O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, dezembro 28, 2012

A VERDADEIRA MULHER

"A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, per­tence inteiramente a um universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação. Ela conhece os segredos das águas, das pedras, das plan­tas e dos animais. Ela fixa o sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, das har­monias da matéria. (…) É ela que se­meia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a in­fância do mundo. Ela o devolve ao seu trabalho de homem, que é elevar-se o máximo possível acima de si mesmo”.
 
O problema é que quase não há mais mulheres. Sus­tento que as mulheres desapareceram, que houve uma catástrofe, que a raça das mulheres foi dispersada e aniquilada sob nossos próprios olhos, que não pu­deram ver. Senhores, a mulher, a descendente do pa­leolítico e do neolítico, nossa fêmea e nossa deusa, o ser que eu chamaria de mulher do homem e que já não sabemos como é, foi perseguida, atingida em seu corpo físico e em seu corpo mental, e devolvida ao nada.
As entranhas da Terra estão plenas de flores­tas tragadas, de restos de espécies animais desapare­cidas, de cinzas de raças humanas e sobre-humanas cuja história, se nos fosse revelada, desafiaria a mais louca imaginação. Nossa verdadeira fêmea, ela tam­bém, misturou-se ao húmus dos abismos subterrâ­neos. Por quê? Ah, senhores, reflitam! Foi ela quem arcou com os custos da imensa, da implacável luta contra as religiões primitivas do Ocidente. Essa luta é toda a história do mundo dito civilizado. Os senhores acreditam que nos lugares onde as legiões romanas nunca conseguiram adaptar sua religião — por exemplo, na Gália ou na Grã-Bretanha —, os sol­dados de Cristo encontraram uma terra inculta e sem deuses? Em inúmeros lugares da velha Europa, nas landes, nas planícies de menires, no fundo do mato e nas margens dos rios onde Pã cantava, sobrevivia a religião nativa oriunda da noite dos tempos, a ver­dadeira religião do homem ocidental. Senhores, es­tou certo de que a Europa viveu, durante milênios, de um elevado pensamento místico, ele mesmo oriun­do de outras eras, consagrado ao Deus Cornudo e à exaltação do princípio feminino. É evidente que essa espiritualidade original foi afogada com violência, no fogo e no sangue, por uma religião estrangeira, vinda do Oriente: o cristianismo. O Deus Cornudo, protetor da antiga humanidade do oeste, foi chama­do de diabo e amaldiçoado.
Os ídolos imemoriais foram derrubados e foi preciso destruir, junto com eles, seu suporte: a mulher-mãe, a mulher-deusa, a mulher-fêmea, a verdadeira mulher.
As pessoas cultas denunciam hoje as atrocida­des do colonialismo recente: os indígenas aniquila­dos, os feiticeiros africanos extintos, as civilizações negras martirizadas. Mas não falam de nossos anti­gos totens, que foram derrubados! De nosso Deus, que foi aviltado e perseguido! De nossas sacerdoti­sas, que foram exterminadas! De nossa mulher, que nos foi subtraída! A velha Europa também foi colo­nizada e desfigurada. Sim, senhores, ouso dizê-lo. Do ponto de vista puramente antropológico em que me situo, a história da Igreja cristã é a história de uma guerra empreendida pelo estrangeiro contra um cul­to nativo muito antigo, muito poderoso, muito pro­fundamente arraigado e de um crime bem-sucedido contra toda a raça humana fêmea. Nós perdemos nossa metade, senhores. Como demonstrarei, ela foi morta.
Não acuso. Talvez esse crime fabuloso fosse necessário. E talvez fosse inevitável. A civilização não seria o que é se a verdadeira mulher ainda existisse. Nós continuaríamos a crer no Paraíso terrestre. O espírito humano não teria tomado novos rumos. Não estaríamos hoje a ponto de atingir as longínquas galáxias, não teríamos aberto as portas do universo, pe­las quais já penetra o chamado do Deus último, no qual se fundirão todos os nossos deuses, no qual o espírito do globo se reabsorverá um dia, tendo cum­prido sua missão. Mas examinemos esse crime. Ex­termínio físico em fogueiras: evocarei as centenas de milhares de verdadeiras mulheres, chamadas de bru­xas e queimadas como tais, e os outros milhões de mulheres vencidas e transformadas pelo medo. Eu os remeto ao Michelet visionário de La Sorcière, li­vro admirável e incompreendido. Extermínio pela propaganda, arma mais certeira do que todas as ou­tras, como já sabemos, e mais eficaz na época do que a polé e os borzeguins. Guerra revolucionária em­preendida pela Cavalaria contra a mulher verdadei­ra, a favor de um novo ídolo. E, enfim, num plano mais amplo, mais misterioso e concomitante, muta­ção decadente da espécie. De tal forma que, pouco a pouco, o ser fêmeo autêntico foi substituído por um ser diferente.
Senhores, o ser que chamamos de mulher não é a mulher. É uma degenerescência, uma cópia. A essência não está aí, o princípio não está aí, nossa alegria e nossa salvação não estão aí.
(…)
Chamamos de mulheres seres que dela não têm senão a aparência, tomamos em nossos braços imitações de uma espécie inteiramente ou quase destruída.
A mulher é rara, disse Giraudoux. Ao despo­sarem uma medíocre falsificação dos homens, um pouco mais artificiosa, um pouco mais maleável, a maioria dos homens desposa a si mesma. É a si mes­mos que eles vêem passar pela rua, com um pouco mais de colo, um pouco mais de quadris, o todo envolvido em seda; é a si mesmos que eles perseguem, abraçam, desposam. Afinal, é menos frio do que des­posar um espelho. A mulher é rara, ela transpõe as enchentes, derruba os tronos, ela detém os anos. Sua pele é o mármore. Quando há uma, ela é o impasse do mundo… Para onde vão os rios, as nuvens, os pássaros isolados? Se lançar na Mulher… Mas ela é rara… Deve-se evitá-la quando a vemos, porque se ela ama, se ela detesta, ela é implacável. Sua compaixão é implacável… Mas ela é rara.
(continua)

A NOVA MULHER

- CONTINUAÇÃO...

 (...)

A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, per­tence inteiramente a um universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação. Ela conhece os segredos das águas, das pedras, das plan­tas e dos animais. Ela fixa o sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, das har­monias da matéria. É a feiticeira branca entrevista por Michelet, a fada de largos flancos úmidos e olhos transparentes, que espera pelo homem para reconstituir o paraíso terrestre. Se ela se der a ele, será num movimento de pânico sagrado, abrindo pa­ra ele, na quente obscuridade de seu ventre, a por­ta para o outro mundo. Ela é a fonte de virtude: o desejo que ela inspira consome a excitação. Mer­gulhar nela devolve a castidade. Ela é estéril, pois detém a roda do tempo. Ou, melhor, é ela que se­meia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a in­fância do mundo. Ela o devolve ao seu trabalho de homem, que é elevar-se o máximo possível acima de si mesmo. Dizem super-homem, não dizem supermulher, porque a mulher, a verdadeira, é aquela que faz o homem mais do que ele é. A ela, basta-lhe existir para ser, plenamente. O homem deve passar por ela para passar ao Ser, a menos que escolha outras asceses, onde ainda voltará a encontrá-la, sob formas simbólicas.
Senhores, descobrir a verdadeira mulher é uma graça. Não ficar assustado, outra. Unir-se a ela re­quer a benevolência de Deus… Que estranho encon­tro! Ela aparece bruscamente no rebanho das falsas mulheres, e o homem favorecido que a vê se põe a tremer de desejo e de temor.
“Tudo vai mudar, chega de jogar:
Vejo teus seios desabrocharem
E às vezes teu ventre fremir
Como um sol quente que se ergue,
Tu me aquietas e eu me admiro
Com esses poderes que deténs…”
________________
O texto acima é uma Conferência Imaginária, entitulada “A Mulher é Rara”, de Louis Pauwels - jornalista e escritor francês que juntamente com Jacques Bergier escreveu “Les Matin des magiciens” (1960).

segunda-feira, dezembro 24, 2012

QUE OS SEUS FRUTOS SEJAM ABUNDANTES...


DEIXO-VOS ESTA ÁRVORE NATALÍCIA...

E TODA A ABUNDÂNCIA GERADA
NO VENTRE DA TERRA MÃE..
CORPO DE ONDE PROVÉM TODA O ALIMENTO

GAIA ESTEJA CONNOSCO
E NÓS COM ELA...
HOJE E SEMPRE
AMÉN

RLP

A CAIXA DE PANDORA...


