O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 07, 2011

DEIXEM AS MULHERES FALAR SOBRE SI PRÓPRIAS...


Em Um Quarto Só para Si, Virgínia Woolf descreve satiricamente a sua perplexidade perante os volumosos catálogos da biblioteca do Museu Britânico: porque é que há tantos livros escritos por homens acerca das mulheres, pergunta-se ela, e nenhum escrito por mulheres acerca dos homens? A resposta a essa pergunta é que desde o começo dos tempos os homens se têm debatido com a ameaça do domínio feminino. Essa torrente de livros foi instigada não pela fraqueza das mulheres, mas pela sua força, a sua complexidade e impenetrabilidade, a sua omnipresença aterradora. Ainda não nasceu o homem, nem sequer Jesus, que não tenha sido tecido, a partir de uma pobre partícula de plasma e até se converter num ser consciente, no tear secreto do corpo feminino. Esse corpo é o berço e a fofa almofada do amor feminino, mas é também o cavalete de tortura da natureza.”*
Camille Paglia

Muitas "espiritualidades" recentes (modistas) e novíssimos autores, procuram branquear a história e a realidade que é o apagamento global das qualidades intrínsecas das mulheres e lidar com a pseudo-emancipação destas como um dado garantido...para a "evolução" do ser humano como um todo, sem que a Mulher esteja na posse do seu mat(er)rimónio (não pat(er)rimónio), ou seja, da herança ancestral da linha matrilinear...que passa por uma consciência ontológica antes de mais. Uma ligação às suas raízes e a Terra. Que implica uma integração dos vários estereótipos em que ela foi dividida pelas religiões, vivendo ainda hoje completamente fragmentada ao nível da sua psique. Só quando a mulher deixar de viver alienada da sua natureza profunda (forças ctónicas, coração, útero sangue e ovários) poderá recuperar a sua verdadeira identidade e ser um ser autêntico na plena posse dos seus atributos. Até lá a mulher continua a ser o que o Homem e a "ciência" quer que ela seja...
Porque aquilo que o ocidente reprime na Mulher é ...

“Aquilo que o ocidente reprime na sua visão da natureza é o ctónico, termo que significa “da Terra”, mas das suas entranhas, não da superfície.” (Camille Paglia)



Destaco hoje este aspecto aqui dada a recente intervenção de alguns espiritualistas nova vaga, ou mesmo de “clássicos” (cristãos gnósticos, rosa-cruzes ou teosóficos), esoteristas em geral, os que que de bom já têm considerarem a mulher uma igual…ou que lhes conferem um papel digno…de parceria e complementaridade, por certo os mais bem-intencionados, mas que não vêem ou não querem ver (não podem ver porque não lhes passa na pele…) que a mulher moderna está cindida em vários estereótipos, em consequência de uma religião secular misógina que a cindiu basicamente em dois "arquétipos" (a santa e a prostituta) e uma cultura apolínea que nega o ctónico e a natureza telúrica, e por isso ainda hoje ela vive fragmentada na sua natureza profunda e na sua psique, apesar de se julgar livre dentro desses estereótipos masculinos. Eles acham que eu estou mesmo a atrasar os processos de evolução espiritual de ambos os sexos, ao dizer que a mulher não está na posse nem consciente da sua natureza intrínseca profunda… Do mesmo modo as feministas em geral e as marxistas me acham demasiado espiritual e negam o lado sagrado da natureza e a sua ligação a ela, negam que a força da mulher está nos seus ovários, negam a sua intuição e o lado das forças instintivas em prol do seu lado racional e lógico.

A questão por mim focada nunca passou por deitar abaixo "os homens" nem defender as mulheres...como eles pensam, (falando em vitimização, opressão, ou de uma sexualidade versus maternidade etc.) mas sim a defesa da minha perspectiva da questão que assenta na minha experiência profunda e é bem outra, fora de qualquer contexto habitual...e a meu ver fundamental.
Há planos de vida e de consciência, um tangível...e outro subtil... A espiritualidade é do plano subtil digamo, o plano da energia, e a realidade concreta social e psíquica é do plano tangível, material. Reduzir o ser humano aos seus cinco sentido e à razão intelecto, é a redução do ser humano a um animal racional...E o ser humano é muito mais do que isso sendo que a mulher é o veiculo da transcendência, dando vida e amando a um outro nível. Mas só a Mulher na posse da sua plenitude tem acesso a essa transcendência-consciência e para isso ela tem primeiramente que se conhecer a fundo tanto no plano tangível como no psíquico…e ir para além dos dois...isto é essencial uma vez que a história e a sociedade patriarcal a afastou completamente de si e desse seu potencial quer da sua verdadeira natureza ao longo de séculos de perseguição e anulação.

Conhecer a natureza de um ser, no caso da mulher (tal como com o homem) significa nascer e ser mulher na pele... neste plano. Considero por fim que um homem não tem que falar da mulher nem a mulher do homem. Por isso penso que é a altura de serem as mulheres e falar delas...a escrever sobre elas...a filosofar sobre elas, a dizerem o que elas REALMENTE sentem e querem...

Era tempo de os homens ficarem lá a falar com os seus botões...ou a filosofar entre si sobre os Homens e o seu mundo e o seu deus, o que quiserem, toda a porcaria que fizeram e continuam a fazer em nome das suas ideologias, democracias e economias...mas não mais sobre as mulheres. Como são ou deixam de ser ou se são ou não são como deviam...

DEIXEM AS MULHERES FALAR SOBRE SI PRÓPRIAS...
É SÓ ISSO QUE EU RECLAMO...

rlp

2 comentários:

Juliana disse...

Deixem as mulheres falarem e dialogarem, com suas irmãs e com os homens. Precisamos urgente de voz e diálogo.

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Sim, mas porque sempre tem que ser um direito dos homens definir a tuar sobre o que são as mulheres...Porque não podem as mulheres, elas mesmas definirem quem são como genero e individualmente?
Porque os homens tem que ter o direito de escolher ao que acontece no corpo das mulheres? Não deviam elas próprias fazer suas escolhas?
Homens e mulheres tem que dialogar mas antes as mulheres precissão fazer um diálogo interior corpo a corpo a si mesmas.é o que penso.