, como os tigres que se sacodem na boca um animal vivo – ou prostituir crianças nas ruas de Manilha por dinheiro ou utilizá-los com o mesmo fim, em filmes pornográficos que incluem por vezes a morte real dos actores involuntários?”
J.G.


Resta-me acrescentar que esta perda de sentido do sagrado começa com efeito na destruição da Deusa como Mãe e da Mulher na sua dimensão ontológica, condenada que foi pela queda do homem…
Na verdade, a queda do homem, reside na sua depredação da terra, da mulher e da criança, na destruição dos alicerces da vida Natural e perda do respeito pela vida dos animais.
Esta foi a Queda do Homem e não da mulher. A Mulher foi abolida da história religiosa tendo ficado como um utensílio do homem ao serviço do homem, uma escrava do prazer fictício baseado na violência e na agressão. Desde o início de qualquer das religiões citadas que a mulher passou a ser, em todo o mundo, “mão-de-obra” do homem, escrava da concepção ou prostituída.

A doença deste mundo e a queda desta civilização passa pela negação sistemática da mulher
essência e o deixar que a mulher continue a ser um fragmento dela própria e humilhada pelo poder económico hoje como o foi ontem pelo esclavagismo ou feudalismo, ainda que ela seja no poder mais máscula do que qualquer homem o que acontece nestas sociedades ricas e falsas, totalmente erguidas na iniquidade.

A única saída é o resgate da Mulher, da Mulher verdadeira e da sua inocência que lhe foi roubada pelos patriarcas do deserto. Restaurar o mundo no respeito pela Nova (velha) Mulher, pela Mãe e a criança, por toda a Natureza Viva é a única solução para o Planeta!

Voltando a citar Joelle de Gravelaine para acabar, tenhamos em conta um princípio anunciado por Cristo, uma resposta, a uma pergunta da samaritana? QUANDO VIRÁ O TEU REINO?

“É preciso voltar sem dúvidas ao Evangelho de Tomás, de essência essénica certamente, para entender a verdadeira palavra reconciliatória (ou salvar a mulher do pecado da Génese) de Jesus que constitui a mais bela das mensagens:” - “Quando tornarem os dois seres em um e tornarem iguais o interior e o exterior e que o exterior seja igual ao interior, e o de cima seja igual ao debaixo, e se fizerem com que o macho e a fêmea sejam um só afim que o macho deixe de ser macho e a fêmea não seja mais fêmea, então entrarão no Reino!”
J.G.
- Mas mesmo aí eu digo que antes disso tem a mulher de ser mulher ela mesma inteirinha primeiro…porque senão ela só encontro no seu interior o macho e não a fêmea…

Rosa Leonor Pedro
Colocando este discurso no passado, temos a história do mundo.
"A sociedade patriarcal valoriza e promove apenas os aspectos masculinos, subestimando e até mesmo reprimindo os aspectos femininos. O resultado é que a mulher se esvazia, perde sua identidade feminina essencial e se torna uma “cópia” caricatural do homem; o homem, por sua vez reduzido à masculidade bruta e unilateral, perde a ligação com os valores femininos do seu mundo interior e passa a ter uma relação opressiva para com a mulher. Como restaurar a feminilidade, despontenciando a unilateralidade do mundo patriarcal, a fim de reequilibrar a identidade psicológica dos sexos e planificar a relação entre o homem e a mulher?"

In AMOR E PSIQUE (autor ?)


sexta-feira, julho 09, 2010

FEMINISMO INTEGRAL


NA MULHER...


"Há um nível de sofrimento a que se não consegue responder, uma realidade sentida no corpo correspondente a algo que não foi ouvido, algo que não torna presente a consciência que em tempos existiu."




Qualquer debate sobre o Princípio Feminino acaba sempre por embater com o facto de o valor da nossa linguagem advir de uma perspectiva masculina, utilizada por homens e mulheres. Masculino significa penetrativo, funcional – “Faz alguma coisa sobre isso”, enquanto Princípio Feminino é o ser em si mesmo - literalmente a força nutritiva da existência, porque ele é a própria existência. Actualmente, existe uma preferência pelas formas masculinas de comunicação e estamos a tentar intervir aí com a sensibilidade feminina. A minha motivação pessoal para isso está de facto afectada. Há um nível de sofrimento a que se não consegue responder, uma realidade sentida no corpo correspondente a algo que não foi ouvido, algo que não torna presente a consciência que em tempos existiu.