A MENSAGEM DA ESFINGE

"Estou no teu sorriso e na tua lágrima, no teu sonho realizado e na amargura do teu fracasso. Sou companheira de todos os voos da tua alma. Vivo no silêncio secreto da tua intimidade e conheço todos os teus gemidos mais íntimos. Para mim sempre foste de cristal…
Já ouvi várias vezes a tua história, pois foste tu mesmo que a contaste. Sempre estive mais disposta a ouvir do que a falar.
Sou o teu confessionário secreto e, portanto, a mais fiel das testemunhas de quem realmente és por trás da máscara da personalidade e do teatro do mundo. De mim não precisas esconder nada, pois sei tudo.
Sou dona de teus mais caros segredos, mas os respeito com a dignidade de um confidente silencioso. Afinal, existe mais sabedoria no silêncio do que nas palavras…

Muitos mistérios compõem o meu próprio mistério. Assim quis o Grande Arquiteto que me criou com a Magia dos Quatro Elementos que latejam em teu corpo e no meu.

Em mim trabalham os gnomos, banham-se as ondinas, deslizam os silfos e dançam as salamandras. Procuro despertar-te para o quinto elemento, a silenciosa alavanca que, uma vez dominada, fará com que tenhas poder sobre tudo que te cerca, inclusive o mistério que dorme em mim."


(EXCERTO) Sheik Al-Kaparr

sexta-feira, dezembro 21, 2012

NUNCA ESTIVEMOS SEPARADOS...

 
 
A Mensagem da Esfinge

Debruço-me hoje sobre as areias da tua alma e deixo por instantes de admirar as infinitas miragens do deserto das vidas. Quero ocupar-me de ti nesta hora de solene intimidade e conversar contigo no silêncio do teu quarto.

Não sou um mito de pedra nem tenho morada nos areais do Egito. Meu monolítico perfil é feito de estrelas e galáxias jamais suspeitadas pela tua mais elaborada fantasia e minha essência impregna o âmago de todos os mistérios conhecidos... e desconhecidos. Existo em todos os recantos do Universo, bem como na mais secreta dobra da tua alma.

Sou o enigma de Deus e, portanto, o teu enigma.

Não devoro nem corpos nem almas. Os beduínos que me contemplam, mas não entendem, é que são devorados por seus próprios erros e ilusões.

Assim, vida após vida, corpo após corpo, nome após nome, eles vagueiam como sombras pelo meu deserto, participando sem saber da infinita encenação do Teatro Universal.

Tal como eles estás errando pelas areias da vida. Vejo que não tens cavalo, camelo ou sandálias.

Existem andrajos por baixo de tuas melhores roupas. Na verdade, estás nu por baixo delas. Percebo em ti uma fome e uma sede infinitas. Há certo cansaço em teu rosto e muitas bolhas em teus pés.

Existe em teus olhos a esperança do próximo oásis e na tua memória a imagem amarga de todas as desilusões que passaram. Noto até mesmo uma certa vontade de desistir…

Tenho ouvido tuas súplicas silenciosas. Sou a grande testemunha de Deus. Tenho acompanhado tuas angústias secretas.

Não sou um assombro de pedra como possas pensar. Tudo em mim se enternece diante dos teus reclamos mais íntimos porque também sou uma imagem do Deus a quem oras, na verdade um Deus bem diferente do que imaginas.

É mentira dizer que as esfinges são monumentos pétreos e famintos que devoram a todos que não resolvem o seu enigma. Eu e todas as minhas irmãs, da Terra e do Universo, sabemos sorrir e chorar.

Na verdade, somos o estribilho da tua dor, o eco das tuas parcas alegrias e uma das notas fundamentais da Canção Universal. Não sou de carne, mas conheço as agruras da carne. Não tenho ossos, mas conheço as aflições da medula.

Estou no teu sorriso e na tua lágrima, no teu sonho realizado e na amargura do teu fracasso. Sou companheira de todos os voos da tua alma. Vivo no silêncio secreto da tua intimidade e conheço todos os teus gemidos mais íntimos. Para mim sempre foste de cristal…

Já ouvi várias vezes a tua história, pois foste tu mesmo que a contaste. Sempre estive mais disposta a ouvir do que a falar.

Sou o teu confessionário secreto e, portanto, a mais fiel das testemunhas de quem realmente és por trás da máscara da personalidade e do teatro do mundo. De mim não precisas esconder nada, pois sei tudo.

Sou dona de teus mais caros segredos, mas os respeito com a dignidade de um confidente silencioso. Afinal, existe mais sabedoria no silêncio do que nas palavras…

Muitos mistérios compõem o meu próprio mistério. Assim quis o Grande Arquiteto que me criou com a Magia dos Quatro Elementos que latejam em teu corpo e no meu.

Em mim trabalham os gnomos, banham-se as ondinas, deslizam os silfos e dançam as salamandras. Procuro despertar-te para o quinto elemento, a silenciosa alavanca que, uma vez dominada, fará com que tenhas poder sobre tudo que te cerca, inclusive o mistério que dorme em mim.

Se me compreenderes e dominares estarás no primeiro patamar da Luz e no solene berço da Magia.

Não estou apenas no deserto ou no pórtico de alguns templos. Estou dentro de ti e sou parte de ti. Represento o Mistério de Deus, mas não sou Deus. Represento o fundamento da Magia, mas não sou a Magia.

Portanto, não deves me adorar nem me tomar pelo que não sou.

Reflete, antes, sobre o que te digo, pois é muito grande a legião de seres que, mesmo me possuindo, ignora completamente por que razão existo e por que motivo aguardo.

És um andarilho como tantos outros que cruzam as areias do deserto da vida. Buscas o mesmo horizonte e padeces das mesmas ânsias.

Todas as tuas lágrimas já foram choradas e teus sonhos hoje são névoas que pairam no silêncio de todos os campos santos.

No enganoso oásis das cidades, sejam elas metrópoles ou povoados, vive-se para o momento e para o lucro fácil. É muito prática e superficial a filosofia dos homens. Irmãos devoram irmãos, maculando a fraternidade cósmica com a nódoa do egoísmo e o feio esgar da ambição.

Nessas cidades os momentos de paz, cada vez mais raros, são meros interlúdios para novas guerras e o dinheiro, transformado em deus de barro, reúne a seus pés uma interminável multidão de súditos.

É aterrador o ritmo da civilização e pungentes os gemidos que se desprendem de casas e edifícios, seja no campo, seja nas cidades.

Preserva o teu lar, mesmo que te sintas sozinho. Preserva o teu jardim interno, porque ninguém poderá substituir as tuas flores.

Constrói um cantinho para ti e respeita-o como se fosse o teu templo secreto. Será em seus braços que poderás, um dia, falar com Deus.

Não o conspurques com presenças discordantes nem permitas que esse pequeno santuário seja vilipendiado pelos superficiais.

Deixa que a luz das estrelas more contigo e que teu interior seja sempre uma campina enluarada. Nada é perfeito sem AMOR. Cultiva-o ainda que te faça sofrer.

Raramente os aliados do AMOR são aceitos sem represálias. Portanto, aceita o sofrimento como um imposto a pagar pelo ato de tão bem querer…

Aprende a interiorizar-te. Se não souberes como, pergunta a quem sabe e já o fez. Todas as respostas que formulas do lado de fora se acham respondidas do lado de dentro. Eu as dou todas.

Mas primeiro precisas dominar-me e compreender o que para tantos ainda é nebuloso ou quase impossível de perceber. Precisas elevar-te uma oitava acima da sensibilidade corrente.

A vibração do homem comum não me alcança. Passam ao largo os distraídos e os mistificados. Desiludem-se os ansiosos. Entendem-me mal os adoradores da matéria. Tu, no entanto, precisas me entender integralmente, caso estejas realmente interessado em evoluir.

Sabias que até a busca do amor humano é uma forma de procurar uma imitação do amor de Deus? Em todos os teus anseios mais secretos repousa a necessidade de pertencer.

Queres possuir alguém e ser possuído por alguém. Queres amar e ser amado com uma perfeição que desafia as imperfeições do mundo. Assim, mesmo sem o sentires, desejas intimamente que o amor buscado e encontrado seja como o amor perfeito do Pai Celestial, um amor infinito, reconfortante, livre de deslizes ou máculas, um amor em que possas confiar de modo pleno e seguro.

Um amor que te faça sentir realizado e livre das preocupações que regem o concerto dos encontros. Como não é exatamente o que sonhavas isso te incomoda, não é mesmo?

Isso te torna preocupado e te faz infeliz. É que talvez ainda não te tenhas apercebido de que os seres humanos são, apenas, aprendizes do amor e que é essa a grande lição ainda não aprendida pela humanidade.

Homem algum é uma ilha, porque mesmo as ilhas desertas têm praias que se abrem aos beijos do mar. Mesmo as ilhas desertas têm florestas que se espreguiçam aos beijos do sol e às carícias da lua.

Até mesmo as pedras se deixam envolver pela fúria amorosa do oceano e aceitam com ternura o amor dos moluscos. Todo homem, para ser realmente homem, tem de dar-se por inteiro a quem lhe queira tomar por inteiro.

Mas a solução do pertencer não se encontra oculta por trás das últimas estrelas, nem ao redor do disco cintilante dos milhares de sóis anônimos que pairam no universo.

O pertencer é, antes de tudo, a disposição de não sermos apenas de nós mesmos, mas de alguém especial ou de toda a humanidade. O melhor nos seres humanos clama por amor, porque o amor realiza a divina alquimia que transmuta o chumbo em ouro.

