O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 07, 2012

O ODIO DA FILHA À MÃE E VICE-VERSA...


"O grande motivo essencial dos Mistérios de Elêusis e, portanto de todos os mistérios matriarcais é a heuresis, a redescoberta de Core por Deméter, a reunião da mãe e da filha."


"Estou num momento particularmente crítico em relação à minha mãe...e não consigo aceitar determinadas coisas...não sei perdoar...às vezes isso me faz confusão porque eu acredito na Deusa, eu amo as mulheres, mas não todas e a primeira na lista é a minha mãe, cujo útero me gerou mas nem sequer por isso lhe sou grata...ela só precisava ficar grávida para obrigar um homem ao casamento... nunca me amou, nem me amamentou, sempre me tratou mal, sempre com violências físicas e psicológicas, tenho muitas lembranças ruins de maltratos e humilhações, mas não tenho uma única recordação de um abraço sincero ou de um gesto de apoio e carinho...Ela é má... perversa, manipuladora, mentirosa, ciumenta, invejosa... não vejo como resolver esse conflito...por isso é que insisto que determinadas questões não são apenas uma questão de gênero, afinal em várias reencarnações somos homens ou mulheres, ou animais, ou plantas ou minerais...então como ultrapassar isso...sei que ela é uma infeliz, não se ama,não se conhece, mas não quero ajudá-la" ***

Minha amiga:
Temos de óbviamente conversar sobre esse assunto pessoalmente! Mas antes disso queria dizer-lhe, pelo muito que o seu relato me tocou como exemplo claro da mulher típica comum, que é a sua mãe, vítima de uma sociedade que criou muitas mulheres assim; mulheres sobreviventes que não podem amar ninguém pois são crianças quase mutiladas emocionalmente. Essas mulheres tanto podem ser ricas como pobres, apesar das pobres sofrerem em acréscimo as dificuladades económicas, mas todas as mulheres sendo anuladas e desrespeitadas na sua essência, “que não se amam nem se conhecem”, acabam por se tornar “sobreviventes”. Elas aprendem as manhas e a frieza, o cálculo a perfídia, e como você diz:

“Ela é má... perversa, manipuladora, mentirosa, ciumenta, invejosa”…

Sim, a mulher comum, tirando algumas mulheres fantásticas, por assim dizer, ou digamos 80% das mulheres são assim e tudo isso e muito mais…É dessa mulher que também os homens se queixam sem saber que foram eles que a tornaram assim e que a mulher é o sub-produto de um sub-produto que os homens são de uma sociedade machista e misógina…
Um mundo onde se não ama nem respeita a Mulher e a Mãe...
Um dia porém há-de compreendê-la e querer ajudá-la. Só o não pode fazer agora porque é a sua criança ferida que pede ainda o carinho dela e a ajuda da mãe que não teve...
Mas justamente, você sabe o que ela sofreu com a mãe dela?

É esta a grande ironia na nossa vida, que as mulheres em vez de se unirem e amarem se começam por odiar e desprezar umas às outras...e começa tantas vezes com a filha e a mãe, ou vice-versa. Sem curar essa ferida voce vai sempre acusar e amar/odiar as outras mulheres.
Começam sempre por se disputarem entre si  por causa do pai ou do irmão, depois do amante...
Foi isso que o patriarcalismo fez muito bem feito ao longo dos séculos. Destruiu a união da Mãe e da Filha dos Antigos Mistérios (Eleusianos) para fazer valer e prevalecer só a autoridade do Pai...E foi desse domínio e abuso que a mulher aprendeu a defender-se como o prisioneiro no campo de concentração ou os reféns de uma qualquer guerra…
E assim acabam sempre por  atacar todas as outras mulheres como culpadas...mesmo as amigas...pois se sentem sempre traidas e inseguras e SE VOCÊ NÃO ENTENDER ISSO e parece que não entedeu, vai sempre acusar e vingar-se das outras mulheres que não correspondam aos seus anseios desejos ou ideias de menina mulher... *
rlp
* Excerto de texto publcado em 2006


DE ONDE NASCE O  ÓDIO À MÃE? QUE FERIDA É ESSA NA MULHER ?

Fala-se  com imensa frequência da "criança ferida", da nossa criança, ou de se ser como uma criança...Mas ninguém quer ver de onde nasce a criança ferida...de onde provém a ferida...

A Ferida fulcral, inicial, é a ferida da Mulher, da mulher cindida, da Mãe ferida, da mãe mal tratada, abusada e desrespeitada pela máquina social e pelo homem que faz da mulher mal nasce um ser destituído de identidade e educada para servir a comunidade, a família ...
Toda a mulher à partida nasce com o destino traçado...ou é procriadora ou objecto sexual- ou casa ou é uma vadia...e embora as estas  variantes são hoje bem mais civilizadas, em que se torna a mulher um objecto de prazer visual ou virtual, na moda, na publicidade, e mais concretamente no consumo/sexismo...e não me falem das mulheres "privilegiadas", educadas, bem nascidas, as filhas do papá, ou as bem casadas ou primeiras damas ou primeiras camas ou lá o que forem...porque esta é uma experiência transversal a todas as mulheres: ricas e pobres, negras e brancas.
A grande ferida da mulher é a grande ferida deste mundo, que começa no ódio a Mãe: uma mãe não amada e uma criança rejeitada cria todos os ódios e lutas...todos os excessos, fundamentalismos e crimes e  guerras. Esta é a realidade que ninguém quer ver...e que as mulheres infantilizadas também não querem encarar.
escrito em
rlp

***carta de uma jovem amiga


rlp
 

2 comentários:

jozahfa disse...

Olá Rosa Leonor!
Passo para colher algumas flores de seu jardim e deixar um abraço fraterno.
Josaphat

rosaleonor disse...

Olá meu amigo, há tanto tempo...
Você ainda não aderiu ao facebook? Lá seria mais fácil cruzarmo-nos...mas tenho muito gosto em saber de si ainda por aqui!!
grata pela sua presença~

um abraço grande

rosa leonor