Isto está relacionado com a prioridade dada à informação em detrimento da saúde emocional e psíquica da encarnação. Queremos ajudar as mulheres a cultivar uma confiança profunda no bem, na verdade e na beleza inerentes ao seu coração, a fim de trazer à superfície a nossa parte vulnerável de onde é originária toda a nossa energia.


Assim, estamos a falar de algo que é invisível por estar sempre presente. E é importante estabelecer-se a diferença entre os termos feminino, mulher e fêmea. O Feminino é um aspecto da existência que é independente das mulheres. Uma definição mais absoluta seria a de que, relativamente ao princípio Masculino de infinito absoluto, o Principio Feminino seria tudo o que aparece, tudo o que é observado, incluindo o próprio observador(a). Contudo, em termos da encarnação, é expresso através de um corpo de mulher, porque o Feminino é o princípio receptivo e o masculino é o princípio penetrativo. O nosso relacionamento com o Feminino é o nosso relacionamento com a encarnação.


SOFIA DIAZ

(tradução M. Inverno)

quinta-feira, julho 08, 2010

Lilith a Lua negra


No começo era a Grande Deusa e a Grande Deusa era a Terra e a Terra era a Grande Deusa.

As origens do culto à Grande Deusa jazem obscurecidas na indistinta penumbra dos tempos pré-históricos. A Deusa imperou durante centenas de milhares de anos. Com o passar dos tempos, a Deusa-mãe foi sobrepujada e superada pelo mais patriarcal dos arquétipos - Javé (Yaweeh), Deus-Pai, Alá. Este arquétipo patriarcal aperfeiçoou-se nos mundos judaico, cristão e muçulmano. Alguns aspectos da Deusa-mãe foram permitidos, porém de forma controlada, na imagem de Maria, mãe de Deus. São algumas Madonas Negras, de antigos santuários, que ainda nos dão testemunho da Deusa-mãe.

A figura de Lilith representa um aspecto da Grande Deusa.
Na antiga Babilónia, ela era venerada sob os nomes de Lilitu, Ishtar e Lamaschtu. A mitologia judaica coloca-a em domínios mais obscuros, como um demónio (feminino) do mal, a adequada companheira de Satã, que tenta os homens e assassina as criancinhas.


Interpretação de Lilith

"Durante meus anos de prática astrológica, tenho utilizado a Lua Negra em todas as minhas análises de mapas natais, como complemento da interpretação da Lua. Jamais pensei em ignorar esta influência. A Lua Negra descreve nosso relacionamento com o Absoluto, com o sacrifício como tal, e mostra-nos como abrimos mão de certas coisas. Em trânsito, a Lua Negra indica-nos alguma forma de castração ou frustração, frequentemente nos assuntos relacionados ao desejo; uma incapacidade da psique; ou uma inibição em geral. Por outro lado também indica nossas áreas de auto questionamento, a nossa vida, nossos trabalhos, nossas crenças. Acho que é isto é importante, pois nos dá a oportunidade de abrir mão de algo. A Lua Negra mostra onde podemos deixar que a Totalidade fale dentro de nós, sem atravessar um “eu” pelo caminho, sem erigir um muro formado pelo nosso ego. Ao mesmo tempo, ela não nos indica a passividade. Ao contrário, simboliza a firme vontade de mantermo-nos abertos e confiantes, de deixar que o Mundo Transcendental infiltre-se em nós, confiando inteiramente nas grandes leis do Universo, naquilo que chamamos Deus. A fim de nos preparar para essa abertura, a Lua Negra cria um vazio necessário."

(Joëlle de Gravelaine in "Lilith und das Loslassen", Astrologie Heute Nr. 23)

segunda-feira, julho 05, 2010

A DEUSA SELVAGEM...


"E eu não resistirei à tentação de citar Robert Graves, de todos os poetas o mais apaixonado da Deusa Branca:

“Vão me objectar que a pretensão do homem à divindade é tão válida como a da mulher. Mas isso não é verdade senão de um certo modo: um homem não pode ser divino senão em parceria com um gémeo, mas ele não o pode ser na sua pessoa única. Como Osíris, o espírito do ano crescente, ele é ciumento do seu gémeo pendente, Seth, o espírito do ano decrescente e vice-versa: ele não pode ser os dois ao mesmo tempo salvo por um esforço intelectual que destrói a sua humanidade, e nisso reside o erro fundamental dos cultos apolínios (de apolo) ou jehowistes (de jeová). O homem não é senão um demi-deus: ele tem sempre um pé ou outro na tumba. A mulher é divina porque ela sempre pode ter os dois pés num mesmo teatro: ou bem que no céu, assim como no mundo subterrâneo, ou sobre a terra.
(…)
A mulher adora o macho criança, não o macho adulto. A evidência da sua divindade é que o homem depende dela para viver, tão simplesmente como isso.
"

In LA DÉESSE SAUVAGE de Joelle de Gavelaine

O CORPO DA MULHER


O CORPO-OBJECTO E O CORPO MÁGICO DA MULHER ...