Essa alquimia ainda não compreendida tem no AMOR a sua pedra filosofal e era isso, afinal de contas, que os verdadeiros alquimistas da Idade Média procuravam passar aos leigos por trás de suas complicadas fórmulas.

O “ouro filosofal” nada mais era (e ainda é) do que uma profunda reforma interna derramada num cálice de dor. Os alquimistas superficiais, ainda não preparados para a Grande Obra, prometiam prodígios aos potentados e, de vez em quando, voavam pelos ares em seus laboratórios de pesquisa, do mesmo modo que hoje “voam pelos ares” todos aqueles que se atrevem a utilizar métodos sórdidos para chegar e se identificar com a Divindade ou dela se tornarem prolongamentos.

Não fujas de mais nada nem de ninguém. Enfrenta-te sem as máscaras usuais da tua pretensa “personalidade” e olha-te como realmente és com novas e mais poderosas lentes.

Não é bom o conselho que te derem os que nem mesmo conseguem orientar-se a si mesmos. Torna-te surdo ao argumento materialista, porque ele não consegue sair de si mesmo e é impotente para julgar o Infinito.

Recorda sempre que matéria é energia condensada e que, portanto, tudo é matéria e tudo é energia. Isso te ajudará a entender melhor como é frágil a base da argumentação materialista e como é enganosa a estrada que tantos aconselham.

Quanto ao amor, aceita-o com todas as suas provas, porque é somente amando que voltas a ser criança e te tornas digno da oportunidade de ter nascido na Terra ou em qualquer outra dimensão espacial.

Se o amor te feriu ou invalidou por longos períodos de tempo e precisaste de uma longa convalescença para conquistar a tranquilidade perdida, não deixes que isso impeça que o continues sentindo por outra pessoa ou por toda a humanidade.

E que isso não te pareça estranho, porque existem diferentes formas legítimas de amar e ser amado. Assim, sê corajoso e bate em todas as portas sem medo de quaisquer julgamentos.

O amor oferece ao homem e à mulher exercícios um tanto complexos dentro do contexto das relações humanas. Como aluno deves estudar e praticar o amor em todas as sua formas porque és fruto do AMOR UNIVERSAL e o AMOR UNIVERSAL age em todos os planos como um camaleão cósmico.

Procura lembrar-te sempre que não és o corpo que vestes nem o que os espelhos refletem. Sente-te, pois, livre de amar e ser amado mesmo das formas mais inusitadas. Ouve esta verdade pouco conhecida: todos os amores são legítimos porque todos são ramificações do AMOR UNIVERSAL.

Perdido um amor não procures efetuar substituições. Cada ser é amado de uma forma diferente e nunca um amor é cópia do outro. Assim, Procura não enganar-te de forma tão cruel!

Abraça-te a um amor antigo ou a um amor novo como as ilhas se abrem ao mar, como as matas se abrem ao sol e como o lótus se abre ao orvalho da noite.

Não percas mais tempo com minúcias desnecessárias. O amor poderá realizar-te material e espiritualmente, de forma que possas dizer com justo júbilo: “Agora estou completo! ” Achas que poderias dizer isso agora? Permite que duvide…

Passa uma esponja no passado. Dissolve os teus grilhões e corta todos os liames que ainda te prendem a ele. Desenrola os cipós do pretérito. Começa vida nova em todos os sentidos.

Apaga pessoas, fatos, dores, desenganos ou quaisquer experiências pelas quais te sintas marcado. Olha para a frente. Olha para mim. Mede teu novo horizonte.

Aprende a olhar para tudo, inclusive para o céu de ti mesmo. Admira o brilho das estrelas que existem e já existiram. Acompanha com admiração a trajetória errante dos cometas.

Torna-te surdo aos conselhos “práticos” que encontras em livros e interlocutores duvidosos.

Os materialistas com quem colides só te podem dar conselhos horizontais, porque lhes é impossível qualquer tipo de verticalização.

Quem é amargo só pode dar conselhos amargos.

Quem é pessimista só pode dar conselhos sem fé.

Lembra-te que cada um é produto de suas próprias experiências.

Que sabe a figueira das maçãs que nunca conheceu? Que sabem os peixes da superfície de seus outros irmãos que habitam as regiões abissais?

As respostas definitivas se acham dentro de ti. As temporárias vagam pelo mundo como retalhos imperfeitos da Verdade Absoluta que mora em tua essência mais íntima.

O mundo em que vives é um mundo cheio de almas superficiais, pouco profundas e convencidas. Nada sabem, mas pensam saber tudo.

Não conseguem sequer me ver no fundo de si mesmas. De um certo modo, vivem para armar o próximo bote em cima da próxima vítima, sendo vítimas todos que lhes atrapalham o caminho.

Não permita que essas almas “práticas” deformem o teu caráter pelo exemplo constante.

Recua em tempo de não te transformares em mais um elo do Poder Desagregador. Isso seria matar ou adormecer de vez o anjo que mora em ti, substituindo-o por mais um demônio sequioso de liberdade. Todos os demônios de que ouves falar foram um dia anjos que caíram.

Não te transformes em mais um deles. Permanece anjo o mais que puderes e deixa que riam de ti.

Tens me procurado em cada pergunta que formulaste ao vento, ao sol e à terra.

Se não aprenderes a perguntar a mim serás mistificado até mesmo pelo mais renomado guru, porque o desnudamento da Verdade é proporcional ao grau de evolução de cada um e mesmo os mais evoluídos do teu mundo ainda precisam aprender muito, embora em outros Planos de Existência.

Na casa do Pai há muitas moradas e cada morada é uma escola.

Uma vez iniciado o nosso diálogo logo perceberás que ele não tem fim. Um consolo te resta, no entanto: nunca te direi mentiras.

Haverá sempre novas informações e elas irão mudando, aos poucos, a visão que tens de todos os seres, coisas e mundos.

Depois que começares a conversar comigo tudo será diferente e nunca ninguém saberá o que sabes, a não ser uns poucos escolhidos com quem converso.

Comigo aprenderás o sublime valor do silêncio, porque só no silêncio te posso falar. Os ruídos do mundo apagam a minha voz porque ela é feita de notas que não existem na escala sonora dos homens.

Portanto, seja qual for o teu credo, seja qual for a tua filosofia ou visão crítica do universo recolhe-te a um lugar tranquilo e esquece o mundo com todas as suas inconveniências ruidosas.

Começa por relaxar o teu corpo, afim de que tudo se acalme dentro de ti. Fecha, em seguida, os olhos e deixa-te flutuar no colchão do meu silêncio.

No princípio pensamentos desconexos virão à tua mente e cruzarão teu céu interior como cometas enfurecidos. É tua rotina que se rebela contra teu novo estado espiritual. Deves insistir porque isso é passageiro. Depois de relaxado virá a sensação de flutuação.

Então, dar-te-ei o sinal da minha presença. Pequenas frases percorrerão o teu cérebro e minha voz inaudível será por ti ouvida dentro da cabeça sem o auxílio dos ouvidos.

A voz da Esfinge dispensa o auxílio do tímpano. Uma advertência, contudo: se ouvires sons de campainha ou plangentes acordes de harpa é sinal que talvez estejas entrando em contato com o plano do teu Mestre ou merecendo participar, por instantes, de regiões mais elevadas do Plano Astral.

Será preciso, então, que controles as emoções e que não te deslumbres com nada.

O deslumbramento fácil poderá te custar muito caro, porque há mistificadores no Plano Astral e eles poderão te enganar com a imagem de um falso mestre ou com algum tipo de cena que te apele aos sentidos grosseiros. É preciso cuidado para não te ajoelhares diante de certos demônios…

Depois disso, controladas as emoções e ouvidos os primeiros conselhos do teu verdadeiro Mestre, ele te dará forças para que continues por ti mesmo e, então, aparecerei para conversar contigo.

Ele estará ocupando com outros discípulos. Como não tenho forma definida poderei aparecer-te como bem me aprouver. Para essa transformação conto com a paleta dos Quatro Elementos. Espero que me reconheças…

Nosso verdadeiro diálogo ainda não começou. Aceita estas palavras como um amável convite. Por hoje só posso dizer o que já disse. O resto é contigo.

Vou me dissolver agora na canícula do deserto.

E o próprio deserto vai desaparecer como se fosse miragem. Vou dormir um pouco no berço do Cosmos e meu corpo assume a forma de uma criança inocente.

Será preciso que durmas também e que te faças criança como eu. O camelo do sono virá buscar-te para que adormeças aos pés da mais tépida tamareira.

Olha como a noite está bonita…!

Para além daquelas estrelas cintilantes está tua verdadeira pátria. As últimas nebulosas visíveis são a fronteira do teu Lar. Ali te esperam teus verdadeiros amigos e ali continuarás a ser mais um obreiro iluminado a cooperar na construção do Grande Edifício da Verdade.

Vai descansar também. Acho que te fatiguei. Volta, por enquanto, ao teu mundo, mas guarda silêncio sobre o nosso diálogo. Se desobedeceres, dirão que estás louco e não queres que digam isso de ti, não é mesmo?

