O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, maio 31, 2011

DE QUE FALAM OS HOMENS QUANDO FALAM DE CORAÇÃO?

 

«Primitivamente, a cabeça devia ser regida pelo coração; ela só devia servir para engrandecê-lo. Hoje a cabeça do homem reina sobre o seu coração, quando é ao coração que o ceptro deveria pertencer; vale dizer que o amor é superior à ciência, dado que a ciência deve ser apenas o archote do amor e que esse archote é inferior àquele que ele ilumina.»*

- Grandes místicos e grandes filósofos colocaram a mão na ferida desta humanidade dividida, mas nenhum viu ou quis ver que o coração faz parte da realidade expressa pelo feminino que acorrentado e subalterno, e tendo o homem reduzido a humanidade a uma metade, activa e racional, dando-lhe primazia absoluta no seu mundo de razão poder e força, perdeu a metade instintiva e emocional (o amor) que corresponde à sua parte feminina e de que a Mulher, que ele suprimiu do seu vocabulário e da sua história, é o expoente máximo. E que não é elegendo uma Deusa Mãe imaculada nos altares a quem reza, mas elevando a Mulher real à sua dignidade que ele vai encontrar o equilíbrio do mundo. Se o Homem representa a "cabeça" a Mulher representa o "coração" nesta Humanidade e isso foi ignorado quase sempre pelas Tradições esotéricas e mesmo por grandes Mestres, mas só elevando os dois às mesmas alturas, unindo a Terra e o Céu o SER HUMANO poderá recuperar a sua verdadeira estatura de humano e para o qual foi criado!

Os homens e as mulheres continuam a escamotear verdades fundamentais como o facto do desiquilíbrio do mundo derivar da falta do princípio feminino e do seu justo valor não ser efectivamente atribuido à Mulher e à Mãe. Em quase todo o mundo e  em todos os paises, uns mais do que outros, existe  uma óbvia  discriminação do ser mulher...
Ninguém quer ver que essa descriminação começa e  é feita entre nós  na nossa linguagem, na omissão da mulher nos discursos sempre no masculino, na falta de entendimento de que sem a emoção-coração - o polo que a mulher representa - e nela está a origem dos grandes dramas no Planeta?
rlp

*Louis-Claude de Saint-Martin


segunda-feira, maio 30, 2011

DEUSA DA VERDADE E DA JUSTIÇA

Confissão a Maat


“Glória a Ti, Ó Grande Deusa, Mestre de toda Verdade! Venho à Tua presença,

Ó  Deusa, para diante de Ti tomar consciência de Teus decretos.

Eu Te conheço e comungo contigo e com Tuas Quarenta e Duas leis que habitam contigo

nesta Câmara de Maat...

E nessa verdade que venho comungar contigo, e Maat está em meu pensamento e em minha alma.

Por ti destruí a maldade.

Não fiz nenhum mal à humanidade.

Não oprimi os membros de minha família.

Não forjei o mal em lugar da Justiça e da Verdade.
Não convivi com homens indignos.
Não pedi para ser considerado o primeiro.

Não obriguei pessoa alguma a um trabalho excessivo em meu favor.

Não apresentei meu nome para ser objeto de honrarias.

Não espoliei os pobres tomando seus bens.

Não fiz homem algum passar fome.

Não fiz ninguém chorar.

Não infligi qualquer sofrimento a um homem ou animal.

Não espoliei nenhum templo de suas oblações.

Não adulterei nenhum padrão de medida.

Não invadi os terrenos de outros.
Não roubei terras.

Não adulterei os pesos da balança para enganar o vendedor.

Não falsifiquei a indicação do ponteiro para enganar o comprador.

Não tirei o leite da boca das crianças.

Não desviei a água de onde ela devia correr.

Não apaguei a chama quando ela devia queimar.

Não repeli Deus em Suas manifestações.”

“Sou puro! Sou puro! Sou puro!

Minha pureza é a pureza da Divindade do Templo Sagrado.

Por isso o mal não me acometerá neste mundo, eis que conheço as leis da Deusa que são Deus.

Cro-Maat! 

MULHERES. APENAS MULHERES.

"Como transformar a nós mesmas e ao mundo"


“Campos mórficos e arquétipos funcionam como se tivessem uma preexistência invisível fora do tempo e do espaço, tornam-se imediatamente acessíveis quando nos alinhamos à sua forma e então se expressam em nossos pensamentos, sentimentos, sonhos e acções.”*



“ Para um Círculo de mulheres ser seguro ele precisa ser um útero para novas possibilidades, onde a mulher e o seu sonho possam ser sustentados enquando ainda estão com contornos pouco nítidos e ainda no escuro."

Por vezes penso cá para mim que é quase impossível para nós, as poucas mulheres que vislumbramos o que seja a plenitude do Caminho da Deusa,  de FORMA EFECTIVAMENTE REAL, integrada, respirada e sentida, vivida nos nossos poros e pele, no nosso sangue, no nosso coração secreto, no nosso corpo cálice, atingir uma expressão verdadeira, autêntica, visceral e magnética,  a fim de que sua manifestação seja em nós A iniciação e descoberta e revelação para o mundo e não  irmos apenas  atrás de meros rituais, por mais aliciantes que sejam, são ainda imitações do passado do qual nada sabemos ao certo, para que enfim seja real na nossa vida diária essa  consciência do Feminino Sagrado na Terra. Teoricamente até podemos todas saber muito acerca de deusas e dos seus mistérios, mas de nada serve se não tivermos integrada Lilith, a nosa Sombra,  a mulher outra que nos foi roubada pela cultura patriarcal, há séculos...
Vendo no dia a dia como são raras as mulheres que conheço, que sejam realmente capazes dessa ousadia, capazes desse querer, capazes de serem o que sentem e deixarem de ser controladas pelos ideiais de outra coisa qualquer, do céu e não da terra, de ser esposa e mãe ideal ou mulher de sucesso, artista ou mesmo terapeuta, presas a maridos, amantes, filhos  e lideres, poucas são de facto as mulheres que se apercebem dessa dimensão em si próprias e dedicam o seu ser e a sua energia à sua própria causa, a causa do seu ser interior, ao encontro com a sua Lilith e o seu resgate, em apostar 100 por cento em ser mulher inteira, mantendo-se antes tudo e lamentavelmente "fieis" e servas dos seus companheiros que as mantêm cativas dos seus interesses também.
Nada tenho contra o companheirismo se ele existir em plenitude e reciprocidade, mas duvido que assim seja...poucas ou raras mulheres seriam capazes de trocar o abraço de um amante pelo da deusa....ou de uma irmã...disso tenho provas...haja um amante e nenhuma mulher avança...fiel a Lilith que em nada se submeteu e partiu contra deus e os homens, votada ao descrédito...
Não digo que essa seja a finalidade de toda a mulher, mas neste momento seria preciso que muitas mulheres tivessem essa coragem de ousar e serem MULHERES. APENAS MULHERES.  
Destaco  aqui por vezes mulheres grandes, mulheres que se empenham nas causas da humanidade, mulheres que são exemplos de feitos, escritoras fantásticas, mulheres de grande espírito de abnegação e voluntariado, faço-o como exemplos de vontade e como coisa quase rara mas, mais raras ainda são as mulheres que se afirmaram por procurarem se consciencializarem de si mesmas,  coerentemente, sem ser por acréscimo ou distracção, e se empenham na sua causa, de corpo e alma e isso não depende da fama ou do dinheiro que se tem, mas sim da vontade própria, no empenhamento do seu SER total e não como a grande maioria que continua fiel às normas sociais e presas às leis da sociedade patriarcal, aceitando a sua fragmentação…a sua divisão interior, psicológica e sexual,  em boas e más, em feias e belas…em pobres e ricas, gorda s e magras…e só lutam dentro desse contexto, lutando contra a maré que as engole e avassala, que as anula e destrui..

