O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 03, 2012

ENTRE MULHERES...



Há dias uma amiga pintora, a Lena Gal,  desabafou com o grupo M.& D. sobre um email que recebeu de uma mulher anónima que a feriu brutalmente com uma agressividade total e gratuita de quem quer destruir o que a outra constrói e acredita,  e eu isso parece-me uma coisa muito comum entre seres humanos e principalmente entre mulheres que estão quase todas e quase sempre coibidas na sua grande maioria, de serem criativas e de se afirmarem pela positiva na vida…de se valerem por elas mesmas sem terem que justificar o seu fracasso sem denegrir as outras…sem culpar da sua desgraça ou infortúnio…a amiga que a traiu, a mãe a irmã ou a colega de trabalho…

Mas infelizmente esta é uma historia comum entre e de mulheres…todas nós temos ou tivemos, bem escondido lá no fundo, uma rival ou uma inimiga especial... como temos também alguém que admiramos, e como temos alguém que odiamos… ou ainda uma alma que adoramos… uma mãe ou uma filha que desprezamos e fingimos que não…de quem nos afastámos por dentro mas não aos olhos da família e do mundo…em que mantemos as aparências e os papéis…e essa vida dupla da mulher é outra fonte de sofrimento…mas esse é outro assunto de que não falarei agora.
 

As histórias de vida das mulheres são as coisas mais intrincadas e mais complexas que existem à face da terra…diria. Com as mulheres e as meninas se passam as coisas mais difíceis e mais complicadas que há…as mulheres sofrem desde que nascem tantas afrontas, tantas negações do seu ser, tantas aviltações, tantos abusos e dai tantos complexos…são tão causticada pela família e pelos pais e irmãos, namorados…têm de estar sempre na defensiva na retaguarda para serem aquilo que cada um deles espera delas e isso é um esforço superlativo, elas têm de ser: boas, sérias, prendadas, honestas, fiéis, castas, virgens, bonitas, elegantes, magras, etc. …e é assim que crescem e que vivem…a servir ideias a servir padrões a servir os homens e a agradar ou a odiar as mães…

Agora é um facto: as mulheres odeiam-se…e não entendem se alguma mulher amar mulheres e as tratar bem…e se for o caso, tratam logo de lhe chamar lésbica…que é uma forma de denegrir também a mulher…como se a mulher pelo seu sexo fosse sempre um ser desprezível…e que pelo seu sexo fosse sempre aviltada, mal tratada, diminuida...e ela acaba inevitavelmente por reflectir isso nas outras mulheres…
Assim, uma mulher que pinte só mulheres e não homens…é uma blasfémia para a religião do deus macho, a religião do falo que é a religião de todas as mulheres na negação do seu próprio sexo e identidade…Elas pensam-se mulheres por amarem e desejarem "homens", não por serem femininas…não por serem mulheres...que isso é bem outra cosia!
Assim, também uma mulher que só escreva sobre as mulheres e para mulheres…é fatal como o destino…E eu convivi com isso desde o meu primeiro livro. Sofri afrontas e exclusões…o meu livro é anátema…como a mulher é anátema para a Igreja desde há séculos e continua a sê-lo de forma disfarçada se não corresponder aos estereótipos que lhes são imposto pela educação e pela cultura…
Ser Mulher é proibido por lei e proibido inconscientemente pelas próprias mulheres…é natural que quem se atreva a eleger ou a elevar a Mulher a um trono de rainha e senhora de si que seja apedrejada…por palavras…e excluída dos contextos em que se opera a masculinidade e onde só as mulheres machas, mentais, intelectuais, subservientes aos mestres e aos chefes, são valorizadas…e que tanto podem ser lésbicas como podem idolatrar o falo e serem fatais…elas vivem só por e em função exclusiva dos homens…
O mestre o Pai e Filho e o amante que a violenta em casa a viola na rua e a mata…quando ela quer seguir a sua vida própria...ou escolher outro homem...

rlp
Pintura da Lena Gal...

5 comentários:

Nerfetiti disse...

É VERDADE.... NOSSA... GRAÇAS A DEUS... JÁ SUPEREI A FASE DE SENTIR-ME AGREDIDA POR OUTRAS MULHERES E MESMO ACHAR QUE AS OUTRAS SÃO MELHORES DO QUE EU... PELO SUCESSO PPROFISSIONAL OU APARÊNCIA... PRECISAMOS NOS AMAR... SÓ O AMOR CURA... AS CICATRIZES... GOSTEI MUITO DO TEXTO...

rosaleonor disse...


Fico muito feliz por saber que há mulheres que conseguem libertar-se desse antagonismo, dessa rivalidade...
E obrigada por ter comentado - e gostado do texto!
um abraço
rl

Anónimo disse...

ainda fico triste com estas situações... verdadeiramente triste...

rosaleonor disse...

Sim, é de ficar muito triste, mas a força de muitos séculos e mentiras e de violências sobre a mulher transformou-a em algo que está muito longe ainda de ser ela mesma. temos de ter compreensão e paciência e fazer em nós o trabalho!
Grata Else...

Abraço rleonor

deusa Lótus disse...

Gratidão por esse texto, querida.
Respondeu-me a uma série de indagações. Há uns 3 anos eu venho desenvolvendo atividades para as mulheres e sofri muitos ataques no início. Não entendia porque, cheguei a me ressentir muito com algumas pessoas, mas hoje compreendo que é tudo reflexo desse patriarcado decadente.
Agradeço por esclarecer.
Samanta