O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, março 20, 2012

QUE FEMININO?


"Ser mulher exige muita coragem e sacrifícios: sair da zona do conforto." - Else Sch

Fico realmente perplexa ao aperceber-me que não é fácil para as mulheres falar do Feminino...nem todas, ou raras são as mulheres que conseguem identificar a sua essência...a razão sem dúvida é estarem tão longe as mulheres dessa sua essência feminina - elas são no nosso mundo muito mais animus que anima - que dificilmente conseguem ir para além dos conceitos ou ideias que têm em geral da mulher, na arte na cultura e nos midea, todas elas redutores dessa essência, onde nem sequer ela é aflorada e que as mantêm ou contêm aprisionadas numa carapaça de mulher, um travesti do imaginário masculino, reduzida às funções de procriadora, de amante e hoje em dia de modelo ou actriz. De modo que, se pedirmos a uma mulher para falar da sua essência feminina, ela vai titubear e falar do que gosta, precisamente da moda, da maquilhagem, da culinária ou então dos filhos e do marido...ou dos amantes…sim, principalmente dos homens…é inevitável.

Elas não conseguem ser ou ver-se no seu “feminino” intrínseco não tem ideia do que isso seja, e tudo o que dizem é em função da sua relação ou em função dos homens… Do seu falar, a única forma de conhecimento a que tem acesso…dos seus psicanalistas do seu deus e do seu falo… e se, se lhes falar do seu próprio sexo é como se não existisse…digo da vagina ou do clítoris…isso incomoda-as e quando falam é de forma depreciativa envergonhada ou brejeira…

Elas são incapazes – e eu falo de mulheres de todos os tipos e regra geral, não falo como é óbvios daquelas que se buscam num caminho próprio…e fazem a diferença, mas daquelas que são a grande maioria e vivem completamente esquecidas de si. Essas mulheres não relacionam o amor que sentem com elas mesmas, como uma capacidade de se sentirem, de sentirem esse fogo interior que é a paixão do SER e da VIDA em essência, mas sim e quase sempre as mulheres pensam que esse fogo está associado apenas à sexualidade e amor pelo homem...que é o homem que as faz sentir assim e sem ele nada sentiriam; mas não é de todo assim. Essa é a minha experiência e de algumas mulheres que conheço...Porque esse amor vem essencialmente da natureza e da consciência de SER MULHER; pode parecer uma acepção talvez mística da vida...mas esse fogo está no coração ardente...na consciência do ser e na sua totalidade ainda e só como mulher, porque é essa a sua natureza intrínseca, ela é transcendente, isso é, mas é tão real como ela mesma...basta ligar-se ao seu coração e as suas entranhas, a esse todo que é a Mãe terra e respirar o céu...

Esse é o amor condensado, substancial, transfigurado no coração da mulher depois de tanto sofrer, amando e não amando desejando e querendo mais...que a torna grande e a torna capaz  de sofrer e dar tanto e tantas vezes sem nenhum retorno…sem ver que esse amor que dá  é só dela e é nela que nasce e floresce…e não morre se ela o mantiver ligado a sua fonte de vida…se ela sentir o seu centro, na união de si consigo mesma...Com a sua outra parte oculta, tão escondida e tão amesquinhada que ela nem sempre ousa abrir-se a ela...Mas precisa resgatar essa mulher cindida, unir as duas e agora a três com a idade...porque ela é a eterna Jovem a eterna Mãe e a eterna Velha, a sábia...
Sim, com o tempo e a idade a mulher vai aprendendo a sentir-se e a libertar-se de amarras. Pode perder umas coisas mas ganha outras e nada é mais belo do que se reconstruir a si mesma e agarrar todo os pedaços de si que foi deixando aqui e ali, forçada, perdulária...ou roubada...
É pois um erro pensar que a mulher madura ou mesmo a velha não ama com intensidade...sabedoria talvez mais do que sensualidade… mas ambas as coisas se misturam e a pura emoção que se requinta na medida que anos passam é cada vez mais secreta e misteriosa e erótica, porque não?

A mulher foi ao longo da sua vida confundida com aspectos variados de uma natureza multifacetada e imperiosa que a mantém amarrada e contida nesses estereótipos, sobretudo nela foi calada a sua voz de dentro, a Voz do Útero, retida a Voz do Oráculo no inicio da nossa civilização grego ou romana. E assim durante milénios impingiram-nos as faces da deusa Mãe, banida a Deusa da superfície da terra, com as mulheres todas à bulha por Zeus no Olimpo, como falsos arquétipos o que na verdade são apenas os aspectos que correspondem ao carácter da mulher nas suas diferentes fases ou aspectos da Deusa Mãe outrora Una, agora dividida pelas religiões patriarcais.

Assim, o feminino essencial, o feminino na sua essência/beleza/sensualidade...é coisa que a mulher comum não sabe...ou pode até saber intelectualmente e imitar...numa imagem estereotipada da mulher sensual ou fatal...mas da essência em si, para lá de todos esses estereótipos, pouco ou nada sabe; porque essa essência é outra coisa, trata-se da consciência ontológica do SER MULHER e trata-se essencialmente da Alma...e isso só é possível na mulher integrada e não em nenhuma das metades ou fragmentos que todas pensamos que somos ou ...Afrodites, Atenas, Hestias ou aquelas...

Não, a Mulher Essência é muito mais do que isso. A Mulher Essência é Fogo puro, chama ardente...é paixão sublime, pode ser e é... a Musa a Dama, a Amazona e a Rainha, a Grande Mãe e a Deusa de todas as coisas...

Rosa Leonor Pedro

4 comentários:

Anónimo disse...

Que honra, Rosa!

Acho que somente as mulheres maduras conseguem saber o significado de ser mulher. Há algumas jovens, sim, mas pelo medo de ficarem sós, se submetem a clichês, a pensar e aceitar a classificação da sociedade patriarcal da mulher.

Sim, há de se ter coragem e pagar o preço, amiga para "ser".

Somos criaturas e criadoras.

Obrigada!

Anónimo disse...

Dentro de nós é forte o medo da liberdade.
— Germaine Greer

rosaleonor disse...

Sem dúvida minha amiga...é esse medo inconsciente e recôndito que nos aprisiona ao conhecido ao hábito e nos torna inaptas para descermos aos nossos abismos...

Visitei o seu trabalho e se não se importar vou lá escolher um conselho útil de saúde um dia desdes...?
grata pela sua companhia.
abraço rleonor

Anónimo disse...

Me é uma honra, sempre, sempre!