O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, outubro 10, 2011

ENCONTROS E DESENCONTROS


A MULHER QUE SE NEGA E SE DEIXA MUTILAR...

Hoje sinto uma grande tristeza…uma tristeza profunda ao constatar mais uma vez como o sonho que por vezes me anima de ver as mulheres unidas segundo um padrão elevado de beleza e seriedade…de integridade e consciência, de partilha e firme vontade de evoluir na descoberta do seu ser profundo e de uma grandeza interior, se esboroa nos meus dedos ao transformar-se em mais uma mera ilusão desfeita pela realidade…

Ver e constatar como as mulheres se movem ainda e só por sexo…dinheiro…e ego…ou fama… (em nada diferentes dos homens) dá-me esta profunda tristeza e vontade de abandonar de vez este sonho louco de unir e consciencializar as mulheres do seu valor intrínseco…quando afinal o que vejo é que elas se perdem uma e outra vez sempre em prol do amante, do predador, do homem que a explora ilude e engana…ou mesmo de outra mulher (se for caso disso) …é o engate, o “prazer” ou o “amor” romântico que as move…
Uma e outra vez essa ilusão macabra, do erro que se repete, de se projectarem no homem (ou mulher) e entregarem-lhe o seu poder pessoal… Quantas vezes…? Quantas vezes não dão mesmo tudo o que têm, sacrificam-se inteiramente, para ficar sem nada e de novo abandonadas, desprezadas, voltam a projectarem-se num mesmo sonho mórbido…
Quantos casamentos desfeitos, quantas traições…quantos enganos, quantas desilusões…quantas violências consentidas, abusos e prepotências em nome desse “prazer” ou desse “amor”? Porque esta permanente e obsessiva procura do “outro”?
Porque este medo de estar só…de não saber ser em si, este medo de não ser nada …este medo de não saber quem se é…e não se dar valor só por si?

Nas mulheres mais novas eu ainda compreendo o sonho intacto, a força da libido e a falta de experiência, querem casar e ter filhos…embora nada justifique a cegueira das mulheres e geral…mas ver mulheres maduras, mulheres cultas, mulheres inteligentes cair na armadilha…perder a dignidade e perder toda a postura, a sua independência por um falso prazer adiado… do “orgasmo” (que se calhar nunca tiveram), escravas de um mito, da “felicidade”, do “homem ideal”, do “príncipe encantado”… e quantos SAPOS, quantos, elas não engolem até morrer…até ter um cancro do útero ou da mama, e o médico lhes arrancar os seios e lhes tirar os ovários, consumida por pílulas desde jovem, pílulas do dia seguinte, anestesias e anti-depressivos a vida inteira…
Não, não creio que isto seja um destino nem uma condenação…mas a mulher foi e é ainda uma “escrava” do homem, disfarçada de emancipada, seja a esposa a filha ou a amante, não conseguindo libertar-se da ilusão do casamento e do “amor”, prisioneira da célula da família onde ela é apenas a reprodutora, a nutridora da criança e do macho, sem saber como ou sem querer até libertar-se! Primeiro ela não é nada sem um filho e depois sem um homem… E é esse medo justamente de ser só e estar vazia que a faz ceder e cede vezes sem conta, porque é esse vazio, o vazio que lhe inculcaram para a encher (a gravidez) e por medo de estar só, submeter-se ao macho, por não ter valor em si mesma que a faz viver sempre o mesmo filme de terror até ficar totalmente destruída… cansada, velha e desfeita…

Há mulheres felizes, dir-me-ão…mulheres realizadas…casadas e com famílias organizadas e que se sentem bem na sua pele…Mas essa não é a sua pele…e esse é que é o drama e elas nem sabem. Pode contudo haver excepções à regra…dizem-me, pode, mas eu sou céptica e talvez velha demais para acreditar no sonho americano…A ideia de felicidade é muito recente na Europa, e foram os filmes de Hollywhood que a propagou no mundo...
Portanto direi que não, que não acredito em mulheres felizes sem saberem de si mesmas. Há sim mulheres submetidas e entregas a esse sonho sem querer ver nada, totalmente cegas para si, anuladas, obedientes e contentes com a tudo o que “têm”…casas carros piscinas….ou carteiras e sapatos de marca. Ou então mulheres completamente alheias a si como seres humanos, sem individualidade, obedientes às regras e a viver no seu quotidiano vazio, sem emoções ou as empregadas, em grande sofrimento por não terem dinheiro, na luta pela sobrevivência, condenadas as mais miseráveis condições de vida…Classe alta e classe baixa…nos antípodas uma da outra…e a classe média, por suposto “culta e educada”…vive toda de filmes, escrava do consumo e da média, seguindo padrões e estereótipos de mecanização, robotizadas.

Não, as mulheres de todas as classes não têm vida própria ainda, não sabem quem são nem o que valem…tudo o que lhes disseram, as mães e os pais e os padres e os professores, como se de si próprias se tratasse era falso… tudo o que lhes contaram sobre a Mulher estava errado...ou quase tudo... 

Porque não acorda então a mulher para si mesma? Porque não se liberta a mulher moderna? Porque ela é prisioneira de uma biologia também, de um imperativo da espécie…mas não é só… está prisioneira porque ela própria não quer olhar-se a si mesma ao espelho…ela luta contra si e contra a sua irmã…ela mantém a separação entre mulheres, a contenda, a rivalidade: vê sempre na outra mulher a causadora da sua infelicidade… é sempre a “outra” mulher…a culpada da sua desgraça, da infidelidade do homem…precisamente porque ela não se conhece nem sabe que dentro dela coabitam as duas (a esposa e a amante, a mãe e a filha, a velha) e esse é um tesouro escondido, um manancial por abrir, que corresponde a uma vida plena…a um coração que por si espera, o seu próprio …que corresponde a uma vida cheia de sentido e amor por si mesma e creio que nas outras mulheres também…

No dia em que a Mulher deixar de ser dominada pelo medo de estar/ser incompleta ela poderá ser livre…

Sim, isso é possível, se a mulher se encontrar em si e elevar-se na sua força inteira, na sua plenitude, se resgatar o seu poder interior …ser plena e livre, amar-se a si mesma e depois então pode e deve amar os outros…mas nunca antes de se encontrar a si mesma e a sua identidade perdida nos confins dos tempo…

rlp

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