É um facto que o ser humano em geral é um um ser-objecto, um ser alienado, que se transformou num corpo exterior, sem interioridade, sem vida plena porque sem alma nem espírito, mas quando se fala de “corpo objecto” deve falar-se antes de mais da mulher, porque o Homem nunca foi “homem objecto” como dominante da sua História, ele foi escravo, mas mesmo escravo tinha direitos de morte sobre a mulher…que, esta sim, era objecto do homem e sem direitos. Fosse a sua mulher fosse a sua escrava ou a sua concubina ela era sujeita a todas as afrontas, ofensas e perjúrios. E mesmo que hoje em dia possamos pensar que já há homens objecto, eles são “modelos” de homens fracos ou são gays e travestis, porque para se tornarem “objectos” eles tiveram de se tornar “mulheres”…e isto, os intelectuais, os eruditos e os especialistas do género, e nem as próprias mulheres, querem ver…

Sim, houve excepções relativas para rainhas, algumas, e nobres, freiras e cortesãs mas todas elas foram, a um nível ou outro, sujeitas às mesmas normas.


Durante mais de 2 mil anos a Humanidade retratou-se em nome do Homem…Durante 2 mil anos a Humanidade Mulher foi ocultada da face da Terra e da Arte, suprimida da linguagem erudita e oral, reprimida na sua liberdade individual, controlada pela metade Homem em nome do qual a mulher foi submetida ao macho, primeiro como escrava, depois concubina, totalmente sujeita às leis do Pater, ao rei, ao pai, ao marido e ao Clã… e aprendeu as leis dos homens e falava e agia, como um ser sem autonomia, nem voz activa e assim continuou até há aproximadamente um século, em que pela primeira vez na história dos homens, a mulher ousou erguer a voz para defender os seus direitos, mas no fundo, e em todo a parte do mundo, as condições de vida das mulheres é e continua a ser igualmente precária e aviltante sob todos os pontos de vista até hoje…


Durante centenas e centenas de anos a Mulher foi desautorizada de se exprimir, ser ela mesma e de expressar a sua natureza intrínseca, reprimida na sua força interior instintiva, deixando de ser a representante do pólo feminino da humanidade, deixando de ser a legítima representante da Deusa Mãe, criadora de todas as coisas, impedida de se afirmar e de ter prazer, de ter direito sobre o seu próprio corpo. Ela foi condenada ao descrédito por Apolo, impedida de manifestar o seu dom inato de oráculo, sacerdotisa e vidente, de ser senhora da sua vida em qualquer circunstância.


O corpo da mulher, com o advento da religião patriarcal e o seu domínio social e religioso, tornou-se num corpo objecto, um corpo ao serviço da sociedade e do patriarcado. A mulher foi paulatinamente despojada do seu corpo de sabedoria, do seu ser instintivo e anímico.


E toda a gente hoje pensa que esta mulher sem identidade, esta mulher vazia de interioridade profunda, esvaziada das suas entranhas, do seu sangue e do seu útero, sempre foi assim e que nunca houve a outra Mulher e a Deusa…

Esta é obra de Usurpadores….primeiro destruíram a Deusa e os seus templos, lugares sagrados, a própria terra e depois o próprio corpo sagrado da mulher foi dessacralizado, foi violado, foi transformado em mercadoria barata ou cara, em mais-valia e durante séculos a mulher foi-se aviltando e tornando num ser abjecto, num ser divido dentro de si mesma, num ser sem identidade própria, adoptando um prazer, e quando se julgou igual adoptou um comportamento masculino, um discurso masculino, para se defender com os mesmos valores com que o Homem a agredia.


A mulher tornou-se no seu próprio inimigo. PORQUE A mulher verdadeira, a mulher inteira deixou de existir.

Há muitos, muitos anos que a verdadeira mulher não existe e em lugar dela temos um sucedâneo de mulher, risível e frágil, doente e histérica…

E foi assim que a mulher entre a doméstica e a casada, a prostituta e a aventureira, se tornou aos poucos num ser vazio e sem alma…tal como quiseram os senhores da Igreja que assim fosse.