"Quando a psique de uma mulher está gerando uma ideia do que poderá ser feito ou o que poderá realizar-se, ser ridicularizada aborta o que poderia emergir; a indiferença a mata de inacção.
Um círculo seguro sustenta, em confiança, o sonho daquilo que ela poderá vir a ser e alimenta a possibilidade."

*
Às vezes quase que desanimo por completo, perco a esperança nesta luta, nesta vontade que me anima de partilhar o que realmente podia ser um mundo em que a mulheres fossem conscientes do seu potencial e da seu poder interno! (se as mulheres se unissem de coração e sem hesitação, o mundo mudaria num instante estou certa...)
Eu sei e pela minha própria experiência em vários encontros no Feminino que embora não sendo ainda nada conclusivo, e sejam meritórios todos esses esforços, não posso deixar de constatar quão poucas são as mulheres que  vivenciam as suas experiências de forma integrada e consciente, e como são ainda  incapazes de vencer os obstáculos para aparecer ou formar um grupo e se darem de corpo e alma…ou simplesmente dar a sua presença! Fazem-no, como costumo dizer, sempre que o empenho é no corpo de sedução ou na sexualidade, quando de algum modo podem lucrar para seduzir o macho...ou recuperar a sua imagem de consumo mecantil. 
 Dizem-me muitas vezes que sou extrema, mas é a minha Lilth que vos fala e de nada adianta contemporizar neste caso, pelo menos no meu caso, ela não me permite tal. No entanto, eu também sei, que entre as poucas mulheres que se mantêm fiéis pela sua presença e empenho onde quer que estejam a experiência da Deusa foi e é  inequívoca…mas neste momento já  esperava um maior avanço confesso. Vejo interesses pessoais acima de tudo, vejo procura de lucro pessoal, de desconfiança nas outras e falta de entrega verdadeira...vejo a teoria e a brincadeira, o jogo de interesses e o tráfico de influências ainda, vejo a superficialidade e a falta de seriedade...vejo tudo e bem sei que é chato a Idade de Hecate...

- Penso que era tão simples se houvesse vontade....e se em vez de 5 ou 6 ou dez mulheres dispersas por aí e cada uma por seu lado mesmo que cheias de boa vontade, formássemos um grupo ou vários grupos de mulheres que se unissem e trabalhassem nesse sentido mas com total empenho, como sugerem os Círculos das Mulheres de Shinoda Bolen em o MILIONÉSIMO CÍRCULO, tudo podia acontecer muito mais depressa desde que cada uma de nós dedicasse tudo de si a si mesma…de alma e coração!

"Estar num círculo é uma experiência de aprendizagem e crescimento que incorpora a sabedoria e a experiência, o compromisso e a coragem de cada mulher que o compõe. (...)
*
Porque este si mesma, apesar de nos dizerem que é egoista e imoral, significa dádiva e empenhamento e não fechamento egoísta e vazio, em causas perdidas de vaidade e sucesso pessoal.
Bem sei que eu nada posso fazer mas para mim é irreversível o Caminho da Deusa, porque esse caminho sou EU própria.
»»»

"A versão atual deste movimento pode se autodenominar grupo de discussão, ou pode ser um círculo de oração ou de meditação, um grupo de estudo, de apoio ou pode, ainda, ser um grupo com um projeto ou uma causa. Qualquer que seja o nome, qualquer que seja a agenda, se for um círculo com um centro, os seus membros são testemunhas, modelos, e possuem conexões de alma entre si. Eles tornam-se agentes de manifestações de apoio psicológico e espiritual não palpáveis, tornando-se fiadores de uma realidade e de uma possibilidade. Grupos de apoio mútuo e aprendizado. Agentes de mudança.”*

*in o MILIONÉSIMO CÍRCULO – de Shinoda Bolen

sábado, maio 28, 2011

NA MINHA IDADE...


Leonor,

Estive a ler a sua divagação sobre a passagem dos anos, o que nos sucede, os sonhos e desapegos forçados. Essa solidão de estarmos sós. É verdade, em certa medida, mas não se pode estar só quem tem uma visão como a Senhora Leonor (Senhora, porque é uma senhora. Uma Mãe. Uma ROSA vermelha, muitas rosas vermelhas uterinas.) Entristeceu-me que tenha ousado pensar que ninguém a AMOU. Isso parece-me impossível. Foi AMADA, concerteza não conseguiu enxergar. Talvez fosse intensa demais, exigisse algo que não podiam comportar dentro de si. Concerteza que a procuraram por si, como pessoa que é, para que exprimisse o seu potencial. Foi AMADA sim. É AMADA ainda. Talvez quem a AMOU tivesse um destino e por isso partiu, e não foi por abandono e muito menos por outro alguém; talvez apenas por não conseguir espelhar/devolver o que aspirava ou não saber conciliar mundos ou fragmentou-se.

Eu amo muito, e nunca tive talento para o mostrar. Poucas vezes na vida não tive dores no peito. No dia em que, eu, AMAR sem dores no coração, serei livre. Diria que durante estes anos, a vida nunca me ofereceu alguém com quem pudesse serenar o coração. Daí, veja como a solidão pode ser feroz a partir deste ponto de vista, também.

