O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 24, 2011

GILKA MACHADO:

 A POESIA DO DESEJO

"Gilka da Costa Melo Machado poeta fluminense(Rio de Janeiro 1893 – Idem 1980) foi uma mulher avançada em relação ao seu tempo. Como poeta, foi combatida veementemente por parte dos escritores modernistas, mormente pelo poeta, romancista e ensaísta paulista Mário de Andrade (São Paulo 1893 – Idem 1945) que a achava escandalosa. Os poemas audaciosos de Gilka desafiavam os preceitos e a conduta moral de seu tempo colocando pânico nos falsos moralistas do início do século (hoje existem muitos ainda). Seus versos falam da condição feminina, expondo de forma ousada para a época o desejo da mulher se libertar das amarras machistas daqueles tempos. Em 1933, Gilka foi eleita “A Maior Poetisa do Brasil”, por concurso da revista “O Malho”, da cidade do Rio de Janeiro. Em 1979, a escritora foi agraciada com o prêmio “Machado de Assis”, da Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro prestou homenagem à mulher brasileira na pessoa de Gilka. No início da carreira Gilka se valeu do simbolismo para escrever seus poemas. Obras principais: Cristais Partidos, 1915; Estados de Alma, 1917; “Poesias 1915 / 1918”, 1918; Mulher Nua, 1922, O Grande Amor, 1928: Meu Glorioso Pecado, 1918; Carne e Alma, 1931; Sublimação, 1928; Meu Rosto, 1947; Velha Poesia, 1968; Poesias Completas, 1978. Gilka Machado está perene dentro de nosso contexto literário, pois sua poesia é inigualável. Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Gilka."
Enzo Carlo Barrocco

Volúpia
Tenho-te, do meu sangue alongada nos veios,
à tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.

Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo sutil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus coleios,
minha íntima, nervosa e rúbida serpente.

Teu veneno letal torna-me os olhos baços,
e a alma pura que trago e que te repudia,
inutilmente anseia esquivar-se aos teus laços.

Teu veneno letal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.
 

1 comentário:

Ná M. disse...

Não a conhecia..que lindaa ! Vou ler as poesias dela