O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 07, 2011

UMA VIDA QUE SEJA SUA…







“Em Um Quarto Só para Si, Virgínia Woolf descreve satiricamente a sua perplexidade perante os volumosos catálogos da biblioteca do Museu Britânico: porque é que há tantos livros escritos por homens acerca das mulheres, pergunta-se ela, e nenhum escrito por mulheres acerca dos homens? A resposta a essa pergunta é que desde o começo dos tempos os homens se têm debatido com a ameaça do domínio feminino. Essa torrente de livros foi instigada não pela fraqueza das mulheres, mas pela sua força, a sua complexidade e impenetrabilidade, a sua omnipresença aterradora. Ainda não nasceu o homem, nem sequer Jesus, que não tenha sido tecido, a partir de uma pobre partícula de plasma e até se converter num ser consciente, no tear secreto do corpo feminino. Esse corpo é o berço e a fofa almofada do amor feminino, mas é também o cavalete de tortura da natureza.”*


Desta maneira podemos pensar e ver como a mulher e a sua imagem foi denegrida ou exaltada, mas sempre fragmentada na literatura e como tão pouco exacta pode ser a sua ideia e como hoje ainda vivemos dessa imagem esquartejada que o homem mutilou e recriou da mulher, baseado no seu desconhecimento da verdadeira mulher e no seu medo e na resistência à Mãe e à Natureza.
Como é que ninguém pensa nesta tremenda atrocidade feita com as mulheres, no peso deste apagão cultural e histórico, nesta ausência do Ser Mulher em si e como a sociedade de hoje não se pode resolver sem restituir à Mulher a sua inteireza seja ela qual for?
Como é que se pode viver e conviver com esta tão grande lacuna humana que é metade da Humanidade ser explorada e sacrificada em Nome de Deus e do Homem?...
COMO É QUE OS "ESPIRITUALIDSTAS" E MESTRES CONVIVEM COM ESTA REALIDADE SEM QUALQUER DESCRIMINAÇÃO DE CAUSAS E PÕE O DEDO NA FERIDA E INTERVEM NO CASO?
Pensam na fome...pensam na pobreza, mas na violência que atinge a grande naioria de mulheres no  mundo, sobre isso eles não dizem nada?

Como é que até hoje nem as mulheres conseguem equacionar essa lacuna e pensar por si mesmas o que é que lhes aconteceu para serem assim tratadas no mundo? Como é que as mulheres permitem e consentem que milhares de mulheres no mundo sejam escravas sexuais, mutiladas e espancadas violadas ou mortas por preconceitos seculares?
COMO?
Pensar que ainda hoje a literatura e o cinema estão cheios dessas personagens femininas a que as mulheres procuram dar corpo na sua ausência de auto-estima ou consciência de si mesmas, sem saberem ao certo quem são elas mesmas como um todo em si, e por isso a querer ser fiel a essas personagens retratadas que os homens  criaram delas, sempre divididas entre a mulher fatal, a esposa consagrada e pura ainda ou  a virgem santa e do outro lado da barricada    a mulher frívola e sem escrúpulos, a prostituta, em suma a puta…

É claro que também temos o homem bom e o homem mau…o justo e o injusto, o homem honesto e o traidor etc, mas nenhuma dessas divisões concerne o aspecto da sua vivência sexual, enquanto na mulher a sua catalogação deriva quase que exclusivamente do seu comportamento sexual face ao homem…Um homem com muitas mulheres é um herói…é respeitado e enaltecido pelos outros homens…uma mulher com vários amantes é só uma grande puta…toda a sociedade a aponta. E não há pior calúnia para um homem do que ser chamado de (ou ser) "filho da puta"…


Hoje já há muitas mulheres que escrevem livros, romances, ensaios e até filosofias, mas todas falam do Homem como Mestre e sobre os homens em geral, negando-se ainda uma identidade própria e independente…Sim, são muito poucas as mulheres que realmente escrevem sobre si mesmas e se procuram encontrar na sua totalidade, poucas são as que resgataram a sua essência. Elas continuam presas não só a esses estereótipos criados pelos grandes escritores, como dependentes do apreço e do olhar do homem exclusivamente e diria mesmo escravas sexuais ao nível biológico, e apesar da sua aparente liberdade no mundo ocidental, elas ainda se mantêm presas ao seu domínio psicológico e emocional-sexual,  sem capacidade para se livrarem do jugo para poderem viver a partir de si mesmas e em plena igualdade de identidade com o Homem por quem continuam a ser inteiramente subjugadas…
É evidente como em todas as regras há as suas excepções...
Mas regra geral e até prova de contrário eu continuo a pensar assim…

rlp

 * in Personas Sexuais , Camille Paglia

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