Fico feliz, quando diz que a vida já a libertou do peso de uma imagem física. Espero daqui a muitos anos, poder dizer o mesmo com toda a simplicidade. Nessa altura, você já não estará cá, para poder dizer-lhe.
Gostaria que pensasse que houve quem a AMOU. Amou como pessoa. Talvez pense na Senhora muita vez.
Costumo dizer que a vida por vezes é ingrata. Há destinos muitos difíceis.

«As almas bonitas nunca perdem o brilho, podem é ficar difusas algumas vezes; mas sempre voltam a brilhar quando a desordem passar...»

Um beijo
M.



Minha querida:

Gostava de começar por lhe dizer que a mim sempre que amo dói-me o peito …
Nunca deixou de me doer porque eu nunca deixei de amar…e portanto ou dói mais ou dói menos, consoante o amor em questão ou o objecto do nosso amor… mas o coração dói sempre quando se ama de verdade, seja alguém seja alguma coisa, animal ou ideal…

Porquê, perguntará, tão estranho paradoxo…Amar devia dar alegria e prazer e felicidade, de acordo com os conceitos do mundo cor-de-rosa que nos querem impingir as revistas e os filmes de Hollywood…porque será então que amar faz sempre sofrer quem ama?

Eis uma resposta que não virá nem mesmo no fim de uma vida…e se formos no sentido do que você diz… “a vida nunca me ofereceu alguém com quem pudesse serenar o coração”, eu dir-lhe-ei que o amor é sempre inquietude, ânsia e dor…a não ser que falemos de outro Amor que não é de ninguém, que é eterno e talvez por isso, porque ansiamos um amor eterno, o amor terreno, seja ele do que for, nunca nos dá paz… O que nos dói minha querida, é sentirmos e sabermos haver esse amor em nós e ele não encontrar lugar algum, alguém, colo, seio ou ombro onde repouse e se possa dar, porque nem homens nem mulheres, pais mães irmãs ou filhos, nos podem amar como ansiamos ou temos necessidade; nunca encontraremos esse amor em alguém, um amor que nos serene o coração e nos dê paz;  e era nesse sentido que eu queria dizer que ninguém me amou… nesse sentido eu sei com certeza que ninguém me pode amar. Isto pode parecer complicado…No entanto é claro que me amaram…pessoas e animais…Cruzaram o meu caminho seres excepcionais a quem agradeço do fundo da alma, mas amores, amores, de um amor assim como sonhamos, são só ilusões e enganos de uma juventude embora outras vezes o prolongamos. Não digo que ainda hoje não esteja lá esse "bichinho" a querer picar-nos…é um vírus poderoso…ninguém está livre de apanhá-lo…mesmo a cair, como dizemos aqui, a cair do tripé …quando se é muito idoso...enfim, o que não é ainda o meu caso!
Isto é complexo de facto...falar em líbido ou desejo ou mesmo da idade. Porque como sabemos nada se perde e tudo se transforma. Sim, é mais de uma transformação, de uma plenitude o que eu falo. No entanto a verdade é que eu cheguei a um ponto em que já não creio nesse amor mas noutro Amor. E nem eu me sinto velha...apenas não posso querer ser jovem e pensar seduzir alguém...ou ter sonhos que já não são de facto para a minha idade... e nisso os anos ajudam e o corpo ajuda mais ainda, porque ninguém ama hoje o “velho e o feio”... embora se diga que a alma não tem idade etc. e eu seja  uma interessante “sexigenária”...como me dizem...(estou a brincar consigo, mas é verdade!)

Sim, diz bem, concerteza que houve pessoas que me amaram…e eu amei…mas houve na minha vida um destino diferente, talvez cruel como diz, não porque a vida seja ingrata…mas porque há coisas que só se podem entender à luz das memórias que temos, memórias de vidas passadas…porque essas memórias estão sempre por perto da nossa vida aqui…em fragmentos, sonhos, vislumbres em que já não somos quem pensamos mas outra que já fomos ou seremos…e tudo o que ficou suspenso e por resolver aparece e nos parece castigo e pode ser apenas justiça …

Sim, isto pode parecer-lhe muito complicado hoje porque é jovem ainda mas quem sabe um dia, quando eu já cá não estiver se lembre então de mim, dessa Senhora que diz que sou e uma Mãe, mas que nunca foi ”Mãe” na carne, mas sim “Uma ROSA vermelha, que deixou “muitas rosas vermelhas uterinas” por aí…

rosa leonor pedro

sexta-feira, maio 27, 2011

CANSAÇO...

(...)
Não me peças palavras, nem baladas,

Nem expressões, nem alma... Abre o seio,

Deixa cair as pálpebras pesadas

E entre os seios me apertes sem receio

(...)

José Régio
***
O amor ofereceu-me o teu rosto absoluto...

Esta noite morri muitas vezes, à espera de um sonho que viesse de repente e às escuras dançasse com a minha alma enquanto fosses tu a conduzir o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo, toda a espiral das horas que se erguessem no poço dos sentidos.

Quem és tu, promessa imaginária que me ensina a decifrar as intenções do vento, a música da chuva nas janelas sob o frio de Fevereiro? O amor ofereceu-me o teu rosto absoluto, projectou os teus olhos no meu céu e segreda-me agora uma palavra: o teu nome - essa última fala da última estrela quase a morrer pouco a pouco embebida no meu próprio sangue e o meu sangue à procura do teu coração.


FERNANDO PINTO DO AMARAL
(n. 1960)


PERSONAS SEXUAIS...



O acto sexual destrói a beleza...

“No fim da vida Goethe afirmou que “o acto sexual destrói a beleza, mas nada é mais belo do que aquilo que precede esse momento. Só a arte antiga soube captar e descrever a juventude eterna. E o que define a juventude eterna é a ausência de contacto carnal.”

O sexo destrói a beleza: Dionísios subverte o olhar apolíneo. O Goethe romântico seduzia continuamente o Goethe clássico. (…) Goethe considerava o corpo masculino mais belo que o feminino. Talvez isto seja menos um indício de homossexualidade do que de uma idealização apolínea, uma elevação da articulação do olhar, muitas vezes acompanhada de castidade. Tal como Beethoven estava casado consigo próprio.


Os andróginos de Goethe simbolizam adequadamente uma obra titanicamente inclusiva como é a sua. Para Goethe, o sexo é uma acumulação, não uma disseminação. Afirmou ele que não havia vício ou crime do qual não encontrasse vestígios em si mesmo. A Arte romântica é auto-exploratória, auto-estimulante e auto-mutiladora. Goethe disse uma vez que “os génios vivem uma segunda adolescência, enquanto as pessoas normais são jovens apenas uma vez. Goethe conservou o seu acesso a ambos os sexos renovando e prolongando a puberdade, período em que o género se mantém indeterminado. Em tempos, o Romantismo pareceu resumir-se a grandes gestos de rebelião. Mas ainda mal começámos a compreender as suas densas complexidades sexuais e o seu arcaico ritualismo pagão.”

in Personas Sexuais
Camille Paglia

"A Arte de Lidar com as Mulheres"...