Fico aqui agora. Vai e volta quando quiseres. Estarei te esperando eternamente e tua saudade de mim será igual à minha saudade de ti.

Logo estaremos juntos de novo, porque, se queres saber, nunca estivemos separados…

Sheik Al-Kaparr
 

quinta-feira, dezembro 20, 2012

LENDAS E HISTÓRIAS?



UMA RAINHA ANGOLANA

A propósito do texto anterior e que eu também coloquei no meu mural do Facebook, houve imediatamente uma reacção indignada de um homem que ficou muito agastado com a ideia de uma mulher cortar os ditos cujos dos homens...

Diz ele:

"Uma Rainha que coleccionava o tomatal dos seus escravos? Que linda lenda..."

...Assim  percebermos como os homens se sentem atingidos e indignados, enfim, claro, com legitimidade, por uma mulher-Rainha  os castrar, antes ou depois de os mandar matar...e afinal não se surpreendem nem com a excisão das mulheres em África e no mundo muçulmano, nem com a prática corrente (medicina preventiva...) de tirar o Útero ou os ovários às mulheres e os seios...pela simples prevenção de um possível cancro. Quando ouço algumas mulheres dizerem com a maior  naturalidade que tiraram o Útero ou os Ovários porque o médico achou melhor no caso de poder virem a ter um cancro ou por uma simples suspeita...a minha alma fica abismada com esta prática bárbara...e mutiladora das mulheres...

Quanto à rainha angolana isto é só mais uma história de uma cultura entre tantas outras, mas talvez isso fosse também uma reacção (dela) à violência e domínio dos homens sobre as mulheres e à prática da excisão das mesmas para não terem prazer (cortam-lhe o clitóris) que já devia existir naquele tempo? Não sei ao certo. O que esta questão mostra é que aos homens não  repugna assim tanto a excisão de milhares de mulheres em África ainda actualmente. Nem o tirar o útero e os ovários e os seios das mulheres civilizadas pelos médicos a qualquer pretexto de suspeita de "doença"???Claro que os médicos...não guardam os seus trofeus...mas quem sabe um dia a história olhe para isso, uma prática médica, como só mais um crime bárbaro...
Como já tantas mulheres referiram...gostaríamos de saber se a "Ciência" médica não estaria muito mais avançada se fosse o caso de os médicos terem de cortar com tanta facilidade os testículos aos homens assim, por dá cá aquela palha...

Pensem nisto...e se quiserem digam o que sentem...
rlp

terça-feira, dezembro 18, 2012

Não muita gente ouviu falar de Nzinga Mbande



NZING - UMA RAINHA ANGOLANA

Não muita gente ouviu falar de Nzinga Mbande. Porém, no seu tempo, muitas dores de cabeça esta rainha Angolana causou neste reino à beira mar plantado. Nzinga reinou na região de Ndongo no século XVII, numa época em que os Portugueses se entretinham com as lides pouco louváveis da escravatura, assim criando um dos primeiros mercados globais da história da humanidade.

Nzinga sucedeu ao irmão, morto em circunstâncias incertas, e durante os seus cerca de 40 anos de reinado, revelou-se uma soberba negociadora e governante, aliando-se a Portugueses, Holandeses e reinos vizinhos em função dos seus interesses e dos do seu povo. Conseguiu considerável controlo territorial enquanto reinou, controlo esse rapidamente perdido após a sua morte. Mulher inteligente, converteu-se ao catolicismo como forma de fortalecer um tratado de termos iguais estabelecido com Portugal. Foi então baptizada de Dona Ana de Sousa.

Apresentamos aqui Nzinga, primeiro porque nunca é demais valorizar figuras femininas poderosas da nossa História, que infelizmente não abundam. Depois porque, de acordo com algumas más-línguas, Nzinga terá levado uma vida de devassidão sexual sem paralelo.

Senão vejamos, Dona Ana alegadamente teria um vastíssimo harém constituído por homens que ela com regularidade mandava lutar até à morte. O prémio do vencedor seria passar uma noite com sua majestade, mas não por favoritismo, porque muitas vezes o pobre coitado era morto logo pela manhã. Quem sabe por a sua prestação não ter sido satisfatória. Além disso, como que para manter contagem de quantos já lá iam, guardava os genitais dos amantes, tendo assim constituído uma colecção sem par. Diz-se ainda que mandava vestir os seus criados homens com roupas de mulher e que, uma vez, ao ir para uma batalha, instruiu os seus guerreiros para que a chamassem de “meu rei”.

Com tais referências, não é de estranhar que Nzinga tenha sido mencionada pelo Marquês de Sade na sua obra “A Filosofia da Alcova”. Resta saber até que ponto essas alegações são verídicas. É que era rotineiro na época exagerar aquilo que à luz dos costumes Europeus era considerado bárbaro no comportamento de povos escravizados. Era uma forma de desumanizá-los e assim justificar a sua utilização como mercadoria, prática contra a qual Nzinga lutou ferozmente. Assim, era fácil para as mentalidades delicadas do burgo horrorizar-se com a vida íntima dos africanos, esquecendo-se que outras práticas não menos selvagens ocorriam por sua iniciativa, como é bom exemplo a própria da escravatura.

Independentemente do que Nzinga faria na intimidade do seu harém, o que ninguém lhe pode tirar é a coragem que teve em impor-se num mundo masculino e de lutar pelos seus súbditos. E é acima de tudo por isso que é importante recordá-la.

Publicado por Nuno Nodin - psicólogo- no Blog  "Coisas boas e pecaminosas" 
in revista Pública a 15/11/09

quinta-feira, dezembro 13, 2012

CHEIA DE PÉROLAS


 
Associada à Lua Negra, ela evoca com o sol negro – luminares metafísicos segundo Jean Carteret – a diferença entre a ESSENCIA e a EXISTÊNCIA, entre o Inconsciente e o Hiper-Consciente.
O autor acrescenta: “No entanto ninguém pode passar sem ela quem deseja abandonar as suas velhas peles inúteis, aceder ao coração essencial, passar para o outro lado, para uma vertente mais intensa de luz, ultrapassar-se a si mesmo e aceder ao inconsciente puro.
COMO é que isso se faria sem sofrimento, sem sacrifício, sem dor? COMO faríamos nós a economia desta ferida aberta que nos faz passar do Existencial ao Essencial?”

Do Livro Le Retour de LILITH. La Lune Noire. L’Espace Blue, 1985
 

 A MULHER...

(SOBRE CLARICE LISPECTOR)

‘’ Porque há o direito ao grito, então eu grito.’’, infelizmente não gritamos. Sufocamos. Não admira, como a psiquiatria – farmacêutica se tornou uma autentica mestra – cura de gritos. Ninguém quer saber da causa primeira, é preciso, sim acorrentar as línguas e coser os lábios.
...
Clarice é cheia de pérolas. Algo de sublime atravessou aquela densidade humana/terrena e concedeu-lhe a acutilância, sob a forma de sensibilidade, e de a esfregar nos nossos rostos as fragilidades e, esse ser grandioso que é o amor, fazemos dele apenas trapos à medida dos nossos medos. É aqui que nos deparamos com a vergonha dos nossos limites. O nosso Amor, parece ser ou depender do reflexo que recebemos de fora, e nem mesmo às vezes o que ele esparrama por dentro é real, e é apenas um truque da mente. Pois ele foge, tal como a água escorre dos dedos; ou, a areia que é mais densa, e ainda assim não se consegue agarrar.

(fico por aqui... poderia continuar infinitamente... voltarei, e fica tanto para dizer!! )
M.
(M. Volte sempre...cá a espero...)

(fOTO de Stong Pa Nyid) 

quarta-feira, dezembro 12, 2012

O FERIMENTO MAIS PROFUNDO DA MULHER MÃE

 
 No Dia Internacional dos Direitos Humanos pensei nas mulheres:

“O ferimento mais profundo que é infligido a uma mãe na nossa sociedade não é só a sua opressão, mas a sua adaptação ao mito masculino da respetiva superioridade e a aceitação da própria insignificância. Nos casos em que o movimento feminino contemporâneo interpreta a igualdade de direitos como o direito de serem tão ruins como os piores dos homens, ele perpetua o domínio masculino sob novas formas. Pior ainda: estas mulheres, como negam a força dos aspetos criativos do seu amor, continuaram a educar mulheres e homens que, por seu lado, recusarão a sua própria força real e se decidirão por empregar o seu poder sem escrúpulos. É isto que Édipo representa: a ferida inicial que se transforma numa ânsia de dominar."
Arno Gruen A traição do eu Assírio e Alvim (1984)
in incalculável imperfeição - publicado por cristina simões 

