O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, janeiro 02, 2014

ALGUÉM QUE MORREU

"despudorado este coração que me desnuda e não me poupa...revelando as minhas pontes e o meu desterro." [Darpano Vera]
 
Não me apetecia ser sincera nem expor-me nas páginas do facebook, mas aqui é diferente...e é claro estou à procura de leitoras ou de interlocutores, ou então para quê falar e escrever se não fosse a necessidade de se ser ouvida ...ou de consolo?
Hoje morreu um amigo que não era bem meu amigo...mas eu o conhecia há mais 30 anos...e embora o visse anos seguidos quase diariamente nunca conversamos. Eu achava que ele não gostava de mim...Só quando ele voltou para o Brasil e começamos a escrever-nos no Blog e depois no facebook é que estreitamos relações...mas ele era uma pessoa muito difícil e implicativo. Uma pessoa de grande sensibilidade poética e um grande desnudamento sobre o que é a vida. Uma pessoa que não fazia concessões a ninguém nem a nada. Com ele nada do que supostamente era falso ficava de pé...nada. Cortava tudo a direito e não era nada simpático...
Ele pensava viajar para Lisboa dentro de dias...quando ficou doente e foi  internado num Hospital...
 
Mas não vou falar dele, porque nada sei afinal ao certo como se sentia nem como  ou de que morreu...vou falar antes de mim, do que senti ao saber da sua morte...porque me sinto profundamente tocada e ao mesmo tempo algo hipócrita... nesta comoção profunda de sentir com pesar a sua morte, a dor da alma do outro que  mal conheço? E não foi antes o sentimento de que podia ter sido eu...que sim, que me sinto assim...quase a morrer de repente...e porque penso nisso neste momento tocou-me fundo a alma e doeu-me como se fosse eu a morrer antecipadamente... e depois, tal como eu faço e sinto hoje, alguém que nunca me via sentiria a mesma coisa...e diria: "Que pena que ela morreu...e agora nada mais lhe posso dizer..."
E penso...como é que eu nunca partilhei um poema seu e o fiz hoje?...
O que nos move a nós diante da morte, senão o remorso e a pena de nós mesmas/os...sim quem choramos nós na morte de um outro ser?
Não será que nos choramos antes a nós mesmas/os...a dor que não é só da perda nem de não mais ver alguém porque eu não o via nunca...nem pensava nele - mas doeu-me mais e chorei-o como não chorei  talvez um familiar que morreu há umas semanas e fui ao enterro?
Que mistérios são estes?

rlp

2 comentários:

Tertúlia disse...

Leonor, não sou esse teu amigo.
Mas, sim, nos falamos algumas vezes pelo Facebook.
Numa dessas vezes te mostrei essa minha poesia. Abraço. Darpano

rosaleonor disse...

Que interessante a essa distância vir a encontrá-la hoje... Sim, acho que em algum momento pensei que você podia ser ele... que curioso e quase não me lembro de como o pensei, mas fico contente que você seja você e tenha encontrado este texto e comentado.
Abraço rlp