O EXEMPLO DE UM FILÓSOFO MISÓGINO…


"Considerado o exemplo do livro machista, "A Arte de Lidar com as Mulheres", uma colecção de fragmentos extraídos da obra do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), foi traduzido para o português por Karina Jannini e Eurides Avance de Souza.

Frustrações com o sexo feminino transformaram Schopenhauer em um misógino convicto e militante. Além de diversas decepções amorosas, condenava o comportamento de sua mãe, Johanna Schopenhauer (1766-1838), que, depois do suicídio do marido, passou a viver com um jovem amante.


A colectânea traz máximas capazes de revirar o estômago das feministas. "Quando as leis concederam às mulheres os mesmos direitos dos homens, elas deveriam ter lhes dado também um intelecto masculino" é um exemplo de seu conteúdo."


NÃO HÁ NENHUM FILÓSOFO  AO LONGO DA HISTÓRIA  QUE NÃO TENHA SIDO MISÓGINO …

terça-feira, maio 24, 2011

QUEM ERA SAFO?



OH estrela da tarde,

dos astros todos, o mais formoso...



Vinde agora amadas Graças

e Musas de belas cabeleiras!

Safo


SAFO - A mulher e a Igreja de Roma…


“- No século XVIII a maioria dos poemas de Safo foram queimados em praça pública pela Igreja de Roma como forma de represália ao pensamento da mulher e à sensualidade feminina tida como imoral para os católicos. Poucos poemas nos restaram, ou fragmentos escassos que os nossos poetas reinventam...”


Há muito tempo que gostaria de escrever uma breve nota sobre Safo e de algum modo resgatar a ideia de Safo associado a “Lésbicas”… tal como gostaria de resgatar a palavra Bruxa das mãos dos inquisidores, embora saiba que é missão impossível. A primeira coisa que me surge dizer é que Safo não era lésbica…nessa acepção hoje dada às mulheres homossexuais... parece-me uma designação bastante eufemística. Porque Safo não era lésbica…ela era natural de Lesbos…e  esta assumpção feita pelas homossexuais femininas e a sua colagem à  poetisa  em nada  ou muito raramente – com uma ou outra excepção – corresponde  à vivência de amor que  Safo evoca nos seus poemas que são o exemplo de uma elevação de espírito e beleza impar.

Chamar sáfica ou lésbica a uma mulher que se veste de homem à partida, que se comporta como um homem e que seduz as mulheres como um macho manqué… é descabido e abusivo para não dizer ignóbil…enfim, é, no mínimo, de mau gosto, além de redutor da grandeza e elevação poética da Grande Musa …diria mesmo, ofensivo da Arte e da Poesia, como é redutor colocar grandes autores como Virgínia Wollf e Marquerite Yourcenar, no gueto das prateleiras das livrarias com designação de género: “gay e lésbica”…um atentado à inteligência e à liberdade de SER ao serviço dos lobbies homossexuais e comerciais, como se fosse pornografia. Recorrendo a essa estragégia de vendas para serem exactos hoje em dia,  teriamos de incluir também os grandes autores, mesmos os maiores e mais representativos da arte de todos os séculos porque nenhum autor, escritor, escultor ou poeta, de grande calibre ou  génio, desde Miguel Ângelo, Da Vince a Shakespeare, William Blak a Goethe, nenhum deles teve uma “persona sexual” definida…variando as suas principais personagens entre travestis, hermafroditas, viragos, andróginos etc..

Rotular um autor e ainda por cima um autor que fez uma época ou uma escola é um absurdo proveniente da obstrução feita à liberdade de ser e da expressão sexual e emocional do Ser humano, através de preconceitos milenares muito católicos e medíocres como os que perduram ainda no nosso tempo…

Safo era uma excelsa poetisa, uma mulher de uma sensibilidade hiper-feminina, uma sábia e uma Mestra, considerada a 10ª Musa por Platão e igualada a Sócrates...

Grandes poetas da actualidade e de todas as nacionalidades ainda a traduzem…e outros poetas menores que ao longo dos séculos a traduziram e reinventaram…

 - Na verdade, as mulheres que viviam nessa época, num período vincadamente apolínio e de rebaixamento da mulher a todos os níveis, social, político e histórico, o facto de haver uma mulher que ao contrário dos homens da época, que elegiam os efebos e o corpo do homem era o eleito e o único esculpido na arte, e faziam a apologia da guerra, haver uma mulher a fazer poesia elegendo a vida e o erotismo entre as mulheres deveria ser um sacrilégio para os poderosos da época.   
rlp


QUEM ERA SAFO?

 - " Safo, " a ardente Safo, que deve ter vivido entre 610 a 560 a.C., foi poetisa.
Escreveu 9 livros de poesias dos quais ainda restam alguns fragmentos. São dela expressões corriqueiras como "mais dourada do que ouro" e "amor, esse desagregador de membros". Ela foi a mais famosa habitante de Lesbos, incentivando o movimento poético e musical além das carreiras criativas de dúzias de mulheres famosas e de uma miríade de mulheres desconhecidas. Várias vezes ela foi banida para a Sicília ou teve de fugir de Lesbos possivelmente por questões políticas com sua família aristocrática se opondo aos que estavam no poder.

Devido à sua importância, ela foi cunhada em moedas datadas do século III d.C., novecentos anos depois de sua morte, e também teve seu retrato e seu nome gravados em vasos e bronzes, vindo a estar presente em grande parte da arte romana." (?)

(…)

 Ela é a única mulher dos tempos antigos a ser lembrada pelos seus poemas. Later she was referred to as The Tenth Muse" by Platon and she was to be compared to Socrates and referred to as "The Poetess". In her own day she was highly praised and her image was even seen on the coins of the island. At her death the citizens even paid homage to her as to a royal person. Mais tarde foi designada A Décima Musa "de Platão e era comparado com Sócrates e referida como" A poetisa ". No seu tempo, ela foi altamente elogiado e a sua imagem gravada até mesmo nas moedas da ilha.   