A mulher ou casava segundo um contrato e era pouco mais do que escrava do marido, ou se vendia e vivia na ignomínia nos Bordeis ou na Rua, desprezada e exposta às maiores humilhações.


Com a revolução industrial e depois das últimas guerras, à falta de homens que morreram aos milhões pela loucura dos seus generais e banqueiros, as mulheres tiveram de trabalhar para sobreviver e assim formou-se uma nova classe de mulheres, viúvas, solteiras e velhas, que aos poucos se foram afirmando dentro de um novo contexto até às primeiras manifestações organizadas pelos direitos das mulheres no trabalho, pois o seu salário era e ainda é muito inferior ao dos homens…


Rapidamente caminhámos para os nossos dias, e os anos sessenta trouxeram as famigeradas feministas para a Ribalta, mas sempre e apenas em luta por direitos e salários iguais e nunca por uma consciência do Ser Mulher e na busca de um resgate da verdadeira mulher, a Mulher a quem durante centenas de anos foi tirado todo o valor e que foi dramaticamente destituída de todas as suas características essências, enquanto ser feminino, assim como da sua dignidade de fêmea e de amante e da sua própria verticalidade. A mulher só tinha valor na horizontal…


Assim a prostituição nunca foi considerada uma ofensa nem uma afronta à dignidade da mulher, mas plenamente aceite como se fosse uma coisa natural…e defendida como “profissão”…para cúmulo e aberração de um qualquer princípio ontológico…


As mulheres aceitaram ainda todas as histórias que os homens lhes contaram como História, a única existente e os seus valores continuaram a ser os dos homens. Chegadas aos nossos dias, em que há tantas mulheres no poder e tantas mulheres intelectuais, o que fazem as mulheres senão pensar pela cabeça dos homens, fiéis aos seus mestres ou mentores? Elas continuam a ser metades mulheres, fragmentadas e inimigas umas das outras, a servir os seus líderes como serviam os seus amos e senhores, maridos ou amantes.

Hoje, aparentemente descontraídas e livres fazem programas de televisão como mulheres pensantes e intelectuais a dar opiniões sobre a política e os acontecimentos globais ou do país…mas nada é feito para se tornarem conscientes de si mesmas, nada é posto em causa sobre a sua verdadeira e profunda identidade perdida e completamente esquecida.

São as mesmas católicas submissas aos padres e ao papa, que julgam as mulheres que sofrem e fazem “abortos”, são as mesmas catedráticas oficiantes que educam como os seus professores, as mesmas revolucionárias servis aos seus lideres…sejam comunistas, socialistas ou de direita ou do centro.

Têm todas da mesma marca na testa, todas iguais na maquilhagem, na roupa que vestem e sem identidade. Vestem-se e competem entre si para conquistar lugares de chefia, para agradar aos jornalistas…ao ministro, ao engenheiro, ao médico. Sempre inimigas umas das outras e dispostas a tudo para ganhar o macho e o lugar de ribalta que ele lhe oferece a troco de…uma boa cama!


Mas há mulheres em Portugal que fazem a diferença e ninguém as conhece…não são artistas, não são casadas com milionários nem famosas, nem ricas…não fazem parte do Jet set…

São mulheres que surgem da Bruma…mulheres que vivem o dia-a-dia mas dançam de alma e coração, são mulheres que acordam para uma nova energia da Deusa dentro delas que começam a sentir o seu poder no Ventre, no seu corpo, nos seus gestos.


Há mulheres selvagens que correm com os lobos…há mulheres que cantam antigas canções da terra, há mulheres que se dão as mãos e se abraçam e juntas formam círculos mágicos. São mães, são filhas, são amantes e sentem o apelo da Terra Mãe, ouvem a sua voz sentem-na no seu Útero…

Há mulheres belíssimas, simples e naturais, sem mais do que véus e sedas e cores e alegria que começam a acreditar nelas…


Eu hoje vi muitas delas…dançaram como irmãs em celebração da vida, O Solstício, como só as mulheres podem fazer e durante duas horas a minha alma dançou com elas, vibrou com os seus passos, com as suas rodas, com os seus risos e leques…

Eu hoje vi os seus corpos-objectos transformarem-se por magia e musica em Cálices a jorrarem doçura e mel para serem seiva e raízes, de novo Deusas na Terra.

O meu coração agradece a cada uma que se deu no palco e se expos na sua ousadia, na sua ternura, na sua ingenuidade, na sua sensualidade…


Obrigada Artemísia e Íris pela dádiva do corpo sagrado da Mulher que se quer inteira e se dá sem medo à sua beleza sem artifícios…

rleonor pedro