O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, junho 13, 2011

MULHERES e

  “Máscaras”

"Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente elAs são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma - e continua procurando para sempre".*

…COMO SE NUNCA a ENCONTRASSE…

Aqui o autor lamenta a falta de alma dessas mulheres e contudo são elas quem despertam de maneira mais intensa o desejo dos homens… Isto de algum modo quer significar que para o autor as mulheres não tinham alma…

Trata-se como é óbvio da mulher fatal, a mulher imagem…a mulher que eles, homens e escritores, inventaram nas suas personagens, nas imensas faces multifacetadas da mulher, uma das muitas e variadas máscaras que eles inventaram para as mulheres que desejam “ideal” (DOMINADA E SUBMISSA) nesta rejeição do eterno feminino em si, na busca da sua anima, na busca da sua própria alma…

É neste autor como em outros autores e poetas de renome, bastante notório o conflito interno em que eles se debatem. De um lado a necessidade sexual, o desejo, e do outro a rejeição da mulher externa, que lhes mete medo; porém, move-os não só a necessidade do seu feminino em si, a sua anima, como o da Mulher exterior que a espelha, mas que eles transformaram na mulher objecto por não suportarem a mulher autêntica. E assim dividida em partes, a mulher, eles não conseguem apreender a sua essência e negam-lha a alma. Ficando eles mesmo divididos neste eterno conflito, entre o seu desejo de um lado, e por outro, o desejo de castidade motivado pelas suas tendências apolíneas, virados para o céu, e o medo do ctónico, da mulher selvagem e das profundezas que os aglutina e de que têm medo. Eles temem a Natureza Mãe e os seus contornos imprevisíveis como temem a Natureza da mulher; eles temem a mãe que os concebe, como temem a terra que os acolhe quando morrem. Todos esses impulsos contraditórios levam o homem a negar, a repudiar e a rejeitar a mulher essência, a mulher instintiva, que a religião patriarcal e os seus dignitários afastaram da vida real, da vida da sociedade, contentando-se com os seus simulacros, perseguindo as mulheres integrais que lhes davam corpo e alma…fossem elas sacerdotisas da deusa, filósofos ou sábias, feiticeiras, curandeiras, ou as bruxas da Idade Média. Assim, transformaram-nas em esposas e amantes, concubinas cortesãs e prostitutas, comprando-as e pagando o preço da sua anulação ao longo dos séculos até hoje, em que convivem com mulheres de silicone e bonecas insufladas.
rlp



*Friedrich Nietzsche

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