OsFragments Fragmentos

Not much of her works remains to us today, only one poem exists in its entirety.Não se encontra quase nada dos seus trabalhos hoje, e existe apenas um poema completo. In the late 19th century manuscripts were found in the Nile valley, some of them could be dated to the 8th century AD and were later proven to be the works of Sappho. No final do século 19 foram encontradas alguns manuscritos no vale do Nilo, alguns deles poderiam ser datados do oitavo século d C e foi, posteriormente, provado pertencerem a obras de Safo. Further excavations in ancient Egyptian refuse heaps unearthed strips of papyrii which had been used to sweep mummies in. On some of these the poetry of Sappho was found. Nesses papiros descobertos havia poemas que se comprovaram ser de Safo. The work of piecing together these remains still goes oEles foram encontrados em escavações feitas nos escombros de lugares do antigo Egipto onde se encontravam múmias. Esses poemas foram desenterrados em faixas de papiro que tinham sido usados para varrer o chão…     

Há ainda hipótese de reunir mais fragmentos, pois esse trabalho de pesquisa continua  a ser feito.

TA Poetisa da vida…

-Historians have fought among themselves of how to interprete the material. Os historiadores têm lutado entre si uma forma de interpretar o material encontrado. Her poetry never reflects political issues, she is dedicated to quite another aspect of life; she writes poems and songs intended for marriages and celebrations and also to be used at informal parties where both men and women partook. O que se verificou foi que a sua poesia nunca reflecte questões políticas; ela é exclusivamente dedicada aos aspectos da vida natural; ela escreve poemas e canções para casamentos e festas e também para ser em lidos em  celebrações simples, em que  homens e mulheres participavam. She wrote nine books of odes, epithalamia ,or wedding songs, elegies, and hymns. Ela escreveu nove livros de odes, Epithalamia (epitalâmio: canto ou poema nupcial), canções, elegias e hinos. The remains of her words exist as short fragments, and they are still being found in papyrii.

Os restos imortais da sua poesia existem hoje como pequenos fragmentos, e ainda estão a ser encontrados em papiro. Her words are partial to love and eroticism as opposed to war and strife: As suas palavras são a evocação do amor e do erotismo em oposição à guerra e aos conflitos sociais.

(Excertos vários)

sexta-feira, maio 20, 2011

O MEDO DE SER BRUXA OU FEITICEIRA...

HECATE PRESIDE SOBRE OS MOMENTOS DE VERDADE




 


“Quando se fala de verdade para alguém, tal verdade abala os fundamentos de uma premissa, este momento se torna uma encruzilhada na estrada. Do mesmo modo, quando se perde a verdade, Hecate é a sabedoria interior que prepara a pessoa para ouvi-la. Às vezes, a pessoa pode encontrar-se inesperadamente no entroncamento de Hecate quando algo acontece que a coloca na berlinda. Pode ser uma exposição pública que exija uma declaração oficial. Ou sabendo que “calar é consentir”, a pessoa pode dar-se conta de que esse é o momento de se contar a verdade doa a quem doer. À parte o facto da influência que se possa ter sobre a situação, tais momentos de decisão são verdadeiros aparadores de arestas da alma.

Às vezes, quando se sabe o que se tem a fazer pode parecer meio herética, surge um medo irracional, uma reacção emocional que parece antecipar o grito de “Queimem a Bruxa”. Esse medo é transpessoal e parece estar alojada na psique feminina, bem próximo da superfície, onde ainda se esconde o pavor de ser rotulada e perseguida como feiticeira. Sentir o medo e fazer o que precisa ser feito, não obstante exige muita coragem. Com o efeito do campo mórfico, quanto mais mulheres confrontarem esse medo colectivo, mais fácil se tornará para outras fazerem o mesmo.

Quando Perséfone voltou do mundo subterrâneo, Hecate tornou-se a sua companheira constante. E assim funciona connosco. A sabedoria de Hecate se adquire com a experiência da vida – de se ter vivido uma longa vida. Com Hecate, a idade se torna sabedoria.





In  AS DEUSAS E A MULHER MADURA

JEAN SHINODA BOLEN

quinta-feira, maio 19, 2011

EVOCAR A DEUSA


A DEUSA ADORMECIDA...


Quando evoco a Deusa ou falo da Mulher exaustivamente não é para fazer a apologia de uma mulher em especial nem da sua sexualidade em particular. Não se trata de sexualidade como não se trata de espiritualidade. Trata-se de VIDA vivida no seu potencial máximo.

Sonho a reconstrução do Templo da Deusa na Nova Era, dentro de cada Mulher.

Portanto o que eu escrevo e defendo aqui é uma essência comum a TODAS as mulheres independentemente das suas maneiras de ser, de vidas vividas, de serem mães ou filhas, esposas ou amantes ou de terem diferentes preferências sexuais.

Faço este esclarecimento porque directa ou indirectamente o saibam e para que não restem dúvidas que não há nem rituais nem tradições, não há religião, nem fé…e quero sublinhá-lo bem, dizer que isto  me parece ser da maior premência para o mundo; trata-se de a mulher voltar a ser Mulher plena, viver a partir da sua ESSÊNCIA, a viver a sua BELEZA natural e a sua SABEDORIA ancestral e inata; trata-se de devolver ao seu SER Mulher, a Mulher Eterna ou o ETERNO FEMININO, completamente perdido da mulher moderna.

Esse Templo Sagrado, que eu vislumbro há muito, não tem pilares nem paredes que o sustentem nem altares ou padres ou deuses de pedra…mas é toda a Terra e a Natureza viva e sacerdotisas secretas, iniciadas, em cada mulher que se resgata do ostracismo social a que foi votada, que resgata a sua força primordial o seu poder intrínseco... acorda a sua Voz do Útero aquela que é Oráculo…

Esse trabalho é essencialmente da mulher, esse resgate, mas é no Centro do Coração e na Consciência de um novo SER, homem-mulher, o Indivíduo - aquele que não pode ser dividido - que a Deusa se há-de manifestar em pleno! Para que isso aconteça é urgente a integração do Feminino por excelência, no interior da cada ser – homem ou mulher para que assim se possa manifestar no mundo exterior... Só assim a Mãe será uma realidade em todo o mundo! E o Mundo poderá ter Paz…
rleonorpedro


UMA RECEITA DE ALQUÍMICA DE SOLUCIO

Dissolve então sol e lua em nossa água solvente, que é familiar e amigável, cuja natureza mais se aproxima deles, como se fosse um útero, uma mãe, uma matriz, o princípio e o fim de sua vida. E esta é a própria razão pela qual eles são melhorados ou corrigidos nesta água, porque o semelhante se rejubila no semelhante... Assim, convém te unires aos consaguínios ou aos da tua espécie... E como o sol e a lua têm sua origem nesta água, sua mãe, é necessário, portanto, que nela voltem a entra, isto é, no útero de sua mãe, para que possam ser regenerados ou nascer de novo, e com mais saíde, mais nobreza e mais força."