Este texto de uma lucidez lazer fez-me pensar nas mulheres...que dizem como forma de desculpar os homens - é absolutamente banal e corrente esta afirmação por parte de mulheres comuns e até "instruídas" e escritoras etc....-  que  continuam a querer  justificar os homens (e filhos) que tratam mal as mulheres, dizendo que são as mulheres mães que os educam...que é  por causa das mães que eles são assim. Como se as mães, feridas de morte na sua essência, feridas na sua dignidade, pudessem educar... como se mães  à partida tivessem ou pudessem ter alguma  responsabilidade na sua inconsciência de si como ser humano de segunda classe...sim, como poderiam elas educar os filhos e filhas com este estigma, com este ferimento profundo no seu corpo físico e emocional... esta cisão da sua psique  e condenadas em família  e em sociedade à sua insignificância...como mulheres!
 
rlp

A SOLIDÃO DAS MULHERES

 
As mulheres

Não creio que as mulheres tenham problemas de solidão. Estão preparadas para a solidão e, em geral, para toda a espécie de sofrimento; a natureza dotou-as com singulares poderes de resistência, o que os doutos alquimistas diziam ser humor frio e incapaz de maturidade intelectual. Acho mesmo que a solidão é um estado natural da mulher; e por isso todos os movimentos ascéticos que envolviam retiro e culto da experiência espiritual, desde as vestais de Roma até às Damas do Amor Cortês, na Provença, partiam dum sentimento feminino muito acentuado. Os homens não encaram bem esse protótipo de mulher espiritual, porque ele é o único que recria a independência feminina depois do primeiro Éden. E diz-se primeiro Éden porque, segundo as Escrituras, houve, antes de Eva, uma mulher pura, inteligente e igual ao homem, de grande condição metafísica, porém cruel e sumamente poderosa. Chamava-se Lilith. Em suma, o mito da mulher fatal, que o homem teme e, ao mesmo tempo, pretende conhecer como sua verdadeira metade.

O dilema é este: nós as mulheres, somos prosaicas, sobretudo quando somos naturais. É próprio daqueles que são delicados e frágeis o serem terra-a-terra, porque isso lhes dá a impressão de estarem mais protegidos. A realidade protege mais do que os sonhos, do que as coisas imaginárias.


Agustina Bessa-Luís
In "Dicionário Imperfeito"
 
GOSTARIA de saber o que é que pensam deste texto...como sentem a solidão?

sábado, dezembro 08, 2012

TODAS AS MÃES, TODAS AS MULHERES...


 
“A mão que balança o berço,
é a mão que governa o Mundo”
 
"Porque às mulheres cabe o poder de gerar, o poder que dá a Vida.
Portanto cabe às mulheres decidir se o rebento vai nascer ou não.
E mesmo quando nasce, cabe também, somente a elas, decidir se a criança vive ou não. Assim as Iya Mi (Min
has Mães) são as Senhoras da Vida, mas também, as Senhoras da Morte, que é o corolário da Vida.
Todo o ser vivo deve sua Vida à Iyá Mi, pois deve sua Vida à sua Mãe.
O Poder pertence às mulheres, afinal: “A mão que balança o berço, é a mão que governa o Mundo”. Não é por acaso que as Iya Mi são tabu na Religião, assim como a Mulher é tabu em todas as sociedades."


Porque o poder pertence a elas."
(...)
in casa poderosa dos filhos de Yemanjá 
quadro lena gal

sexta-feira, dezembro 07, 2012

A MISOGINIA CRISTÃ É VELHA...

 

A SIMBÓLICA DO GRAAL:

NOTAS E REFLEXÕES por Yvette K.Centeno


(...)No Evangelho, em regra mais citado, de Tomás, surge nova referência, e de maior interesse simbólico no tocante a Maria Madalena no seio dos iniciados:

“ 114. Simão Pedro disse-lhes: "deixemos Maria ir embora, porque as mulheres não são dignas de vida".
Jesus disse: "Eu próprio a conduzirei, de modo a torná-la homem, para que ela também se possa transformar em espírito vivo semelhante ao vosso, homens. Pois cada mulher que se tornar homem entrará no reino dos céus” (p. 138).*

Há aqui uma alusão inequívoca à conjunção dos sexos na sua dimensão de espiritualidade
sublimada. O par de opostos (macho-fêmea, noite-dia, sol-lua, corpo-alma, etc.) que encontramos em todos os mitos de fundação é também aqui referido como causa sine qua non de uma revelação superior que permite o acesso ao Reino dos Céus. 

O mais interessante, neste Apócrifo, é o modo como Madalena, ao contrário do jovem Parsifal, interroga Jesus, pedindo que explique e o tempo que Jesus perde com ela explicando (forma de iniciação).

Sem entrar em pormenores para os quais falta mais documentação histórica fidedigna, ficando apenas pelo que tem de apelativo esta ideia, de uma mulher, discípula dilecta e iniciada, podemos considerar Maria Madalena a figuração do Feminino em Deus, como a Shekina na tradição da Kabala judaica. Assim é fácil aceitar que se identifique esse Feminino à Alma, como se identifica o Masculino ao Espírito incarnado em Jesus. O Vaso do Graal, por esta via, adquire uma carga simbólica ampliada: Madalena é o Vaso, pois só o corpo da mulher é contentor e transmissor de Vida. Neste Eterno Feminino se manifesta o lado emocional da psique, em contraponto ao lado racional, intelectual e Masculino.

A referência ao Feminino, seja Maria Madalena ou seja a Virgem Maria, noutros textos (como ainda Maria Profetiza nos alquimistas do século III) permite, como faz M. L. von Franz, desenhar uma nova estrutura simbólica que, sem excluir a tríade Pai, Filho, Espírito Santo, a amplia para um quarto elemento: Pai, Filho Espírito Santo - Maria ou Vaso do Graal (...)

*NOTA:

- A mulher não tem que se tornar homem para entrar no reino dos céus...obviamente que se trata de uma má tradução do latim ou do hebraico....Metafisicamente ninguém sabe o significado nem o sentido desta frase, a não ser se entendermos a palavra "Homem" como Ente ou SER HUMANO...e embora se possam fazer considerações de ordem alquímica, a realização ou completude do ser - homem ou mulher - passa por uma digamos neutralidade sexual...e como ele próprio (Jesus) terá dito, o seu reino viria "quando dois fossem um e o de dentro igual ao de fora, o de cima igual ao de baixo e o interior igual ao exterior e o macho não fosse mais macho nem a fêmea mais fêmea" -  o que apontará para um estádio superior da Consciência Humana....portanto quando muito teríamos um ser Andrógino no culminar da OBRA Alquímica e não uma mulher/homem nem um homem/fêmea...

RLP

ABENÇOADO SEJA O TEU VENTRE MULHER…


REVERÊNCIA A TODAS AS MULHERES
E ÀS MÃES…QUE SOFREM NO MUNDO.
EIS COMO A PPV  “Defende os que não tem voz. A causa da vida é a mãe de todas as causas, a causa de todas as mães.”...

Dizer que "O LUGAR MAIS PERIGOSO DO MUNDO PARA SE ESTAR É NO VENTRE DA MÃE"...é a coisa mais aberrante e trágica que alguém pode anunciar...inverter os termos do Holocausto contra as mulheres no mundo, isso sim é dramático porque é  de uma injustiça sem precedentes. A Vida começa no ventre da Mãe mas antes do ventre, COMEÇA NA GRANDEZA DA MULHER como ser humano. O que é preciso é não virar a sociedade contra as mulheres-mães, mas dar ou restituir DIGNIDADE A TODAS AS MULHERES.

A acusação  de que as mulheres são vítimas por estas  instituições católicas  é sempre chamar de forma depreciativa de "feministas,  ateias ou marxistas,  às mulheres que não se submetem aos seus padrões de domínio e prepotência. Por essa razão e porque nunca defendi "direitos iguais...nem igualdade" com os homens…e porque entendo que não é disso que se trata a liberdade e o SER MULHER INTEIRA,  quero  marcar a minha posição que é a de  dar a todas as mulheres o RESPEITO e a DIGNIDADE que me merecem sejam elas o que forem. E é isso que eu exclusivamente defendo. 
Não sou  pois feminista  nem sou de esquerda nem de direita, e o meu único propósito e finalidade da minha vida é contribuir com todas as minhas forças e todas as minhas faculdades lutar para  RESTITUIR  A TODAS AS MÃES E MULHERES DO MUNDO A GRANDEZA que lhes é inerente
Sei que algumas mulheres pediram à PPV para retirar o cartaz porque era uma ofensa a todas as mulheres…falar do ventre da mãe como um lugar perigoso…Porém o PPV respondeu  que:

'O PPV vai manter o cartaz pois não aceitamos os vossos argumentos. São absolutamente inaceitáveis. Uma mulher não pode fazer o que quiser do seu corpo tendo dentro dela outro corpo sobre o qual não tem quaisquer direitos. Uma vida dentro do ventre duma mulher não lhe pertence. É um ser único e irrepetível com os mesmos direitos que qualquer outra pessoa.'
Isso é uma afronta à MÃE DO MUNDO…
UMA NEGAÇÃO DA PRÓPRIA MÃE DE DEUS…


