O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 12, 2013

O INDIZÍVEL SEGREDO



ENCONTRO COM LILITH…


(...)

- Porque é que eu não te encontrei antes?

- Porque, olha, para chegar lá onde tu estás hoje, foi preciso sentir o apelo do desejo. Foi preciso reconhecer o vazio, a falta de qualquer coisa que te liga ao Grande Todo. É essa carência que faz com que as nossas entranhas fiquem estéreis, os nossos desejos vagabundem, e a nossa existência se torne uma solidão amarga…Para poder deixar um espaço a esse vazio, uma chance dele existir, é preciso primeiro parar de querer fugir, ou de o preencher a qualquer preço. É preciso ousar sentir o vazio. O vazio é a terra fértil sobre a qual poderá germinar o teu desejo. E esta é uma bem difícil tomada de consciência, não é verdade?

- Não é muito agradável com efeito…Mas como fazer de outra maneira? Eu não me habito. Sinto-me fora de mim mesma, ou antes ao lado. Eu não sinto a vida a correr nas minhas veias, e o vazio de que tu falas assusta-me.

- Já não agora. Senão, tu não estarias aqui. Vê, é quando não se duvida mais desse vazio que ele se pode tornar a fonte de vida. O reencontro com o feminino. Enquanto tu esperares desesperadamente que qualquer coisa aconteça, tu serás como uma criança que espera que a mãe a salve. Mas quando tu estás pronta a olhar o vazio face a face, acolhê-lo, a reencontrá-lo, a explorá-lo, então, tu começas a fazer a experiência do mistério feminino. Tu entras na tua dimensão de mulher.

A sua voz é doce e pousada. Ela parece vir da noite dos tempos. O nome “mulher” ressoa em mim como uma promessa. Como a chave de um caminho por percorrer, a construir, a criar. Sentada ao seu lado, eu começo a ouvir ressoar no mais profundo de mim mesma os ecos de um universo submerso, prestes a vir a superfície. Eu sinto que é aí, no fundo dessa gruta, ao abrigo dos olhares e dos falsos semblantes que eu encontrarei o meu indizível segredo…

(…)

Tradução de rlp

Do livro E DEUS PERDEU A MULHER

De Anne Shwartzweber

2 comentários:

Deolinda Blathorsarn disse...

Muito verdadeiro e expressivo..Obrigada por compartilhar..

rosaleonor disse...

Não tem de quê Deolinda. Eu é que agradço a sua visita...

um abraço

rleonor