 In Secret Book of Arthius

MULHERES, MÃES E FILHAS E IRMÃS...

 














Às vezes penso nas nossas diferenças como mulheres, nas nossas diferentes idades e fases...nas nossas perspectivas de vida, nas nossas crenças, esperanças e sonhos. Cada uma de nós tão diferente à partida e tão igual no mais íntimo…no anseio de amor e partilha…

Olho a expressão do fundo da alma de cada uma e vejo o seu foco e o seu fogo…

E vejo agora todas as formas de cuidar e curar e querer transformar o mundo, ajudar e dar-se incondicionalmente ou muito intimamente a alguém que ainda se sonha ser a razão da vida…mas não…tenho pena mas não creio já que alguém nos ame ou nos faça sentir mais nós ou melhor na nossa pele…Nós só dependemos de nós para sermos…

A vida ensinou-me isto…não me permitiu a ilusão da fusão a dois…não me deixou cair na tentação de perseguir um amor romântico.

Não foi uma escolha minha mas um destino…e cada um queira ou não, vive o seu destino por mais que julgue que o contrarie. E eu vejo a vida assim…e talvez tenha lutado contra o que parecia irreversível na minha vida, mas das escolhas que fiz acabei sempre por voltar ao caminho que sabia me era destinado: ser uma pessoa só…mas encontrei nas encruzilhadas da minha vida, quando mais precisava, seres espantosos que me salvaram do sofrimento ou da dor ou ainda do que me parecia cruel abandono…e cruzando as almas os nossos caminhos, abraçamo-nos, rimos e choramos, partilhamos momentos inesquecíveis, outros dolorosos e depois, a breve trecho, cada qual seguiu sempre o seu caminho ou encontrou alguém com que sonhava…mas curioso, não era eu nunca quem procuravam…

Assim, passei ou passaram muitos seres, e também belas almas, no meu caminho, mas nunca nenhuma, ninguém… me encontrou a mim…nem eu encontrei a minha alma gémea ou irmã nesta Terra…

Sim, às vezes tenho ainda pena mas agora que estou a envelhecer a olhos vistos… sinto que me livraram de um mito e espero assim poder mergulhar inteiramente nesta realidade que sou para lá de mim, desta mente e deste corpo…mergulhar no infinito e nunca mais ter medo de ser só…

rlp

terça-feira, maio 17, 2011

A VOZ NO SILÊNCIO...

A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste materna, Antes que o parasita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.
A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.
O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu
Antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido."

A VOZ DO SILÊNCIO...
Mm. Blavastky














Tinha vontade de te ver Mãe, de te dizer coisas
Que não digo a mais ninguém,
Coisas que não se dizem por palavras,
Graves, doces e amargas…
Coisas de almas solitárias, almas sem destino,
Como a minha…
Que vivem de espasmos de amor
Entre a terra e o céu, na esperança de um infinito...
Tangível...

Vontade premente de te dizer a ti Mãe,
Coisas que  nem a mim mesma confesso...
Falar-te como a um espelho mágico
E sem mácula,
Translúcido…
Perfeito…
Que me fizesse reviver vidas pressentidas
Na penumbra dos encontros falhados,
Dos abraços efémeros…

Memórias de viajante do espaço,
Itinerantes de corpo em corpo,
Sopro, homem mulher andrógino…
Encalhado nesta plataforma de sofrimento,
Esquecimento e dor...

Lembrar as encruzilhadas das nossas vidas
Que se entrecruzam nos cais e portos…
Entre um passado e um futuro
De que a presente vida é ponte frágil;

Libertar este grito dilacerante de toda a luta
Absurda e humana, rasgar esta carne…
E entrar em ti
Aplacar esta dor…
Que só a misericórdia divina
Ou uma consciência superior
Pode aplacar com a precisão de um raio lazer...

Era no Silêncio de dentro, caminho sem retorno…
Eu sei...
Mas eu queria entrar no teu ventre cósmico…
Tocar uma estrela longínqua…
(meu país de origem?)

Mas resiste em mim este sonho louco
De falar-te…
Da minha alma que viaja…
Que se agita ainda…
Que estremece de amor e ódio
De pele em pele, carne e osso,
No  oriente deste deserto,
Há tanto tempo esquecida de ti Mãe

Minha alma que viaja, errante,
De miragem em miragem
À procura de um Oásis
De encontrar o repouso eterno
Nos teus braços…

Ah! Tornar-me pequena, pequena…
Ínfima.
Encolher-me tanto até que me convertesse
De novo num feto…
Num átomo…
Numa célula…
E partir…
E dentro do teu ventre mais uma vez
(será isso “morer”?)
Voltar inversamente para o meu mundo de Luz
Que nunca esqueci aqui...

R. L. P. 26/5/2005

segunda-feira, maio 16, 2011

O centro fisiológico é o coração.


MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS
de CLARISSE PINKOLA ESTÉS

“O centro fisiológico é o coração. Nos tantras do hinduísmo, que são instruções dos deuses aos seres humanos, o coração é o Anãhata chakra, o centro nervoso que abrange o sentimento por outro ser humano, o sentimento por si mesmo, pela terra e pelo sagrado.*

É o coração que nos permite amar como ama uma criança: totalmente, sem reservas e sem qualquer capa de sarcasmo, depreciação ou protecionismo.
(...)
...é o coração que pensa e convoca as moléculas,
átomos, sentimentos, anseios e o que seja necessário, até um único lugar a fim de gerar a matéria que realize a criação da mulher “essência”.**

Dar o coração para uma nova criação, para uma nova vida, para as forças da vida-morte-vida, é uma descida ao reino dos sentimentos. Pode ser difícil para nós, especialmente se tivermos sido feridos por uma decepção ou pela mágoa. No entanto, ele existe para ser tocado, para dar vida plena à Mulher, para nos aproximar daquela que sempre esteve por perto.”



** Para melhor compreensão da frase em si substitui a palavra “esqueleto” por essência e por na verdade ser o significado que esconde. *Assim como substitui a palavra Deus por Sagrado.

sábado, maio 14, 2011

A TERA MÃE...


É um estado de espirito onde vamos direto a ELA, a natureza, onde vamos além do que nos disseram ser a realidade para realmente SENTIR o que é a realidade.

Nós pagãos(ãs) nos sabemos parte DELA, sentimos em nós o Deus e a Deusa em seus movimentos.