Inicialmente ia escrever este texto, mas pensei desistir face a uma certa correcção da pessoa humana que respondeu aos comentários na página do PPV no facebook, mas face a sua resposta em não tirar o cartaz dizendo que os nossos argumentos são inaceitáveis  e respondendo que  “Uma mulher não pode fazer o que quiser do seu corpo tendo dentro dela outro corpo sobre o qual não tem quaisquer direitos. Uma vida dentro do ventre duma mulher não lhe pertence. É um ser único e irrepetível com os mesmos direitos que qualquer outra pessoa.” não posso deixar de o fazer e fazê-lo da forma mais veemente possível.
O CORPO DA MULHER PERTENCE-LHE EM TODOS OS MOMENTOS da sua vida  porque ela não é “BARRIGA DE ALUGUER”, NEM O SEU VENTRE ESTÁ A VENDA; O SEU VENTRE NÃO É DO MARIDO NEM DO Pai…. NEM propriedade do Estado nem da Igreja como tem sido até hoje…
Meu deus...eu não compreendo como é que há homens e mulheres que ainda defendem esta ignomínia, e escrevam tal cartaz. Não sei como é que se pode contribuir de modo tão repelente para aviltar o ventre da mulher e da Mãe….Infelizmente sei que há tanta gente - homens e mulheres - absolutamente hipócritas e infelizes que dizem escolher "a vida e deus" mas desprezam as mães e as mulheres...enquanto fazem penitências e  rezam a deus pai...
Este Cartaz é realmente uma coisa aberrante e atroz...por detrás dele eu só vejo o ódio e inveja do útero da mulher. Esta milenar perseguição das mulheres transformadas em megeras que comem e matam criancinhas...que deus - se houver - lhes perdoe...a ignorância. Graças a deus não sou católica….nem política e a minha única razão de viver…é a ADORAÇÃO à  Mãe e a sua Adoração, não é no altar, à Virgem Maria, mas NA VIDA DE CADA DIA. Amar a Mãe e respeitar a Mulher em si e a sua liberdade e responsabilidade por ser a geradora da VIDA  é essencial para a paz no mundo e a dignidade dos filhos...para a dignidade dos seres humanos. Quem escreve um cartaz destes…não teve amor nem foi amado por uma MULHER, mas por uma outra espécie de mulher…aquele que eles perseguem no fundo e odeiam…
Esta sociedade não presta porque as mães não foram amadas, as mães não foram respeitadas como seres humanos dignos de confiança…

Dizer QUE "O LUGAR MAIS PERIGOSO DO MUNDO PARA SE ESTAR É NO VENTRE DA MÃE", uma abominação, é um sacrilégio…
É por frases destas no inconsciente dos homens que eles violentam e abusam e matam as mulheres - o ódio à mãe é uma difusão religiosa do velho mundo baseado no ódio e no medo da MORTE da Natureza e da Grande Deusa Mãe...Por isso a mãe aparece na sua propaganda como uma virgem imaculada sem pecado...Intocável…isto é abominável e pervertido. Como é que pessoas de bom fundo podem não ver esta enorme atrocidade...

Este cartaz incute e incentiva o ódio a mãe...e até à concepção. Reparem no paradoxo: que Bebé (se pensasse) gostaria de nascer nesse sítio tão perigoso e maléfico? Que "homem" de bem poderia querer um filho vindo do útero de uma mãe...a não ser que ele o controlasse? E foi isso que que aconteceu ao longo dos séculos, mas o hoje o mais grave é que por isso os gays adoptam crianças através de mães de aluguer...e eles os machos - são eles e a Igreja os senhores do poder falocrático - que tomam conta dos meninos, enquanto as meninas e as mulheres (transformadas em barrigas de aluguer ou em machos) são excluídas das suas famílias homossexuais...Este é o ponto aonde o ódio à mulher e à mãe nos trouxe…
Santo Agostinho disse: "dêem-nos outras mães e teremos outro mundo”...e esta é que é a questão...E, apesar de não apreciar a óbvia misoginia do "santo", ele viu o problema...viu o que estes beatos e fanáticos hoje não veem…

A MULHER SEMPRE NA MIRA DA IGREJA...

 

Como mulher nunca defendi nem defendo o aborto. Não conheço mulheres que defendam o aborto pelo aborto. Portanto não estamos aqui a defender o Aborto, nem precisamos que ninguém defenda por nós aquilo a que a sociedade falocrática e hipócrita obriga a fazer as mulheres sem recursos, sem educação e sem consciência, que vivem na miséria e são mal tratadas pelos maridos e pelo Sistema e que se vêm na contingência de abortar por não terem forma de alimentar educar os filhos…E nestes casos é bem melhor não ter filhos do que lhes dar vida para depois serem violados pelos padres e tutores das suas instituições de caridade. Isso sim, aí seria até preferível fazer um aborto, porque se não o fizerem…essas crianças serão piores do que abortos…terão uma vida abortada pelos mesmos padres e pais que defendem a vida sem lhes darem dignidade…Os mesmos padres e bispos que constroem e fornecem armas das suas fábricas em que essas crianças afinal serão um dia mortas…
Nenhuma mulher em consciência de si e do seu valor abortará se lhe derem condições de vida dignas. SÃO AS MULHERES E AS MÃES AS MAIORES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA E MISÉRIA NO MUNDO. Este genocídio holocausto de que fala a PPV é sim o holocausto perpetrado secularmente pela Igreja contra as mulheres. Ele é provocado pelo Sistema Patriarcal e a sua Igreja misógina que sempre atacou e descriminou as mulheres, dividindo-as entre a santa e a puta…. E é por este gritante exemplo de ódio velado às mulheres que a Igreja perpetua a sua perseguição ao género feminino e as castiga de um crime cometido pela sociedade patriarcal há séculos.

ROSALEONORPEDRO

FOTO:  D'Armi Pietro Beretta SpA é uma fabrica controlada pela Holding SpA Beretta e o accionista maioritário da Holding SpA Beretta é o IOR (Institute for the Works Religion [vulgarmente conhecido como 'o banco do vaticano']) uma instituição privada, fundada em 1942 pelo Papa Pio XII, com sede na Cidade do Vaticano.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

A MAIOR VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER PODE ATÉ SER VERBAL...


Há uma violência doméstica, sabemos isso sobejamente...MAS continua-se a criar e a contribuir para isso de todos os modos...

Matam-se e assassinam-se mulheres de todas as maneiras, em casa e na rua...todos os dias, vertiginosamente…e aumentam os casos para além do que são relatados e conhecidos em todo o mundo…
Mas Há ainda a violência física e verbal mais subtil nas mais diferentes situações da vida de uma mulher, todos sabemos que há.
Há contra a mulher uma espécie de perseguição e culto da violência de género baseada no sexo e é muito mais grave e persistente do que a que sofrem as minorias, quaisquer minorias ditas descriminadas, porque em muitos casos elas aparecem quase diluídas e disfarçadas pelas situações de hipocrisia vigente e pelos preconceitos das mulheres em denunciar maridos e patrões ou colegas, de assédio sexual e violência verbal…

SIM, ENTRE TODAS AS VARIANTES DE VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER, HÁ MAIS UMA, A VIOLÊNCIA DO SEXO ESCRITO…

Sempre houve, todo o tipo de violência contra a mulher, mas há esta nova violência camuflada de “literatura” e romance…e escritores homens e mulheres inclusive que escrevem as maiores barbaridades CONTRA A MULHER e o mercado e o público e a lei não se dão conta…porque a palavra do “escritor/” passa pela ideia tabu de “liberdade…de expressão”…e tudo bem, e nisso gera-se a maior confusão…mas o que está em questão não é que se seja livre de escrever o que se quiser e dizer tudo o que se queira, mas NUNCA de forma agravada e violenta contra a mulher…ou em nome do “seu prazer” ou em nome neste caso…por definição de… “uma mulher com classe…”

“É pela forma como pratica sexo oral que uma mulher te merece ou não. Mas não porque o faz melhor ou pior – muito menos porque te dá mais ou menos prazer. É pela forma como pratica (como te pratica) sexo oral que uma mulher te merece ou não porque é nesses instantes que - se olhares para o que não se vê, se esqueceres a pele e a boca e os lábios e te concentrares nos olhos que olham e nos gestos que envolvem - uma mulher que te ama te mostra, em plenitude, que tem classe. E que, para ela, oferecer-te um fellatio é tão digno como oferecer-te um Rolex ou um perfume Chanel. Mais ainda: para a mulher com classe, oferecer-te um fellatio é oferecer-lhe um fellatio. Oferecer-se um fellatio. Porque, quando se ama, não existe dar e receber. Amar é uma dádiva dos dois lados de dar e receber. Não existe dar amor – como não existe dar um fellatio. O que se dá no amor é exactamente, sem tirar nem pôr, o que se recebe no amor. E isso sim é classe.” P.C.