Por isso um (a) pagão sente os ciclos da vida e os celebra, as luas cheias e novas, os trabalhos da crescente e da minguante, sabe quando o sol nasce, o meio dia, o crepúsculo que nos é porta e a noite escura,véu que nos permite atravessar as fronteiras e nos aventurarmos em outros mundos pelo SONHAR.

Há uma mudança profunda que se opera em nós quando deixamos de lado o condicionamento, o "que fizeram de nós" e ousamos ser "o que somos".

O xamanismo coloca que neste caminho de auto-descobrimento e auto-realização, passamos por uma caverna, um lugar onde enfrentamos nossos fantasmas interiores, um lugar onde temos que aprender a integrar nossa sombra ao todo que somos.

A sombra quando não integrada gera uma turbulência na nossa totalidade e aspectos nossos não resolvidos podem vir à tona.
(...)
NUVEM QUE PASSA
in Pistas do Caminho: http://pistasdocaminho.blogspot.com/

“As serpentes

 


“As serpentes
despertam-me a curiosidade, porque não são amáveis.

Apetece-me passar esta noite de vigília, não dormir, ou dormir fora do meu lugar, para que mesmo os meus sonhos, durante a noite, sigam outra corrente. Eu peço à vida continuação e silêncio; “on demande à la vie apaisement et silence”.

Um dia virá
em que será possível ver
que não sei,
mas o que procuro se desenha,
e perece.
Não tenho a força necessária para interromper ainda esta noite.”

“Le serpent qui ne peut changer de peau périt. De même les esprits que l’on empêche de changer d’opinions; ils cessent d’être esprits”.

 In finita
De Maria Gabriela Llansol


segunda-feira, maio 09, 2011

A CEGUEIRA MUNDIAL DAS MULHERES...



Olá. Li e pensei nos exemplos femininos próximos, digo que já vi de tudo. Uma coisa que eu não costumo ver é a admissão da deslealdade masculina. Vamos olhar o mundo no qual vivemos. Cadê a união masculina? Eu não vejo. Eles não podem admitir que a desunião entre eles é grande também, não é à toa que eles são a parte da população que mais mata e morre. Isso é o oposto da união. Quem fomenta guerras, produz armas, levanta muros e cria empresas de vigilância não sabe o que é isso.
Essa coisa de dizer que só mulheres são traíras umas com as outras faz parte do discurso, é uma cortina de fumaça, é uma projeção, uma atitude infantil. Mentem tanto que eles próprios acabam por acreditar.
Perdi a conta das cantadas que levei de 'amigos de infância' de namorados meus. A união entre eles é baseada no 'não vejo, não ouço, não falo'. Nunca contei porque sabia que nenhum 'acreditaria'. Um desses 'amigos' depois de muito me assediar, disse que mesmo que eu contasse, meu namorado não me daria razão. É esse tipo de 'união' que tanto invejamos?
Mulheres são mero reflexo disso, nada mais. Querem saber o que é um bando de homens unidos? Visualizem um monte de avestruzes juntos com a cabeça enterrada na areia. Pintaram o quadro? Perfeito. Nós mulheres precisamos parar de nos autovitimizarmos, de achar que nós somos as problemáticas e que os homens atuais são um exemplo a serem seguido. Não são! Nunca foram! Eles não são unidos! Nunca foram! Não podemos mais continuar contando suas histórias como se fossem nossas.

Ju, Maio 09, 2011



Pois é Ju...
Eu não lhe tiro a razão no que diz. Creio porém nunca ter dito que os homens são unidos no sentido a que se refere, humanamente ou socialmente...Eu nunca disse isso. Poderei quando muito ter dito que eles são cúmplices entre si em relação às mulheres, mas como lhe disse eu não escrevo nada em comparação com os homens. Aqui eu não trato nada que diga respeito aos homens. Não escrevo nem falo sobre o Homem…Penso a Mulher em si mesma e não em relação às suas relações com os homens. A mim não me interessam esses aspectos. Eu sou mulher e é de mim para outras mulheres que escrevo. Não posso falar dos homens porque não sou homem. Não falo nem bem nem mal deles…simplesmente não posso nem sei dizer o que sentem…só sei o que eu sinto e penso. E custa-me imenso ouvi-los falar e discernir sobre as mulheres ou às mulheres sobre os homens…é evidente que a confusão das relações homens mulheres é uma confusão total…e aí eu não quero entrar, por isso só falo da Mulher em si e em busca da verdadeira mulher, a mulher ancestral…
Queria no entanto dizer-lhe que percebo o seu ponto de vista no que refere as palavras da Lurdes O. sobre a cumplicidade dos homens contra a mulher que para mim é uma verdade factual e simples de observar assim como da rivalidade das mulheres por causa dos homens, também é absolutamente evidente até nas telenovelas...nos países latinos sobretudo. E ninguém aqui inveja a sua suposta união…não se trata de comparações…embora como lhe digo seja um facto a sua malsã “união” quanto ao dizerem mal das mulheres nas anedotas nas reuniões na linguagem que usam, nos anúncios televisivos (os piores, à cerveja etc) …Eu vejo, leio e ouço isso por todo o lado…e até mesmo nos circuitos ditos “espirituais” as mulheres são olhadas de um certo modo suspeito e são sempre vistas como excêntricas ou bizarras ou histéricas se se manifestarem um pouco fora do contexto, se se impuserem aos mestres, se tiverem uma linguagem própria, mas posso admitir que no Brasil tudo isso seja de certo modo atenuado...Será?

Mas agradeço a sua interpelação para aproveitar esta oportunidade e realçar que não tenho nenhuma luta pessoal contra os homens e o meu interesse é de facto falar para as mulheres, unir as mulheres; mantenho o meu foco de trabalho apenas na causa remota dessa desunião ou no que motiva ainda hoje a desunião entre si e DENTRO DE SI. Nunca em função ou em relação aos homens. Disso estou farta. Que as mulheres vivam e pensem sempre em função dos homens. Porque isso à partida nada tem a ver com os aspectos posteriores da união dos lados opostos masculino e feminino, porque enquanto a mulher não for uma mulher inteira não pode integrar o seu masculino e pode até ser bem mais masculina do que feminina, porque o feminino anda coxo há milénios. E tudo isto se torna à superfície do entendimento muito confuso. É muito complexa esta abordagem e não é fácil entender o meu propósito aqui. Mas digo-lhe para já, que a mim, o que me importa, é a divisão interna e intrínseca da mulher nestes dois estereótipos básicos...a “santa e a puta”, ou uma boa e a outra má (sempre em relação a sua expressão sexual), chame-lhe os nomes que lhe chamar, e você (independentemente dos gays ou dos travestis a fazerem papéis de puta na rua) não tem essa divisão nos homens – o homem “puta” e o homem fiel e casto, o esposo de um lado e o amante por conta por outro. O homem não perde a reputação nem a dignidade por ter muitas amantes ou muitas mulheres e você sabe que se isso acontecer com uma mulher é logo apelidada de tudo, mesmo que você queira convencer-se de que não tem importância, para a mulher isso tem…- e essa divisão é que é a origem de quase todos os dramas da mulher, a nível psicológico e até patológico na sociedade ocidental.
Por tudo isto, tal como você diz:

"Não podemos mais continuar contando suas histórias como se fossem nossas."


Assim aproveitando este comentário resolvi desenvolvê-lo e publicá-lo, como lhe disse...Porque esta ideia de que por falarmos da nossa condição e da realidade que nos circunda e nos minimiza enquanto seres humanos não é fazer de Vítima, como muitas mulheres querem pensar! Não! Esta é uma confusão enorme que se estabelece nas mulheres em geral que se querem armar em fortes, emancipadas ou realizadas espiritualmente e quando eu falo das mulheres e dos seus problemas, das questões por elas não abordadas, das questões por resolver, daquilo que elas não querem ver, das questões que elas continuam a ignorar, da confusão total sobre si mesmas (se são muito ou pouco femininas ou masculinas etc.) e de como misturam tudo dentro delas sem saber da sua verdadeira identidade... da sua essência primeira e em como foram divididas para perder o seu poder interior e a capacidade de serem o que são: mães e amantes e senhoras de si mesmas e não esposas por um lado e amantes por outra ou criadas em casa e objectos procriação, ou objectos de prazer por fora, desde sejam elas modelos, meninas de programa ou barrigas de aluguer.
E eu não quero que de modo algum me pensem ou julguem que eu estou em luta ou em afirmação perante os homens ou contra os homens! E ainda que pudesse culpá-los de muita coisa, não o faço. Não os culpo de nada porque eles também foram joguetes de forças e poderes e caíram na sua própria armadilha. Mas há um trabalho a fazer e esse trabalho diz respeito exclusivamente, neste caso, ÀS MULHERES!

A História a Arte e a Cultura falam por si...
Há muitas coisas implicadas e muito em jogo e muitas e variadas causas, mas agora o importante para mim é que todas nós sabemos como o mundo ainda nos fere e violenta e não é uma questão de fazer de Vítimas, bem pelo contrário:

É TER CONSCIÊNCIA DESSA NOSSA DIVISÃO INTERNA ASSSOCIÁ-LA Á NOSSA FALTA DE PODER E RESGATAR A ESSA FORÇA INTERIOR NO FUNDO DE NÓS MESMAS...

TER CONSCIÊNCIA NA NOSSAVERDADEIRA CONDIÇÃO E LUTAR PARA RESGATAR A NOSSA DIGNIDADE NÃO É FAZER DE VÍTIMA.

E Como diz uma escritora que eu muito gosto, digo mais uma vez: eu "não sou feminista, sou antropologicamente lúcida" e nada mais está em causa aqui o meu BLOG.


Muito obrigada por ter comentado!
rleonorpedro

quarta-feira, maio 04, 2011

A BELEZA E A MORTE...INICIAÇÃO...





A mão estendeu-se para a frente



"Enquanto o neófito jazia ali deitado, as nuvens juntavam-se e do centro surgiu uma mão de inexcedível beleza, que lhe tocou na testa – o perfume das rosas foi deixado sobre a sua testa; a mão tocou seus lábios e sentiu que jamais seriam causa de mentiras no mundo, através das mentiras do seu próprio ser, pois os dedos queimaram seus lábios, que ficaram a arder, muito embora o perfume das rosas de Ísis permanecessem como bálsamo.

A mão estendeu-se para a frente, ele a segurou e, gradualmente, uma figura formou-se das nuvens; uma figura verdadeira, manifestação da beleza e da paz que o aguardavam. A presença transformou-se numa alma viva que respirava, alguém que ele reconhecia e que conhecera em muitas vidas. Ele recordou-se do momento da morte, noutras vidas, em que esperara por ela no limiar da ponte da morte e a saudara com doçura, do mesmo modo como ela o saudara também…"


Mona Rulfe
INICIAÇÃO JUNTO AO NILO

A LUA E A MULHER...


"A cada 28 dias a Lua completa seu ciclo de crescente a minguante.


A Lua Nova marca a primeira iluminação e um fiapo fica visível no céu noturno. A Lua então cresce até o primeiro quarto, quando se pode visualizar a metade de seu disco. Continua a crescer e completa-se até atingir a Lua Cheia. Neste ponto, começa a diminuir de tamanho até o terceiro quarto, quando novamente só se vê a metade do disco e continua assim até que não se veja mais seu disco. Em quinta fase, esta Lua Escura dura três noites e esta, é este é o mais poderoso de todos os ciclos da Lua.A Lua, com seu ciclo de nascimento, crescimento e morte, é um lembrete poderoso, todos os meses, da natureza dos ciclos. Em épocas remotas, os ciclos menstruais das mulheres eram perfeitamente alinhados com os da Lua. A mulher ovulava na Lua Cheia e menstruava na Lua Escura. A Lua Cheia era o ápice do ciclo da criação, era quando o óvulo era liberado. Nos 14 dias que antecedem esta liberação, as energias da criação reúnem tudo que é necessário para constituir o óvulo.

Quando passava a Lua Cheia e o óvulo não era fertilizado, tornava-se maduro demais e se decompunha, derramando-se no fluxo natural de sangue na Lua Escura. Quando a mulher vive em perfeita harmonia com a Terra, ela só sangra os três dias da Lua Escura. Quando a Lua Nova emerge, seu fluxo naturalmente deve cessar e o ciclo da criação é reiniciado dentro dela.
Em nossa sociedade atual, o uso de pílulas anticoncepcionais, fez com que a mulher deixasse de incorporar e compreender este ciclo de criação e destruição dentro de si.

Alguns índios norte-americanos consideravam a Lua uma mulher, a primeira Mulher e, no seu quarto minguante ela ficava "doente", palavra que definiam como menstruação. Camponeses europeus acreditavam que a Lua menstruava e que estava "adoentada" no período minguante, sendo que a chuva vermelha que o folclore afirma cair do céu era o "sangue da Lua".

Em várias línguas as palavras menstruação e Lua são as mesmas ou estão associadas. A palavra menstruação significa "mudança da Lua" e "mens" é Lua. Alguns camponeses alemães chamam o período menstrual de "a Lua". Na França é chamado de "le moment de la luna".

IN BRUXA GUENIVERE (2007)