Esta Violência da pornografia VERBAL, o abuso da expressão contraditória e incoerente que gera esta confusão de valores, é um ataque à sanidade da pessoa humana e de uma  violência enorme  à integridade e liberdade de “escolha” da mulher; ela  é uma aviltação da mulher em forma de romance, na escrita deste “escritor” pop – que ensina a escrever – e que dezenas de mulheres cegas seguem fascinadas com a sua audácia, o seu vazio, a sua esterilidade, o seu ego, a sua obsessão fálica, a sua verborreia, a sua falta de ética e de estética, o seu absurdo, e sem a menor profundidade no que escreve e que ataca de forma desabrida, indecente, sim, digo INDECENTE, DESONROSA, PARA TODAS AS MULHERES, mães, filhas, irmãs e sobretudo as amantes…só é possível pela ignorância da própria mulher em se honrar, em se dignificar a si própria, em se dar valor, em se saber ao certo, em se realizar a partir de si …

Não se trata aqui de discutir que forma de sexo preferem as mulheres…mas de uma indução a uma prática como forma de “exaltação” da “dignidade e da classe”…de uma mulher perante o sexo…

A violência que nesta escrita é feita à mulher e que ela aceita passivamente, deve-se à sua falta de consciência do feminino profundo, deve-se ao enorme vazio da sua vida, à sua falta de valor como ser humano, à falta de sentido que não encontra em si como pessoa, e a não ser viver pelo homem, projectada no homem, projectada no filho e agora no sexo, no falo, ela acha que não vive…e que NÃO É PREENCHIDA e tudo isto porque a sua vida foi destituída de significado para além de servir o Homem; a mulher foi assim programada para obedecer e servir a deus, o pai, o marido e o filho e agora vê inverter-se a sua situação de mulher legítima e séria… ou.. prostituta, a ser “enaltecida” já não no altar, ou no bordel, mas exclusivamente na cama, na mulher-objecto, só sexo, uma mulher degradada pela sexualidade mais abjecta para servir ao seu “deus falo”, baseado na sua anulação e na mais vil submissão, na mais completa sujeição “ao prazer” anulando todo o seu ser na mera escravidão sexual aos padrões machistas e falocráticos que agora se destacam não só nos Mídea e Publicidade como é o tema preferencial destes escritores pop-pornográficos, cito o caso deste  Pedro Chagas, realmente uma chaga literária…um verme literário e uma vergonha para quem tiver um mínimo de sentido do que é a literatura. Sim, digo vergonha…porque esta gentinha sem princípios sem educação nenhuma, sem integridade humana, sem qualquer noção do Ser em si, para além de uma mente perversa e insana, são o fruto de uma sociedade podre, alienada e de um Sistema – FALOCRÁTICO – que atingiu o seu auge de decadência e que é a pouca-vergonha de não se ter já qualquer noção do que é a verdadeira dignidade nem a classe de uma mulher ou de homem! Esta geração rasca, realmente rasca, pensa que ter vergonha na cara não é moderno nem comercial, e o que importa é Vender e comprar a todo o transe…e pensam que dizer todas estas barbaridades a qualquer preço e que dizem em nome da “mulher” do “amor” do “desejo” e até de “deus”…é o máximo…e é “arte”…ou literatura…de lixo!

Este é o maior LIXO tóxico ao cimo do Planeta, porque ele é mental e imoral e quase toda esta geração proveniente do Sistema mercantil e económico é a expressão máxima dos dias em que vivemos…Prova-o a poluição verbal neste caso e a violência camuflada, o despotismo e a demência disfarçada de arte…
RLP  

QUANDO SE ESCREVE SOBRE MULHERES...

E A CENSURA A SUA VIOLÊNCIA...
"Vigora a ignorância mais crassa que, aliás, se exprime abertamente todos os dias. Pode dizer-se e escrever-se sobre as mulheres as asneiras mais infames, sem que isso provoque a menor indignação. A gaiola de vidro funciona muito bem. O sexismo provoca muitos danos e isto não é sabido. Não é denunciado, não é descrito, não é deplorado, não são analisados os efeitos que influenciam os nossos comportamentos, sem nos darmos conta. Como se não existisse.

- Isso é estranho, nestes tempos de comunicação em todos os sentidos.

- Não é nenhum fenómeno novo. A isso chama-se censura.”


(…)
in "todos os homens são iguais ...mesmo as mulheres"
de isabelle alonso

O QUE É O FALOCRATISMO...

NOÇÕES FUNDAMENTAIS...
El falocentrismo.-


Falocentrismo quiere decir que el falo es el centro de la sexualidad; que toda la sexualidad se orienta y gira en torno al falo, el cual es el objeto de todas las pulsiones, de todo el deseo, capaz de atraer y absorber el conjunto de la energía erótica de la mujer. Este mensaje lo vamos interiorizando desde que nacemos, desde el momento en que, como dice Lea Melandri, nuestra madre no está ahí como mujer con su cuerpo de mujer en gestación extrauterina, sino como mujer del hombre para el hombre. Al negarnos su cuerpo, niega todo el caudal de energía erótica y toda la sexualidad no falocéntrica de la mujer. Y aprendemos a percibirnos a través de la mirada del hombre , y a desvalorar nuestro cuerpo. Esto es el núcleo básico, el germen inicial de una socialización que será devastadora de nuestros cuerpos y de nuestra energía sexual; no sólo porque de niñas y de adolescentes nos 'perdemos' toda un desarrollo -no falocéntrico- de nuestra sexualidad, sino también y sobre todo, porque nuestro cuerpo adulto ha somatizado toda esa represión, se ha hecho un cuerpo acorazado y tieso con un útero inmovilizado, sin haber desarrollado nuestro sistema erógeno, y además ha interiorizado la des-valorización y el desprecio del propio cuerpo, orígen de toda la misoginia, el caudal de emoción envenenada que alienta la sociedad patriarcal. 
Según vamos creciendo, ya con toda la presión social, se va asentando en nuestras mentes una percepción que infravalora y deforma nuestros cuerpos y su potencial erótico, aceptando que es normal que la regla nos duela todos los meses, que estar embarazada es una pesadez y una lata por lo que hay que pasar para tener un@ hij@, y que el parto es un mal trago que sólo gracias a la epidural y a la medicina se palia un poco. Nos han robado nuestra capacidad erótica, quedando además fuera de nuestra conciencia y de nuestra imaginación , lo que de hecho es nuestro cuerpo y su sistema erógeno, con todo su enorme potencial de placer y sexualidad, que quedó atrás en el Paraíso matricéntrico del que fuímos expulsadas, desterrado en el Hades o condenado al Infierno. No es un eufemismo decir que somos seres castrados, especialmente referido a la mujer occidental moderna de la aldea global y formada en los medios audiovisuales, los cuales están terminando con los vestigios de sexualidad y sabiduría popular femenina que se transmitía de madres a hijas.
(...)

El asalto al Hades
La rebelión de Edipo 1ª PARTE
Casilda Rodrigáñez Bustos

A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA ESCRITA

AVISO:
ESTE TEXTO É UMA AFRONTA À CONSCIÊNCIA DA MULHER

ESTA É UMA FORMA  BANAL DE VIOLÊNCIA ATRAVÉS DA ESCRITA CONTRA A DIGNIDADE E SEXUALIDADE DA MULHER VERDADEIRA…

OS ROMANCES DA POP-PORNOGRAFIA DE PEDRO CHAGAS – O DEUS FALO, LOGO EXISTO ou o exemplo da sua escrita fálica…

"UM BRINDE ÀS MULHERES COM CLASSE
A classe de uma mulher mede-se pela forma como pratica sexo oral. Isso mesmo: a classe de uma mulher mede-se pela forma como pratica sexo oral. E sim: a mulher com classe pratica sexo oral. Pratica com prazer, com loucura, com dedicação até. Mas a mulher com classe consegue fazer um fellatio como se estivesse a caminhar sobre a mais vermelha e glamorosa das passadeiras. A mulher com classe faz do fellatio uma festa de sentidos, sim. Mas uma festa de sentidos que poderia aparecer na capa da Lux ou da Caras. A mulher com classe vê no fellatio aquilo que ele é: um acto de amor. E ter o sexo ou os lábios de quem ama na boca é exactamente o mesmo: um acto de amor. E é isso - essa capacidade de amar para além dos gestos, dos sentidos, dos preconceitos, das peles - que é amoroso.
 (...)
... E uma mulher que pratica um fellatio com o mesmo carinho com que acarinha uma pele, com a mesma ternura com que embala um berço, é a mulher mais pura do mundo, a mulher que vai à procura do que a faz feliz e do que faz feliz quem ama (e a ama). E encontra. A mulher com classe – mais do que uma mulher com classe – é uma mulher feliz. Uma mulher que se esquece do que não pode ser, do que não deve ser. E que faz aquilo que tem de ser. Aquilo que só pode ser. Aquilo que amar só pode ser. É isso que és?

É pela forma como pratica sexo oral que uma mulher te merece ou não. Mas não porque o faz melhor ou pior – muito menos porque te dá mais ou menos prazer. É pela forma como pratica (como te pratica) sexo oral que uma mulher te merece ou não porque é nesses instantes que - se olhares para o que não se vê, se esqueceres a pele e a boca e os lábios e te concentrares nos olhos que olham e nos gestos que envolvem - uma mulher que te ama te mostra, em plenitude, que tem classe. E que, para ela, oferecer-te um fellatio é tão digno como oferecer-te um Rolex ou um perfume Chanel. Mais ainda: para a mulher com classe, oferecer-te um fellatio é oferecer-lhe um fellatio. Oferecer-se um fellatio. Porque, quando se ama, não existe dar e receber. Amar é uma dádiva dos dois lados de dar e receber. Não existe dar amor – como não existe dar um fellatio. O que se dá no amor é exactamente, sem tirar nem pôr, o que se recebe no amor. E isso sim é classe.
 in "EU SOU DEUS"
 
Nota à margem:

Gostaria que as mulheres que se sintam indignadas com este tratamento "DE CLASSE" se manifestassem  de algum modo...ou que dissessem como se sentem tratadas como objectos...ou se pelo contrário isto mexe com elas...ou ainda se sentem coagidas e incapacitadas de dizer o que verdadeiramente sentem...

sábado, dezembro 01, 2012

O PODER DO ÚTERO...


 “Sonhos Lúcidos”
DE FLORINDA DONNER-GRAU

(...)
Esperanza explicou que a conceitualização da razão tem sido obtida exclusivamente pelos homens, e isto lhes têm permitido minimizar os dons e as conquistas da mulher e, pior ainda, excluir as características femininas da formulação dos ideais da razão.


—É claro que na atualidade a mulher acredita no que lhe tem sido fixado — enfatizou. —A mulher tem sido criada para crer que só o homem pode ser racional e coerente, e agora o homem é portador de um capital que o torna automaticamente superior, seja qual for sua preparação ou capacidade.

—Como foi que as mulheres perderam sua conexão direta com o conhecimento? — perguntei. —Não a perderam — corrigiu Esperanza. —Ainda têm uma conexão direta com o espírito, só que esqueceram como usá- la, ou melhor, copiaram a condição masculina de não possuí-la. Durante milhares de anos o homem tem se ocupado de que a mulher o esqueça. Pegue a Santa Inquisição, por exemplo: esse foi um expurgo sistemático para erradicar a crença de que a mulher tem uma conexão direta com o espírito. Toda religião organizada não é outra coisa que uma manobra muito exitosa para colocar à mulher no nível mais baixo. As religiões invocam uma lei divina que mantém que as mulheres são inferiores. Olhei-a assombrada, perguntando-me como podia ser tão erudita. —Os homens necessitam dominar a outros, e a falta de interesse das mulheres por expressar ou formular o que conhecem, e como o conhecem, tem constituído uma nefasta aliança — continuou Esperanza.

—Tem tornado possível que a mulher seja forçada, desde seu nascimento, a aceitar que a plenitude encontra-se no lar, no amor, no casamento, em parir filhos e negar-se a si mesma. A mulher tem sido excluída das formas dominantes de pensamento abstrato e educada para a dependência. Têm sido tão bem treinadas para aceitar que os homens devem pensar por elas que terminaram por não pensar. —A mulher é perfeitamente capaz de pensar — disse. Esperanza me corrigiu.

 —A mulher é capaz de formular o que aprendeu, e o que tem aprendido tem sido definido pelo homem. O homem define a natureza intrínseca do conhecimento, e dele tem excluído tudo aquilo que pertence ao feminino ou, se o há incluído, é sempre de maneira negativa. E a mulher o tem aceitado.

—Está atrasada em anos — objetei.
—Hoje em dia a mulher pode fazer o que deseja. Em geral têm aceso a todo centro de aprendizagem, e a quase todos os trabalhos que desempenha o homem.
—Mas isso não tem sentido, a menos que possuam um sistema de apoio, uma base — argumentou Esperanza.

—De que serve ter aceso ao que possuem os homens, quando ainda se as consideram seres inferiores, obrigadas a adotar atitudes e comportamentos masculinos para conseguir o êxito? As que na verdade conseguem alcançar o êxito são as perfeitas convertidas, e elas também depreciam às mulheres. —De acordo com os homens o útero limita à mulher tanto mental como fisicamente. Esta é a razão pela qual às mulheres, apesar de seu acesso ao conhecimento, não lhes tem sido permitido determinar o que é este conhecimento. Pegue, por exemplo, aos filósofos — propôs Esperanza.

 —Os pensadores puros. Alguns deles são encarniçadamente contra a mulher. Outros são mais sutis, no sentido de que estão dispostos a admitir que a mulher poderia ser tão capaz como o homem, se não fosse porque não lhe interessam as investigações racionais, e no caso de estar interessadas, não deveriam estar. Pois lhe cai melhor à mulher ser fiel à sua natureza: uma companheira nutriente e dependente do macho.

Esperanza expressou tudo isto com inquestionável autoridade. No entanto, em poucos minutos, a mim já me assaltavam as dúvidas.
—Se o conhecimento não é outra coisa que um domínio masculino, a quê se deve então sua insistência em que eu vá à universidade? — perguntei.

—Porque você é uma bruxa, e como tal precisa saber o que te afeta, e como te afeta — respondeu.
—Antes de recusar algo deve saber por que o recusa. “Sabe, o problema é que o conhecimento em nossos dias se deriva simplesmente de pensar nas coisas, mas as mulheres têm um caminho distinto, nunca antes levado em consideração. Esse caminho pode contribuir ao conhecimento, mas teria que ser uma contribuição que nada tem a ver com pensar nas coisas”.

—Com o que teria que ver então?
 —Isso é para que você o decida, depois de ter dominado as ferramentas do raciocínio e da compreensão. Minha confusão era muito grande.
—O que propõem os feiticeiros — continuou Esperanza — é que os homens não podem possuir o direito exclusivo ao raciocínio. Parecem possuí-lo agora porque o terreno sobre o qual o aplicam é um terreno onde prevalece o masculino. Apliquemos então a razão a um terreno onde prevalece o feminino, e esse é, naturalmente, o cone invertido que te descrevi: a conexão feminina com o próprio espírito. Desviou apenas a cabeça, como decidindo o que estava por dizer.
 —Essa conexão deve enfrentar-se com outro tipo de raciocínio, algo nunca antes empregado: o lado feminino do raciocínio.
—E qual é o lado feminino do raciocínio, Esperanza?
 —Muitas coisas; uma delas é definitivamente ensonhar. — olhou-me de maneira questionante, mas eu nada tinha a dizer. Sua profunda gargalhada me pegou de surpresa.
—Eu sei o que espera você dos feiticeiros: rituais e encantamentos, cultos raros, misteriosos. Quer que cantemos. Quer fundir-se com a natureza; estar em comunhão com os espíritos da água; quer paganismo, uma visão romântica do que fazemos. Muito germânico. “Para submergir-se no desconhecido precisam de coragem e mente. Somente com isso poderá explicar a você mesma e a outros os tesouros que poderá encontrar.”
— Esperanza chegou perto de mim, ansiosa ao que parecia, por confiar-me algo. Coçou a cabeça e bufou repetidas vezes, cinco vezes como o fazia o cuidador. —Precisa agir a partir de seu lado mágico — disse.
—E isso o que é? —O útero — e o disse com tanta calma, e em tom tão baixo, como se não lhe interessasse minha reação, que quase não lhe ouvi. Depois, ao dar-me conta do absurdo de suas palavras, me endireitei e olhei para as outras mulheres.

 —O útero — repetiu Esperanza — é o órgão feminino fundamental, o que dá às mulheres esse poder, essa força extra para canalizar sua energia. Explicou que o homem, em sua busca pela supremacia, tem conseguido reduzir esse misterioso poder, o útero, ao nível estrito de um órgão biológico cuja única função é reproduzir, abrigar a semente do homem.
Como se obedecesse a um chamado, Nélida ficou de pé, rodeou a mesa e veio parar-se atrás de mim.


—Conhece a estória da Anunciação? — murmurou quase pegado a meu ouvido.
 —Não — respondi, rindo. Com esse mesmo sussurro confidencial me disse que na tradição judaico-cristã os homens são os únicos que escutam a voz de Deus. As mulheres, salvo a Virgem Maria, foram excluídas deste privilégio. Nélida disse que um anjo sussurrando à Maria era, logicamente, algo natural. Não o era em troca de que a Única coisa que pôde dizer-lhe foi que daria a luz ao filho de Deus. O útero não recebeu conhecimento e sim, melhor dizendo, a promessa da semente de Deus. Um deus masculino, que por sua vez gerava outro deus masculino. Eu queria pensar, refletir acerca de tudo o que se havia dito, mas minha mente estava em total confusão.
—E o que acontece com os feiticeiros homens? — perguntei.

 —Eles não têm útero e, contudo, estão claramente conectados com o espírito. Esperanza me olhou com uma satisfação que não tentou dissimular; depois olhou por cima de seu ombro como temerosa de que alguém a escutasse. Num murmúrio, apenas disse:
—Os feiticeiros podem alinhar-se com o espírito pois abandonam o que especificamente define sua masculinidade. Já não são homens.
(...)
 “Sonhos Lúcidos” FLORINDA DONNER-GRAU